1 2019-12-09T13:32:41-03:00 xmp.iid:217a1f9b-69a9-426f-a7e6-7b9802d22521 xmp.did:217a1f9b-69a9-426f-a7e6-7b9802d22521 xmp.did:217a1f9b-69a9-426f-a7e6-7b9802d22521 saved xmp.iid:217a1f9b-69a9-426f-a7e6-7b9802d22521 2019-12-09T13:32:41-03:00 Adobe Bridge 2020 (Macintosh) /metadata
Investimentos

Mercado hoje: Derrota do governo na MP do IOF, IPCA e preocupações com bolha de IA entre as pautas do dia

No Oriente Médio, Israel e Hamas deram passo importante ao firmar a primeira fase do plano de paz

Por Matheus Spiess

09 out 2025, 09:38

Atualizado em 09 out 2025, 09:38

ibovespa ações mercado

Imagem: iStock/ @ASMR

O rali das ações ligadas à inteligência artificial continua a ganhar fôlego, impulsionando os principais índices globais e, simultaneamente, alimentando preocupações sobre uma possível formação de bolha no setor.

O Nasdaq renovou máximas históricas, puxado por uma expressiva valorização de 11% da AMD, que acumula ganhos superiores a 40% na semana após o anúncio de um acordo bilionário com a OpenAI. Esse entusiasmo crescente, porém, tem gerado alertas de autoridades monetárias. O Banco da Inglaterra destacou o risco crescente de uma correção abrupta, citando valuations considerados excessivamente elevados, especialmente entre empresas com foco em IA — um alerta que ecoa preocupações já manifestadas por figuras de peso no cenário global.

Por outro lado, vale ressaltar que, ao contrário de bolhas do passado, os preços atuais refletem fundamentos mais robustos das empresas, sustentados por crescimento real de receitas e lucros, e não apenas por especulação desenfreada.

No ambiente macroeconômico e geopolítico, diversos fatores também ajudam a moldar o humor dos mercados. A divulgação da ata do Federal Reserve ganhou protagonismo em meio à escassez de dados causada pela paralisação (“shutdown”) do governo americano, revelando divergências internas entre dirigentes que defendem novos estímulos, outros mais cautelosos e alguns inclinados a manter os juros no nível atual.

No Oriente Médio, Israel e Hamas deram um passo importante ao firmar a primeira fase de um plano de paz, que prevê a libertação de reféns e a retirada gradual de tropas israelenses.

Na Europa, o governo francês indicou a intenção de adotar um orçamento mais moderado, mantendo os ativos locais ainda pressionados.

Já na Ásia, as bolsas avançaram com a reabertura dos mercados chineses após o feriado da Golden Week, impulsionadas pela alta em tecnologia e robótica.

Por aqui, no aguardo da divulgação do dado oficial de inflação, avaliamos a derrota do governo na noite de ontem.

· 00:59 — Caducou

No Brasil, o mercado acionário mostrou recuperação no pregão de ontem, revertendo parte da correção observada na terça-feira. Para esta quinta, a atenção dos investidores se volta para a divulgação do dado oficial de inflação, prevista para a manhã — e que, provavelmente, já terá saído no momento em que você estiver lendo estas linhas.

O consenso de mercado aponta para uma alta de 0,52% no índice, após a queda de 0,11% em agosto. Essa aceleração deve refletir, principalmente, a dissipação dos efeitos temporários do bônus de Itaipu e a manutenção da bandeira vermelha 2 nas tarifas de energia elétrica.

Na comparação anual, a expectativa é de que a inflação em 12 meses avance de 5,13% para 5,21%. Um número abaixo do previsto poderia facilitar o trabalho do Banco Central em pavimentar um caminho mais claro para a retomada do ciclo de cortes de juros — talvez não já em dezembro deste ano, mas possivelmente na primeira reunião de 2026, em vez da segunda.

Até aqui, a autoridade monetária tem mantido um tom conservador, o que torna improvável uma flexibilização antecipada. A postura cautelosa tem fundamento: as expectativas de inflação permanecem desancoradas, e, segundo o boletim Focus, o IPCA não deve convergir à meta até 2028.

Ao mesmo tempo, até o fim de 2025, a inflação deve recuar para abaixo de 5% — ainda um nível elevado, mas ao menos sinalizando gradual convergência. Vale lembrar que parte relevante do nível elevado de juros decorre da falta de credibilidade fiscal: na ausência de uma âncora fiscal, o país se apoia em uma âncora monetária mais rígida do que o usual para equilibrar a moeda e conter riscos.

Aliás, esse pano de fundo fiscal ficou ainda mais evidente com a derrota do governo na votação da MP alternativa do IOF, ocorrida ontem à noite.

O episódio expôs divisões entre o Executivo e parte de sua base política. O governo parece ter superestimado o seu momento. Apesar de a popularidade do presidente Lula ter mostrado alguma melhora recente — como reforçou a nova pesquisa Quaest divulgada nesta manhã, testando cenários para 2026 —, a base de apoio permanece frágil.

