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Investimentos

Intelbras (INTB3): feedback sobre o Investor Day da companhia

Apesar dos deslizes no curto prazo, enxergamos um cenário de longo prazo bastante positivo para a Intelbras

Por Fernando Ferrer

29 de novembro de 2023, 11:05

Intelbras (INTB3)
Imagem: Divulgação/Intelbras

Na semana passada, estive presencialmente no evento promovido pela Intelbras (INTB3) para conhecer e conversar com os seus principais executivos, bem como para entender quais serão os próximos passos a serem dados pela companhia. Durante a visita, também tive a oportunidade de conhecer a fábrica deles, localizada em São José – Santa Catarina.

Ao longo das próximas linhas trago um resumo da fala inicial do presidente da Intelbras no evento e, posteriormente, as oportunidades enxergadas em cada linha de negócio. Confira abaixo:

Horizonte será azul para a Intelbras?

De acordo com o Sr. Altair, atualmente existe um horizonte mais azul para a companhia e as perspectivas são positivas à frente depois de um ano desafiador, especialmente por conta da escorregada no segmento de Energia.

Aliás, em média, a cada 12 anos a Intelbras teve um momento de “crise” (crescimento menor por conta de algum erro de leitura de mercado). Em 1989, teve um momento forte de crise / dificuldade por conta de ter jogado todas as fichas em um único cliente, que era o governo.

Na sequência, em 2000/2001, atingiu a liderança do setor de telecomunicações, focando em produtos para pequenas e médias empresas (PMEs). Nesse momento, o erro foi que não olhavam muito para o futuro, sem um planejamento estratégico claro pela frente, o que prejudicou o crescimento posterior.

Em seguida, em 2008, o erro foi entrar no mercado de computadores ao adquirir uma empresa do segmento localizada no Paraná. Naquele momento, chegaram a ser o segundo maior fabricante do país, mas em um segmento que não era o core da empresa, o que posteriormente se mostrou um erro.

Por fim, o último grande erro foi em 2022, quando entraram no boom do segmento de energia solar. De acordo com a companhia, a ideia era ir com cautela e crescer aos poucos, mas acabaram errando em acelerar e comprar a Renogivi o que, juntamente com a mudança de regulação, promoveu um grande freio de arrumação no segmento prejudicando bastante o desempenho da empresa.

Acho interessante fazer essa retrospectiva histórica pois além de mostrar que a companhia reconhece os seus erros, indica também que está preparada para superar as dificuldades e sair mais forte. Veja que, mesmo com esses erros estratégicos ao longo de sua história, a Intelbras se reinventou e conseguiu crescer anualmente desde 2006, em média, 13% em termos reais, ou seja, acima da inflação. Um patamar bastante robusto e difícil de ser alcançado.

GráficoDescrição gerada automaticamente
Crescimento real anual da Intelbras desde 2006. Fonte: Intelbras

Para frente e dado o portfólio bem mais consolidado da companhia, é esperado que o crescimento real anual médio fique em torno de 10%, o que também seria um excelente desempenho.

A primeira apresentação foi realizada pelo Diretor Superintendente do segmento de segurança, Sr. Paulo Daniel. Veja abaixo os principais pontos abordados:

Segurança

Os quatro pilares fundamentais que compõem a solução de segurança são:

  • i) O sistema de CFTV (câmeras), que assume o papel crucial de registrar eventos e armazenar imagens;
  • ii) Em seguida, o controle de acesso surge como o segundo pilar, garantindo um registro preciso e controle eficaz das entradas e saídas;
  • iii) O terceiro pilar, dedicado à intrusão, incorpora centrais de alarme e sensores, capacitando o sistema a identificar potenciais eventos indesejados e gerar alertas instantâneos; e
  • iv) Por último, mas não menos importante, a detecção de incêndio e iluminação, quarto pilar essencial, tendo em vista que identifica prontamente ameaças de fogo, acionando alarmes para uma resposta rápida e eficiente. Todos os quatro pilares são integrados por um software proprietário.

Com uma grande participação de mercado, a Intelbras é líder destacada no mercado brasileiro de segurança. A cada 10 sistemas de câmeras vendidos, 6 são da marca, destacando sua confiabilidade e aceitação. No segmento de alarmes, a Intelbras também se destaca, sendo escolhida em 5 a cada 10 vendas, e nos interfones, uma impressionante marca de 8 em cada 10.

Mas, diante desse sucesso, surge a pergunta: há espaço para crescer ainda mais com esse share elevado? A resposta é afirmativa, tendo em vista três principais avenidas estratégicas para manter e expandir essa unidade de negócios.

