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Alliar (AALR3): vale a pena incluir (ou deixar) na sua carteira?

Entenda a transição de melhor aposta para 2020 para indigna de pertencer ao seu portfólio

Por Matheus Egydio

30 de março de 2021, 08:00

As ações da Alliar Médicos à Frente (AALR3) já foram recomendadas na série Microcap Alert, liderada por Max Bohm. A inclusão do ativo aconteceu em agosto de 2018, teve expectativas renovadas em 2020, mas, em 2021, foi excluída da carteira.

Neste artigo, vamos entender o case sobre AALR3, explicando tudo que víamos e justificava a compra, assim como o que aconteceu em 2020 e, hoje, justifica a venda.

O que a Alliar (AALR3) faz?

É muito provável — e bastante razoável — que você se pergunte como é possível que um negócio relacionado à saúde possa, em plena pandemia, ter sofrido retração na demanda e perdido seu valor.

Para isso, precisamos entender o que a Alliar faz para ganhar dinheiro.

No caso da Alliar Médicos à Frente (AALR3), fundada em 2011, estamos falando de uma empresa focada em diagnósticos de imagem, ou seja, os famosos check-ups que todos precisamos fazer para descobrir se nosso corpo está bem.

Isso significa que a companhia é muito mais vinculada aos exames preventivos e planos de saúde que os possibilitam do que ao atendimento e tratamento de pacientes.

Ela era promissora…

A empresa tinha sido indicada no exato momento em que ela havia flexionado os joelhos para saltar. Nas palavras de Max, a Alliar havia “passado por um grande processo de crescimento orgânico e inorgânico nos últimos anos e estava preparada para colher os frutos dos investimentos realizados”.

Na análise que fizemos, tudo também estava alinhado, ou seja, não era mera questão de expectativas: “posição relevante no mercado com marcas renomadas, solidez financeira com dívida controlada e foco em melhora da eficiência, lucratividade e rentabilidade, além do mais alto nível de governança corporativa”, destaca Max.

Em síntese, AALR3 tinha tudo que procuramos numa microcap e o timing nos parecia ideal.

Para sermos justos, a recomendação funcionou durante um bom tempo, num período em que a tese claramente se comprovava quando em contato com a realidade:

Os investidores de AALR3 conseguiram multiplicar seu patrimônio antes de 2020

Então, permanecemos com AALR3 porque o objetivo era de longuíssimo prazo, sustentado por fatores estruturais do nosso país, como o envelhecimento da população e a diminuição do desemprego.

Sobre o primeiro ponto, a análise de Max sobre os dados do IBGE indicavam que a participação de idosos na população brasileira iria dobrar nos próximos 30 anos. Não por acaso, AALR3 ia se beneficiar disso em primeira mão, pois é exatamente esse público que mais usa seus serviços.

Os idosos utilizam, em média, três vezes mais os serviços de saúde, como diagnósticos, clínicas e hospitais

Partindo para o segundo ponto, nos encontrávamos num momento de recuperação da crise que explodiu em 2014 e, sob a ótica que nos interessa neste artigo, isso significa que haveriam mais pessoas empregadas, ou seja, com um plano de saúde disponível.

Trata-se de uma relação, em maior ou menor grau, inversamente proporcional: quando a taxa de desemprego sobe, há menos beneficiários de plano de saúde e vice-versa.

Para dar ainda mais consistência aos dados acima, Max explica que “a penetração dos planos de saúde atingia apenas 23% da população brasileira, o que deixa o potencial de crescimento da demanda no setor muito evidente”.

Finalizado a análise macroeconômica favorável para AALR3, ainda tínhamos alguns prós específicos para ela.

Entre os diferenciais competitivos que a destacam da Fleury (FLRY3), Diagnósticos da América (DASA3) e Hermes Pardini (PARD3), podemos apontar, sem pensar duas vezes, a maximização das operações por meio da plataforma digital.

Max visitou o Command Center da companhia e viu como a tecnologia anda de mãos dadas com a inovação na Alliar.

Para começar, a companhia conseguiu empregar um software que permite a operação remota das máquinas de ressonância magnética, dando poder para um técnico realizar o trabalho de três:

Fonte: Alliar

Quando um operador é capaz de realizar procedimentos em três unidades simultaneamente, não há dúvidas de que a empresa ganha muita produtividade e melhora na eficiência, além de reduzir os custos.

Mas não parava por aí.

A Alliar também contava com um sistema de I.A. para ajudar os médicos parceiros a agilizarem os exames ao mesmo tempo em que melhorava a qualidade destes, o que encantava o cliente duas vezes: menos tempo esperando e resultados mais precisos.

Fonte: Alliar

Por fim, a Alliar implementou tecnologia no atendimento ao cliente também, o que reduzia tanto a mão de obra quanto o tempo de serviço relacionado ao call center e à recepção de pacientes.

Tudo isso nos mostrava que AALR3 era um ótimo ativo, com um upside (potencial de valorização) atrativo e, dessa forma, incluímos a ação na série Microcap Alert. Vimos, mais cedo, que a estratégia funcionou durante mais de um ano, até que veio a pandemia.

O desempenho em 2020: expectativa vs realidade

Os últimos anos da Alliar são marcados por investimentos intensos em tecnologia e crescimento orgânico (espontâneo) e inorgânico (aquisições). Em 2019, vimos o desenrolar desses movimentos e uma prosperidade muito vantajosa para quem comprou AALR3.

