“O Valor do Amanhã” é um livro cheio de reflexões embasado no conceito da vida ser um intervalo finito de duração indefinida.
Ou seja, tem-se a certeza da morte, mas não se sabe quando ela acontecerá.
Até lá, decisões precisam ser tomadas e, para tanto, há a necessidade de se escolher entre o futuro incerto e o presente concreto e cheio de tentações.
Nessa obra, o economista Eduardo Giannetti argumenta que a realidade dos juros, não se restringe ao mundo das finanças, mas permeia as mais diversas da vida prática.
Segundo o autor, há duas opções:
- Credora: o custo precede o benefício. Paga-se o ônus agora para viver depois, renunciando a algo no presente em prol de algo esperado no futuro. O custo precede o benefício.
- Devedora: o benefício é usufruído mais cedo, gerando algum tipo de custo a ser pago mais a frente. Vive-se agora, paga-se depois.
Entre estes dois momentos separados no tempo, atribui-se um valor de troca que é a essência dos juros.
Os juros são a bonificação da espera na opção credora e são o custo da impaciência na opção devedora.
Também podem ser considerados como sendo o preço de antecipar valores do futuro para o presente.
Giannetti organiza o livro em quatro partes de modo a mostrar que os juros não se aplicam apenas às finanças, mas sim a toda a natureza.
1ª parte
Na primeira parte, o autor apresenta a origem dos juros na biologia e analisa a ocorrência de trocas intertemporais no mundo natural.
É discutida a questão da paciência e da realidade dos juros tanto no aspecto comportamental quanto no da fisiologia humana.
A consciência de que a permanência humana e animal na Terra é finita, causa a adoção de uma série de escolhas dentro de uma linha de tempo.
Por exemplo, a preferência que os leopardos africanos têm por caçar animais selvagens, mostra a clara disposição destes em optar por usufruir de refeições mais apetitosas à busca por animais de menor porte, cujo risco de morte na captura seria menor.
Essa incapacidade de esperar decorre da noção clara da finitude da vida e da necessidade de saciar um desejo intenso no momento presente, que neste caso, seria a fome.
A gordura é armazenada no corpo humano como uma precaução do organismo em possíveis períodos futuros de inanição.
2ª parte
Na segunda parte do livro, Giannetti esclarece o impacto das diferentes etapas do ciclo de vida sobre as preferências temporais.
A esperança de vida e as crenças sobre o após a morte têm papel relevante na definição dos termos de troca entre presente e futuro.
As crianças não têm o pensamento de poupar, e por isso priorizam desfrutar do momento presente.
Os idosos também tendem a optar por usufruir do momento atual, pois não tem muito tempo de vida.
Já os jovens e adultos pensam o contrário e tentam economizar durante seus ciclos, pois a possibilidade de terem muitos anos de vida é alta.
Sendo assim, o valor do futuro é função do que se pode esperar dele.
No entanto, essas escolhas envolvem riscos, uma vez que não se pode antever o futuro de modo seguro.
Giannetti aborda também os fenômenos de miopia e hipermetropia temporais.
No primeiro caso, o indivíduo atribui um valor demasiado ao presente, em detrimento daquilo que está mais à frente.
Há o risco de viver em um eterno carpe diem sem planejar a vida para uma existência mais longa.
A hipermetropia é o contrário, ou seja, é atribuído valor excessivo ao amanhã, em prejuízo do presente.
Há o risco de tornar-se um poupador inveterado e guardar tudo para o futuro.
3ª parte
Até que ponto vale a pena subordinar o presente ao futuro e vice e versa?
Existe um ponto de equilíbrio exato entre estes dois extremos temporais?
A terceira parte do livro analisa o processo de formação de crenças em relação ao futuro em diferentes esferas da vida prática.
Apesar da finitude da vida, a incerteza com relação ao futuro permanece.
Até que ponto sabe-se ponderar entre o peso dado ao presente e ao futuro?
Em algumas situações é possível antever onde se almeja estar ou qual a sensação que se deseja desfrutar no futuro.
Para ajudar neste sentido, de modo a não gerar uma preocupação excessiva com o futuro, Giannetti apresenta um método com três elementos básicos para poupar dinheiro e usar o tempo de forma eficiente, já que este último não pode ser poupado e nem comprado.
- a antevisão tem como objetivo o estudo e observação do tempo e estado;
- a estratégia reúne soluções para os problemas observados;
- a implementação dos planos ou execução das ideias produzidas.
4ª parte
Na quarta parte, o autor mostra que a natureza impõe limites e que o prazer e a dor andam juntos.
Ao longo da vida, há a necessidade de se fazer escolhas que são configuradas pelo preço que cada pessoa está disposta a pagar.
Quanto mais impaciente a pessoa é para usufruir da sua escolha, maior será o preço a ser pago.
Já aquele que sabe esperar será premiado.
Resumindo, um livro de muitas reflexões que contribuirá com a educação financeira do leitor e possibilitará um melhor enfrentamento da vida.
Resenha escrita por Caroline Garcia Pinto.