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Risco de escalada das tensões no Oriente Médio, expectativa por progresso na agenda econômica brasileira e mais: veja o que está no radar nesta segunda (16)

Mercados externos têm segunda-feira predominantemente negativa até aqui; veja o que está no radar dos investidores nesta semana

Por Matheus Spiess

16 de outubro de 2023, 08:52

Estrategista global do JP Morgan Asset Management comenta os temas mais quentes da economia global e quais alternativas de investimento o banco tem identificado mercado
Crédito: Unsplash

Bom dia, pessoal. Os investidores estão enfrentando o desafio de navegar pelo dilúvio de notícias sobre o conflito entre Israel e o Hamas, uma situação que provavelmente se estenderá nas próximas semanas. Os EUA e seus aliados estão intensificando esforços para evitar a escalada do conflito para toda a região, preocupados com a iminente invasão terrestre da Faixa de Gaza pelas forças israelenses, algo que parece inevitável atualmente. Existe o receio de que essa invasão possa levar o Irã a se envolver no conflito, sendo que o risco imediato está centrado no Hezbollah, no Líbano.

Na segunda-feira, a maioria das ações asiáticas registrou quedas, com as preocupações com a guerra mantendo o sentimento de risco em baixa. Os mercados europeus também apresentam recuos predominantes nesta manhã, enquanto os futuros americanos sinalizam uma alta tímida. O apetite pelo risco permanece enfraquecido, sendo influenciado pelos temores de um aumento nas taxas de juros nos EUA após uma leitura de inflação ligeiramente acima do esperado na semana passada, embora dentro dos dados haja motivo para certo otimismo, especialmente em relação aos núcleos. Na agenda do dia, destacam-se os dados de varejo nos EUA, bem como o Livro Bege do Federal Reserve e o início da temporada de resultados.

A ver…

· 00:56 — Articulação política no Congresso

No Brasil, há uma expectativa generalizada por progresso na agenda econômica do Congresso, que parece ter sido deixada de lado nas últimas semanas. Espera-se que nos próximos dias, provavelmente até quarta-feira, o projeto de taxação de fundos exclusivos e offshores seja votado, o qual faz parte do pacote da Fazenda para aumentar a arrecadação e cumprir a meta de zerar o déficit das contas públicas em 2024. Isso permitiria que a Fazenda continue focada na pauta arrecadatória. Se isso acontecer, a curva de juros terá razões para ficar menos tensa.

Outros pontos importantes da agenda incluem o aquecimento das empresas para a temporada de resultados. Na terça-feira, teremos a divulgação do relatório de produção e vendas do terceiro trimestre da Vale. O resultado da mineradora será revelado no dia 26, juntamente com o relatório de produção e vendas do terceiro trimestre da Petrobras, cujo resultado será apresentado em 9 de novembro. Além dos eventos corporativos, teremos o volume de serviços na terça-feira, vendas no varejo na quarta-feira e o IBC-BR de agosto na quinta-feira.

Esses indicadores econômicos podem orientar os próximos passos da autoridade monetária, que provavelmente continuará o ritmo de flexibilização da política monetária, alinhado com as declarações recentes do próximo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Diante das incertezas, especialmente em nível internacional, é mais provável que as reduções de juros se desacelerem do que acelerem. Mantenho a expectativa de uma Selic de 11,75% no final deste ano, caminhando para cerca de 9% até o final de 2024.

· 01:44 — E a temporada de resultados chama atenção

Nos Estados Unidos, o aumento das taxas de juros tem sido uma incógnita para os bancos do país. Os resultados dos bancos divulgados na sexta-feira, que marcaram o início da temporada de lucros do terceiro trimestre, ilustraram o lado positivo dessa equação. Isso se deve à habilidade de gerar mais receita por meio de empréstimos com taxas mais altas, conforme evidenciado pelos lucros do JPMorgan Chase, Wells Fargo e Citigroup, que superaram consideravelmente as estimativas de Wall Street. No entanto, é prematuro para celebrar completamente.

Ainda não há garantia de que as boas notícias persistirão nesta semana, com mais relatórios bancários à frente, especialmente do Charles Schwab, Bank of America e Goldman Sachs, cada um enfrentando desafios únicos em seus resultados. Mesmo no JPMorgan, o CEO Jamie Dimon permanece bastante cauteloso, tanto em relação ao seu banco quanto ao cenário global, afirmando que este pode ser um dos momentos mais perigosos que o mundo já enfrentou em décadas.

Nos próximos dias, cerca de 50 empresas do S&P 500 divulgarão seus resultados, incluindo nomes proeminentes como Tesla, Netflix, American Airlines e AT&T. Além disso, durante a semana, teremos importantes dados econômicos, como vendas no varejo e informações sobre o mercado imobiliário, ambos na terça-feira. E por último, mas definitivamente não menos importante, o Federal Reserve lançará seu sétimo Livro Bege do ano na quarta-feira, fornecendo uma descrição das atuais condições econômicas nos Estados Unidos.

