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Investimentos

Petrobras (PETR4) puxa queda do Ibovespa e shutdown sem perspectiva de resolução; veja destaques do dia

Confira as principais manchetes nos mercados do Brasil, EUA, Europa e Ásia nesta quinta-feira (2).

Por Matheus Spiess

02 out 2025, 09:52

Atualizado em 02 out 2025, 09:53

petrobras PETR4 (1) PETRÓleo barris

Imagem: iStock.com/narvikk

O shutdown (paralisação do governo americano) segue sem perspectiva de solução após o Senado rejeitar a proposta que poderia encerrar o problema. Em meio ao impasse orçamentário, o presidente Donald Trump chegou a sugerir que parte dos servidores federais pudesse ser demitida em definitivo, e não apenas licenciada temporariamente — medida que enfrentaria obstáculos jurídicos, mas que já eleva o temor de um mercado de trabalho mais fragilizado. Ainda assim, como a força de trabalho federal representa apenas uma fração reduzida do emprego total nos EUA, o impacto direto sobre a economia tende a ser limitado. O grande problema está na ausência de dados oficiais, que torna relatórios privados mais relevantes. Foi o caso da pesquisa da ADP, que apontou corte de 30 mil vagas no setor privado em setembro, uma leitura negativa que acabou sendo interpretada de forma positiva pelos mercados, por reforçar a expectativa de novos cortes de juros. Hoje, as apostas já precificam em 99% a redução da taxa pelo Federal Reserve neste mês, com probabilidade próxima a 90% de um novo alívio monetário em dezembro, sustentando o otimismo dos investidores.

Esse sentimento se refletiu nos mercados globais. Nos Estados Unidos, tanto o S&P 500 quanto o Dow Jones renovaram ontem máximas, apoiados pela perspectiva de juros mais baixos e também pela decisão da Suprema Corte de manter Lisa Cook no Federal Reserve, reforçando a percepção de que, apesar das pressões da Casa Branca, a independência da instituição segue preservada.

Na Ásia, as bolsas acompanharam o tom positivo de Nova York, com destaque para os fortes ganhos de Samsung e SK Hynix, após o anúncio de um acordo de fornecimento de chips para a OpenAI. Taiwan, Hong Kong e Tóquio também fecharam em alta, enquanto a China permanece com mercados fechados pela Golden Week.

Já na Europa, os índices avançam nesta manhã embalados pelas expectativas de flexibilização monetária do Fed, ao passo que investidores aguardam pronunciamentos de dirigentes do BCE.

No Brasil, o foco recaiu sobre a Câmara dos Deputados, que aprovou por unanimidade o projeto que amplia a faixa de isenção do IR para salários de até R$ 5 mil — uma vitória do governo, que agora aguarda a análise do Senado para a consolidação da medida.

· 00:52 — A festa da isenção

No Brasil, o mês começou em tom negativo, com o Ibovespa em queda, pressionado principalmente pelo desempenho da Petrobras, que acompanha a desvalorização do barril de petróleo no mercado internacional, e agora também pelo setor financeiro. A preocupação dos agentes é de que, caso o Senado desidrate as medidas de compensação previstas no projeto de isenção do Imposto de Renda, os bancos acabem sendo chamados a “pagar a conta”. O movimento vem na esteira da aprovação unânime na Câmara dos Deputados — 493 votos a favor e nenhum contra — do projeto que amplia a faixa de isenção do IR para salários de até R$ 5 mil mensais e reduz as alíquotas para rendimentos entre R$ 5 mil e R$ 7.350, contemplando cerca de 16 milhões de contribuintes. Para compensar a renúncia fiscal, estimada em R$ 25,8 bilhões anuais, o texto estabelece uma taxação adicional de até 10% sobre rendimentos anuais acima de R$ 1,2 milhão, além de tributar lucros e dividendos remetidos ao exterior superiores a US$ 50 mil mensais. Inclui ainda um redutor para evitar bitributação, respondendo a pressões do setor empresarial. Trata-se de uma vitória política para o governo Lula, que cumpre promessa de campanha e reforça seu capital político para 2026, embora o projeto ainda precise ser analisado pelo Senado.

É importante destacar, porém, que não há surpresa nessa aprovação: o governo sempre tratou o tema como prioridade estratégica, enxergando-o como trunfo eleitoral para o próximo pleito — seja com Lula como candidato, seja com um eventual sucessor, como Fernando Haddad. O efeito político, no entanto, pode ser mais limitado do que parece. Medidas como essa, além de outras de cunho mais assistencialista (a do gás, por exemplo), frequentemente acabam reforçando o apoio aos eleitores que já se encontram na base de sustentação do governo, o que pode ser redundante. A experiência de 2022 no Brasil, assim como de outros países em 2024 e 2025, mostrou que gastos adicionais da máquina pública não necessariamente se traduzem em vitória eleitoral, uma vez que parte significativa do eleitorado hoje pesa fatores que vão além da economia, diferentemente de décadas passadas. De todo modo, a aprovação fortalece o governo no curto prazo, sobretudo diante da desarticulação da oposição, que ainda não conseguiu construir uma alternativa viável, convicta e competitiva para 2026. O espaço para uma alternância de poder parece depender muito mais da capacidade de organização dessa oposição do que das medidas do atual governo.

Ao mesmo tempo, nem tudo joga a favor do Planalto. A votação do parecer da Medida Provisória que cria medidas alternativas à elevação do IOF foi adiada mais uma vez pela comissão mista, ficando para a próxima terça-feira, dia 7 — um dia antes de perder a validade, o que sugere que pode simplesmente caducar. No campo internacional, também houve frustração: o encontro esperado entre Lula e Donald Trump deve ser adiado, em parte pelo atual foco da Casa Branca em resolver o atual shutdown. Em paralelo, no entanto, o vice-presidente e ministro do MDIC, Geraldo Alckmin, manteve a interlocução com Washington, conversando nesta terça-feira com o secretário de Comércio americano, Howard Lutnick, numa tentativa de manter o diálogo bilateral aquecido. De toda forma, o caminho para uma reunião entre Lula e Trump segue em processo de nivelamento, ainda que sem data definida.

· 01:45 — Sentindo o impacto

A mais recente paralisação do governo americano não foi suficiente para conter o apetite de Wall Street. Os índices registraram novos ganhos expressivos, com o S&P 500 alcançando o 29º recorde de fechamento do ano, o Nasdaq atingindo seu segundo maior nível histórico e o Dow Jones renovando máximas. É verdade que outubro carrega fama de mês turbulento — lembrado por colapsos emblemáticos em 1929, 1987 e 2008 —, mas o histórico recente mostra que, após bons desempenhos nos trimestres iniciais, o quarto trimestre tende a ser positivo, ainda que outubro, em particular, costume apresentar algum recuo temporário. O ponto de maior atenção, contudo, está no risco de o shutdown atrasar a divulgação de indicadores cruciais, como o payroll de setembro, privando o Federal Reserve de informações fundamentais para calibrar sua política monetária. Um prolongamento da paralisação, além disso, poderia pressionar o mercado de trabalho, elevando a taxa de desemprego.

Do lado econômico, os efeitos de uma paralisação tendem a ser parcialmente compensados após o fim do impasse, mas dificilmente se recuperam por completo. O Congressional Budget Office (CBO) calcula que, a cada semana de shutdown, o PIB americano pode encolher entre 0,1 e 0,2 ponto percentual. Na paralisação de 35 dias em 2019, cerca de US$ 3 bilhões em perdas não foram revertidos, sinalizando que, embora transitórios, os danos corroem o crescimento. Desta vez, o mercado reagiu de forma ainda mais cautelosa ao relatório da ADP, que apontou perda de 32 mil vagas no setor privado em setembro, frustrando expectativas de geração líquida de empregos e reforçando os sinais de arrefecimento no mercado de trabalho. Sem os números oficiais do Bureau of Labor Statistics, suspensos pelo shutdown, esse dado privado ganha relevância incomum, ainda que seja metodologicamente mais limitado.

Em paralelo, investidores seguem precificando novos cortes de juros até o final do ano, amparados pela queda da confiança dos consumidores e pela desaceleração dos ganhos salariais. Nesse ambiente de incerteza fiscal, política e econômica, ativos defensivos como ouro e prata ganham protagonismo, enquanto o dólar perde espaço frente ao euro e ao iene — reflexo da conjuntura e do desgaste institucional dos EUA.

· 02:38 — Não subestime…

Os investidores parecem estar subestimando a intensidade dos riscos associados à nova rodada de tarifas do presidente Trump, que se expandem progressivamente para setores cada vez mais diversificados da economia. Nos últimos dias, a Casa Branca determinou a aplicação de tarifas de 10% sobre madeira serrada e de 25% sobre móveis estofados e armários de cozinha, medidas que entram em vigor já em outubro. Além disso, caminhões pesados passarão a enfrentar sobretaxa de 25% e determinados medicamentos de marca serão alvo de tarifas de 100%. O governo também discute possíveis tarifas sobre semicondutores importados — um ponto particularmente sensível, dado o papel estratégico desse insumo para toda a cadeia tecnológica. Ainda assim, parte do mercado tem tratado essas iniciativas com certo desdém, sustentando a ideia de que grandes compromissos de investimento doméstico — como os US$ 600 bilhões prometidos pela Apple nos próximos anos — seriam capazes de neutralizar seus efeitos. Essa percepção, no entanto, pode se mostrar otimista demais e falhar diante da complexidade real da medida.

