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MGLU3: Ações da Magazine Luiza, prós e contras

MGLU3 tem um histórico de excelência de execução, fundamentado na multicanalidade. Entenda mais sobre a ação da Magazine Luiza!

Por Matheus Egydio

19 nov 2020, 06:59

As ações da Magazine Luiza (MGLU3) são indicadas pelo nosso sócio, Max Bohm, na carteira As Melhores Ações da Bolsa.

Neste artigo, nosso propósito é apontar os principais motivos pelos quais entendemos que, na visão da Empiricus, comprar suas ações é a escolha certa.

O tema foi discutido nos programas Seleção Empiricus #1 e #6, que você pode assistir aqui:

O conteúdo deste artigo está dividido nos seguintes tópicos, para facilitar sua leitura:

Qual a história da Magazine Luiza (MGLU3)? 

Para esclarecer a nossa indicação de compra de MGLU3, é preciso entender melhor a empresa que surpreende positivamente Max Bohm há quatro anos.

A trajetória de crescimento do MGLU3

Um casal de vendedores e um sonho. Foi dessa combinação que surgiu uma varejista que, em 2020, tem valor superior a R$ 100 bilhões.

Luiza Trajano Donato (que veio antes da Luiza que conhecemos hoje) e Pelegrino José Donato inauguraram uma pequena loja de presentes em Franca, lá atrás, em 1957. O objetivo era nobre: empregar a família inteira neste negócio.

Para escolher um nome, criaram um concurso numa rádio local. A popularidade da Luiza na cidade, como vendedora, resultou na escolha dos ouvintes de dar o nome dela ao empreendimento. E foi desse jeito que nasceu a Magazine Luiza.

O projeto deu certo. Em 1976, abriram filiais em São Paulo. Em 1983, o sucesso local permitiu a expansão para Minas Gerais.

Em 1991, entra em cena a Luiza Helena Trajano, sobrinha da fundadora, assumindo a liderança da organização. Após um ano, abre as primeiras lojas virtuais: comércios sem estoque físico ou mostruário, onde todas as demonstrações são feitas por recursos multimídias, algo bastante transgressor em 1992. 

Em 2000, mais um grande passo na inovação tecnológica, que com o tempo transformaria toda a operação da Magazine Luiza: o lançamento do site da empresa.

A gestão de Luiza é marcada por mais quatro elementos

Uma intensa preocupação em transformar a Magazine Luiza em uma boa empresa para trabalhar, reconhecida em diversas premiações;

A criação de um braço financeiro, com o Cartão Luiza, em parceria com o Itaú, e o LuizaSeg, com a Cardif, que oferece garantia estendida e seguros contra perda, roubo e desemprego;

O rápido crescimento do número de lojas, inclusive com a inacreditável inauguração simultânea de 46 lojas em um único dia, em 2008; e

A entrada da Magazine Luiza na Bolsa de Valores brasileira, em 2011.

Até que vieram as dificuldades…

Tudo ia bem demais para ser verdade. E então tudo saiu do caminho.

Desde 2011, a Magazine Luiza foi impactada pela recessão inédita no Brasil, com grande redução no consumo e com o varejo apresentando resultados cada vez piores. A expansão veloz nos anos anteriores não encontrou crescimento equivalente da demanda e, como consequência, a empresa se viu altamente endividada.

O mercado puniu: a empresa, que hoje vale R$ 100 bilhões, na época valia menos de R$ 200 milhões.

A solução encontrada pela Magazine Luiza tinha nome e sobrenome: Frederico Trajano.

Quem é Frederico Trajano?

Frederico Trajano é o brilhante filho de Luiza, que se tornou CEO em 2015 e reinventou a varejista.

A empresa conseguiu uma injeção de R$ 330 milhões com a Cardif — na prática, a Magazine Luiza entregava para a seguradora os contratos de garantia estendida por mais dez anos, em troca do pagamento imediato deste valor. O dinheiro permitiu que a empresa respirasse.

