Ao gerenciar a sua vida financeira e investir, é natural achar que você realmente está no controle e que busca sempre fazer as melhores escolhas, afinal ninguém quer desperdiçar ou perder dinheiro em coisas que não fazem sentido – muito pelo contrário. No entanto, esse é um desafio maior do que parece, pois existe uma vulnerabilidade que é cair nas armadilhas da sua própria mente.
As emoções e os vieses cognitivos fazem com que a racionalidade não seja completa nas tomadas de decisão. Este é o campo de estudo das finanças comportamentais que ganha força.
É sempre interessante ficar por dentro dessa temática, acompanhando notícias e pesquisas. Há uma infinidade de livros interessantes também, mas entre eles, tem um que sempre fica muito a mão, bem à vista na minha estante, pois volta e meia, eu gosto de revisitá-lo para consultar alguns tópicos. Estou falando de “A arte de pensar claramente”, escrito pelo autor suíço Rolf Dobelli (Editora Objetiva).
Formado em filosofia e administração de empresas, Dobelli é escritor, empresário, fundador das instituições Edge Foundation e World Minds, que reúne líderes políticos, líderes empresariais e representantes da academia para discutir e pesquisar sobre inovações tecnológicas, empreendedorismo, transformações na sociedade e políticas públicas. Ele teve intensa carreira no meio corporativo e foi diretor do grupo Swissair.
Insights com Taleb
Segundo ele, foi a partir de um encontro com Nassim Taleb, matemático estatístico e um dos maiores pensadores do setor financeiro, autor de “A Lógica do Cisne Negro” e “Antifrágil”, que ele decidiu mergulhar profundamente nas finanças comportamentais, o que culminou em sua obra.
“Erros de pensamento, tal como emprego o termo aqui (no livro), são desvios sistemáticos em relação à racionalidade e aos comportamentos ideais, lógicos e sensatos. A palavra ‘sistemáticos’ é importante, pois nos enganamos muitas vezes na mesma direção”, explica Dobelli.
No livro, ele explica diversos vieses comportamentais de maneira descontraída e o melhor, por meio de exemplos práticos do nosso dia a dia.
A bibliografia, conjunto de obras pesquisadas pelo autor para escrever o livro, é vasta e passa por grandes referências como Daniel Kahneman, Amos Tversky e Robert Shiller.
A autocrítica é mais do que necessária
Dentre os diversos casos descritos está o viés de ação. Conforme Dobelli, para nós esperar e não fazer nada é uma tortura. Em situações indefinidas, somos levados ao impulso de fazer alguma coisa, seja qual for – e muitas vezes essa ação pode não ajudar. Isso significa que tendemos a agir rápido demais com muita frequência.
O imediatismo é de nossa natureza e tem muito valor para nós, entretanto, pode nos induzir a equívocos e nos desviar dos nossos planos.
“Nossa taxa de juro emocional aumenta quanto mais próxima do presente estiver uma decisão. A recompensa imediata é extremamente sedutora”, destaca.
Um atalho mental muito comum – para ficarmos atentos – é a tendência de seguir pensamentos de grupos ou da maioria. Hoje, as redes sociais, potencializam esse comportamento.
No livro, ele diz ainda que o fato de os seres humanos terem mais aversão às perdas do que aos riscos é uma verdadeira armadilha. Isso faz com que as pessoas cheguem a aumentar a exposição ao risco na tentativa de reverter prejuízos.
“Na Bolsa, uma perda não reconhecida ainda não é uma perda. Portanto, muitos investidores não vendem suas ações, mesmo quando a perspectiva de recuperação é pequena e a probabilidade de declínio na cotação é grande”, comenta o autor
Outra lição extraída do livro é que acreditar no nosso próprio potencial é importante, desde que seja na medida certa, com humildade. Segundo Dobelli, o excesso de confiança nos nossos conhecimentos e capacidades pode ser prejudicial.
“No dia a dia o sucesso produz maior visibilidade do que o fracasso, então você costuma superestimar a perspectiva de êxito”, comenta o autor. Por isso, o senso crítico nunca é demais.
Portanto, compreender como o nosso cérebro funciona no processo decisório é fundamental para ter melhores resultados com investimentos – mas isso vale para a vida, é uma questão de autoconhecimento.
Ao reconhecer as ciladas do pensamento, fica mais fácil evitá-las.
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