Outro vetor de risco, menos convencional mas igualmente relevante, surge na frente cultural e geopolítica: a imposição de tarifas sobre filmes. A medida não apenas seria inédita, como também poderia colocar os Estados Unidos em rota de colisão com compromissos assumidos na Organização Mundial do Comércio (OMC), além de atingir diretamente um dos setores mais icônicos e lucrativos do país — a indústria audiovisual. Vale o alerta de que tributar produções culturais pode desencadear um conflito internacional sobre propriedade intelectual e abrir espaço para retaliações, como a reintrodução de impostos sobre serviços digitais, já defendidos por diversos países europeus. Nesse contexto, é bom enfatizar que o maior risco não está apenas no impacto econômico direto, mas no efeito multiplicador sobre a ordem geopolítica e comercial. Ao ampliar o alcance das tarifas, os EUA podem reviver disputas comerciais de larga escala e comprometer setores estratégicos de sua economia, em um movimento cujo custo real pode se revelar bem maior do que vemos hoje.

· 03:21 — Novo marco

A OpenAI alcançou um marco sem precedentes ao concluir uma venda secundária de ações que avaliou a companhia em US$ 500 bilhões, consolidando-se como a startup mais valiosa do mundo e ultrapassando a SpaceX, de Elon Musk, estimada em cerca de US$ 400 bilhões. A operação permitiu que funcionários e ex-funcionários realizassem aproximadamente US$ 6,6 bilhões em vendas de participação, em meio a uma demanda robusta de investidores globais. O feito reforça a posição da empresa fundada por Sam Altman como protagonista absoluto da corrida internacional pela inteligência artificial e ocorre em paralelo a negociações com a Microsoft para uma possível reestruturação societária, que poderia aproximar a OpenAI de um modelo de capital mais tradicional, ampliando seu alcance estratégico e institucional.

O entusiasmo em torno da inteligência artificial reverberou de imediato nos mercados globais, com destaque para o setor de tecnologia e semicondutores. Fabricantes asiáticos de chips lideraram os ganhos após o anúncio de novos acordos de fornecimento da OpenAI com empresas da Coreia do Sul, enquanto rumores de que a Intel poderia incorporar a AMD como cliente intensificaram a euforia. Ainda assim, vale o alerta para o risco crescente de sobrevalorização: o “medo de ficar de fora” (FOMO) tem levado investidores a ampliar a exposição ao setor em ritmo acelerado, muitas vezes ignorando sinais de que uma bolha pode estar se formando.

· 04:13 — Cuidado com a dívida

O primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, destacou recentemente que cresce entre os países da União Europeia o apoio à emissão conjunta de dívida com o objetivo de financiar o aumento dos gastos em defesa. Até mesmo nações que tradicionalmente se opunham à ideia de novos empréstimos começam a demonstrar maior flexibilidade diante do atual ambiente geopolítico. Ainda assim, trata-se de um tema sensível e controverso: enquanto parte dos membros do bloco defende uma resposta coordenada e de escala mais ampla, outros — como a Alemanha — resistem a assumir compromissos de endividamento coletivo. O pano de fundo dessa discussão é a pressão crescente para que a Europa assuma maior protagonismo em sua própria segurança, em especial após a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 2022, e a retração dos EUA, sob Trump, de seu papel como principal fiador da defesa do continente.

A dimensão financeira do desafio é monumental. De acordo com algumas estimativas, apenas os principais países europeus precisariam desembolsar cerca de US$ 3,1 trilhões adicionais ao longo da próxima década para proteger a Ucrânia e fortalecer suas próprias forças armadas. Não à toa, os líderes da OTAN já concordaram em elevar os gastos militares para 5% do PIB, um esforço que, na prática, exigirá recursos inéditos em escala e consistência. Nesse contexto, a ideia de recorrer a uma emissão de dívida coletiva ganha tração, ecoando a experiência da pandemia, quando a UE adotou esse instrumento para financiar a recuperação econômica. Além de liberar o poder de compra do bloco e diluir custos por meio da coordenação centralizada, a medida também representaria um passo em direção a uma integração europeia mais profunda em torno de um tema vital — a segurança e a autonomia estratégica —, num cenário global marcado por tensões prolongadas e incertezas crescentes.

· 05:09 — Belo negócio

A Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, parece estar a um passo de concretizar um de seus movimentos mais relevantes dos últimos anos…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.