1) Evolução tecnológica, que impulsiona constantes inovações e aprimoramentos nos sistemas existentes. Da mesma forma que as pessoas não trocam de celular e de TV apenas quando estes dão defeito, a própria evolução dos sistemas de segurança acabam sendo um impulsionador para a troca. Se antes o acesso da fechadura era apenas por chave, rapidamente evoluiu para eletrônica por código, por digital e, as mais atuais, já fazem o acesso por biometria facial;

2) Novos negócios, explorando oportunidades em segmentos emergentes e nichos de mercado. Segmentos como controle de acesso, câmeras wifi, fechaduras digitais e casa inteligente estão sendo vistos como importantes para o crescimento da companhia. Atualmente, por exemplo, apenas 8% das residências do país possuem fechadura eletrônica e estas já custam uma fração do preço que eram revendidas há poucos anos;

3) E, por fim, soluções integradas, que visam oferecer pacotes completos e personalizados para atender às demandas específicas dos clientes. É possível vender um pacote de placa solar para um cliente e todo sistema de comunicação integrado ao de segurança da companhia. Mais do que isso, as câmeras de segurança podem ser utilizadas também para identificação se os funcionários estão usando os corretos equipamentos de proteção individual, melhorando assim os níveis de acidente da fábrica e aumentando o bem-estar dos funcionários.

A foto abaixo, que foi retirada por mim durante o evento, mostra o funcionamento do sistema de segurança da companhia. Além de fazer a identificação do gênero e faixa etária (à direita), é possível verificar o mapa de calor também. Com isso, além de identificar possíveis furtos mais facilmente, a câmera pode ajudar um varejista a entender quais gôndolas os consumidores gastam mais tempo e cobrar a mais por isso dos fornecedores, por exemplo. No caso de uma fábrica que fica próxima de uma floresta, é possível identificar um foco de incêndio à noite ou uma invasão.

Interface gráfica do usuário, Aplicativo, Site, TeamsDescrição gerada automaticamente
Fonte: Acervo pessoal

Comunicação

Na sequência, foi falado sobre as oportunidades do segmento de comunicação pelo Superintendente Henrique Fernandez. De acordo com ele, a estratégia de crescimento dessa vertical é sustentada por quatro principais pilares: entrada no mercado de redes enterprise, avanço no mercado de ativos e passivos de fibra óptica, comunicação em nuvem e fornecimento de solução de IoT corporativa completa. Todos eles pautados em parcerias estratégicas, como as recentemente anunciadas com a FiberHome e com a H3C.

O mercado de enterprise é um negócio novo, que tinha um tamanho de mercado potencial (TAM) em torno de R$ 600 milhões. Através da parceria recente com a chinesa H3C, o TAM avançou para R$ 2,1 bilhões. É esperado que apenas nessa frente sejam realizados 40 lançamentos neste ano e mais 30 no ano que vem.

A parceria com a FiberHome, por exemplo, amplia o mercado potencial da Intelbras em aproximadamente R$ 3 bilhões, tendo em vista que a companhia passará a incorporar o portfólio de produtos da chinesa a partir do ano que vem. De acordo com o executivo, a FiberHome é o único fornecedor global de soluções ópticas ponta a ponta de dispositivos optoeletrônicos, pré-forma de fibra óptica, fibras e cabos para sistemas de comunicação óptica. Através da parceria, a Intelbras passa a ter um portfólio completo no segmento e aumenta a fidelização dos seus clientes.

Para atender a essa demanda, a companhia inaugurou recentemente a sua nova unidade fabril em Tubarão, Santa Catarina, focada na fabricação de cabos de comunicação em fibra óptica e cobre.

Placa azul com letras brancas em fundo verdeDescrição gerada automaticamente
Fonte: Intelbras

O terceiro pilar estratégico seria a comunicação unificada na nuvem. De acordo com a companhia, o mercado no Brasil de chatbot e VoIP em 2023 foi estimado em R$ 1 bilhão e a ideia aqui é focar em pequenas e médias empresas. Essa solução, que estancou a queda de faturamento dos produtos com tecnologia analógica, já tem mostrado resultados animadores. O crescimento da receita bruta nos últimos doze meses foi de 54%, com 3 mil empresas ativas na base. Nessa linha, possui uma parceria com a empresa Hytera, referência global em soluções de radiocomunicação.

