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Luiza Trajano será candidata à presidência em 2022? O que se sabe até agora

Pretendida por PT, PSDB, PSB e até Luciano Huck, empresária afirma que não tem interesse em participar do pleito de 2022

Por Danilo Moliterno

1 de abril de 2021, 01:20

Conforme as eleições de 2022 se aproximam, as movimentações políticas se intensificam no Brasil. Dentre as muitas peças que envolvem esse xadrez, uma vem ganhando bastante destaque nas últimas semanas e pode ter papel decisivo para o resultado do pleito: Luiza Trajano.

A atual presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza — e maior responsável pelo sucesso do negócio — é especulada como candidata nas eleições. Luiza Trajano possui grande capital político, ao dialogar bem com o mercado e com pautas sociais, e está afastada da vigente polarização, o que lhe permite transitar entre diversos setores. Esses e outros aspectos fazem da empreendedora uma peça cobiçada desse jogo.

Presidente da companhia durante quase 20 anos, Trajano é a principal responsável pelo sucesso do Magalu (Foto: Vergani Fotografia / Shutterstock.com)

PT e PSDB, assim como Luciano Huck — que deve concorrer nas eleições, mas ainda não se sabe por qual partido —, gostariam de ter Luiza como candidata à vice-presidência. Além disso, o PSB a enxerga como uma possibilidade para a disputa da presidência. No entanto, a empreendedora, em um primeiro momento, não se mostra interessada em nenhum dos cenários.

Em entrevista publicada pelo jornal “O Globo” no início de março, Luiza disse que não irá concorrer nas eleições de 2022 e que “não precisa de carreira política”. Apesar da afirmação forte, a empresária vem atuando de maneira intensa nesse meio, e os partidos interessados em seu capital político devem continuar se movimentando para convencê-la. 

As possibilidades de Luiza para 2022

Antes mesmo de as condenações do ex-presidente Lula serem anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Luiza Trajano já era especulada para compor a chapa petista. Segundo reportagem do O Estado de S. Paulo, o partido enxergava a empresária como um “novo nome do capital”, capaz de possibilitar o diálogo entre o PT e o mercado financeiro e de trazer moderação à candidatura.

Na época, quando a ideia ainda era que Trajano poderia compor uma chapa com Fernando Haddad, Washington Quaquá, vice-presidente nacional do PT, comentou a possibilidade: “precisamos nos reconectar com o empresariado que tem relação com o mercado interno e com o eleitor de centro, para formar maioria, ganhar e governar”. Ele ainda completou: “acho Haddad e Luiza Trajano uma super chapa”.

Ainda não há consenso sobre quem será o candidato à presidência do PSDB. Internamente o partido se divide entre grupos que apoiam a candidatura de João Dória, governador de São Paulo, e outros que acreditam que Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, seria a melhor opção. Por outro lado, há definição sobre a pessoa que se deseja para ocupar a vice-presidência: Luiza Trajano.

A empresária, no entanto, é mais próxima de João Dória, com quem criou o Lide Mulher, braço feminino do Grupo de Líderes Empresariais. O presidente do PSDB em São Paulo, Marco Vinholi, também já se pronunciou sobre a possibilidade de a empreendedora se juntar ao partido: “Tenho admiração pela Luiza. Nunca tive a oportunidade de fazer um convite formal, mas ela seria muito bem-vinda no PSDB”.

Luciano Huck é outro potencial candidato à presidência em 2022 que mantém relações próximas com Trajano. Durante a pandemia, os dois estiveram juntos em debates que abordavam o cenário econômico atual. O apresentador, que ainda não está vinculado a nenhum partido, é, além disso, um dos principais garotos propaganda do Magazine Luiza.

Trajano e Huck em encontro on-line promvido pela Amigos do Bem, em dezembro de 2020 (Foto: Reprodução)

Capaz de dialogar com diversos setores, Luiza é também amplamente popular, o que aumenta a cobiça. Em pesquisa divulgada recentemente pelo O Globo, ela foi o terceiro nome mais citado quando se perguntava ao entrevistado quem ele gostaria que ocupasse a presidência. Com 10,4% das menções, a empresária só ficava atrás de Lula (26%) e Bolsonaro (24,5%). 

Essa popularidade faz com que Luiza seja pretendida não só para compor chapas, mas para liderá-las. O deputado estadual Luiz Cláudio Romanelli, do PSB, confirmou, em entrevista ao Metrópoles, o interesse da sigla em contar com a empresária. “O PSB pode ter uma candidata a presidente da República que é muito interessante, que é a Luiza Trajano. Nem sei se eu podia falar isso aqui”, contou.

