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Investimentos

Ações da Intel disparam, Japão mantém juros e mais um passo de Trump contra o Fed: Como bolsa de valores deve se comportar nesta sexta-feira (19)?

Confira os principais destaques do mercado financeiro internacional e do Ibovespa para hoje.

Por Matheus Spiess

19 set 2025, 08:40

Atualizado em 19 set 2025, 08:40

intel ações tecnologia

Imagem: iStock/ JHVEPhoto

Os mercados globais iniciaram a sexta-feira (19) em tom de cautela, refletindo um ambiente de ajustes técnicos após dias de valorização consistente em Wall Street. Nos EUA, os futuros de ações operavam em leve queda, com destaque para a correção da Intel, que recuava mais de 2% no pré-mercado após a disparada no pregão de ontem. Em contrapartida, a FedEx avançava mais de 5%, sustentada por resultados robustos no primeiro trimestre e por um bom guidance para os próximos meses.

Na Europa, os principais índices registravam altas modestas, enquanto a Ásia apresentou desempenho mais fraco, impactada pela surpresa do Banco do Japão (BoJ). Embora tenha mantido sua taxa básica em 0,5%, o BoJ anunciou o início da venda de ETFs, decisão que pressionou o Nikkei e adicionou volatilidade às praças locais. Paralelamente, o dólar se fortalecia frente às principais moedas, ao passo que o ouro à vista avançava 0,25%, para quase US$ 6.700, em meio à busca por proteção.

Nos EUA, os rendimentos dos Treasuries também ganharam tração, com a taxa de 10 anos atingindo 4,13% pela manhã. O movimento refletiu a leitura de que, embora o Federal Reserve tenha iniciado o ciclo de cortes de juros, Jerome Powell adotou um tom mais conservador em sua coletiva, sinalizando prudência e condicionalidade para os próximos passos da política monetária. A divulgação dos pedidos semanais de seguro-desemprego, que mostraram nova queda, reforçou a percepção de resiliência no mercado de trabalho, fortalecendo o dólar e pressionando moedas emergentes.

No campo geopolítico, a atenção dos investidores se volta para a aguardada conversa entre Donald Trump e Xi Jinping, que deve abordar temas sensíveis como o futuro do TikTok e uma possível trégua tarifária. Já no Brasil, após a decisão do Copom de manter a Taxa Selic em 15% com um discurso ainda bem duro, os prêmios de juros permaneceram pressionados. Em linhas gerais, a sexta-feira começou marcada por ajustes de curto prazo e incertezas em torno da condução da política monetária global.

· 00:56 — Do compasso contracionista à dúvida fiscal

No Brasil, o Ibovespa encerrou o pregão de ontem praticamente estável, após três dias consecutivos de alta que haviam acompanhado o início do ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos. O movimento foi influenciado pelos detalhes do comunicado do Copom divulgado na quarta-feira. Como mencionei anteriormente, a retirada da expressão “continuação na interrupção do ciclo de alta de juros” eliminou a referência que ainda associava o Banco Central a um ciclo de aperto monetário, mesmo que interrompido. É verdade que o mercado nunca acreditou em uma retomada da alta, mas a mera presença da frase transmitia um viés contracionista adicional. Apesar dessa mudança, a autoridade monetária manteve a menção de que os juros permanecerão no atual patamar por um “período prolongado”, além de conservar suas projeções de inflação para 2026 e para o primeiro trimestre de 2027. Essa postura mais cautelosa chamou atenção, sobretudo porque foi mantida mesmo diante de um dólar mais fraco e da queda recente nos preços do petróleo, fatores que, em tese, poderiam abrir espaço para uma revisão mais branda. O resultado foi a leitura de um comunicado com viés duro, que levou a um ajuste nos preços dos ativos no pregão de ontem.

Ainda assim, permanece no radar a possibilidade de início de um ciclo de flexibilização monetária doméstico. Caso os dados de atividade confirmem desaceleração adicional e o movimento de cortes do Fed siga adiante, há espaço para uma redução de 25 pontos-base já em dezembro; caso contrário, um corte mais robusto, de 50 pontos-base, pode ser adiado para janeiro. Essa, no entanto, seria apenas a primeira fase de um processo gradual, que pode levar a Selic para algo em torno de 12% ao longo de 2026. A segunda etapa, mais profunda, dependerá diretamente da evolução do quadro fiscal (só depois das eleições) — área em que o atual governo tem demonstrado fragilidade. Nesse contexto, ganhou destaque a tramitação no Senado de um projeto que propõe a criação de um teto para a dívida bruta, limitado a 80% do PIB ou a 6,5 vezes a receita corrente líquida da União dos últimos 12 meses. A ideia, se bem desenhada, teria mérito, mas sua viabilidade exige forte liderança política no Executivo, algo que hoje parece distante, como evidenciado pelo afastamento de partidos da base, como o União Brasil. É preciso muita convicção para uma reforma fiscal no Brasil. Além disso, a Câmara deve avançar na próxima semana com a votação da isenção do Imposto de Renda e, paralelamente, a Comissão Mista de Orçamento deverá apreciar o Projeto de Lei Orçamentária. No campo externo, outro ponto chamou atenção: um grupo de quatro democratas e um republicano apresentou um projeto para anular as tarifas de Trump sobre o Brasil. Embora a medida tenha baixa probabilidade de prosperar, é possível que o tema do tarifaço de Trump sobre o Brasil seja resolvido em novembro pela Suprema Corte, quando está marcada a decisão sobre o caso das tarifas recíprocas, que podem cair (as setoriais, no entanto, seriam mantidas).