A tentativa do Planalto de forçar a votação para “marcar posição” contra os opositores terminou frustrada por uma manobra da oposição, que retirou o tema de pauta, levando a MP a caducar antes de chegar ao Senado. A medida representava cerca de R$ 17 bilhões em receitas, e sua rejeição abriu um buraco relevante nas contas do Orçamento de 2026.

Haddad afirmou que buscará novas alternativas para manter os compromissos fiscais — mas, como a MP já era uma alternativa em si, o governo agora se vê obrigado a acionar o “plano B do plano B”. A gestão tem recorrido a soluções fiscais improvisadas, postergando ajustes estruturais e empurrando parte da conta para 2027, após as eleições, quando inevitavelmente terá de ser enfrentada. Com a proximidade do calendário eleitoral, é natural que os ruídos fiscais e políticos se intensifiquem. Por outro lado, não se deve ignorar que o Brasil ainda se beneficia de tendências externas favoráveis, como o fluxo positivo para mercados emergentes e um dólar mais fraco, fatores que ajudam a sustentar o ambiente doméstico apesar das incertezas fiscais.

· 01:47 — Corte contratado

A paralisação do governo americano já passa de uma semana, mas os mercados financeiros têm, até o momento, reagido com notável serenidade. O impacto econômico imediato segue limitado, o que explica a aparente indiferença dos investidores ao impasse político em Washington.

Essa calmaria, no entanto, pode ser temporária. Caso o presidente Donald Trump cumpra a ameaça de não pagar salários retroativos aos funcionários federais afastados, ou se atrasos em voos começarem a se tornar mais frequentes, o humor do mercado pode mudar rapidamente — lembrando que a paralisação recorde de 35 dias em 2019 só foi encerrada quando controladores de tráfego aéreo deixaram de comparecer ao trabalho, comprometendo operações aeroportuárias.

Por ora, porém, o ambiente permanece construtivo. Ontem, o Nasdaq avançou 1,1%, o S&P 500 subiu 0,6% e renovou máximas históricas, enquanto o Dow Jones encerrou estável. Tentativas no Senado de aprovar dois projetos de lei — um dos democratas e outro bipartidário — para encerrar o shutdown fracassaram.

No campo monetário, o foco dos investidores voltou-se para a divulgação da ata da reunião de setembro do Federal Reserve, que confirmou a possibilidade de mais um corte de juros em outubro. O documento evidenciou, porém, um comitê dividido diante de sinais econômicos contraditórios: de um lado, uma inflação ainda resistente; de outro, sinais de enfraquecimento do mercado de trabalho.

A maioria dos dirigentes considera apropriado continuar a flexibilização monetária ao longo do ano, mas há divergências quanto ao ritmo e à intensidade dos próximos passos. Segundo o resumo das projeções econômicas, dez autoridades esperam mais dois cortes até o fim do ano, enquanto nove preveem um ou nenhum. Uma leve mudança no cenário macro poderia levar o FOMC a adotar uma postura mais cautelosa. Apesar das incertezas, Wall Street mantém o otimismo, apoiada na expectativa de um ciclo de juros mais baixos.

· 02:34 — Mudança de lógica

A rápida ascensão da inteligência artificial generativa está transformando de maneira profunda a lógica que sustentou a internet nas últimas décadas — uma dinâmica baseada em uma troca tácita: os mecanismos de busca direcionavam tráfego para produtores de conteúdo, que, em contrapartida, forneciam as informações que alimentavam os próprios buscadores.

Com cerca de 90% do mercado de buscas tradicionais nos EUA, o Google reagiu ao avanço de concorrentes como a OpenAI ao integrar IA diretamente à sua plataforma. A empresa passou a exibir “visões gerais” geradas por IA no topo das páginas de resultados e, em maio, lançou o “modo IA”, uma experiência de busca com formato semelhante a um chatbot.

A mensagem ao usuário é clara: “deixe o Google fazer a busca no Google por você”. Mas há um efeito colateral importante. Ao entregar respostas completas dentro da própria página, a IA reduz drasticamente os cliques nos links originais, minando o tráfego que tradicionalmente sustentava milhares de sites.

Segundo estimativas da Similarweb, o tráfego global de buscas realizadas por humanos caiu cerca de 15% no acumulado até junho, com recuos de 10% em sites de ciência e educação, 15% em sites de referência e 31% em sites de saúde — justamente os mais dependentes do fluxo gerado pelas pesquisas.

As consequências financeiras dessa mudança são relevantes. Empresas cujo modelo de negócios depende de publicidade digital ou assinaturas estão perdendo receita à medida que o volume de visitantes diminui.

Neil Vogel, CEO da Dotdash Meredith, expressou publicamente sua insatisfação. Há três anos, mais de 60% do tráfego de seus sites vinha do buscador; hoje, esse número caiu para a faixa dos 30%.

O Google, por sua vez, defende que o uso de conteúdo de terceiros é legítimo. No entanto, os dados mostram uma realidade difícil de ignorar: desde a introdução das visões gerais de IA, a parcela de buscas relacionadas a notícias que não geram cliques saltou de 56% para 69%, segundo a Similarweb. Na prática, a IA está centralizando o consumo de informação dentro do próprio buscador, alterando o equilíbrio de poder entre plataformas e produtores de conteúdo — e colocando sob forte pressão os modelos de negócio digitais tradicionais, que dependem de audiência orgânica para monetização.

· 03:26 — Primeira fase

Israel e Hamas chegaram a um acordo para dar início à primeira fase de um plano de paz mediado pelos EUA e pelo Catar, com o objetivo de encerrar a guerra de dois anos na Faixa de Gaza. De acordo com o presidente Donald Trump, essa etapa inicial prevê a libertação de reféns israelenses mantidos pelo Hamas em troca da libertação de prisioneiros palestinos detidos por Israel, além de uma retirada gradual das tropas israelenses para uma área previamente acordada.

O Hamas informou que o pacto também contempla a entrada de ajuda humanitária no território de Gaza, um ponto central para aliviar a crise. O grupo deverá libertar 20 reféns vivos ainda neste fim de semana, enquanto Israel dará início à retirada de suas forças. Apesar do avanço, questões fundamentais — como um possível desarmamento do Hamas — permanecem em aberto e deverão ser discutidas nas próximas fases do acordo, que têm o potencial de encerrar de forma definitiva o conflito caso sejam bem-sucedidas.

Em paralelo, Trump celebrou publicamente o progresso diplomático, descrevendo o entendimento como um “grande passo” dentro do seu Plano de Paz para o Oriente Médio. Para consolidar os termos do acordo, seus enviados Jared Kushner e Steve Witkoff chegaram a Sharm el-Sheikh, no Egito, onde participam das negociações ao lado de representantes de Israel, Hamas, Catar, Turquia e Egito. As próximas 48 horas são vistas como decisivas para a conclusão das tratativas. O tom é de otimismo, diante da possibilidade concreta de um avanço nas negociações após anos de impasse.

· 04:11 — E as terras raras?

A China voltou a ocupar o centro das atenções globais ao anunciar um conjunto de novas e abrangentes restrições à exportação de terras raras, intensificando sua estratégia de influência na disputa comercial internacional às vésperas de uma reunião considerada de alto risco entre Donald Trump e Xi Jinping.

De acordo com o Ministério do Comércio chinês, exportadores estrangeiros que utilizem até mesmo traços desses minerais de origem chinesa passarão a necessitar de licenças especiais, justificadas por motivos de “segurança nacional”.

Além disso, certos equipamentos e tecnologias de engenharia também serão submetidos a controles adicionais de exportação. Embora ainda não esteja totalmente claro como essas regras serão implementadas, trata-se de uma escalada relevante: Pequim sinaliza sua intenção de exercer controles extraterritoriais sobre insumos estratégicos, em um movimento que espelha as próprias políticas de Washington, que restringem o acesso da China a chips avançados.

Esse endurecimento ocorre em um momento particularmente sensível para as negociações comerciais entre as duas maiores economias do mundo. Trump e Xi devem se reunir na Coreia do Sul ainda neste mês, em um encontro que busca avançar na construção de um novo acordo comercial. Como parte da estratégia diplomática, Pequim pretende apresentar um pacote robusto de investimentos, sinalizando força econômica e disposição para negociar. Em paralelo, o Partido Comunista Chinês convocou uma reunião a portas fechadas entre os dias 20 e 23 de outubro para discutir o 15º Plano Quinquenal (2026–2030), documento que definirá os rumos da segunda maior economia global para os próximos anos. Investidores e autoridades acompanham atentamente a discussão, atentos a sinais de uma possível mudança estrutural em direção a um modelo mais orientado ao consumo interno. Reportagens da mídia estatal indicam que Xi Jinping está pessoalmente envolvido na elaboração do plano, reforçando a relevância desse momento para a China.

· 05:08 — Acordo estratégico

A Direcional (DIRR3) anunciou recentemente um acordo estratégico inédito com a Moura Dubeux (MDNE3), voltado a ampliar sua presença no mercado imobiliário do Nordeste, uma das regiões com maior potencial de expansão para o segmento econômico. A parceria prevê investimentos conjuntos em projetos residenciais voltados para média e baixa renda, com foco nas principais capitais da região, fortalecendo a atuação das duas companhias em um nicho altamente demandado.

O acordo abrangerá as marcas Riva (da Direcional) e Mood e Un1ca (da Moura Dubeux), priorizando empreendimentos enquadrados na Faixa 3 do Programa Minha Casa Minha Vida, voltada a famílias com renda intermediária. A operação ainda depende de aprovação do CADE e, por enquanto, não foram divulgadas projeções financeiras. A iniciativa representa um…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.