Por fim, o segmento de Produtos IoT para o B2B também será um foco importante para a unidade de negócios de Comunicação. Por meio do fornecimento de soluções completas, com rede de conexão, dispositivos de sensoriamento e plataforma de comando e controle, é possível realizar o monitoramento de temperatura, umidade, abertura, consumo de gás, água e energia, estação meteorológica, ar-condicionado e nível de reservatório de água, entre outras coisas.

Energia

Por fim, o segmento de energia foi apresentado pelo Superintendente responsável, o Sr. Márcio Ferreira. Esse segmento pode ser dividido em dois: energia propriamente dito, que contempla baterias, fontes e nobreaks e solar (off grid, on grid e Renovigi). Embora o setor esteja passando por uma ressaca neste ano, ainda existem boas oportunidades de crescimento no segmento de Energia.

O solar off grid, por exemplo, tem como principal característica o funcionamento sem conexão às redes elétricas. Em termos de aplicações, pode-se utilizá-lo em postes autônomos (segurança em qualquer lugar sem a necessidade de conexão com a rede elétrica e integração do portfólio Intelbras), para bombeamento solar (aciona bombas e motores de maneira sustentável sem necessidade de conexão com a rede elétrica local) e para iluminação (iluminação em qualquer lugar sem a necessidade de conexão com a rede elétrica).

Fonte: Intelbras

Já o segmento on grid, que é formado por equipamentos com a função de converter a energia solar em eletricidade e conectá-la diretamente na rede elétrica, foi o que passou por maiores dificuldades neste ano por conta da mudança de regulação e pelos exageros do setor, o que frustrou as expectativas dos investidores.

De acordo com a empresa, as seguintes melhorias foram implementadas neste ano e seus efeitos começarão a ser verificados com mais clareza nos próximos meses: adequação da estrutura ao novo tamanho do mercado (custos caíram 30%), otimização da estrutura logística e de produção dos geradores, readequação dos estoques (terminar o ano com estoque mais adequado com a necessidade de 2024) e manutenção de ambas as marcas (Intelbras e Renovigi) e da separação das operações de venda, marketing e pós-vendas.

Para frente, a companhia se mostrou muito otimista com uma recuperação do segmento e acredita inclusive que o pior já passou, conforme demonstrado no gráfico abaixo:

GráficoDescrição gerada automaticamente
Fonte: Intelbras

Na nossa visão, cenário de longo prazo se mantém positivo para a Intelbras

Além de ter a oportunidade de conversar com os executivos de cada uma das unidades de negócios, pudemos visitar a fábrica e entender mais o dia a dia da companhia. Gostamos bastante do evento e ficou claro que, apesar dos deslizes no curto prazo, o cenário de longo prazo para a Intelbras se mantém bastante positivo.

Por um lado, temos uma empresa com track record de sucesso confirmado, boa governança corporativa e boas oportunidades de crescimento a um valuation atrativo. Abaixo destacamos as nossas expectativas de desempenho de cada unidade de negócios até 2025:

Gráfico, Gráfico de cascataDescrição gerada automaticamente
Fontes: Bloomberg e Empiricus

Por outro, o mercado segue esperando um trigger de mais curto prazo para se posicionar no papel, tendo em vista que os últimos resultados foram insuficientes.

Do nosso ponto de vista, também nos frustramos com a entrega desse ano, mas entendemos que a combinação de fatores positivos sobrepuja os pontos negativos e, portanto, seguimos construtivos com a tese para o longo prazo. Negociando a 11 vezes os seus lucros para o ano que vem, a Intelbras (INTB3) segue como uma sugestão da nossa carteira.

Observação: Seguindo as comemorações dos 14 anos da Empiricus, receberemos amanhã, quinta-feira (30), em nosso escritório o Sr. Altair Silvestri, CEO da Intelbras. Essa é uma conversa particularmente interessante, pois há um potencial de que a empresa esteja, neste momento, passando por uma inflexão de resultados que, se confirmada, poderia catalisar destacada valorização de suas ações. Talvez ainda mais interessante: as aparições públicas do Sr. Altair são raríssimas, tornando esse papo verdadeiramente extraordinário.

Sobre o autor

Fernando Ferrer

Graduado em Engenharia Mecânica pela UFRJ e com MBA em Finanças pela mesma instituição, Fernando Ferrer atua na Empiricus como analista de investimentos há 5 anos cobrindo os setores de Varejo, Saúde e Infraestrutura. Atualmente, é responsável pela série best-seller As Melhores Ações da Bolsa e faz parte da equipe que comanda o Carteira Empiricus, o portfólio multimercado que é o carro-chefe da casa.