· 02:37 — O dilema republicano

Ainda nos EUA, ainda não há evidências significativas de progresso na eleição de um novo presidente da Câmara dos Representantes. A casa legislativa retomou suas atividades, mas permanece sem um líder. Na sexta-feira antes do fim de semana, os republicanos indicaram Jim Jordan, presidente do Comitê Judiciário da Câmara, para o cargo, mas enfrentam resistências suficientes para tornar sua ascensão ao posto longe de ser certa. Quase duas semanas se passaram desde que Kevin McCarthy foi destituído devido à colaboração com os democratas para evitar a paralisação do governo.

A ausência de um presidente impede que o Congresso aprove qualquer legislação. No entanto, os democratas estão pressionando pela expansão da autoridade do presidente interino, Patrick McHenry, permitindo-lhe apresentar legislação relacionada ao financiamento do governo, à Ucrânia e a Israel. Hoje, um número considerável de membros republicanos da Câmara parece relutante em apoiá-lo, pois ele necessita de 217 votos para ser eleito. Faltando um mês e um dia para o próximo prazo de paralisação do governo, é provável que os mercados fiquem cada vez mais inquietos com a situação política.

· 03:22 — Um final de semana politicamente agitado

Apesar das manchetes dominadas pela guerra no Oriente Médio, o mundo segue em movimento em outras regiões do planeta. No último fim de semana, três eleições importantes ocorreram ao redor do mundo. Em primeiro lugar, na Polônia, as pesquisas de boca de urna indicam que os partidos da oposição, comprometidos em restabelecer as relações com a União Europeia, conquistaram assentos suficientes para mudar o equilíbrio de poder no parlamento (a contagem oficial dos votos está prevista para este início de semana).

Em segundo lugar, na Nova Zelândia, houve um movimento em direção à direita, com o Partido Nacional da oposição emergindo vitorioso contra os Trabalhistas nas eleições do país. Por último, Daniel Noboa, herdeiro de um império empresarial voltado para o setor de bananas, conquistou a presidência do Equador, derrotando um candidato de esquerda indicado pelo presidente em exercício do país, enquanto os eleitores buscavam uma nova abordagem para a questão do crime e da economia.

· 04:15 — O risco de uma Terceira Intifada

Tudo indica que a perspectiva de que o conflito em Israel permaneceria na Faixa de Gaza enfraqueceu no final da semana passada, aumentando o risco de uma escalada envolvendo outros atores da região. Houve relatos de ataques a posições militares no Líbano e na Cisjordânia, com a possibilidade de uma revolta dos palestinos, tornando plausível o início de uma Terceira Intifada nas próximas semanas. Israel, se preparando para uma incursão terrestre, continuou a realizar ataques aéreos em resposta ao brutal ataque terrorista do Hamas no último final de semana.

O presidente Joe Biden prometeu que os EUA colaborariam com outros governos para aumentar a ajuda humanitária aos civis na região. O próprio presidente da Autoridade Palestina indicou que o Hamas não representa o povo palestino, buscando uma solução para a situação dos 2 milhões de habitantes na Faixa de Gaza. No curto prazo, a maior probabilidade de envolvimento é do Hezbollah, apoiado pelo Irã, no Líbano. Já ocorreram surtos isolados ao longo da fronteira de Israel com o Líbano, indicando a possibilidade de uma guerra por procuração com o Irã. Outros grupos financiados pelo Irã na Síria e no Iêmen também poderiam se unir à medida que os combates se intensificam. Essa é a temida escalada.

Israel e os EUA estão trabalhando para evitar esse cenário. O ministro da defesa de Israel afirmou que não pretende lutar na fronteira norte enquanto o Hezbollah se contiver. Os EUA dialogaram diretamente com líderes árabes para ajudar a limitar a propagação do conflito, realizando, inclusive, conversas nos bastidores com o Irã, que parece querer evitar um envolvimento direto (um dos comentários mais importantes do final de semana foi nessa direção). Além da tragédia humanitária decorrente dos ataques terroristas em Israel, que têm um alto custo humano, um conflito mais amplo também tem o potencial de desencadear uma recessão global.

Dado o papel central da região como polo energético global, um confronto direto entre Israel e o Irã poderia disparar os preços do petróleo, especialmente se o Estreito de Ormuz for afetado. Algumas casas estimam que os preços do petróleo poderiam atingir 150 dólares por barril, provocando uma recessão global ao desequilibrar o frágil cenário atual com taxas de juros elevadas em diferentes regiões do mundo (a inflação global aumentaria 1,2 ponto percentual, para 6,7%). O desfecho dessa trágica situação permanece incerto, e os mercados estarão atentos a cada nova informação sobre a situação.

· 05:38 — Safe haven

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.