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Balanço da Nvidia, ata do Fed e dados de emprego no Brasil agitam bolsas globais nesta quarta-feira (28)

Mercado começa quarta-feira (28) de olho em ata de reunião do Fed para calibrar expectativas de inflação nos EUA. Confira.

Por Matheus Spiess

28 maio 2025, 09:30 - atualizado em 28 maio 2025, 09:30

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Imagem: iStock/ Athitat Shinagowin

A abertura desta quarta-feira (28) traz uma desaceleração natural lá fora após a alta de ontem (27), impulsionado pelo retorno dos mercados americanos do feriado com apetite generalizado por risco. Hoje, o grande destaque no exterior é a ata da última reunião do Fed — leitura que pode ajudar a calibrar as apostas sobre a persistência do juro alto nos EUA. O que realmente promete movimentar os mercados será o balanço da Nvidia, divulgado após o fechamento: a empresa se tornou, na prática, o termômetro da narrativa da inteligência artificial, e seus números devem definir o humor de amanhã.

Na Europa, a agenda também exige atenção. A pesquisa de expectativas de inflação do BCE e os dados de atividade da Zona do Euro mantêm o debate sobre o início do ciclo de cortes de juros na região. O destaque vai para o número de desempregados na Alemanha, que cresceu acima do esperado em maio — reforçando a leitura de mais leniência monetária à vista. As bolsas europeias operam em leve queda, à espera de avanços nas negociações comerciais entre EUA e União Europeia.

No mercado de commodities, o petróleo avança, ainda que de forma contida, com os investidores de olho na reunião da OPEP+ desta semana e na possibilidade de um aumento de produção, o que limita os ganhos da commodity no curto prazo.

Enquanto isso, o Brasil segue em sua novela institucional. Por aqui, os ativos ainda repercutem o dado benigno de inflação, que deveria ajudar a consolidar um ambiente mais construtivo — não fosse o ruído cada vez mais dissonante vindo de Brasília, onde a política parece ter perdido o controle do volante. Em meio a uma agenda fiscal inconsistente, ameaças de CMPI e recuos do governo no meio do caminho, o investidor brasileiro precisa mais do que leitura técnica: precisa de estômago.

· 00:54 — Fogo no parquinho

Encerramos mais um pregão em alta ontem (27), impulsionados por uma leitura de inflação abaixo do esperado — um alívio técnico que os mercados não perderam tempo em precificar. A prévia do índice de preços mostrou desaceleração na comparação mensal, reforçando a percepção de que o ciclo de aperto monetário no Brasil chegou ao fim. Apesar do patamar ainda elevado da inflação, a combinação entre o dado benigno e o anúncio de aumento do IOF sustenta a tese de que a Selic está no limite — e já começa a abrir espaço para cortes na taxa. Isso tem se refletido no fechamento da curva de juros futuros e, por consequência, no bom desempenho de ativos domésticos, especialmente os mais sensíveis ao ambiente de juros. Hoje, a atenção se volta para os dados do Caged, que trarão a dinâmica do mercado de trabalho, podendo reforçar a narrativa de que a política monetária pode, sim, começar a virar a mão. 

Enquanto isso, a crise do IOF continua produzindo estragos. O governo recuou parcialmente da medida para tentar salvar o que restava de apoio no Congresso, após forte reação do setor privado e a apresentação de uma enxurrada de projetos de decreto legislativo visando derrubar o aumento. O estrago, porém, já está feito: dos R$ 20,5 bilhões que o governo esperava arrecadar, R$ 2 bilhões evaporaram com o recuo — dinheiro que agora precisa ser compensado com cortes no orçamento ou, na improvável hipótese, com novas receitas. Se mais recuos vierem — ou se a oposição aprovar o decreto legislativo —, o buraco no Orçamento será ainda maior.