Luiza Trajano, personagem político 

Um dos primeiros passos de Luiza no meio político, a fundação do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), em 2004, seria alavanca para um de seus principais envolvimentos com o governo brasileiro. Também por sua posição como presidente da instituição, em 2012, a empresária seria convidada por Dilma Rousseff para assumir a Secretaria da Micro e Pequena Empresa.

Embora tenha negado a proposta, Trajano manteve boa relação com aquela gestão. Mais tarde seria vice-presidente do Comitê Olímpico da Rio 2016. Chegaria, inclusive, a carregar a tocha olímpica na passagem do símbolo por Franca, sua cidade natal. Episódio lembrado pela maior parte dos brasileiros, visto que, por se desequilibrar e cair na caminhada com a tocha, a empresária se tornou um “meme”.

A empresária levou a brincadeira “na esportiva” e aproveitou a repercussão como estratégia de Marketing (Imagem: Reprodução)

Desde de 2009, quando entregou o comando do Magazine Luiza a Marcelo Silva, até então diretor superintendente da empresa, Trajano se volta a outros projetos. Por exemplo, ao Mulheres do Brasil, grupo que criou em 2013 junto de outras empresárias e que hoje preside. A iniciativa tem como objetivo fomentar a adoção de políticas afirmativas e combater as desigualdades de gênero, raça e condição social no Brasil.

Nos últimos anos a empreendedora ganhou espaço no debate público ao apoiar pautas como o combate à violência contra a mulher e as cotas raciais. Em 2017, quando a gerente de uma unidade do Magazine Luiza foi assassinada pelo marido, ela criou um canal de denúncias e um comitê interno para tratar desse tipo de caso. Além disso, idealizou uma organização para orientar todas as empresas que quisessem fazer o mesmo.

Em 2020 Luiza voltou a tomar os holofotes, quando a companhia criou um programa de trainees exclusivo para negros. O projeto, que gerou polêmicas nas redes sociais, foi defendido pela empresária. “Cota é um processo transitório para acertar uma desigualdade”, afirmou na época.

A trajetória no setor privado

Luiza Helena Trajano Inácio Rodrigues — a Luiza da Magalu, para a maior parte das pessoas — nasce em Franca, no interior paulista, em 1951. Formada em direito pela Universidade de Franca, nunca chegou a exercer a profissão. Isso porque optou por trabalhar desde cedo na loja de sua tia Luiza, a Magazine Luiza. 

Vendedora, gerente de loja, encarregada e compradora. Trajano atuou nas mais diversas áreas da companhia antes de receber da tia, em 1991, um bilhete que a convidava para assumir a presidência da empresa. 

Já no comando, a empreendedora inovou ao idealizar as primeiras lojas virtuais da Magalu. Em 2000, lançou o site de comércio eletrônico da empresa, que se acompanhou da aquisição de outras redes, como as Lojas Líder, Lojas Base, Kilar e Madol.

Somente em 2009 deixa a presidência, para Marcelo Silva, e observa de longe seu filho, Frederico Trajano, liderar a guinada virtual da empresa. Em 2011, mais um passo: a Magazine Luiza realiza seu IPO (Oferta Pública Inicial) e chega à bolsa de valores. O que possibilita um novo ciclo de aquisições, com a compra do Baú da Felicidade, do e-commerce esportivo Netshoes, e do marketplace de livros Estante Virtual.

Frederico, responsável pelo lançamento da Lu, o avatar da marca — que possui mais de 4 milhões de seguidores no Instagram — torna-se CEO da Magalu em 2016. Presidente do Conselho de Administração, Luiza ainda acompanha de perto a gestão da empresa. 

O sucesso de Luiza Trajano no setor privado aliado a seu envolvimento com pautas sociais fazem da empreendedora uma figura popular e capaz de transitar entre vários setores. O que explica a cobiça por parte de diversas siglas. Contudo, por enquanto, Luiza nega qualquer possibilidade de se aventurar na carreira política.

Luiza negou, em seu instagram pessoal, que irá concorrer nas eleições presidenciais de 2022 (Imagem: Reprodução)

Sobre o autor

Danilo Moliterno

Jornalista em formação pela Universidade de São Paulo (USP), com passagem pela redação do Jornal da USP