Empiricus 24/7

Diminuindo o ruído

O mercado não premia quem acompanha o noticiário minuto a minuto. Pelo contrário: favorece quem aguenta. Quem não desiste.

Por Caio Mesquita

09 jun 2025, 10:06 - atualizado em 09 jun 2025, 10:06

BDRs ações internacionais

Imagem: iStock.com/kaedeezign

Tem gente que acorda e, antes mesmo de escovar os dentes, já abriu o celular para ver como estão os futuros americanos. Quer saber se o dia vai ser bom ou ruim para os mercados. Como se essa resposta fosse realmente importante para quem não é trader, não tem alavancagem e não precisa zerar a posição ao meio-dia.

Eu mesmo caio nessa armadilha. Frequentemente.

Ansioso, às vezes abro o aplicativo da Bloomberg ainda na cama. Números verdes me acalmam. Vermelhos me preocupam. E o que faço com isso? Nada.

Lembro que não sou analista. Confio integralmente na capacidade analítica do time da Empiricus para me ajudar nas decisões pessoais de investimento.

Faço parte do enorme grupo que cresceu achando que saber mais significa ganhar mais. Que estar “bem informado” o tempo todo é uma vantagem competitiva.

Mas o mercado não premia quem acompanha o noticiário minuto a minuto. Pelo contrário: favorece quem aguenta. Quem não desiste.

Quem não responde a cada buzina como se fosse sinal de largada.

Veja o momento atual.

Depois do pânico no final do ano passado, o cenário no Brasil vem melhorando. O Ibovespa acumula alta relevante no ano. O real se recuperou. A curva de juros está cedendo.

A Empiricus está otimista com as perspectivas. E, quando a Empiricus está otimista, vale prestar atenção.

Ainda assim, o noticiário continua gerando volatilidade.

Aumento inesperado do IOF? Cai.

Governo recua diante do Congresso? Sobe.

Abre-se uma negociação entre Executivo e Legislativo para equilibrar o orçamento? Sobe mais.

Depois, o mercado lembra que acenos fiscalistas do governo já foram frustrados antes e devolve tudo.

Tudo isso em uma semana.

A impressão que dá é que vivemos num sistema financeiro com transtorno bipolar.

Mas a realidade de quem investe com horizonte de 10, 20 ou 30 anos é outra. Essas oscilações têm o mesmo impacto que uma previsão de chuva para o feriado do ano que vem. Curioso, talvez. Mas irrelevante.

Mesmo assim, muita gente tenta agir sobre isso. Compra e vende com base no noticiário do dia. Ajusta a carteira toda semana. Sente culpa quando fica parado.

Só que o resultado acumulado disso costuma ser mais barulho do que retorno.

A boa estratégia é quase sempre entediante. E ninguém quer parecer entediante.

Fomos biologicamente programados para agir diante de qualquer ameaça. Um ruído estranho na mata significava perigo. Exigia reação imediata.

No mercado financeiro, porém, a dinâmica é outra. O agitado noticiário diário, na maioria das vezes, não passa de ruído.

E o investidor que constrói patrimônio não é o mais agitado. É o mais resiliente.

É por isso que eu gosto tanto dessa frase do Morgan Housel:

“Pessoas ficam ricas tomando risco, sendo otimistas e investindo por décadas. Elas ficam pobres tentando ser espertas no curto prazo.”

Porque é exatamente isso.

O difícil não é saber o que fazer. O difícil é continuar fazendo, enquanto o mundo grita na sua orelha para você mudar.

Sobre o autor

Caio Mesquita

CEO da Empiricus