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Quem foi Daniel Kahneman, Prêmio Nobel que palestrou para clientes da Empiricus em 2012

O Prêmio Nobel de Economia e ‘pai’ das finanças comportamentais faleceu ontem (27), aos 90 anos, e destacava três erros principais do investidor; confira quais são

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Data de publicação
28 de março de 2024
Categoria
Investimentos

“Existem pessoas verdadeiramente inteligentes, com sólidas contribuições acadêmicas, culturais e sociais. Existem gênios. E existe o inefável, único jeito possível de tentar descrever aqueles que transbordam qualquer taxonomia e irrompem com os paradigmas recorrentes”, é assim que Felipe Miranda, sócio-fundador e CIO da Empiricus Research, descreve Daniel Kahneman, Prêmio Nobel de Economia que faleceu ontem (27), aos 90 anos.

Psicólogo e economista israelense-americano por seu trabalho acerca da economia comportamental – pelo qual foi premiado, Kahneman sempre estudou a psicologia do julgamento e tomada de decisão.

Para ele, os seres humanos sofrem de vieses cognitivos estruturais, que nos levam a erros sistemáticos de julgamento.

“Esses vieses acabam, por meio da adoção de uma série de heurísticas, regras de bolso e atalhos, nos empurrando, muitas vezes, em direções contrárias às conclusões sugeridas pela racionalidade estrita”, explica Miranda.

Kahneman identificou os clássicos vieses de aversão à perda, ancoragem, reversão à média, viés de disponibilidade e de confirmação, efeito halo, entre tantos outros, além de ter explorado a forma com que tomamos decisão diante do risco e o funcionamento geral do cérebro.

Segundo Miranda, saímos do estudo platônico do homo economicus para estudar o homem: “aquele que realmente toma decisão, investe, negocia, se entusiasma, se frustra, lucra, perde, cria coisas geniais, destrói outras”.

Kahneman estudou a relação entre dinheiro e felicidade

O estudioso também tirou algumas conclusões, a partir de dados empíricos, sobre a relação entre felicidade e dinheiro.

Por exemplo, identificou que a perda é sentida de forma mais intensa do que o ganho. Um prejuízo de um real causa um impacto psíquico duas vezes e meia maior do que o efeito de um lucro de um real.

Em evento da Empiricus, Daniel Kahneman discorreu sobre os 3 erros mais cometidos por investidores

Em 2012, no aniversário de três anos da Empiricus, Kahneman proferiu uma palestra para os clientes da Empiricus Research.

Dentre os temas abordados estão os três erros cometidos com mais frequência pelos investidores.

Comprar e vender na hora errada

O primeiro e mais conhecido, segundo Kahneman, é comprar e vender ativos na hora errada: “As pessoas costumam encarar cada transação como um evento isolado, em vez de parte de uma estratégia de investimento de longo prazo“, disse à época.

“O jeito racional de investir é ter políticas de investimento e de gestão de risco, em vez de preferências”, afirmou.

Ganhar e perder pouco é o caminho

Para ele, as pessoas deveriam seguir o princípio dos investidores profissionais dos EUA: “ganhar e perder pouco”. Assim, é possível ter uma perspectiva mais resiliente da evolução de sua carteira de investimentos. 

“Se ganhar, não será nenhuma maravilha; mas, se perder, também não será um desastre”, explicou.

Ele acreditava que, no fim da vida, a pessoa que adota esse comportamento tende a ser mais rica do que a que encara perdas e ganhos como eventos isolados e, portanto, toma decisões erráticas.

Buy and hold em sua essência

Kahneman ainda reforçou o básico aos presentes no evento da Empiricus: investimentos são de longo prazo. E destaca outro erro comum de pessoas físicas: olhar com muita frequência o rendimento da carteira.

“Investidores mais maduros e profissionais tendem a conferir menos vezes o saldo das aplicações financeiras, justamente, porque constroem teses de longo prazo. Quem olha toda hora para o rendimento do portfólio tende a entrar em pânico e tomar decisões erradas”, afirmou.

Nos Estados Unidos, segundo Kahneman, essa ansiedade reduz o retorno potencial de uma carteira entre 2% e 2,5% ao ano.

Sinônimo de humildade intelectual

Na ocasião, o psicólogo e economista também participou de um almoço com Felipe Miranda.

Segundo o analista-chefe, ele não entendia o interesse da Empiricus por ele.

“Acho que não tenho muito a contribuir com vocês. Eu não concordo muito com a maior parte dos consultores e analistas financeiros. Desconfio da maior parte deles”, teria dito Kahneman.

“Respondemos que estávamos de acordo com a desconfiança. Todos rimos e ali se formou um laço espontâneo”, conta Miranda. “Para Kahneman, deve ter durado alguns poucos segundos. Para todos os outros presentes, aquilo está intensamente vivo até hoje”.

Miranda acredita que esta talvez seja sua principal lição: humildade intelectual, a desconfiança sobre si mesmo. “Kahneman era humano, demasiadamente humano”, comenta.

No vídeo a seguir, você pode conferir na íntegra as lições passadas por Daniel Kahneman na palestra para a Empiricus: