Investimentos

Hypera Pharma (HYPE3): por que a Empiricus deixou de recomendar as ações?

Apesar de admirarmos a companhia, Hypera não deve ser ajudada pela dinâmica do setor farmacêutico nos próximos trimestres

Por Ruy Hungria

26 jan 2024, 10:47 - atualizado em 26 jan 2024, 10:47

Hypera HYPE3 dividendos
Imagem: Divulgação/Hypera Pharma

Muitas vezes, uma dada companhia pode ter uma gestão de muita qualidade, um balanço sólido e um portfólio de marcas inigualável. Muitas vezes também, isso não será suficiente para proteger os resultados quando as vendas no setor começam a mergulhar

Hypera (HYPE3) é uma das companhias que mais admiramos na Bolsa, mas não deve ser ajudada pela dinâmica do setor farmacêutico nos próximos trimestres.

Mas antes de tentar antecipar o que pode acontecer, temos que voltar alguns anos e entender o que já aconteceu e qual é o nosso ponto de partida hoje. 

Os últimos três anos foram muito bons para farmacêuticas em geral, mas principalmente para a Hypera. 

Fonte: companhia. Elaboração: Empiricus. 

A pandemia não só impulsionou a venda de medicamentos, como também aumentou a inflação e, consequentemente, o reajuste desses produtos (CMED), o que contribuiu para o incremento de receita e margens no período. 

Fonte: Portal gov.br. Elaboração: Empiricus. 

Mas a Hypera foi ainda mais beneficiada, já que a companhia vinha de três aquisições relevantes (Buscopan, Takeda e Sanofi), que trouxeram marcas poderosas e boas sinergias de despesas e margens. 

Para fechar, com um portfólio mais exposto à classe de antigripais e vitaminas – justamente os mais buscados na pandemia –, Hypera conseguiu atravessar o período com mais vendas e ganho de share do que as rivais

Resultados da Hypera devem desacelerar nos próximos trimestres

O problema é que tudo indica que, depois desse longo período de crescimento, estamos entrando em uma ressaca que deve afetar o resultado por alguns trimestres (pelo menos)

Uma queda nas vendas de medicamentos já era esperada com o fim da pandemia. O que ninguém esperava é que o inverno de 2023 seria o mais quente dos últimos 60 anos, e que isso faria os casos de gripe e as vendas desabassem. Desta vez, a maior participação de antigripais nos resultados da Hypera pesou, e fez o sell-out (venda para o consumidor final) despencar. 

Fonte: companhia. Elaboração: Empiricus. 

Isso já seria ruim, mas há um outro ponto importante. Como normalmente acontece, as farmácias tendem a aumentar os pedidos antes dos reajustes (abril) e antes da temporada de gripe, que não veio em 2023. 

Esse descasamento entre aumento nos pedidos das farmácias (sell-in) e queda das vendas na ponta final (sell-out) sugere estoques acima da média nas farmácias neste momento, o que deveria levar algum tempo para normalizar, especialmente se o inverno de 2024 não trouxer aumento nos casos de gripe. Até lá, é provável que as vendas da Hypera continuem afetadas

Ainda sobre os próximos trimestres, com a inflação dentro da meta em 2023, é provável que o próximo reajuste de medicamentos (CMED) seja bastante modesto e não provoque grandes antecipações de pedidos pelas farmácias que queiram se proteger da alta, um fator que costuma ajudar no início do ano.

Diante da perspectiva de piora, sugerimos a venda de HYPE3

Ainda gostamos bastante da Hypera, de seu portfólio e posicionamento único no setor, mas também não queremos ficar explicando resultados ruins, ainda mais sabendo que eles têm chance de demorar algum tempo até voltarem a melhorar. 

Por 14x preço/lucros, um dividend yield de 3,5% e crescimento de resultados à frente, a Hypera ainda seria uma ação que carregaríamos com tranquilidade na carteira. Mas diante da perspectiva de piora de resultados, esses indicadores já não nos parecem mais tão apetitosos, e abrem espaço para mais revisões negativas do mercado pela frente. 

Continuaremos acompanhando essa história de perto, mas, neste momento, deixamos de recomendar as ações HYPE3.

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Sobre o autor

Ruy Hungria

Bacharel em Física formado na Universidade de São Paulo (USP), possui MBA de Finanças na Fipe e iniciou a carreira no mercado financeiro em 2011, na própria Empiricus Research. Está à frente da série da casa focada em opções desde 2018, além de contribuir na elaboração e decisões de investimentos nas séries da Empiricus focadas em microcaps e dividendos, além de fazer o acompanhamento de companhias de diversos setores, com mais foco em Utilities e Oil & Gas. Desde o início de 2020 é colunista do portal Seu Dinheiro.

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