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Investimentos

Agora só falta acabar com a Hora do Brasil

As conquistas da última quinta-feira não são necessariamente um meio para a aprovação da Previdência. Elas são um fim em si mesmo, mexendo em elementos estruturais para o desenvolvimento brasileiro a longo prazo.

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Data de publicação
27 de março de 2017
Categoria
Investimentos

Hoje – faço a referência imprecisa como uma extensão de ontem à noite, quando os mercados já estavam fechados – é um dia histórico. Talvez você vá dizer que ainda não jogamos a final, também chamada de reforma da Previdência, no que eu concordo. Mas, com algum afastamento, pediria para reconhecer as vitórias em si. As conquistas da última quinta-feira não são necessariamente um meio para a aprovação da Previdência – muito embora até possam ser interpretadas assim. Elas são um fim em si mesmo, mexendo em elementos estruturais para o desenvolvimento brasileiro a longo prazo. A destruição criativa do antigo para a criação do novo nunca é confortável, mas é justamente dessa perturbação que emerge o processo darwiniano evolutivo.

Não há outro assunto nesta quinta-feira. Todos falam a respeito. Dos grevistas aos patrões, passando pelo meu primo no WhatsApp, preocupado com a suposta perda de direito dos trabalhadores indefesos. Se todos querem, eu também vou reclamar, diria Raulzito. Minha menção honrosa vai ao jornalista Fábio Alves. Com a genialidade de sempre, ele cravou: “Se o governo conseguir menos de 300 votos na votação da reforma trabalhista, mercado vai estressar.” Essa turma se supera.

Para mim, só o fim do imposto sindical já merecia um champanhe exclusivo. Se fosse combinado com o fim da Hora do Brasil, daí era porre na certa. 

Somente em um dia, tivemos: flexibilização das leis trabalhistas, aprovação em primeiro turno do fim do foro privilegiado e alteração do texto a respeito abuso de autoridade, cuja versão original era uma atrocidade.

Em poucas vezes na história brasileira, experimentamos um dia com tamanho avanço institucional, com impactos de longo prazo. A rigidez imposta pela CLT, tal como mantida anteriormente, era um fator importante para a baixa produtividade e a restrição a novas contratações. Talvez seja paradoxal para alguns, mas a maior conquista dos trabalhadores em muito tempo foi a reforma de ontem – não tenho dúvidas de que caminhamos na direção de taxas de desemprego estruturalmente menores. Ontem, finalmente estivemos alinhados às tais instituições inclusivas do Acemoglu.

Não há nada linear nos mercados ou mesmo no desenvolvimento econômico dos países. 

Quando Richard Dawkins escreveu O relojoeiro cego, ele estava certo em suas críticas ao materialismo histórico. Não há condições históricas determinísticas pavimentando um inexorável curso das coisas. “O universo se move por pequenas mudanças aleatórias incrementais, e não por movimentos causais.” Ele está perfeito em sua consideração sobre a importância da aleatoriedade. Mas está errado sobre “pequenas” mudanças. O mundo caminha em saltos, em grandes rupturas consideradas radas, com impactos pronunciados sobre a evolução do curso das coisas a longo prazo.

Ontem demos um grande salto para frente. E, por mais incrível e paradoxal que pareça, o governo Temer, com uma das mais baixas taxas de aprovação da história e acusado até as tampas de envolvimento com corrupção, entra para o hall da fama em termos de legado institucional. Possivelmente, você vai torcer o nariz para isso. Pessoalmente, eu também não gosto dele. Mas a história será a maior juíza.

O otimismo só não é maior porque, de fato, ainda não aprovamos as novas regras previdenciárias, tampouco temos garantias sobre isso. E o lado ruim é que, sem uma nova Previdência, o tal legado institucional é duramente impactado.

Há algo positivo também nesse sentido. Ainda que não tenha recebido os 308 votos que seriam necessários para aprovar a Previdência, a reforma trabalhista, com seus 296 pareceres favoráveis, nos coloca próximos a isso. Ainda faltam 12 votos, mas eles são “conquistáveis”. Governo deve aumentar a ofensiva sobre a base, punir traidores, conceder cargos e, como uma grande homenagem ao ex-presidente Lula e à ex-presidenta Dilma (caprichando no “a” para enfatizar a ironia), fazer o diabo para ganhar essa votação.

Não estou dizendo que o jogo está ganho. Ao contrário, o placar de ontem sugere que não há qualquer espaço para erro. Mesmo assim, as chances de aprovação da Previdência me parecem ter aumentado substancialmente.

Depois de muito tempo, finalmente conseguimos ver a luz ao final da pinguela. E ela pode ser muito mais forte do que contempla o consenso de mercado. Cresce a confiança de que, mais uma vez, a paciência, a disciplina e a tolerância à volatilidade serão devidamente recompensadas. Ainda estamos no meio do furacão e, portanto, é bom apertar os cintos. Chegar no destino com greve dos metroviários e aeronautas é particularmente complicado. Mas pode ser especialmente saboroso.

Mercados iniciam a quinta-feira demonstrando otimismo. Ibovespa sobe 0,5 por cento, dólar cai 0,27 por cento contra o real e juros futuros cedem. A aprovação das reformas favorece a disposição à compra de ativos de risco.

Deflação maior do que a esperada medida pelo IGP-M (-1,10%) fortalece suposição de que Selic pode cair em ritmo ainda mais rápido, caso avancemos no ajuste fiscal.

Agenda local traz ainda IPC-Fipe, resultado fiscal do governo central e uma série de resultados corporativos relevantes, com destaque para Bradesco e Vale. 

Lá fora, declaração de Trump garantindo EUA no NAFTA é particularmente favorável para o peso mexicano. Entre os indicadores norte-americanos, encomendas de bens duráveis, pedidos de auxílio-desemprego, vendas de casas pendentes e atividade na região do Kansas perfazem a agenda.

Japão manteve política monetária inalterada, conforme expectativas. Europa também tem reunião de política monetária e não se espera mudança no programa de compra de títulos neste momento.

Investidor não entra em greve. E muita coisa pode acontecer em 48 horas. Depois de semanas muito duras, humor pode estar mudando favoravelmente aos ativos brasileiros. Estamos num momento especial, capaz de definir toda uma vida financeira.

Você pode se preparar com o Combo Renda Essencial – ele está disponível apenas hoje. Ele também entra em greve amanhã.