Imagem: iStock/ Galeanu Mihai
Os investidores iniciam a semana com as atenções voltadas para a decisão do Federal Reserve, que deve anunciar um corte de 25 pontos-base na quarta-feira (17). O movimento em si já está amplamente precificado, mas o foco recai sobre as sinalizações em torno do futuro da política monetária e, sobretudo, sobre a capacidade de o Fed preservar sua independência diante das pressões da Casa Branca. Os dados recentes reforçam o pano de fundo: inflação em trajetória de moderação, mercado de trabalho perdendo fôlego, mas ainda resiliente, e atividade em desaceleração gradual.
Esse conjunto de indicadores sustenta a leitura de que há espaço para cortes consecutivos e reforça a percepção de uma economia caminhando para uma desaceleração saudável — cenário tradicionalmente positivo para ativos de risco. O ponto de atenção, entretanto, está na possibilidade de esta ser a reunião mais dividida em décadas, com dissidências no comitê, pressões de novos membros indicados por Trump e a controvérsia judicial em torno da governadora Lisa Cook. Nesse ambiente, a comunicação de Jerome Powell assume papel crucial: será preciso transmitir coesão e firmeza para evitar que ruídos internos se transformem em gatilhos de volatilidade adicional nos mercados.
No quadro global, a decisão do Fed se insere em uma semana carregada de eventos monetários: Banco da Inglaterra, Banco do Japão, Banco do Canadá e Banco Central do Brasil também anunciarão suas decisões nos próximos dias — este último, inclusive, na mesma quarta-feira. Ao mesmo tempo, a China voltou a frustrar expectativas com dados de atividade mais fracos, reacendendo dúvidas sobre a resiliência da segunda maior economia do planeta e aumentando a pressão por novos estímulos fiscais e monetários. Nas negociações comerciais entre Washington e Pequim, temas sensíveis como TikTok e semicondutores seguem na pauta, em meio a uma ofensiva regulatória que envolve a Nvidia. Já na Europa, os cortes de juros esperados pelo Fed sustentam um clima de otimismo, com bolsas lideradas por setores financeiro e de defesa, ainda que o rebaixamento da França pela Fitch tenha impacto limitado. No campo geopolítico, a pressão vem do leste europeu: ataques ucranianos contra refinarias russas elevam os preços do petróleo, enquanto Donald Trump ameaça impor novas sanções a Moscou, condicionando-as à adesão plena da OTAN.
· 00:58 — Tentando surfar a expectativa por cortes de juros
No cenário doméstico, seguimos atentos às possíveis reações de Donald Trump após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro. Até o momento, a Casa Branca não anunciou novas sanções, o que permite que os impactos imediatos da condenação fiquem restritos ao campo político-eleitoral, com implicações relevantes para 2026, mas sem desdobramentos diretos nas relações entre Brasil e Estados Unidos. Ainda assim, o risco permanece no radar, e eventuais novidades precisam ser monitoradas.
Enquanto as retaliações não tocarem a economia real brasileira, o mercado tende a manter relativa tranquilidade. Isso abre espaço para que o foco dos investidores se concentre, ao menos por ora, na decisão do Federal Reserve desta quarta-feira, quando se espera a retomada do ciclo de afrouxamento monetário, interrompido desde o ano passado. O aumento do diferencial de juros entre Brasil e EUA reforça os fluxos para ativos locais, sustentando o bom desempenho das ações e, sobretudo, do câmbio. Vale destacar que o ambiente global mais favorável também reaquece o interesse por emergentes, em um contexto em que seguimos baratos e tecnicamente leves.
Do ponto de vista da atividade econômica, os sinais de desaceleração no Brasil permanecem evidentes, o que, combinado ao corte de juros nos Estados Unidos, pode abrir espaço para que o Banco Central avalie reduzir a Selic já no final deste ano, caso a atual trajetória se mantenha. No curto prazo, no entanto, a autoridade monetária deve preservar uma postura conservadora, dada a persistência de um quadro inflacionário ainda desconfortável. Embora a inflação venha cedendo, permanece em níveis elevados e distantes da meta, exigindo cautela adicional na calibragem da política monetária. Assim, o balanço de riscos continua a recomendar prudência.
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· 01:47 — Um teste para os mercados
O Nasdaq encerrou a última sexta-feira renovando recordes, enquanto o S&P 500 terminou praticamente estável e o Dow Jones registrou queda, num movimento que reflete a percepção de que o setor de tecnologia é o grande beneficiário da perspectiva de cortes de juros nos Estados Unidos. Esse desempenho ocorre na véspera de uma semana decisiva para os bancos centrais globais, com os holofotes voltados ao Federal Reserve, que deve anunciar seu primeiro corte desde 2024. A decisão encontra respaldo em um cenário que combina inflação em trajetória relativamente estável e sinais crescentes de enfraquecimento do mercado de trabalho. Nos últimos dias, o mercado mostrou-se cada vez mais confiante na mudança de política monetária. A história, no entanto, recomenda cautela: ciclos de cortes sem recessão costumam ser positivos para ações em horizontes de 12 meses, mas nem sempre geram ganhos imediatos — a reação do mês seguinte, muitas vezes, é marcada por realização de lucros, seguindo a conhecida lógica de “sobe no boato, cai no fato”. Pode ser o caso…
A grande questão que se impõe agora é o ritmo dessa flexibilização até o fim de 2025 e ao longo de 2026. Os preços de mercado já embutem apostas em cortes adicionais, mas a velocidade e a intensidade desse ciclo dependerão, em última instância, do comportamento do núcleo da inflação e da evolução do mercado de trabalho. O cenário-base continua favorável a ativos de risco, mas os riscos não podem ser ignorados: uma desaceleração mais abrupta da economia poderia reacender a aversão e trazer volatilidade, enquanto uma inflação mais resiliente limitaria a margem de atuação do Fed. Assim, mais do que a decisão em si, os investidores estarão atentos às novas projeções econômicas e, sobretudo, ao tom adotado por Jerome Powell em sua coletiva. Sua mensagem deve ser determinante para calibrar expectativas e definir o rumo dos mercados nas próximas semanas e meses.
· 02:34 — A crise da independência
Além da política monetária em si, um dos pontos mais delicados no debate atual é a independência do Federal Reserve em relação à Casa Branca. Essa autonomia, hoje tida como pilar da credibilidade econômica dos Estados Unidos, foi construída de forma gradual: teve início em 1935, ganhou reforço em 1951, com o Acordo Tesouro-Fed, e foi consolidada nos anos 1980 sob a gestão de Paul Volcker, quando o banco central enfrentou de maneira firme a escalada inflacionária. Desde então, consolidou-se a percepção, no âmbito global, de que bancos centrais independentes tendem a entregar melhores resultados no controle de preços. Ainda assim, figuras do governo Trump — como o secretário do Tesouro, Scott Bessent — têm questionado a atuação recente do Fed, acusando-o de ter ultrapassado seu mandato ao adotar medidas não convencionais após 2008, borrando as fronteiras entre política monetária e fiscal.
Em contraponto, análises mais modernas defendem uma leitura ampliada do mandato do Fed: não apenas dupla, mas tripla, incluindo pleno emprego, estabilidade de preços e manutenção de juros de longo prazo em patamar moderado. Sob essa ótica, o banco central estaria cumprindo sua função de maneira satisfatória. O risco, porém, está na possibilidade de interferência política. Caso a autonomia seja comprometida, os reflexos imediatos seriam juros de longo prazo mais altos e prêmios de risco maiores para a dívida pública americana. A erosão da confiança institucional agrava o quadro: em 2001, 74% dos americanos confiavam no Fed, enquanto em 2025 esse número caiu para apenas 37% em relação a Jerome Powell. Mais simbólico ainda, pela primeira vez, a maioria da população afirma confiar mais em Donald Trump do que no próprio presidente do Fed para “fazer o certo” pela economia. Esse dado é particularmente preocupante: quanto menor a credibilidade da independência do banco central, menor tende a ser a eficácia de sua política monetária.
