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Investimentos

Bolsas de valores começam setembro com menor liquidez devido ao feriado nos EUA; confira o que move o mercado nesta semana 

Impasse jurídico sobre as tarifas dos EUA, dificuldades no mercado de trabalho e eleições legislativas na Argentina também são destaques.

Por Matheus Spiess

01 set 2025, 09:24

Atualizado em 01 set 2025, 09:24

mercado ibovespa ações bolsa b3

Imagem: iStock.com/da-kuk

A semana nos mercados financeiros tem início sob o efeito de menor liquidez, reflexo do feriado do Dia do Trabalho nos EUA, mas rapidamente a atenção se desloca para uma agenda carregada de indicadores decisivos. O ponto central será a divulgação do payroll de agosto, marcada para sexta-feira (5), que deve calibrar de forma mais precisa as apostas em torno da próxima reunião do Federal Reserve, agendada para 17 de setembro. Depois da fraqueza observada no relatório de julho, somada às revisões negativas nos meses anteriores, o consenso entre investidores é de que qualquer sinal adicional de arrefecimento do mercado de trabalho praticamente selará o início de um ciclo de cortes de juros. O pano de fundo torna-se ainda mais relevante porque Jerome Powell, em seu discurso em Jackson Hole, já havia sinalizado disposição para flexibilizar a política monetária. Esse cenário vem pressionando o dólar para baixo no mercado global e oferecendo suporte extra às bolsas de países emergentes, como a brasileira, que, além do efeito externo, também se beneficia do noticiário eleitoral.

Ao mesmo tempo, a semana reserva novidades importantes no front corporativo, com a divulgação dos resultados de gigantes de tecnologia como Salesforce e Broadcom. No mercado asiático, setembro começou de forma mista: Hong Kong se destacou com a disparada das ações da Alibaba, enquanto os PMIs da China mostraram apenas uma recuperação tímida, ainda insuficiente para reverter a desaceleração em curso no terceiro trimestre.

Já na Europa, as bolsas abriram em alta, amparadas por dados de manufatura mais encorajadores, embora o foco principal continue sendo o payroll americano e as turbulências políticas, em especial na França, que permanece imersa em um cenário de fragilidade institucional.

Paralelamente, a política tarifária americana segue no centro do debate, após um novo tribunal declarar ilegal parte das tarifas impostas por Trump — decisão que aumenta a expectativa de disputas comerciais.

No Brasil, os investidores digerem os últimos dados fiscais e a proposta de orçamento para 2026, enquanto monitoram de perto tanto o avanço do rali eleitoral quanto os desdobramentos políticos no STF, fatores que seguem adicionando volatilidade.

· 00:51 — Rali político avança mesmo sob a sombra fiscal

No Brasil, a semana promete ser movimentada tanto no campo econômico quanto no político. Do lado dos dados, o mercado aguarda amanhã (2) a divulgação do PIB do segundo trimestre, que deve confirmar de forma mais nítida o impacto dos juros ainda elevados — com a Selic a 15% ao ano — sobre a desaceleração da atividade. Já na quarta-feira, a publicação da produção industrial de julho trará os primeiros sinais sobre o ritmo de crescimento no terceiro trimestre, enquanto outros indicadores, como a balança comercial e os números de produção e vendas de veículos, complementarão o quadro ao longo da semana. No cenário político, a atenção se volta ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF). O processo tende a ampliar as tensões institucionais, especialmente no relacionamento com os Estados Unidos, ao mesmo tempo em que o governo busca avançar com a reforma do Imposto de Renda — cujo ponto mais popular é a promessa de isenção para quem recebe até R$ 5 mil mensais, mas que depende de maior tributação sobre as camadas de renda mais alta, medida que enfrenta forte resistência do centrão, avesso a mais impostos.

Nos últimos dias, esse pano de fundo político voltou a se sobrepor às questões externas, influenciando diretamente o comportamento dos ativos locais. O bolsonarismo aparece enfraquecido, enquanto o presidente Lula, apesar do uso da máquina pública, encontra dificuldades em engajar as bases populares e já admite a possibilidade de não disputar a eleição de 2026 caso sua saúde não permita — o que aumenta as incertezas sobre a sucessão no campo da esquerda. Esse vácuo tem sido ocupado por nomes da centro-direita, com destaque para o governador Tarcísio de Freitas, que desponta como candidato competitivo, ainda que outros governadores também mostrem força regional. O mercado interpreta esse rearranjo como uma elevação da probabilidade de alternância de poder em 2026, percepção que, diante da fragilidade fiscal e institucional, é vista como um possível vetor positivo de mudança. 