· 01:49 — Retomando a trajetória positiva

Os índices acionários americanos vêm estabelecendo recordes com frequência extraordinária. Na quinta-feira, S&P 500, Dow Jones e Nasdaq voltaram a registrar novas máximas, avançando 0,5%, 0,3% e 0,9%, respectivamente. O desempenho reforça a força da tendência: no acumulado de 2025, o S&P já soma 26 fechamentos históricos, o Nasdaq chega a 27 e o Dow alcança cinco. Até mesmo o Russell 2000, índice voltado para empresas de menor capitalização e que estava há anos sem protagonismo, marcou seu primeiro recorde desde 2021, com salto expressivo de 2,5%. Esse movimento foi impulsionado diretamente pela decisão do Federal Reserve de reduzir os juros em 25 pontos-base e pela expectativa de novos cortes à frente.

Essa combinação de afrouxamento monetário, crescimento econômico ainda presente — embora em ritmo mais moderado — e mercado acionário em rali desenha um ambiente particularmente favorável para setores como tecnologia e financeiro. As gigantes de tecnologia tendem a capturar ganhos relevantes em um cenário de custo de capital mais baixo, enquanto bancos e instituições financeiras podem ganhar tração com operações de crédito, fusões e atividades hipotecárias que se tornam mais atrativas em um ambiente de juros menores. Na sessão de quinta-feira, o brilho adicional veio justamente do setor de tecnologia: as ações da Intel dispararam quase 23%, maior salto desde 1987, após o anúncio de que a Nvidia investirá US$ 5 bilhões na companhia como parte de um acordo estratégico para o desenvolvimento de soluções voltadas a data centers e PCs. O movimento reverberou além da fronteira americana, puxando papéis como Alibaba, que avançaram 3,5%, em mais um sinal de que a combinação entre juros mais baixos e parcerias estratégicas reforça o apetite global por risco, especialmente no segmento de semicondutores.

· 02:31 — O risco de interferência

Donald Trump já assegurou três das seis cadeiras do Board do Federal Reserve com nomes de sua indicação e pode ampliar ainda mais sua influência sobre a instituição. A governadora Lisa Cook, cujo mandato é alvo de contestação judicial, corre o risco de perder o cargo caso a Suprema Corte autorize sua demissão — cenário que abriria espaço para que Trump nomeie um quarto aliado. A perspectiva de saída confirmada de Jerome Powell da presidência do Fed em maio de 2026 reforça a tendência de que o comitê assuma um perfil mais “dove”, ou seja, mais favorável à manutenção de juros baixos, tornando-se também mais permeável às pressões políticas da Casa Branca. Esse movimento já se evidencia com Stephen Miran, o novo indicado de Trump, que em sua primeira participação projetou cortes agressivos de até 1,5 ponto percentual na taxa básica até o fim do ano, em contraste com a posição mais gradual defendida pela maioria, incluindo membros tradicionalmente inclinados a apoiar flexibilizações.

A disputa em torno do mandato de Lisa Cook transformou-se em uma batalha institucional com implicações diretas para a independência histórica do banco central americano. Trump justificou sua tentativa de destituição alegando supostas irregularidades em documentos de hipoteca de 2021, mas decisões de instâncias inferiores permitiram que Cook permanecesse em exercício até que a questão seja definitivamente julgada. Agora, o caso está nas mãos da Suprema Corte, que também avaliará outros pontos de conflito entre Executivo e Fed, como a prerrogativa presidencial em temas econômicos e regulatórios. Para os mercados, a confirmação de Miran e a pressão crescente sobre Cook reacendem os receios de que a política monetária americana esteja cada vez mais exposta a interferências políticas. Em coletiva após a última decisão do FOMC, Powell evitou comentar diretamente o processo, mas reforçou que a condução da política seguirá ancorada em dados e fundamentos técnicos, e não em disputas partidárias — ainda que, na prática, a composição do comitê se mova gradualmente para um perfil mais alinhado a Trump.