Mais do que o impacto fiscal, a crise escancara a fragilidade política do governo. A oposição, claro, aproveita o terreno fértil, mas o problema está também (e talvez principalmente) dentro da própria base. O União Brasil já ameaça abandonar o barco, e as tensões internas se acumulam. A aprovação do decreto é improvável, mas a pressão política já é suficiente para sangrar o governo e desidratar ainda mais sua capacidade de articulação. Na prática, o episódio fortalece no mercado a leitura de que um realinhamento político pode estar em curso para 2026, com o Executivo cada vez mais isolado. E isso num momento em que outra crise ronda o horizonte: a possível instalação de uma CPMI do INSS, que promete trazer mais turbulência institucional.

O efeito colateral da crise do IOF foi arrastar o ministro Fernando Haddad para prestar esclarecimentos à CAE do Senado. O embate entre a ala econômica e a política se intensifica, com sinais cada vez mais claros de fritura interna — como de costume liderada por Rui Costa, cuja habilidade em vazar informações parece competir com sua disposição para criar embaraços dentro do próprio governo, da primeira-dama ao ministro da Fazenda. Neste contexto, o mercado, sempre pragmático, começa a flertar com uma máxima perversa: talvez, neste caso, quanto pior, melhor.

· 01:42 — Ainda há alguma bandeira?

Em meio ao caos político instaurado, o governo parece ter esquecido da única bandeira política que ainda lhe resta: a prometida isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Uma proposta que vinha sendo vendida como símbolo de justiça fiscal. Ontem, no entanto, Arthur Lira, relator da matéria, expressou irritação com a lentidão da Receita Federal, que ainda não entregou as simulações e a memória de cálculo necessárias para embasar o projeto — especialmente no que diz respeito ao redutor que limita a 34% a cobrança combinada sobre pessoas físicas e jurídicas.

A ausência desses dados torna impossível estimar com precisão o número de contribuintes impactados pelo novo “imposto mínimo eficaz” sobre altas rendas. E, enquanto isso, o governo, mais uma vez, se perde na própria desorganização. Vale lembrar que essa proposta de “reforma” não passa de um puxadinho populista mal disfarçado. A defasagem da tabela do IR, segundo o Dieese, supera os 150%. Corrigi-la integralmente — como seria tecnicamente desejável — custaria mais de R$ 100 bilhões ao ano. Como não há caixa nem coragem para tanto, a solução encontrada foi fazer uma “escadinha” que isenta quem ganha até R$ 5 mil e concede alívios marginais para quem está entre R$ 5 mil e R$ 7 mil. O custo estimado, nesse arranjo, cai para algo em torno de R$ 25 bilhões. Um remendo fiscal que resolve pouco, não ataca a raiz do problema e, claro, mira unicamente o calendário eleitoral de 2026.

E nem esse puxadinho está garantido: já há movimentos internos — inclusive dentro da base — para desidratar os mecanismos de compensação que sustentam a proposta. O risco de mais um rombo fiscal à frente é real. A estratégia parece clara: plantar agora o benefício eleitoral e empurrar a conta para depois — para o próximo governo.

· 02:39 — Adiar tarifas

Nos EUA, bastou um recuo tático de Donald Trump para os mercados retomarem o fôlego. O adiamento das tarifas comerciais bastou para reverter o humor dos investidores na volta do feriado. O Nasdaq Composite saltou 2,5% na abertura da semana, o S&P 500 interrompeu uma sequência de quatro pregões negativos com alta de 2,0%, e o Dow Jones avançou 741 pontos, ou 1,8%, embalado por mais um giro da montanha-russa geopolítica patrocinada pelo próprio governo.

A suspensão temporária das tarifas sobre importações chinesas e o arrefecimento nas ameaças de medidas recíprocas foram recebidos com alívio, ainda que a previsibilidade de médio prazo siga uma miragem. Esses movimentos não apenas ajudaram os ativos a se recuperarem, como parecem ter reanimado o próprio ânimo da população americana: após cinco meses de queda, o índice de confiança do consumidor surpreendeu positivamente, subindo de 85,7 para 98,0 em maio. Na agenda do dia, o destaque fica por conta da ata da última reunião do FOMC, que deve oferecer mais pistas sobre os próximos passos do banco central americano.

