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Investimentos

Prévia do PIB no Brasil, simpósio de Jackson Hole e encontro de Trump com Zelensky são destaques nesta segunda-feira (18)

A agenda da semana será pedominaa pelos encontros e discursos de Trump, Jerome Powell e outros representantes.

Por Matheus Spiess

18 ago 2025, 09:23

Atualizado em 18 ago 2025, 09:23

mundo globo economia mercado (5)

Imagem: iStock

O grande destaque da semana será o Simpósio de Política Econômica de Jackson Hole, realizado entre os dias 21 e 23 de agosto, sob a chancela do Federal Reserve de Kansas City, reunindo alguns dos nomes mais relevantes da política monetária global. O tema deste ano — “Mercados de Trabalho em Transição: Demografia, Produtividade e Política Macroeconômica” — não poderia ser mais oportuno, em um momento em que o Fed se vê pressionado pelos dados recentes de inflação e emprego. O discurso de Jerome Powell, marcado para sexta-feira (22), concentra as maiores expectativas, já que poderá oferecer pistas mais claras sobre a trajetória dos juros nos Estados Unidos. 

O consenso do mercado ainda projeta três cortes até o fim de 2025, com início em setembro. Contudo, não está descartado que essa flexibilização seja mais moderada, talvez limitada a duas reduções, possivelmente a partir de outubro, a depender da evolução dos próximos indicadores mensais de atividade e preços. Paralelamente, investidores também acompanharão a divulgação da ata do Fed, os PMIs preliminares globais, a reunião do Banco Central da China e os resultados de grandes varejistas americanos, que devem trazer sinais adicionais sobre a saúde da economia.

No campo geopolítico, as atenções se voltam para as consequências do encontro da última sexta-feira (15) entre Donald Trump e Vladimir Putin no Alasca, que terminou sem um cessar-fogo efetivo para a guerra na Ucrânia. A agenda agora avança para Washington, onde Trump recebe líderes europeus e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em uma nova rodada de negociações que tende a pressionar Kiev a considerar concessões territoriais — hipótese já firmemente rejeitada por Zelensky. 

A situação segue volátil. Assim, o ambiente internacional começa a semana em compasso de espera: os mercados ajustam posições com uma leve correção, refletindo tanto a incerteza sobre o desfecho diplomático quanto a expectativa em torno de Jackson Hole. Nesse pano de fundo, bolsas asiáticas fecharam mistas, a Europa iniciou o dia em queda e os futuros de Nova York sinalizam cautela, em um contexto em que política monetária e geopolítica voltam a se entrelaçar de forma decisiva. 

Na América do Sul, o resultado das eleições na Bolívia reforça a leitura de que a região atravessa um movimento político pendular (aos moldes do que temos visto no mundo desde 2024), deslocando-se gradualmente em direção ao centro e à direita — dinâmica que, como já venho apontando, pode eventualmente se repetir no Brasil no ano que vem e abrir espaço para um bull market expressivo em ativos locais. 

· 00:59 — Cuidado para não escalar

No cenário doméstico, seguimos às voltas com os ruídos em torno da disputa diplomático-comercial entre Brasil e Estados Unidos. Até o momento, não se observa qualquer avanço concreto nas negociações, e ambos os lados parecem mais empenhados em endurecer o discurso do que em buscar uma solução intermediária — alternativa que, do ponto de vista de mercado, seria a mais desejável. O presidente Lula voltou a provocar Donald Trump em declarações públicas, enquanto a Casa Branca retaliou ao ampliar a suspensão de vistos para autoridades brasileiras. 

Como antecipei, esse tipo de embate abre espaço, no curto prazo, para que o governo federal tente capitalizar politicamente por meio de um discurso nacionalista de defesa da soberania. No entanto, esse ganho tende a ser limitado. A pesquisa Datafolha divulgada no fim de semana reforça esse ponto: 35% dos entrevistados atribuíram a Lula a principal responsabilidade pela tarifa imposta pelos EUA ao Brasil, seguidos por Jair Bolsonaro (22%) e Eduardo Bolsonaro (17%). Na prática, a disputa acabou por alimentar a retórica populista tanto à esquerda quanto à direita, mas como lideranças de ambos os espectros são responsabilizadas pela crise, uma eventual não resolução do conflito tende a corroer a popularidade de todos, sobretudo do atual incumbente.

