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O “ataque tarifário” de Donald Trump ao Brasil trouxe incertezas que vão além dos impactos às exportações brasileiras e coloca em xeque o otimismo de curto prazo sobre o mercado brasileiro.
Esse foi o tom do episódio do podcast Market Makers, em que Thiago Salomão recebe Matheus Spiess, analista de macroeconomia da Empiricus Research, e José Raymundo Faria Júnior, sócio e analista da Wagner Investimentos.
Para os analistas, essa medida é apenas um sintoma de um cenário mais complexo e imprevisível, conforme afirmou Spiess:
“Ninguém sabe se as tarifas vão se materializar de fato, mas o simples fato de estarem na mesa já bagunçou o cenário.”
Não foi só Trump: o Brasil também jogou gasolina no conflito
Embora o Brasil tenha déficit comercial com os Estados Unidos, ao contrário da maioria dos países atingidos pela nova rodada de sanções, Spiess aponta que a motivação pode ter sido menos técnica e mais ideológica.
“A gente tem, sim, culpa no cartório. O governo, desde o seu início, adotou uma retórica antiamericana”, avalia o analista.
Segundo ele, o discurso ideológico do governo Lula pode ter funcionado como combustível para o desgaste.
As alianças com países não alinhados aos EUA e o questionamento da dominância do dólar, em especial na cúpula dos BRICS, soaram como uma provocação a Washington.
“O governo deixou esse tom agressivo transbordar para o seu discurso internacional, que já era antiamericano. A Casa Branca, muito insatisfeita, quis mostrar quem é que manda”, explicou Spiess.
Na visão do analista, o Brasil acabou virando um exemplo para o discurso protecionista de Trump.
“O Brasil pode ter sido usado como ‘bode expiatório’. Não é o único fator, mas ajuda a explicar o tom das sanções.”
O problema se agrava com a falta de canais diplomáticos eficazes. Com as negociações travadas e o estilo errático de Trump, o risco é que o embate escale rapidamente.
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Novas cartas embaralharam o ‘trade eleitoral’
Além da incerteza econômica, a imposição das tarifas desorganizou o “trade eleitoral”, movimento que costuma ganhar força mais perto das eleições, mas que vinha sendo antecipado, conforme apontou Spiess:
“O mercado antecipou porque se viu frustrado no final do ano passado com aquele pacote de contenção de crescimento dos gastos públicos, que foi totalmente atrapalhado.”
Agora, com as novas cartas da mesa, o que até então parecia o caminho mais palatável ao mercado, perdeu força. Lula adotou um discurso mais nacionalista, o bolsonarismo reacendeu com as ameaças de prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro e o centro político começou a perder espaço.
“Você bagunça o cenário porque dá vida nova a diferentes setores que estavam adormecidos”, comenta o analista de macroeconomia.
Para Spiess, acompanhar os desdobramentos políticos é essencial:
“Se você acredita que o pêndulo político pode mudar em direção a um governo mais reformista e pró-mercado, isso se reflete imediatamente na curva de juros e na valorização dos ativos domésticos. Você pode dar entrada num grande rali dos ativos domésticos, e é por isso que o pessoal tem prestado bastante atenção nisso.”
Mas, segundo ele, a politização precoce desse processo contaminou o curto prazo.
O resultado é um ambiente altamente binário, em que o Brasil pode tanto entrar em um novo ciclo de valorização quanto escorregar para uma crise institucional profunda.
É preciso esperar a poeira baixar
Apesar do cenário confuso, Spiess acredita que existe uma possível janela de valorização para os ativos brasileiros.
“A bolsa brasileira andou, mas ainda não representa todo o potencial que ela poderia andar caso houvesse uma mudança de pêndulo político… caso ele se materialize, de fato, até o final do ano que vem, será transformacional.”
Ele lembra que todo grande ciclo da Bolsa brasileira foi precedido de grandes correções, como a que vivemos desde 2021 e que, em dólar, o Ibovespa ainda está muito longe das máximas históricas.
Ainda assim, o analista adota cautela:
“São sempre cenários e probabilidades associadas. Ninguém vai cravar, porque é um cenário muito difícil, de muita incerteza olhando para frente.“
E alerta que, este pode ser um cenário polarizado e “se for para o caminho contrário do que a gente está falando, pode esgarçar rápido”.
Diante da imprevisibilidade, a resposta mais sensata segue sendo a diversificação.
“A gente defende essa tese há bastante tempo e serve como proteção”, diz Spiess. “Ouro, posições em moeda forte… você tem que ter na carteira.”
A mensagem final é de atenção redobrada: “O cenário de curto prazo está bagunçado… Mas deixando essa poeira baixar, a gente pode voltar a ter um caminho mais claro olhando para frente”, conclui Spiess.
No episódio, os analistas aprofundam no cenário e exploram em detalhes os desdobramentos políticos, econômicos e as implicações para o investidor. Para assistir na íntegra, acesse o vídeo abaixo.