· 03:23 — Maior confiança

A confiança do consumidor americano deu um salto em maio, saindo do porão — onde havia afundado para o menor nível em quase cinco anos — diretamente para a superfície, impulsionada pelo recuo do governo Trump em relação às tarifas mais radicais. Ao suspender temporariamente sua artilharia contra a China, o presidente não apenas aliviou o mercado, como também trouxe um suspiro coletivo à população, refletido nas percepções mais positivas sobre a economia e o mercado de trabalho.

A recuperação foi ampla: todas as faixas de idade, renda e filiação política registraram melhora no humor — com destaque, curiosamente, para os eleitores republicanos, tradicionalmente menos críticos do governo, mas que pareciam estar perdendo a paciência com a escalada tarifária. Os dados capturados até 19 de maio englobam a repercussão do cessar-fogo comercial firmado em 12 de maio entre Washington e Pequim, o que mostra que bastou um gesto de moderação para reverter parte do estrago emocional causado por meses de retórica inflamada.

A ironia é que a guerra comercial segue sendo impopular entre os americanos, conforme mostram sucessivos levantamentos desde o início do mandato Trump. A leitura mais recente do indicador serve, assim, como munição para os críticos da política tarifária: se continuar esticando essa corda, o governo corre o risco de minar justamente o alicerce que sustenta a economia dos EUA — o consumo.

· 04:16 — O paradoxo da estabilidade-instabilidade

No início de maio, o mundo prendeu a respiração diante do risco real de um conflito nuclear entre Índia e Paquistão. O cenário escalava perigosamente, com troca de acusações e movimentações militares que acenavam para o pior. Com esforço diplomático intenso, liderado pelos EUA e outros atores internacionais, um cessar-fogo foi costurado e permanece vigente até o momento. À primeira vista, o episódio poderia ser lido como uma vitória da dissuasão nuclear: o velho receituário da destruição mútua assegurada funcionou, como previsto nos manuais da Guerra Fria.

Mas esse alívio é superficial — e possivelmente ilusório. Na verdade, o que se desenha é mais uma reedição do chamado “paradoxo da estabilidade-instabilidade”. A teoria sustenta que, embora a existência de arsenais nucleares reduza o risco de confrontos diretos entre potências, ela aumenta, paradoxalmente, a tentação de conflitos periféricos, convencionais ou por procuração. Afinal, com a bomba no porão e a garantia tácita de que ninguém vai apertar o botão vermelho, sobra espaço para provocações e confrontos de menor escala, precisamente o tipo de guerra que a retórica nacionalista adora travar. É neste contexto que as declarações recentes de Narendra Modi acendem alertas ainda maiores. Após o cessar-fogo, o primeiro-ministro indiano afirmou que qualquer ataque terrorista contra a Índia passará a ser considerado um ato de guerra. A afirmação, além de arriscada, reposiciona as peças do tabuleiro em direção à escalada — pois, na prática, reduz a margem de manobra diplomática.

Mais grave, porém, é o movimento menos ruidoso, mas de consequências estruturais, da Índia ao suspender unilateralmente o Tratado das Águas do Indo — um acordo que, desde 1960, sobreviveu a guerras declaradas e a décadas de animosidade entre os vizinhos. A ruptura de um pacto que garante o acesso compartilhado à principal fonte de água doce de ambos os países — dois gigantes populosos e já pressionados por escassez hídrica — é um passo com implicações que vão muito além da geopolítica tradicional. Renegociar o tratado é uma velha obsessão indiana, que o considera desequilibrado em favor do Paquistão. Agora, com a retórica belicista em alta e uma população domesticamente sensível ao discurso duro, talvez Modi veja nesta escalada o momento ideal para ajustar as contas do tratado — mesmo que o preço seja alto.

· 05:07 — Escolhendo um sucessor

Jamie Dimon, o comandante do JPMorgan Chase (NYSE: JPM), completará duas décadas à frente do maior banco americano no ano que vem — e o mercado continua à espera de uma resposta clara sobre quando ele deixará o cargo. Em reunião recente com investidores, Dimon seguiu seu estilo enigmático: disse que “nada mudou” desde o ano passado e que a decisão depende do conselho. O veterano completará 70 anos em 2026, e, embora já tenha declarado que não ficará mais cinco anos no posto, também não parece ter pressa para entregar o bastão…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.