Investimentos

Seis motivos para estar otimista com a Bolsa em 2024

Veja como a inflação, a taxa de juros, o valuation das ações e outros fatores deveriam te deixar construtivo com Bolsa.

Por Fernando Ferrer

11 jan 2024, 11:25 - atualizado em 11 jan 2024, 11:27

Imagem representando o ticker, um código usado na bolsa de valores para identificar e negociar um determinado ativo.

Neste artigo, listo as razões que me mantêm construtivo com a Bolsa de Valores neste ano. Confira!

1. Cadê a inflação?

Passado o choque das cadeias de suprimento, das commodities e o forte aperto monetário dos Banco Centrais, a inflação começou a ceder. Ouso dizer que a desinflação no mundo já é uma realidade.

    No gráfico abaixo, elaborado por Charlie Bilello, é possível ver a inflação dos últimos doze meses em novembro de 2022 em diversos países e a inflação dos últimos doze meses em novembro do ano passado. A diferença, medida na última coluna, é gritante. Exceto pela Argentina, todos os países analisados tiveram uma queda brutal de inflação nesse intervalo de um ano.

    Image
    Fonte: Charlie Bilello

    Outro gráfico, elaborado pela WHG, também corrobora esse ponto. Após atingir as máximas no final de 2022, a inflação global despencou e já voltou próxima aos patamares pré-pandemia. Isso é uma excelente notícia, pois nos leva ao ponto dois: ciclo de queda de juros.

    Gráfico, Gráfico de linhasDescrição gerada automaticamente
    Fonte: WHG

    2. Ciclo de queda de juros

    Parece ser unanimidade que teremos um ciclo de queda de juros neste ano. Contudo, isso significa necessariamente um bom ano para a Bolsa?

    Conforme demonstrado pelo Santander, historicamente o Ibovespa tende a performar bem depois de um processo de afrouxamento do ciclo monetário, ou seja, corte de juros. Perceba que, na média, a Bolsa subiu 5,5% depois de três meses do primeiro corte, 12,7% depois de seis meses, 21,3% depois de doze meses e 42,9% depois de dois anos do primeiro corte. Se a história se repetir, a tendência é que tenhamos um bom desempenho para a Bolsa em 2024.

    Interface gráfica do usuário, Aplicativo, TabelaDescrição gerada automaticamente
    Fonte: Santander

    Olhar apenas para a história para justificar nosso otimismo com a Bolsa seria um argumento fraco. Para que tenhamos um bom ano de renda variável, precisaríamos que outras variáveis também se mostrassem favoráveis. Abaixo listamos mais alguns pontos importantes que deverão acontecer em 2024.

    3. Manutenção da pauta reformista

    Iniciada no Governo Temer, o Brasil tem conseguido executar uma série de reformas, que tendem a trazer mais produtividade, reduzir as distorções, melhorar o ambiente de negócios e atrair o capital estrangeiro.

    Nos últimos anos, tivemos a Reforma Trabalhista, liberalização da terceirização, Teto de Gastos, Reforma da Previdência Social, os marcos regulatórios de ferrovias e saneamento, fim da TJLP, autonomia do Banco Central, privatização da Eletrobras, entre muitas outras. Mais recentemente, aprovamos a Reforma Tributária.

    Para frente, espera-se que mais uma quantidade enorme de reformas microeconômicas e concessões sejam implementadas, atraindo recursos e melhorando o ambiente de negócios brasileiro. Apenas no Estado de São Paulo, espera-se que pelo menos 13 projetos de infraestrutura do Programa de Parcerias de Investimentos vão a leilão no ano que vem. O Governo Federal afirma que estão previstos 24 leilões de infraestrutura para este ano, com potencial arrecadatório de cerca de R$ 128 bilhões para os próximos anos.

    4. A volta do fluxo

    Se quando a Selic sobe, os investidores correm para a Renda Fixa, o caminho deveria ser oposto quando a Selic começa a cair. À medida que a atratividade da Renda Fixa se reduz, é esperado que o fluxo volte a fluir para os ativos de risco, beneficiando os investidores que já possuem alocação em renda variável.

    Mesmo com diversos desafios, o Brasil teve em 2023 o segundo melhor volume da série histórica de entrada de investimentos estrangeiros na B3, com R$ 44,9 bilhões, só perdendo para 2022, que registrou R$ 100,8 bilhões. Acredito que ainda possa ter muito recurso por vir.

    O gráfico abaixo, elaborado pelo BTG, ilustra esse ponto pela ótica da alocação de recursos dos fundos locais. Em outubro de 2023, a alocação em ações estava em 9,3%, enquanto esse percentual já foi de 12,9% em 2021, 14% em 2019 e 15,2% em 2020. Um pequeno aumento no percentual de alocação em renda variável pode ser o impulso que falta para o esperado aumento de fluxo.