Ainda em 2015, no lançamento do aplicativo mobile da empresa, Frederico compartilharia seu grande projeto como CEO: “Nosso plano tem uma visão: transformar a empresa, que hoje é uma empresa de varejo tradicional com uma área digital, em uma empresa digital com pontos físicos”.

Deu certo. Em 2020, 66% das vendas são online. O site evoluiu para ser um marketplace, ou seja, servindo de plataforma digital para outras lojas além da própria Magazine Luiza. 

Em 2016, a Magalu foi a ação que mais se valorizou no mundo. Também teve o melhor desempenho da Bolsa brasileira em 2017.

Em 2018, a mudança com a qual estamos familiarizados: a Magazine Luiza vira Magalu. Com uma nova identidade, segue para 2019 com a aquisição da Netshoes e a inauguração da milésima loja.

Como a pandemia afetou as ações da Magazine Luiza (MGLU3)? 

O novo coronavírus se apresentou como um grande desafio para a gestão da Magalu (MGLU3). Todas as lojas foram fechadas em março, mas abriram gradativamente nos meses subsequentes. Os dados esclarecem que essa dinâmica abalou o negócio, mas ele se recupera rapidamente em “V”.

Magazine Luiza - Evolução das vendas em lojas físicas

Além disso, as vendas totais (ou seja, online e offline) no terceiro trimestre de 2020 da Magalu (MGLU3) apresentam um número recorde de R$ 12.355 bilhões, que superam os resultados do terceiro trimestre de 2019 em 81%.

Sim: 81%. A Magalu quase dobrou suas vendas totais em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Não obstante, houve a aquisição de oito empresas em oito semanas. Tratam-se de companhias com propostas que vão desde a aceleração e melhoria da logística (GFL e SincLog) até capacitação de profissionais (ComSchool) e Food Delivery (AiQFome). Não é absurdo entender a Magalu como uma superpotência do varejo, ainda que esteja passando por uma pandemia.

E o futuro da Magazine Luiza?

Que a Magalu (MGLU3) é uma empresa excepcional, isso já foi provado. Mas o que ela vai fazer daqui em diante?

Para responder isso, é importante entender que o varejo em si, ou seja, a comercialização própria de produtos, é apenas uma das áreas que compõem a empresa.

Há outras três, muito complementares: i) Serviços Financeiros; ii) Logística; e iii) Serviços.

As principais áreas da Magalu

Há outras três áreas dentro da Magazine Luiza que se complementam de forma surpreendente:

  • Serviços Financeiros: é a unidade de negócios que visa sofisticar a experiência financeira dos clientes, oferecendo seguros, financiamentos, consórcios e formas de pagamentos;

  • Logística: é a área que atende as entregas dos multicanais da companhia; e

  • Serviços: é a frente que oferece conteúdo, capacitação profissional e até mesmo visibilidade para os fabricantes de produtos através de publicidade dentro das plataformas da Magalu. Aqui está também o marketplace.

Este gráfico mostra o ecossistema inteiro:

Ecosistema Magazine Luiza (Magalu - MGLU3)

Hoje o varejo é o grande protagonista, seguido pelos serviços financeiros — neste caso, com o financiamento da venda de produtos acima de tudo.

Veja, porém, que a empresa coloca muita energia na próxima fronteira: se tornar um grande marketplace onde pequenos varejistas vendem seus produtos.

Esses varejistas vão:

  • Pagar comissões por suas vendas (projeto Parceiro Magalu, no gráfico acima na área de serviços);

  • Eventualmente comprar espaços patrocinados para aumentar a visibilidade dos seus produtos (Magalu Ads, também em serviços);

  • Utilizar o LuizaCred para oferecer financiamento aos seus clientes ou o LuizaSeg para dar garantia estendida ou seguro contra roubo, muito comum no caso de celulares;

  • Realizar, mediante remuneração, a entrega do produto para a Magalu (área de logística, na linha “você vende e a Magalu entrega”).