· 03:24 — Mudança de postura

O Banco do Japão (BoJ) decidiu manter a taxa básica de juros inalterada em 0,5%, em linha com o que já era amplamente esperado pelo mercado, mas surpreendeu ao anunciar que começará a vender gradualmente parte de seus volumosos ativos em ações, ETFs e fundos imobiliários. Trata-se de uma inflexão histórica em sua política monetária, já que, após anos de estímulos extraordinários, o banco havia apenas interrompido novas compras desses ativos no ano passado, sem avançar no processo de redução de posição. A reação foi imediata: as bolsas japonesas devolveram os ganhos recentes, enquanto os rendimentos dos títulos de dois anos saltaram para o nível mais alto desde 2008, refletindo apostas de que um aumento de 25 pontos-base na taxa de juros pode ocorrer já em outubro. A divisão interna do comitê reforça essa percepção: dois membros defenderam uma alta imediata, sinalizando que a política monetária japonesa entrou em uma fase de transição após anos de intervenção.

Esse movimento do BoJ acontece em um contexto de maior cautela global, no qual investidores já questionam a sustentabilidade do rali das bolsas diante de valuations esticados. Embora a venda de ativos seja anunciada como extremamente lenta — em ritmo tão gradual que, teoricamente, levaria mais de um século para liquidar todo o portfólio —, o impacto simbólico é poderoso: fica evidente a intenção de normalizar a política monetária e retirar, ainda que de forma gradual, o suporte que vinha sustentando o mercado doméstico. Para a economia japonesa, essa mudança acrescenta novas camadas de risco: além da pressão vinda das tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos, os agentes passam a considerar a possibilidade concreta de juros mais altos no curto prazo. A mensagem do governador Kazuo Ueda não deixa margem para dúvidas: a fase de suporte extraordinário acabou, e o país caminha para um ambiente de maior normalização, justamente em meio a um quadro político e geopolítico incerto — o que exige atenção redobrada dos investidores.

· 04:17 — O outro gigante asiático

A economia indiana tem no consumo das famílias o seu grande motor de crescimento — e os sinais mais recentes reforçam ainda mais essa dinâmica. Quase metade da força de trabalho do país segue empregada na agricultura, e a boa safra deste ano trouxe efeitos significativos: os salários no setor registraram a maior alta em oito anos, traduzindo-se em ganhos reais de renda que estimulam diretamente a demanda no campo. Esse impulso é complementado por políticas de assistência social conduzidas pelo governo, com foco especial no público feminino, que ampliam a base de consumo. Paralelamente, a inflação em queda abriu espaço para cortes adicionais de juros, aliviando o orçamento das famílias endividadas — em particular aquelas com financiamentos imobiliários — e liberando mais recursos para gastos no dia a dia.

Do lado fiscal, o governo indiano também tem atuado de forma planejada para reforçar o poder de compra da população. A faixa de isenção do imposto de renda foi ampliada de maneira consistente, com espaço fiscal para absorver o impacto (em contraste com o improviso do projeto que se vê em discussão no Brasil hoje), beneficiando uma parcela ainda maior da classe média. Além disso, a reforma do imposto sobre bens e serviços (GST), prevista para outubro, reduzirá a complexidade do sistema atual, simplificando de quatro para apenas duas alíquotas principais: 5% para itens essenciais e 18% para os demais, com uma taxa adicional de 40% apenas para produtos específicos. A medida deve baratear uma ampla gama de bens de consumo, de calçados a automóveis. Nesse ambiente — de inflação mais baixa, juros em queda e carga tributária simplificada —, o consumo tende a se consolidar como a principal alavanca de crescimento da Índia, já responsável por 61% do PIB do país.

· 05:01 — Continuo animado com a tese

As ações da Intel dispararam quase 23% após a Nvidia anunciar um investimento de US$ 5 bilhões na companhia, em um movimento que representa um verdadeiro ponto de inflexão para a tradicional fabricante americana de semicondutores, que vinha lutando para recuperar espaço na corrida global da inteligência artificial. A operação prevê a compra de ações a US$ 23,28 cada e inclui o desenvolvimento conjunto de múltiplas gerações de produtos para data centers e PCs, conectando as arquiteturas das duas gigantes por meio da tecnologia NVLink. Na prática, a parceria permitirá à Nvidia integrar CPUs x86 da Intel em suas plataformas de infraestrutura de IA, ao mesmo tempo em que, no segmento de computação pessoal, as GPUs RTX da Nvidia serão incorporadas a chips da Intel. A recepção no mercado foi de euforia: além da forte alta da Intel, as ações da própria Nvidia também avançaram, reforçando o apetite.

O acordo é estrategicamente vantajoso para ambas as empresas. Para a Intel, representa…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.