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Mercado em 5 minutos

Quais são os desdobramentos da prisão de Bolsonaro às vésperas do início do tarifaço dos EUA sobre produtos brasileiros? Veja os destaques desta terça-feira (5)

O Ibovespa deve passar por uma terça-feira de volatilidade após a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro..

Por Matheus Spiess

05 ago 2025, 09:29

Atualizado em 05 ago 2025, 09:29

ações brasil fiscal

Imagem: iStock.com/Ca-ssis

A semana começou sob um clima mais tranquilo nos mercados internacionais. Mas, como de costume no Brasil, a calmaria global não garante paz local. A decisão judicial que impôs prisão domiciliar ao ex-presidente Jair Bolsonaro promete monopolizar parte da atenção dos investidores e deve introduzir alguma dose de volatilidade na abertura dos mercados domésticos. Ainda que o impacto direto sobre os preços dos ativos seja limitado, o episódio reacende discussões incômodas sobre a robustez institucional do país e antecipa os contornos, ainda muito difusos, da corrida presidencial de 2026.

Mais preocupante, no entanto, é o risco de contaminação externa. A politização do processo de Bolsonaro — em meio à retórica cada vez mais inflamável de Lula — pode alimentar a tentação, já não tão velada, de instrumentalização das tarifas americanas como ferramenta de pressão política. Ainda é prematuro cravar desdobramentos concretos, mas a possibilidade de novas sanções comerciais (ou de outro tipo) vindas dos EUA deixou de ser uma abstração e merece monitoramento atento de nossa parte.

Ainda assim, apesar da tempestade política, os ativos brasileiros continuam mais sensíveis à direção dos juros globais e aos fluxos de capital. E, nesse aspecto, o pano de fundo segue razoavelmente construtivo para mercados emergentes. Os valuations seguem descontados, e o apetite por risco tende a crescer com a expectativa de que os principais bancos centrais — especialmente o Federal Reserve — iniciem seus ciclos de afrouxamento monetário já nos próximos meses. Após os números fracos do mercado de trabalho nos EUA, cresceu a convicção de um corte já em setembro.

Na Ásia, os mercados encerraram a terça-feira em alta generalizada, embalados por dados positivos do PMI chinês, que sinalizou retomada da atividade industrial, e pelo otimismo com os futuros de Nova York. Investidores seguem animados com os fortes lucros corporativos e com a expectativa concreta de queda nos juros americanos. Na Europa, o ambiente também é de alívio: as bolsas acompanham o bom humor de Wall Street, impulsionadas por balanços positivos e pela leitura final de atividade regional que reforça o cenário de cortes à frente. No pano de fundo, porém, permanece a escalada retórica de Donald Trump, que agora ameaça impor tarifas a países que importam petróleo russo — adicionando tensão ao já instável tabuleiro geopolítico.

· 00:54 — Os pacificadores precisam entrar logo em campo

Por aqui, em um contraste nítido com o pessimismo da semana anterior, o Ibovespa iniciou a semana em alta, impulsionado pelo otimismo internacional diante da crescente expectativa de corte de juros nos Estados Unidos. O movimento, no entanto, ocorreu antes de um novo e relevante fator doméstico entrar em cena: o ministro do STF Alexandre de Moraes determinou a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro por violação de medidas cautelares impostas anteriormente. A notícia, que veio após o fechamento do pregão, adiciona mais uma camada de incerteza ao cenário local e tende a repercutir na abertura dos negócios nesta terça-feira (5). O after market já sinalizou uma dose de cautela — nada alarmante, mas justifica atenção redobrada.

Na decisão, Moraes destacou que Bolsonaro voltou a ignorar restrições legais ao participar remotamente de manifestações no Rio e em São Paulo. Segundo o ministro, tolerar mais uma infração comprometeria a autoridade da Corte. Há quem veja cálculo político na atitude do ex-presidente, que talvez tenha forçado o desfecho para incendiar ainda mais o clima institucional. Sim, o episódio traz ruído adicional de curto prazo e pode alimentar nova rodada de volatilidade. Como temos reforçado, o país precisava de pacificação — mas o Brasil parece condenado a viver sua ciranda política. Entre os ex-presidentes ainda vivos, FHC é o único que não foi preso ou sofreu impeachment. Algo está estruturalmente errado na nossa República e seguimos fingindo normalidade.

Embora os efeitos diretos da decisão sobre os ativos possam ser limitados, os impactos indiretos exigem atenção. Em primeiro lugar, a escalada institucional pode comprometer o canal de diálogo com a Casa Branca — que, até dias atrás, parecia avançar de forma gradual. A lista de isenções comerciais pode ser revisitada, a alíquota-base pode ser majorada e outras sanções podem recair sobre autoridades brasileiras, intensificando a deterioração diplomática. Por ora, tivemos apenas uma nota protocolar do Escritório para Assuntos do Hemisfério Ocidental, ligado ao Departamento de Estado, condenando a prisão do ex-presidente. Nada problemático. Mas o relógio corre: as tarifas estão programadas para entrar em vigor já nesta quarta-feira, e ainda não houve a esperada conversa entre Fernando Haddad e Scott Bessent. O risco de uma resposta de Trump a Moraes, portanto, não é desprezível.