O marketplace tem enorme potencial. Ele pode ajudar a Magalu a se tornar um super app de varejo, ou seja, um lugar onde o consumidor pode comprar tudo que quiser, diminuindo a necessidade de os usuários de terem outros aplicativos.

E existem mais pontos fortes na Magazine Luiza (MGLU3)?

Com certeza. O principal argumento favorável à empresa que ainda não citamos é este: o varejo brasileiro ainda é muito pulverizado. A própria Magazine Luiza tem apenas 2% do mercado total. É muito difícil crescer quando você já tem 60% de um mercado, como a Ambev. Para dobrar de tamanho, você precisaria acabar com a concorrência e ainda fazer o mercado crescer 20%.

Entretanto, se você tem 2% de participação porque seu mercado é muito fragmentado — como é o varejo no Brasil — é possível sonhar com 4% sem grandes malabarismos.

Esse é um dos principais dados que indicam “uma enorme avenida de crescimento pela frente” para a Magazine Luiza, concluem Max Bohm e João Piccioni, analistas da Empiricus.

Pontos de atenção

O principal ponto de atenção é, bom, que todo esse crescimento potencial está em boa medida no preço da ação. Em novembro de 2020, a relação preço/lucro de MGLU3 supera 400x.

Ou seja, paga-se bastante caro por Magazine Luiza. Os investidores topam isso, claro, na expectativa de que a empresa vai continuar entregando bom resultado atrás de bom resultado, aumentando seus lucros muito rapidamente, de modo que o investimento terá um retorno justo. O mercado é apaixonado por Magalu, acha que os lucros vão crescer muito, e o preço da ação reflete isso.

O que pode dar errado? 

Se a empresa não conseguir colocar de pé seus planos ambiciosos, como se tornar o grande marketplace da internet brasileira, pode ocorrer um choque de realidade que faça a cotação da ação escorregar.

Como a Magazine Luiza traz balanço trimestral espetacular atrás de balanço trimestral espetacular, o mercado se acostumou com boas notícias. Como aponta Max Bohm, não há alegria eterna: um dia pode haver um trimestre ruim, e é difícil antecipar como o mercado vai reagir ao descobrir que perfeição não existe.

Além disso, a Amazon, um dos maiores players globais, disputa o mercado com a Magalu. Trata-se de uma gigante da tecnologia (as chamadas big techs) com planos de aumentar o market share no Brasil através de uma estratégia igualmente diversificada, que vai de serviços de streaming (com o Amazon Prime) até seu igualmente abrangente marketplace.

Será um briga de cachorros muito grandes e fortes — difícil saber de antemão o que vai sair daí, quão agressiva vai ser a competição ou qual equilíbrio essas duas empresas vão encontrar.

Conclusão

A Magazine Luiza (MGLU3) é proprietária de um crescimento extraordinário. Max Bohm afirma que, apesar de ter expectativas otimistas, sempre é surpreendido positivamente pela companhia.

Mesmo com um histórico consolidado, a Magalu ainda tem muito espaço para conquistar. E isso é uma excelente notícia quando entendemos a competência da gestão e os movimentos inovadores da empresa. Ainda que tenha grandes concorrentes, a genialidade e experiência da Magazine Luiza na multicanalidade são fatores que pesam nessa corrida.

Considerando os preços atuais, temos que concordar que a aquisição da MGLU3 não é uma barganha, mas se trata de uma oportunidade de investimento muito interessante, que a Empiricus recomenda.

Veja mais sobre esta e outras ações no programa Seleção Empiricus #1 e #6, que foi ao ar em setembro e outubro de 2020:

Sobre o autor

Matheus Egydio

Escreve para o site da Empiricus, MoneyTimes e Seu Dinheiro.