Sobre o tema, o governo brasileiro enviará hoje (18) sua defesa às acusações de práticas comerciais desleais feitas pelos EUA, no âmbito da investigação aberta pelo Escritório do Representante Comercial (USTR) em 15 de julho, com base na Seção 301 da legislação americana de comércio. A apuração abrange diferentes frentes e, como já destacamos anteriormente, trouxe ao menos alguma materialidade à relação bilateral, já que os demais pontos levantados por Washington não estavam sujeitos a negociação. Nesse sentido, eventuais sinais de progresso ou flexibilização nas conversas poderiam abrir algum espaço para alívio nos ativos locais. A pacificação desse impasse, ainda que parcial, seria positiva para o mercado brasileiro, trazendo previsibilidade em um ambiente já suficientemente pressionado por incertezas globais.

· 01:48 — Um sinal positivo na América do Sul

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Na Bolívia, o primeiro turno das eleições presidenciais trouxe uma reviravolta de peso ao cenário político. Rodrigo Paz Pereira, candidato de centro-direita, surpreendeu ao conquistar 32% dos votos, superando Jorge Quiroga, representante da direita, que ficou com 27%. O resultado escancarou a força de um discurso oposicionista em um momento de desgaste profundo do MAS (Movimiento al Socialismo), legenda que por mais de duas décadas concentrou o poder.

Com isso, o segundo turno passa a ser travado exclusivamente entre centro-direita e direita, consolidando a derrocada da esquerda boliviana e sinalizando uma provável reorientação estrutural da agenda política e econômica do país. A expectativa é de um movimento claro em direção a políticas pró-mercado com maior disciplina fiscal.

Esse resultado, no entanto, não pode ser lido de forma isolada. Ele se insere em uma dinâmica mais ampla da América Latina. A região tem testemunhado uma guinada em direção a lideranças mais oxigenadas. As próximas eleições no Chile, no Peru e na Colômbia funcionarão como novos testes para medir até onde essa onda regional pode se consolidar. No caso brasileiro, os reflexos desse processo podem ser ainda mais relevantes, abrindo espaço para um potencial bull market robusto em ativos locais, caso a alternância política e econômica se confirme.

· 02:31 — O que falta?

Nos EUA, a última sexta-feira (15) trouxe novo fôlego ao índice Dow Jones, que voltou a se aproximar de uma máxima histórica. O impulso veio quase exclusivamente da UnitedHealth, cuja ação disparou 12% após a Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, revelar a aquisição de US$ 1,6 bilhão em papéis da companhia. O salto adicionou sozinho quase 200 pontos ao índice, suficiente para neutralizar a queda generalizada das demais blue chips. Ainda assim, o movimento não foi suficiente para sustentar o restante de Wall Street: o S&P 500 e o Nasdaq encerraram em baixa, refletindo uma semana marcada por resultados corporativos mistos, novas tarifas setoriais e expectativas crescentes em torno do discurso de Jerome Powell no simpósio de Jackson Hole. O mercado segue dividido: de um lado, os dados de inflação e emprego alimentam apostas de cortes de juros; de outro, a resiliência do consumo e a persistência da inflação em serviços limitam o espaço para reduções mais agressivas.

O curto prazo promete intensidade. Além do discurso de Powell em Jackson Hole, investidores acompanharão a divulgação de balanços de gigantes do varejo — Walmart, Home Depot e Target — que funcionarão como termômetros da saúde do consumo americano em meio às pressões tarifárias. Também estarão no radar os números do setor imobiliário, incluindo construção de novas residências e vendas de casas usadas, bem como os PMIs globais da S&P. Embora o último CPI tenha sido interpretado de forma relativamente benigna, medidas alternativas de preços sugerem que o processo de desinflação perdeu força, com salários e serviços ainda pressionando a inflação. O quadro reforça a percepção de que o Fed tende a adotar um tom mais cauteloso, cenário que mantém a volatilidade elevada até que haja maior clareza sobre política monetária e perspectivas de crescimento global.