Apesar disso, o caminho até lá deve ser turbulento, em especial por conta do quadro fiscal. O setor público consolidado registrou em julho um déficit primário de R$ 66,6 bilhões — acima do esperado e significativamente pior que no ano anterior —, enquanto a dívida bruta do governo alcançou 77,6% do PIB, mantendo trajetória de alta. O Projeto de Lei Orçamentária para 2026, enviado ao Congresso após o fechamento do mercado na última sexta-feira, incluiu cortes lineares de R$ 19,8 bilhões em benefícios tributários ainda indefinidos e estimativas de receitas adicionais de medidas em negociação, como a MP que eleva tributos sobre investimentos e apostas (R$ 20,9 bilhões), o Programa de Transação Integral (R$ 27 bilhões) e a venda futura de participações em petróleo (R$ 31 bilhões). O desafio é a credibilidade: projeções oficiais apontam superávit primário de R$ 34,5 bilhões (0,25% do PIB) em 2026, mas cálculos do mercado estimam déficit de cerca de R$ 100 bilhões, evidenciando hipóteses otimistas de arrecadação e subestimação de despesas. Com uma âncora fiscal frágil e despesas em trajetória ascendente, os riscos permanecem, ainda que o Brasil possa se beneficiar no curto prazo de fatores externos — como a perspectiva de cortes de juros pelo Fed e ao dólar mais fraco — e internos, como o rali eleitoral e expectativas de mudanças na política econômica a partir de 2026.

· 01:48 — Semana decisiva

Os mercados americanos encerraram agosto em território positivo, apesar da correção registrada no pregão de sexta-feira, que trouxe um tom mais cauteloso ao fechamento do mês. No acumulado, o Dow Jones avançou 3,2%, o S&P 500 subiu 1,9% e o Nasdaq, ainda sustentado pelo entusiasmo em torno da inteligência artificial, ganhou 1,6%. No balanço do ano, os números também são robustos: alta de 11% para o Nasdaq, 9,8% para o S&P 500 e 7,1% para o Dow. Esse desempenho foi sustentado por uma temporada de resultados corporativos sólida e, sobretudo, pela crescente expectativa de que o Federal Reserve dará início a um ciclo de afrouxamento monetário em setembro, possivelmente com um corte de 0,25 ponto percentual na taxa básica. Apesar disso, a volatilidade ainda é perceptível, já que os investidores continuam ajustando suas posições à medida que novos dados econômicos são divulgados e podem alterar a narrativa de alívio na política monetária.

A atenção agora se volta para a agenda da primeira semana de setembro, que tende a ser decisiva para calibrar as apostas em relação ao Fed. O principal dado será o relatório de empregos de agosto, previsto para sexta-feira, que poderá confirmar se a desaceleração do mercado de trabalho vista em julho é uma tendência mais duradoura. Antes disso, o mercado acompanhará os indicadores de atividade, como os PMIs de manufatura e serviços, e a pesquisa JOLTS, que mede a abertura de vagas no setor privado. No campo corporativo, duas gigantes da tecnologia estarão no foco: a Salesforce, que enfrenta dúvidas sobre pressão em suas margens diante do avanço da inteligência artificial, e a Broadcom, que segue em forte valorização no ano apoiada pela demanda por chips de IA. Nesse ambiente, os investidores entram em setembro divididos entre o otimismo com a possibilidade de juros mais baixos e a cautela diante de dados que ainda podem mudar o humor do mercado.

· 02:35 — Impasse jurídico americano

Os Estados Unidos enfrentam mais um capítulo de instabilidade jurídica e política após um tribunal de apelações declarar, na última sexta-feira (29), que a maior parte das tarifas globais impostas por Donald Trump foi ilegal, por extrapolar os poderes concedidos pela Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional. A decisão, que confirma entendimento prévio do Tribunal de Comércio Internacional, ressalta que a norma autoriza medidas emergenciais, mas não concede ao presidente o direito explícito de criar tarifas ou impostos adicionais. O caso, no entanto, ainda não está resolvido: os juízes determinaram que uma instância inferior defina se a decisão vale para todos os importadores afetados ou apenas para aqueles que recorreram à Justiça, mantendo as tarifas vigentes até 14 de outubro, quando se espera um recurso à Suprema Corte.

A decisão atinge diretamente o coração da estratégia econômica de Donald Trump — construída sobre a aplicação de tarifas generalizadas contra múltiplos parceiros comerciais e de sobretaxas específicas voltadas à China, Canadá e México, amparadas na retórica do combate ao fentanil. Não por acaso, a medida foi celebrada por pequenas empresas e por governos estaduais ligados à oposição democrata, que desde o início questionavam a legitimidade do uso da Lei de Poderes de Emergência para sustentar tais barreiras. Tenho ressaltado desde abril que a possibilidade de judicialização das tarifas era real, e agora vemos esse cenário se materializar. Embora algumas tarifas setoriais ainda possam ser preservadas por estarem ancoradas em legislações distintas, o risco de queda das chamadas tarifas recíprocas é cada vez mais plausível. Para os mercados, a mensagem é cristalina: em um mundo já tensionado por choques comerciais e geopolíticos, a disputa jurídica adiciona uma camada adicional de volatilidade, impondo cautela enquanto se aguarda a decisão final da Suprema Corte, que poderá definir os limites da política econômica de Washington.