    Gráfico, Gráfico de linhasDescrição gerada automaticamente
    Fonte: BTG Pactual

    Esse movimento pode beneficiar inclusive a nossa posição em B3 (B3SA3), tendo em vista que uma parte de sua receita é atrelada ao fluxo negociado. Podemos dividir o gráfico abaixo em três estágios:

    1 – até 2017, quando o fluxo era bastante baixo e o ADTV da Bolsa não passava dos R$ 10 bilhões por dia;

    2 – entre 2017 e 2021, quando tivemos o financial deepening e, posteriormente, a crise do covid-19 e um aumento brutal no volume de negociação, que passou de R$ 10 bilhões para mais de R$ 35 bilhões;

    3 – por fim, de 2021 até o momento, em que os juros subiram, os investidores perderam o interesse em renda variável, o fluxo secou e os papéis se desvalorizaram.

    Gráfico, Gráfico de barras, HistogramaDescrição gerada automaticamente
    Fonte: BTG Pactual

    Acredito que em 2024 poderemos avançar para o estágio 4, que seria a estabilização da queda de volume de negociação e inflexão do mesmo. Em um primeiro momento, acho difícil voltarmos a negociar com consistência acima dos R$ 30 bilhões ao dia, mas acredito ser possível um aumento de dois dígitos em relação a 2023.

    5. Valuation ainda atrativo

    Após o bom rally do final do ano passado, a pergunta que mais recebemos é: será que ainda tem espaço para a Bolsa andar mais? Na nossa opinião, sim.

    É verdade que, após a alta de mais de 20% no ano passado, o risco x retorno piorou. Contudo, ainda enxergamos bastante oportunidade na Bolsa, que se encontra abaixo dos patamares históricos e é uma das mais descontadas entre os emergentes.

    O gráfico abaixo, elaborado pelo Santander, ilustra esse ponto. A Bolsa brasileira negocia em torno de 8 vezes seus lucros para o ano que vem, sendo mais cara apenas do que a Colômbia. Por outro lado, países como Peru, Chile e México estão com valuations mais caros, o que indica que poderíamos ter uma convergência de valuation da Bolsa brasileira, implicando em valorização dos ativos de risco.

    Gráfico, HistogramaDescrição gerada automaticamente
    Fonte: Santander

    Além disso, à medida que a Selic for caindo e o cenário ficar mais claro, deveremos ter a continuação do processo de revisão de lucros por parte do mercado, o que poderia ser um segundo impulso para os ativos de risco.

    Depois de um 2023 ruim em termos de crescimento de lucro para as empresas listadas (excluindo Petrobras e Vale), acreditamos que 2024 poderá ser diferente, principalmente devido à redução das despesas financeiras e ao aumento da eficiência promovido por grande parte das companhias depois de alguns anos difíceis.

    Este segundo gráfico do Santander mostra que essa revisão de estimativas já começou e se acelerou no meio do ano passado, em linha com o início do processo de afrouxamento monetário. Acreditamos que ainda haja mais por vir!

    Interface gráfica do usuário, GráficoDescrição gerada automaticamente
    Fonte: Santander

    6. Stock Picking: a cereja do bolo

    Por último, mas não menos importante: temos o Stock Picking, ou seja, a busca por oportunidades na Bolsa. Aqui é onde podemos diferenciar o joio do trigo e encontrar oportunidades em setores não muito atrativos ou que estejam passando por dificuldades.

    Atualmente, nossa carteira conta com 16 papéis que foram estudados e selecionados por nós para fazerem parte dessa seleta lista de ações. Além de termos uma carteira diversificada geograficamente e setorialmente, possuímos papéis que estão em momentos diferentes e, portanto, respondem a diferentes estímulos.

    Um caso que vale a pena ser mencionado é o do Grupo SBF (SBFG3). Depois de um ano de 2023 difícil, acreditamos que a companhia já equacionou o seu principal problema (estoque) e está a caminho de equacionar o segundo principal problema (endividamento), abrindo espaço para o que pode ser um dos maiores re-ratings da Bolsa brasileira.

    Veja que atualmente o múltiplo preço sobre lucro do papel encontra-se abaixo da média histórica de dois anos e, portanto, na análise relativa, ainda possui um importante espaço para andar. Além disso, acreditamos que o mercado está subestimando a capacidade de geração de caixa e potencial de geração de lucro líquido para 2024, de modo que o múltiplo está mais comprimido do que parece.

    Gráfico, Gráfico de linhasDescrição gerada automaticamente
    Fontes: Empiricus e Bloomberg

    Por fim, mas não menos importante, quando comparamos os múltiplos de preço sobre lucro de 2024 das empresas do varejo, o Grupo SBF (SBFG3) é a empresa mais barata. Em termos de valor da firma sobre o ebitda, ela disputa com a C&A e a Guararapes o posto. Ou seja, além de estar mais barata que sua média histórica, ainda está bem barata quando comparamos com outras empresas do setor.

    TabelaDescrição gerada automaticamente
    Fontes: Empiricus e Bloomberg

    Sobre o autor

    Fernando Ferrer

    Graduado em Engenharia Mecânica pela UFRJ e com MBA em Finanças pela mesma instituição, Fernando Ferrer atua na Empiricus como analista de investimentos há 5 anos cobrindo os setores de Varejo, Saúde e Infraestrutura. Atualmente, é responsável pela série best-seller As Melhores Ações da Bolsa e faz parte da equipe que comanda o Carteira Empiricus, o portfólio multimercado que é o carro-chefe da casa.

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