Em segundo lugar, além do embate diplomático-comercial, o episódio precipita a reorganização da corrida presidencial de 2026. A disputa pelos espólios eleitorais de Bolsonaro já começou, com possíveis herdeiros se movimentando para capitalizar sua base. Um cenário eleitoral mais claro, a depender dos nomes, pode inclusive reduzir a incerteza política nos próximos 12 a 18 meses. Um candidato reformista, fiscalmente responsável, pró-mercado e com baixa rejeição animaria investidores e ajudaria a reancorar expectativas. Um perfil radical, por outro lado, ampliaria riscos (risco de um quarto mandato de Lula) — e os mercados saberão reagir com a ansiedade habitual.

Enquanto isso, os ativos seguem navegando em maré externa. O real se beneficia da fraqueza recente do dólar, à medida que os mercados incorporam com mais convicção a possibilidade de um Federal Reserve mais dovish nos próximos meses. Internamente, digerimos a ata do Copom, divulgada nesta manhã, que manteve o tom duro da política monetária. Por ora, o comitê reforça o compromisso com a estabilidade, diante de riscos fiscais e comerciais ainda elevados. Essa postura poderia ser revista se o cenário internacional contribuir: um corte de juros nos EUA entre setembro e outubro abriria espaço para uma flexibilização por aqui ainda este ano.

· 01:42 — Medindo a temperatura

Nos EUA, os mercados iniciaram a semana com viés mais construtivo, tentando recuperar o fôlego após a pior sequência desde abril. Ontem, os investidores aproveitaram a recente correção para voltar às compras, levando cerca de 85% das ações do S&P 500 a fecharem em alta — movimento impulsionado, mais uma vez, pelas gigantes de tecnologia. O pano de fundo foi generoso: resultados corporativos surpreendendo positivamente, especialmente entre empresas ligadas à inteligência artificial, combinados a uma virada brusca nas apostas de corte de juros pelo Federal Reserve. As expectativas para o início do ciclo de afrouxamento monetário em setembro saltaram para mais de 90%, em reação aos dados fracos do mercado de trabalho divulgados na semana passada Ainda assim, o rali de segunda mal conseguiu apagar o estrago da sexta-feira — seguimos divididos entre entusiasmo e apreensão.

No centro da tensão está o embate entre o discurso otimista da inteligência artificial — vendida como a locomotiva do novo ciclo econômico — e a realidade de um consumidor americano cada vez mais receoso. Ao fundo, a retórica tarifária da Casa Branca, com novas medidas prestes a entrar em vigor, adiciona mais uma camada de incerteza, especialmente no que diz respeito às margens corporativas e ao ritmo da demanda global. A depender do tom e da abrangência das tarifas, a reprecificação pode ser rápida. Não por acaso, muitos reforçam que correções de 5% são parte natural do ciclo de mercado, geralmente associadas a ruídos conjunturais. A questão, agora, é se estamos diante de uma pausa técnica ou do prenúncio de uma mudança mais estrutural. Enquanto isso, a agenda promete volatilidade: balanços de pesos-pesados como AMD, Pfizer e Caterpillar dividem a atenção com a divulgação do ISM de serviços — bom dado para aferir a resiliência da economia americana e, sobretudo, para calibrar as expectativas quanto aos próximos movimentos do Fed.

· 02:38 — Elevou o tom

O presidente Donald Trump voltou a recorrer às tarifas como ferramenta de intimidação geopolítica, ameaçando impor aumentos substanciais sobre produtos indianos como retaliação pela continuidade das importações de petróleo russo por Nova Déli. Sem apresentar qualquer detalhe sobre o percentual ou os produtos atingidos, Trump parece mais interessado em sinalizar força do que em formular uma política comercial minimamente coerente. A resposta indiana foi rápida e contundente: classificou a medida como “injustificada e irracional”, sobretudo considerando que tanto os próprios Estados Unidos quanto a União Europeia seguem mantendo relações comerciais com Moscou. A imprevisibilidade crescente transforma a política tarifária americana em um instrumento cada vez mais errático e juridicamente questionável. Muito ruído.

Fora dos holofotes principais, refletindo sobre as consequência do tarifaço de Trump, a OCDE alertou para o risco de que a retração no investimento corporativo global comprometa o crescimento econômico nos próximos trimestres. Ainda assim, essa preocupação não é consenso. Parte relevante da comunidade econômica sustenta que, no mundo pós-pandemia, o capital físico está sendo utilizado de maneira mais eficiente. A disseminação do trabalho remoto, por exemplo, reduziu a demanda por escritórios, infraestrutura e bens de capital em geral. Ou seja, mesmo com menor propensão a investir, a produtividade e o bem-estar podem seguir em alta. Essa nova realidade desafia os manuais tradicionais de economia, que usualmente vinculam o crescimento à intensidade do investimento — uma relação que talvez precise ser recalibrada diante das transformações estruturais que se consolidaram na atualidade.

· 03:21 — Investida

Os EUA farão o que for preciso para liderar a corrida global em inteligência artificial — e isso, na prática, significa intensificar o cerco tecnológico à China. A nova frente envolve a ideia de equipar chips avançados com mecanismos de rastreamento, para monitorar sua circulação global e coibir desvios para mercados proibidos. O plano visa impedir que Pequim tenha acesso à tecnologia mais avançada e, com isso, limitar sua capacidade de competir em IA. Embora o governo Trump tenha utilizado, em paralelo, a suspensão pontual das restrições ao chip H20 da Nvidia como moeda de troca em negociações comerciais, a retórica geopolítica permanece em tom agressivo. O recado é claro: os chips americanos são, mais do que nunca, ativos estratégicos. A reação chinesa, como era de se esperar, foi imediata: representantes da Nvidia foram convocados por autoridades em Pequim para prestar esclarecimentos sobre o endurecimento das regras — sob o pretexto de “segurança nacional”, naturalmente.

A disputa por supremacia tecnológica ganhou ainda mais tensão com o episódio envolvendo a TSMC. A gigante taiwanesa, referência mundial na produção de semicondutores, revelou ter identificado uma tentativa interna de vazamento de segredos comerciais ligados ao desenvolvimento de chips de 2 nanômetros — tecnologia de ponta cuja produção em escala deve começar ainda neste segundo semestre. A empresa demitiu funcionários suspeitos e acionou a Justiça, em mais um reflexo da paranoia que cerca a corrida pelos chips mais avançados do mundo. Enquanto isso, a China segue muito atrás: suas maiores fabricantes, Huawei e SMIC, mal conseguiram atingir os 7 nanômetros — um abismo tecnológico em um setor no qual cada geração representa uma vantagem econômica e militar relevante. Em resumo, os EUA não querem apenas manter a dianteira. Querem se consolidar como únicos. E, para isso, estão dispostos a mobilizar todos os instrumentos à disposição.

· 04:19 — E por falar em IA…

Agora, além da tradicional disputa por espaço no mercado corporativo, os recém-formados encaram um novo concorrente: a inteligência artificial. Ferramentas como ChatGPT já conseguem fazer em segundos o que antes demandava horas de um estagiário: resumir relatórios, levantar dados, redigir e até programar. Segundo o Federal Reserve de Nova York, a taxa de desemprego entre jovens americanos com diploma universitário (22 a 27 anos) atingiu 5,8% em março — o maior nível em quatro anos e bem acima da média nacional. Coincidência ou não, esse salto acontece no mesmo momento em que o crescimento econômico dos EUA começa a perder fôlego. A estimativa é de que 85% do aumento recente no desemprego esteja ligado à maior dificuldade em encontrar vagas, diante da digitalização e da adoção acelerada da IA.

Ainda assim, o cenário não é apocalíptico. Por mais que a inteligência artificial já tenha começado a ocupar espaço no mercado, ela ainda está longe de substituir com eficácia o capital humano em tarefas mais complexas, criativas ou estratégicas. E há uma contracorrente se formando: novas vagas estão surgindo justamente na esteira da revolução digital. Empresas agora contratam profissionais para treinar, alimentar e supervisionar modelos de IA, criando uma nova fronteira de empregabilidade para quem souber se adaptar. Em outras palavras, o mercado de trabalho do futuro não será dominado por robôs, mas pelos humanos que souberem domá-los. O diploma continua valendo, mas será cada vez mais o ponto de partida — não a linha de chegada.

· 05:03 — Um belo resultado para dar o tom do setor

A Palantir entregou um resultado digno do hype que a cerca. Na noite de ontem, a companhia superou com folga as elevadas expectativas do mercado, premiando com entusiasmo os seus investidores. Após valorizar mais de 500% em um ano — sendo 110% apenas em 2025 — a empresa conquistou o título de melhor desempenho do S&P 500, além de adicionar cerca de US$ 300 bilhões ao seu valor de mercado. Com isso, a Palantir ascendeu ao clube seleto das gigantes da elite corporativa americana. Mas toda escalada vertiginosa carrega o risco de vertigem: seus múltiplos de preço/vendas e preço/lucro atingiram níveis dignos de bolhas. A pergunta, inevitável, começa a ecoar entre analistas e investidores: será que ainda vale a pena?

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.