· 03:22 — Mais difícil para recém-formados

O mercado de trabalho para recém-formados nos Estados Unidos atravessa um momento particularmente desafiador. Pela primeira vez em décadas, a taxa de desemprego entre jovens supera a média nacional, refletindo mudanças estruturais no ambiente profissional. Um estudo conduzido pela Universidade de Stanford revelou que as contratações em cargos mais expostos à inteligência artificial caíram 13% para trabalhadores em início de carreira, sinalizando que a rápida difusão dessas tecnologias pode estar restringindo justamente as portas de entrada no mercado. Esse fenômeno funciona como o clássico “canário na mina de carvão”: um alerta de que a disrupção tecnológica já começa a deixar marcas concretas sobre a empregabilidade.

Ainda que não seja possível atribuir exclusivamente à inteligência artificial as dificuldades enfrentadas pelos jovens, há evidências de que ela esteja alterando de forma significativa a dinâmica das contratações. Muitos recém-formados relatam uma frustração crescente ao enviar milhares de currículos apenas para vê-los descartados por sistemas de triagem usados pelas empresas. Esse processo, cada vez mais digital e menos pessoal, transforma a busca por um primeiro emprego em algo próximo a uma loteria, reforçando a percepção de que os desafios do mercado de trabalho atual não se limitam ao ciclo econômico, mas também à transição tecnológica em curso.

· 04:19 — A incerteza política argentina

Tenho acompanhado de perto a corrida para as eleições legislativas de meio de mandato na Argentina, marcadas para outubro, e trata-se de um evento com potencial de redefinir o rumo político e econômico do país. Mais do que uma votação intermediária, o pleito funcionará como um termômetro da chamada “terapia de choque” fiscal de Javier Milei, ao mesmo tempo em que pode ampliar de forma decisiva a presença de seu partido, La Libertad Avanza (LLA), no Congresso. A meta do presidente é conquistar ao menos um terço das cadeiras parlamentares, o que lhe daria poder de veto sobre iniciativas que ameacem sua agenda de reformas tributárias, trabalhistas e previdenciárias. Ainda assim, mesmo que consiga uma vitória significativa, Milei terá de negociar com setores mais moderados da oposição para avançar de maneira consistente, já que a política argentina permanece altamente fragmentada. Nesse contexto, a fragilidade da Unión por la Patria, principal força peronista e majoritária no Congresso, mas mergulhada em disputas internas e crise de liderança, acaba funcionando como um trunfo político para o governo.

Os últimos dias de campanha, no entanto, foram marcados por turbulências. O vazamento de uma gravação que supostamente implica Karina Milei, irmã do presidente, em um esquema de propinas ligado à Agência Nacional de Deficiência (ANDIS) deflagrou uma investigação federal e desgastou a imagem de Milei, especialmente por ele ter feito da bandeira anticorrupção um dos pilares de sua eleição em 2023. Esse episódio surge em um momento delicado, às vésperas da eleição de outubro, e ameaça eclipsar conquistas que o governo vinha exibindo, como a desaceleração da inflação e o avanço no equilíbrio das contas públicas. Além disso, o fraco desempenho do candidato apoiado por Milei nas eleições para governador em Corrientes — apenas o quarto lugar, com 8,24% dos votos, após o escândalo — reforça a percepção de que sua coalizão enfrenta dificuldades. Embora as pesquisas nacionais ainda mostrem Milei competitivo para consolidar apoio político, o episódio serve como um choque de realidade: a corrida eleitoral até outubro promete ser marcada por incerteza, volatilidade e embates intensos, com espaço tanto para o fortalecimento quanto para um eventual enfraquecimento de sua agenda.

· 05:08 — Surpresa com Alibaba

A Alibaba surpreendeu positivamente o mercado ao apresentar sinais consistentes de ganho de escala e maior confiança em seus investimentos na área de computação em nuvem, o que levou a uma valorização expressiva de quase 20% de suas ações em poucos dias. Esse movimento foi impulsionado, sobretudo, pelo avanço robusto da receita ligada à inteligência artificial, que registrou crescimento de três dígitos, e pelo aumento de 26% nas vendas da divisão de nuvem, superando as estimativas dos analistas. O resultado reforçou a percepção de que a companhia vem conseguindo diluir parte das preocupações com a competição acirrada no comércio eletrônico — travada contra rivais de peso como Meituan e JD.com — e acrescentou mais de US$ 50 bilhões ao seu valor de mercado em curtíssimo prazo.

Esses números evidenciam…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.