No começo de 2020, quando Max renovou suas expectativas sobre Alliar (janeiro), a pandemia nem sequer tinha pousado em nossas terras (o primeiro caso foi identificado no final de fevereiro).

Após dois anos de crescimento, nossa análise indicava que a empresa iria focar, em 2020, no crescimento do volume de receita líquida, objetivo sustentado em três fundamentos:

  • Expansão na demanda por exames diante de indicadores de emprego que mostram recuperação (dados da PNAD e do CAGED);

  • Crescimento da receita, influenciada pela inauguração de novas “mega unidades” e expansão das unidades existentes; e

  • Continuidade nas novas iniciativas tecnológicas, como automação de call center e recepção.

Para termos noção de como isso se encaixava nos investimentos e revelar o nosso próprio envolvimento:

  1. Max sugeriu AALR3 em agosto de 2018, quando o papel estava na casa dos R$ 13 e, para ele, deveria valer R$ 23;

  2. No final de 2019, já tinha alcançado R$ 18;

  3. No começo de janeiro de 2020, Max descobriu que o novo preço justo era de R$ 30; e

  4. No final de janeiro de 2020, AALR3 atinge o preço justo inicial de R$ 23.

Tudo ia muito bem com a tese, já que o histórico era bom e os fundamentos se mostravam suficientemente sólidos.

Entretanto, como descobrimos — e ainda estamos descobrindo — a pandemia se mostrou capaz de abalar qualquer tipo de estrutura. Nesse momento, assim como quase todos os ativos da B3, vimos AALR3 entrar em queda livre:

A queda de AALR3 foi meteórica e o preço baixo persiste até hoje

No caso de Alliar, a queda não foi fruto apenas do pânico generalizado pelo qual a B3 navegou — um circuit breaker atrás do outro —, mas de um panorama incerto para o modelo de negócio da empresa.

Afinal, a prioridade máxima na área da saúde, tanto para os profissionais quanto para os pacientes, era segurar as pontas da situação crítica envolvendo o vírus.

A queda de demanda por exames foi sentida já no 2T20, resultado do medo das pessoas de sair de casa e ir para hospitais e clínicas (por serem os lugares para os quais pessoas infectadas vão, há um alto risco envolvido).

Além disso, o desemprego explodiu e isso, como dito, impacta diretamente nos negócios da Alliar (leia-se menos pessoas com planos de saúde).

No entanto, acreditávamos que AALR3, escolhida como o “cavalo do ano”, ainda iria nos mostrar seu verdadeiro valor por meio das inovações tecnológicas. Mas 2020 foi implacável e “desfez muitos dos fatores virtuosos que fariam nosso ativo voar”, pontua Max.

A exclusão de AALR3 na carteira Microcap Alert

Por qual motivo, talvez você se pergunte, esse preço historicamente baixo não significa uma oportunidade de comprar mais AALR3, assim como outros ativos que sofreram indevidamente com a pandemia?

Em síntese, porque os motivos que perpetuaram a queda de AALR3 ainda estão aí.

As “perspectivas de aumento no desemprego (estimado em cerca de 14% até o 3T20), nos faz projetar maiores dificuldades para a Alliar expandir sua carteira de clientes e, além disso, a estrutura de trabalho cada vez mais informal dificulta a expansão dos planos de saúde, o que impacta negativamente o crescimento de receita da companhia”, explica Max.

E o buraco é mais embaixo no mercado financeiro, porque o ativo da empresa é interpretado, de uma forma geral, como o de uma companhia sem tração. Em outras palavras, “o mercado não está mais olhando para o case”, aponta Max.

Isso significa que a crise estrutural é vista como uma avenida ruim para a Alliar; não sabemos quando ela conseguirá se desvencilhar dessa situação e, no mais, o mercado perdeu sua fé no potencial dela.

As suas ações podem voltar a ser muito atrativas no futuro de médio e longo prazo, mas, neste momento, não somos otimistas quando vemos AALR3 e multiplicação de patrimônio na mesma frase porque os problemas presentes são dificílimos de serem resolvidos e, não obstante, não o serão tão em breve.

Assim, em janeiro de 2021, a AALR3 foi excluída da seleta carteira de microcaps do Max, que sugeriu a realocação em… falaremos na próxima seção.

Conclusão

A tese de AALR3 se mostrou coerente no mercado antes da pandemia aplicar seu golpe fatal. Assim, diferentemente de outras companhias, a Alliar ainda não conseguiu se recompor e, considerando que ainda enxergamos horizontes de incerteza na economia, entendemos que não faz mais sentido ter AALR3 na carteira.

Portanto, se você não possui AALR3 e cogitava comprar esse ativo, sugerimos que não o faça. Por outro lado, se você já possui as ações da Alliar em seu portfólio, nossa indicação é que se desfaça delas.

Eis a dica de ouro: para os assinantes do Microcap Alert, carteira que rendeu 382,10% desde sua criação, Max Bohm sugeriu a realocação do dinheiro aplicado em AALR3 na Neogrid (NGRD3), ativo no qual ele “enxerga maior potencial de crescimento e de valorização”.

Dito isso, boas compras.

Sobre o autor

Matheus Egydio

Escreve para o site da Empiricus, MoneyTimes e Seu Dinheiro.