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A trégua entre Israel e o Hamas voltou a se deteriorar após novos ataques aéreos em Gaza e a suspensão do envio de ajuda humanitária, sob alegações de que o grupo teria violado o plano de paz proposto por Trump. O primeiro-ministro Netanyahu prometeu uma resposta contundente, enquanto o Hamas declarou manter seu compromisso com o cessar-fogo. No cenário regional, Paquistão e Afeganistão chegaram a um acordo de cessar-fogo após recentes confrontos fronteiriços, e no Japão, o partido Ishin avalia uma aliança com o Partido Liberal Democrata — movimento que pode oficializar Sanae Takaichi como primeira-ministra do país.
Na China, as terras raras continuam no centro do debate econômico global. Autoridades de Pequim tentam acalmar investidores ao afirmar que os controles mais rigorosos sobre exportações não afetarão o comércio internacional, embora as remessas tenham caído em setembro. Além disso, o crescimento chinês desacelerou para 4,8% no terceiro trimestre, em linha com as expectativas, sustentado pela produção industrial e pelas exportações, mas ainda limitado pela fraqueza do consumo doméstico e pelo prolongamento da crise imobiliária. Já na Europa, a França sofreu um rebaixamento de sua nota de crédito pela S&P, de AA- para A+, refletindo a persistente fragilidade fiscal e o desafio de restaurar a credibilidade orçamentária.
Nos Estados Unidos, a combinação de incertezas bancárias, tensões geopolíticas e impasses fiscais segue pressionando o humor dos investidores. Por outro lado, dados econômicos ainda resilientes e um discurso mais moderado do Federal Reserve ajudaram a sustentar o apetite por risco, em especial nos setores ligados à inteligência artificial, o que permitiu aos principais índices globais iniciarem a semana em alta.
· 00:58 — Clima mais arisco
No Brasil, a semana será marcada por uma intensa agenda de indicadores e eventos domésticos. Na quarta-feira, começa a temporada de balanços corporativos com os resultados de WEG e Romi, enquanto, na sexta, será divulgada a prévia da inflação oficial — o IPCA-15 de outubro. Em paralelo, o ambiente político segue no centro das atenções, com o governo ainda sem apresentar propostas concretas de compensação fiscal após a derrubada da medida provisória que substituiria o IOF. A ausência de medidas efetivas amplia a incerteza sobre o equilíbrio das contas públicas no curto prazo e reforça a percepção de que as notícias de Brasília continuam sendo, no momento, mais um foco de volatilidade do que de estabilidade para o investidor.
O tom político também voltou a se acirrar no fim de semana, quando o presidente Lula fez declarações mais duras contra os Estados Unidos e retomou promessas de viés populista. A recente reconfiguração ministerial aprofunda esse movimento, com a saída de representantes do centrão e a provável entrada de Guilherme Boulos na Secretaria-Geral da Presidência — pasta responsável pelo diálogo com movimentos sociais, que tende a ser usada como instrumento de mobilização política mais ideologizada em 2026. Ao mesmo tempo, o governo avança com programas de apelo eleitoral, como o “Reforma Casa Brasil”, que deve ser lançado hoje e oferecerá crédito facilitado para melhorias habitacionais em todo o país — com linhas de R$ 30 bilhões para famílias de até R$ 9.600 mensais e de R$ 40 bilhões para rendas superiores. Lula também prometeu universalizar o programa Pé-de-Meia, que já custa cerca de R$ 13 bilhões aos cofres públicos, em um contexto de orçamento já absolutamente apertado.
A ampliação dos gastos ocorre em meio à fragilidade fiscal crescente. O Tribunal de Contas da União (TCU) recomendou na sexta-feira que o governo mantenha o cumprimento do centro da meta fiscal, mesmo após o ministro Benjamin Zymler ter suspendido temporariamente os efeitos da regra que travaria automaticamente R$ 30 bilhões em despesas. A medida evita o contingenciamento imediato, mas sinaliza que a pressão sobre o equilíbrio orçamentário deve se intensificar nas próximas semanas.
Nesse cenário, a crise dos Correios se tornou mais um símbolo da deterioração fiscal e da má gestão estatal. A empresa enfrenta o pior momento de sua história, com prejuízo de R$ 4,4 bilhões apenas no primeiro semestre de 2025 — superando todas as perdas acumuladas desde 2016. Para evitar o colapso, a estatal lançou um plano emergencial de cortes de custos, redução de pessoal e venda de ativos, mas os resultados ainda são incertos. O governo anunciou um socorro de R$ 20 bilhões, dividido entre 2025 e 2026, para recompor a liquidez, em linha com o que já comentei aqui, mas a medida parece tardia e insuficiente. A verdade é que a estatal deveria ter sido privatizada quando ainda preservava algum valor — um plano abandonado pela atual gestão, que preferiu mantê-la sob controle estatal, mesmo à custa de um ativo agora sucateado.
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· 01:48 — Não tão ruim quanto o temido
Nos EUA, os mercados reencontraram algum alívio na sexta-feira, com os investidores recuperando parte das perdas geradas pelas incertezas em torno do sistema bancário americano. O ETF SPDR S&P Bank, que reflete o desempenho das maiores instituições financeiras americanas, subiu 1,4%, revertendo parte da queda de 5,4%. O movimento de recuperação foi impulsionado por uma série de análises positivas em Wall Street, que reforçaram a solidez do setor mesmo após o Zions Bancorp anunciar uma baixa contábil de US$ 50 milhões ligada a dois empréstimos corporativos. É possível que a reação negativa anterior tenha sido exagerada. O sentimento também foi sustentado pelos balanços robustos divulgados por grandes instituições — entre elas, JPMorgan, Wells Fargo, BofA, Citigroup, Goldman Sachs e Morgan Stanley —, que mostraram lucros expressivos e um consumo doméstico ainda resiliente.