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· 03:24 — Inconclusiva

Após a cúpula de três horas com Vladimir Putin no Alasca, Donald Trump volta-se agora ao desafio de convencer Volodymyr Zelenskiy e os aliados europeus de que seus esforços de mediação pela paz têm substância e credibilidade. O encontro com o líder russo foi descrito como “produtivo”, mas sem detalhes concretos — um vazio que gerou frustração entre diplomatas europeus, muitos dos quais avaliam que Moscou saiu politicamente fortalecida da reunião. Em paralelo, Trump pressiona por um acordo relâmpago, chegando a cogitar a realização de um encontro entre Putin e Zelenskiy em poucos dias, ideia que os europeus consideram irrealista diante da complexidade das exigências russas e da firme rejeição ucraniana a qualquer concessão territorial.

O clima de desconfiança se aprofunda, sobretudo porque a Casa Branca suspendeu temporariamente a ajuda militar a Kiev neste ano, medida que enfraqueceu a capacidade defensiva da Ucrânia e reduziu sua margem de negociação. Ainda assim, Trump insiste que Kiev poderia encerrar a guerra se aceitasse abrir mão da Crimeia e desistir de ingressar na OTAN, promessa acompanhada da oferta vaga de garantias de segurança após um eventual acordo. Para muitos, porém, suas falas soam mais como pressão sobre Zelensky do que como um plano de paz estruturado. No mercado, a reação é de cautela: sem novas sanções à Rússia e diante da falta de definições, bolsas internacionais operam de lado, enquanto investidores aguardam a rodada de reuniões em Washington — líderes devem exigir clareza sobre o que foi negociado com Putin e até onde os EUA estão dispostos a ir para conter o avanço russo.

· 04:17 — Volta para a Europa? Dificilmente…

Muito se discute sobre os efeitos do Brexit, e há relativo consenso de que ele enfraqueceu o crescimento econômico britânico e reduziu o poder de barganha do Reino Unido frente às grandes potências, ao menos no curto prazo. Ainda assim, um eventual retorno à União Europeia soa improvável e pouco vantajoso. Reabrir essa porta significaria enfrentar a resistência de Bruxelas, que dificilmente voltaria a conceder os privilégios e isenções que Londres havia negociado no passado. No plano doméstico, qualquer governo teria de encarar o desafio político de convencer os eleitores a aceitar custos elevados — como a retomada da livre circulação, a perda parcial de soberania e contribuições orçamentárias mais robustas — justamente após anos de discurso de que o Brexit havia devolvido ao país o tão propagado “controle”.

O contexto global também é outro desde 2016. Em uma era marcada por fragmentação de lideranças e crescente competição entre blocos, autonomia e agilidade tornaram-se ativos estratégicos. Reingressar na União Europeia, com a consequente submissão ao veto de 27 capitais, poderia significar apenas trocar uma camisa de força por outra. Diante disso, a estratégia mais racional para o Reino Unido não é tentar reverter o Brexit, mas sim aprofundar parcerias seletivas e flexíveis com a União Europeia em áreas-chave como segurança, tecnologia verde e comércio, como fizeram agora com os EUA — mantendo a liberdade de ação que a conjuntura internacional atual exige, sem se amarrar novamente às complexas engrenagens institucionais de Bruxelas.

· 05:02 — Promessas de investimento

O governo Trump começou a revelar os contornos do chamado Golden Dome, um projeto ambicioso de defesa antimísseis que busca erguer um verdadeiro escudo de proteção para o território americano. O sistema prevê quatro camadas integradas: uma espacial, destinada ao rastreamento e ao alerta antecipado de lançamentos, e três terrestres, que combinariam interceptadores, radares de última geração e até tecnologias de laser. O desenho contempla 11 baterias de curto alcance, um novo campo de mísseis no Centro-Oeste dos EUA equipado pela Lockheed Martin, além da incorporação de sistemas já consagrados como o Patriot, tradicional míssil superfície-ar para defesa antiaérea, e o THAAD (Terminal High Altitude Area Defense), especializado na interceptação de mísseis balísticos em alta altitude. O plano foi apresentado a mais de 3 mil empresas no Alabama, sinalizando tanto o grau de ambição do governo quanto o tamanho das oportunidades de negócio que se abrem.

Inspirado no modelo israelense do Domo de Ferro, mas em escala incomparavelmente maior, o Golden Dome pretende…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.