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· 03:29 — Eleições de peso na Alemanha
No domingo, a Renânia do Norte-Vestfália — estado mais populoso e o coração industrial da Alemanha, onde vive cerca de um quarto da população do país — foi palco de eleições regionais que serviram como primeiro grande teste para o chanceler conservador Friedrich Merz, no poder desde maio. As projeções iniciais após o fechamento das urnas apontaram para uma vitória sólida de sua coalizão de centro-direita, com a CDU alcançando aproximadamente 34% dos votos. O SPD, de centro-esquerda, ficou em segundo lugar, com 22,5%, enquanto a AfD, partido de direita, atingiu 16,5%, um salto expressivo em relação aos 5,1% registrados em 2020. O desempenho robusto da CDU sugere que os eleitores, ao menos neste estágio inicial de governo, conferem um voto de confiança a Merz, apesar das preocupações persistentes com a crise imigratória e com a desaceleração da economia alemã.
Ainda assim, o crescimento acelerado da AfD merece atenção. Tradicionalmente mais forte no leste do país, a legenda tem expandido sua influência para regiões ocidentais, sinalizando uma guinada à direita no cenário político alemão e consolidando-se como uma das principais forças políticas da Alemanha. Para os mercados, contudo, o que importante é que o resultado traz uma mensagem importante: a vitória de Merz — conhecido por seu viés pró-mercado — sugere maior previsibilidade para a maior economia da Europa em um momento em que a Alemanha precisa mostrar coesão para lidar com a instabilidade política e econômica que se intensifica na Europa.
· 04:13 — Economia mais fraca?
Os indicadores mais recentes da China reforçaram a preocupação com a perda de fôlego da segunda maior economia do planeta. Em agosto, tanto as vendas no varejo quanto a produção industrial registraram o crescimento mais fraco do ano, com altas de 3,4% e 5,2%, respectivamente — níveis que não se viam desde agosto de 2024. O quadro se agrava quando se observa o investimento em ativos fixos, que avançou apenas 0,5% nos primeiros oito meses de 2025, no pior resultado histórico para o período fora do ano excepcional da pandemia. O setor imobiliário, já fragilizado, voltou a ser fonte de apreensão: os preços das residências aceleraram a queda, e as vendas de novos imóveis em Pequim desabaram 19% em relação a igual mês do ano anterior, ampliando a percepção de que a desaceleração pode ter caráter estrutural.
Esse enfraquecimento contrasta com o dinamismo observado no primeiro semestre, quando a economia chinesa ainda crescia 5,3%, apoiada pelo desempenho robusto das exportações. Agora, no entanto, o horizonte se mostra mais incerto, especialmente porque a trégua tarifária de 90 dias acordada com os EUA expira em novembro, podendo reacender tensões comerciais. Ao mesmo tempo, a pressão deflacionária segue presente: em agosto, os preços ao produtor caíram 2,9% na comparação anual, sinalizando a necessidade de estímulos adicionais para sustentar a atividade. A dificuldade é que a recente disparada das bolsas locais pode reduzir a disposição das autoridades em adotar medidas mais agressivas, diante do risco de alimentar desequilíbrios financeiros e novas bolhas de ativos em um ambiente já delicado.
· 05:02 — Novas máximas
O ouro reassumiu o papel de protagonista nos mercados, alcançando pela primeira vez em mais de 45 anos seu pico histórico ajustado pela inflação, estabelecido em janeiro de 1980. Esse movimento reflete a crescente inquietação dos investidores em relação à trajetória da economia americana sob o governo Trump, marcada por dúvidas quanto à independência do Federal Reserve, à credibilidade dos dados oficiais e às incertezas que cercam a escalada da guerra comercial. Apenas em agosto, o metal precioso acumula valorização de 5%, atingindo US$ 3.640 por onça e estabelecendo mais de 30 recordes nominais ao longo de 2025. Em um ambiente de perda de confiança em ativos atrelados ao dólar e de maior volatilidade nos mercados, o ouro reforça sua função histórica como porto seguro, alcançando níveis inéditos em termos reais.
O contexto ganha ainda mais relevância diante…