Com o alívio vindo do setor financeiro, os principais índices de ações encerraram a semana em terreno positivo: o Dow Jones avançou 1,6%, o S&P 500 subiu 1,7% e o Nasdaq ganhou 2,1%. Agora, os próximos dias irão intensificar o noticiário corporativo, com a divulgação de resultados de grandes companhias de diversos setores, incluindo Coca-Cola, GE Aerospace, Netflix, Tesla, Ford e Procter & Gamble. Enquanto isso, a prolongada paralisação do governo americano — agora a terceira mais longa da história — continua a limitar a publicação de dados oficiais, o que amplia a relevância de indicadores privados e de alta frequência para mensurar o ritmo da economia.
· 02:37 — Amenizou
Donald Trump surpreendeu ao adotar um tom mais conciliador em relação à China, suavizando o discurso que havia dominado o mercado. O presidente reconheceu que a tarifa de 100% sobre produtos chineses — anunciada recentemente em retaliação às novas restrições de Pequim à exportação de terras raras — não seria “sustentável” no longo prazo, confirmando que pretende se reunir com Xi Jinping durante a cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), na Coreia do Sul, no fim do mês, e elogiou o líder chinês, descrevendo a relação bilateral como “construtiva”. No fim de semana, autoridades confirmaram que EUA e China devem abrir uma nova rodada de negociações comerciais já nesta semana, reacendendo expectativas de um diálogo.
Entre as condições colocadas por Washington, Trump destacou três pontos centrais: a interrupção do uso político das terras raras, a retomada das compras de soja americana e o fortalecimento das ações chinesas contra a exportação ilegal de fentanil. O tom mais brando da diplomacia americana trouxe alívio imediato aos mercados globais: os principais índices asiáticos e europeus avançam nesta manhã, o cobre subiu mais de 1% diante da perspectiva de melhora nas relações comerciais, e o sentimento de risco se dissipou parcialmente. Bom sinal para os mercado globais.
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· 03:23 — Ventos de mudança
Donald Trump abriu uma nova frente de tensão na América Latina ao atacar duramente o presidente da Colômbia, Gustavo Petro. Em tom provocativo, o presidente americano chamou Petro de “líder do tráfico ilegal de drogas” e anunciou o fim de toda a assistência financeira dos Estados Unidos ao país, acusando o governo colombiano de não agir com firmeza para conter o fluxo de narcóticos em direção ao território norte-americano. A Colômbia — tradicional aliada de Washington nas últimas décadas — vinha recebendo cerca de US$ 700 milhões anuais em ajuda externa, cifra reduzida recentemente para US$ 230 milhões. O episódio amplia o desgaste diplomático entre os dois países e evidencia a postura cada vez mais confrontacional de Trump.
Enquanto a Colômbia tenta conter os danos diplomáticos, a Bolívia inaugura uma nova fase política com a eleição de Rodrigo Paz, de centro-direito, que venceu o Jorge “Tuto” Quiroga, de direita, no segundo turno com 54,5% dos votos, oficializando o fim de duas décadas de domínio do Movimento ao Socialismo (MAS). A vitória de Paz simboliza um movimento regional de esgotamento do populismo assistencialista de esquerda latino-americano e desejo por estabilidade institucional. O novo presidente assume em meio à pior crise econômica do país em uma geração e promete abrir a economia ao investimento privado e estreitar laços com os EUA, com destaque para um acordo energético de US$ 1,5 bilhão. A mudança sinaliza um ciclo que provavelmente se repetirá em diversas nações da América do Sul nos próximos 12 meses.
· 04:15 — Vai derrubar?
O governo brasileiro demonstrou confiança na reaproximação diplomática com os Estados Unidos após o encontro cordial entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado Marco Rubio, em Washington. O diálogo foi interpretado como um passo relevante para a retomada das relações bilaterais em um momento de crescente tensão geopolítica. Segundo interlocutores do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende advertir Donald Trump sobre os riscos de uma eventual intervenção militar norte-americana na Venezuela, destacando que tal ação poderia gerar instabilidade regional, enfraquecer governos vizinhos e fortalecer o crime organizado.
A preocupação brasileira ganhou força após Trump confirmar que autorizou a CIA a conduzir operações secretas para derrubar o presidente venezuelano Nicolás Maduro, além de deslocar navios de guerra para o Caribe — um movimento que elevou a tensão diplomática e militar na região. Embora os bombardeios norte-americanos tenham atingido apenas embarcações venezuelanas fora do território do país, o gesto representa uma clara escalada da política externa dos EUA. Os títulos soberanos da Venezuela, por sua vez, reagiram em alta, refletindo uma possível mudança de regime.
· 05:06 — Mais uma iniciativa no segmento mais quente do momento
Um consórcio formado por BlackRock, Nvidia, Microsoft e xAI anunciou, na última semana, a compra da Aligned Data Centers por aproximadamente US$ 40 bilhões, configurando um dos maiores negócios já realizados no setor de infraestrutura voltada à inteligência artificial. A Aligned, atualmente controlada pela Macquarie Asset Management, é especializada na operação de data centers nas Américas e deve se tornar um elo estratégico na corrida global por capacidade computacional — um ativo cada vez mais escasso e valioso diante do crescimento exponencial dos modelos de IA generativa. A conclusão do negócio está prevista para 2026 e evidencia o avanço das grandes companhias de tecnologia sobre a infraestrutura crítica de energia e dados, buscando integrar verticalmente toda a cadeia que sustenta o ecossistema digital.
Paralelamente, a CoreWeave — empresa de computação em nuvem especializada em IA e também apoiada pela Nvidia — anunciou uma parceria com a…