Muitas vezes, uma dada companhia pode ter uma gestão de muita qualidade, um balanço sólido e um portfólio de marcas inigualável. Muitas vezes também, isso não será suficiente para proteger os resultados quando as vendas no setor começam a mergulhar.
Hypera (HYPE3) é uma das companhias que mais admiramos na Bolsa, mas não deve ser ajudada pela dinâmica do setor farmacêutico nos próximos trimestres.
Mas antes de tentar antecipar o que pode acontecer, temos que voltar alguns anos e entender o que já aconteceu e qual é o nosso ponto de partida hoje.
Os últimos três anos foram muito bons para farmacêuticas em geral, mas principalmente para a Hypera.
A pandemia não só impulsionou a venda de medicamentos, como também aumentou a inflação e, consequentemente, o reajuste desses produtos (CMED), o que contribuiu para o incremento de receita e margens no período.
Mas a Hypera foi ainda mais beneficiada, já que a companhia vinha de três aquisições relevantes (Buscopan, Takeda e Sanofi), que trouxeram marcas poderosas e boas sinergias de despesas e margens.
Para fechar, com um portfólio mais exposto à classe de antigripais e vitaminas – justamente os mais buscados na pandemia –, Hypera conseguiu atravessar o período com mais vendas e ganho de share do que as rivais.
Resultados da Hypera devem desacelerar nos próximos trimestres
O problema é que tudo indica que, depois desse longo período de crescimento, estamos entrando em uma ressaca que deve afetar o resultado por alguns trimestres (pelo menos).
Uma queda nas vendas de medicamentos já era esperada com o fim da pandemia. O que ninguém esperava é que o inverno de 2023 seria o mais quente dos últimos 60 anos, e que isso faria os casos de gripe e as vendas desabassem. Desta vez, a maior participação de antigripais nos resultados da Hypera pesou, e fez o sell-out (venda para o consumidor final) despencar.
Isso já seria ruim, mas há um outro ponto importante. Como normalmente acontece, as farmácias tendem a aumentar os pedidos antes dos reajustes (abril) e antes da temporada de gripe, que não veio em 2023.
Esse descasamento entre aumento nos pedidos das farmácias (sell-in) e queda das vendas na ponta final (sell-out) sugere estoques acima da média nas farmácias neste momento, o que deveria levar algum tempo para normalizar, especialmente se o inverno de 2024 não trouxer aumento nos casos de gripe. Até lá, é provável que as vendas da Hypera continuem afetadas.
Ainda sobre os próximos trimestres, com a inflação dentro da meta em 2023, é provável que o próximo reajuste de medicamentos (CMED) seja bastante modesto e não provoque grandes antecipações de pedidos pelas farmácias que queiram se proteger da alta, um fator que costuma ajudar no início do ano.
Diante da perspectiva de piora, sugerimos a venda de HYPE3
Ainda gostamos bastante da Hypera, de seu portfólio e posicionamento único no setor, mas também não queremos ficar explicando resultados ruins, ainda mais sabendo que eles têm chance de demorar algum tempo até voltarem a melhorar.
Por 14x preço/lucros, um dividend yield de 3,5% e crescimento de resultados à frente, a Hypera ainda seria uma ação que carregaríamos com tranquilidade na carteira. Mas diante da perspectiva de piora de resultados, esses indicadores já não nos parecem mais tão apetitosos, e abrem espaço para mais revisões negativas do mercado pela frente.
Continuaremos acompanhando essa história de perto, mas, neste momento, deixamos de recomendar as ações HYPE3.
Caso tenha interesse, você pode conferir gratuitamente a carteira recomendada pela Empiricus Research para buscar dividendos. Basta clicar aqui e se cadastrar para receber o relatório.