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Câmara vota decreto do IOF, cúpula da Otan em Haia e contínua queda do petróleo; veja os destaques desta quarta-feira (25)

Nos mercados globais, a Ásia operou neutra nesta quarta-feira, enquanto a Europa prevaleceu cética ao cessar-fogo.

Por Matheus Spiess

25 jun 2025, 09:33 - atualizado em 25 jun 2025, 09:33

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Imagem: iStock/ Athitat Shinagowin

Lá fora, o humor dos mercados varia conforme a região. Na Ásia, os principais índices operaram no azul, ainda embalados pela trégua — por ora funcional — entre Irã e Israel. Foi um alívio bem-vindo. O Ocidente, contudo, acordou com menos entusiasmo. Na Europa, prevalece um ceticismo silencioso diante da fragilidade do cessar-fogo. O recuo das bolsas no continente reflete essa desconfiança: todos sabem que, no Oriente Médio, a distância entre trégua e retomada de hostilidades é medida em milímetros.

Os holofotes se voltam agora para Haia, onde líderes da OTAN se reúnem em busca de um gesto concreto que mantenha viva a relevância da aliança militar. A aposta dos europeus é simples: um compromisso formal de ampliar gastos com defesa pode ser o trunfo necessário para arrancar de Washington uma reafirmação pública do seu engajamento estratégico — algo que parece cada vez mais negociável.

Enquanto isso, começamos a digerir com mais frieza os reais efeitos do bombardeio americano às instalações nucleares iranianas. O impacto midiático foi estrondoso, mas a destruição prática parece bem mais modesta do que o anunciado. Leitura preliminar de inteligência dos próprios EUA e de Israel indica que, apesar do barulho, os ativos críticos do programa nuclear iraniano escaparam com danos limitados. O cessar-fogo foi conquistado, mas a preocupante infraestrutura segue, em larga medida, preservada.

No radar econômico, Jerome Powell compareceu ontem à Câmara dos Representantes com o mesmo tom calculado de sempre. Reiterou que não há pressa para cortar juros, que as tarifas comerciais introduzem incertezas no cenário e que, apesar de tudo, ainda existe espaço para um eventual corte no segundo semestre — como antecipado no último sumário de projeções econômicas do Fed. A declaração, ambígua como convém a um presidente de banco central, foi suficiente para injetar algum ânimo nos mercados. Assim, os futuros americanos voltam a subir nesta manhã.

· 00:56 — Mais derrotas no horizonte

No Brasil, o Ibovespa encerrou a terça-feira (24) em alta, embalado por dois vetores de alívio: o cessar-fogo, ainda que frágil, no Oriente Médio e a ata do Copom, que reforçou o discurso firme já sinalizado no comunicado da semana passada. A decisão de elevar a Selic para 15% veio acompanhada de um recado claro: pausa no ciclo de aperto monetário, sim — mas sem sinal de afrouxamento no horizonte próximo. Como destaquei ontem, o Banco Central não quer alimentar apostas prematuras de corte.

Com o front externo relativamente pacificado, os olhos se voltam para Brasília, onde o circo fiscal segue em plena atividade. A pauta do dia é a possível votação, pela Câmara, do Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que derruba o aumento do IOF. A urgência já foi aprovada na semana passada, e agora Hugo Motta ameaça colocar o texto em plenário. Há um desconforto evidente no Planalto, que se sente traído pelas lideranças parlamentares — as mesmas com quem costurou alternativas ao aumento do IOF. A sensação é de que, mais uma vez, o Executivo ficou com o mico na mão.

É verdade que o Congresso não move uma palha para cortar despesas e terceiriza toda a responsabilidade fiscal ao governo. Mas sejamos justos: essa disfuncionalidade não nasceu ontem. Ela é fruto direto de uma sucessão de governos fracos, inseguros e sem convicção. Sem força política e sem um projeto claro de país, ninguém fará nada estruturalmente transformador no Brasil. O escopo de ação do governo Lula é estreito — não apenas por limitações ideológicas, mas também por pura incapacidade de articulação. Basta ver que, diante da resistência ao IOF, o próprio Executivo já recuou em parte da medida provisória alternativa (que reduzia de 30 para 60 dias o prazo para concessão de auxílio-doença sem perícia médica). Já era tímido e ficou ainda menor.

A deterioração fiscal é crescente. Fernando Haddad, isolado e cada vez mais pressionado, voltou a defender o aumento do IOF. Talvez porque, entre todas as portas, esta seja a única ainda entreaberta. Para piorar, mais uma bomba está prestes a explodir: o Congresso ameaça derrubar novos vetos presidenciais, inclusive aqueles relacionados a subsídios cruzados no setor elétrico. Lula, sentindo o cheiro de mais uma derrota, convocou uma reunião de emergência com ministros para tentar conter a sangria. Na semana passada, parte dos vetos já foi rejeitada, com impacto estimado em R$ 35 bilhões por ano sobre a conta de luz. Se todos forem derrubados, o custo pode bater em R$ 65 bilhões anuais — pagos, claro, pelos consumidores.

É por isso que o clima no Planalto é de ansiedade. O governo sabe que está prestes a perder — de novo. E o resultado é previsível: a conta fiscal não fecha. Não adianta exibir o superávit de quase R$ 20 bilhões do Governo Central nos últimos 12 meses até maio (ou os cerca de R$ 60 bilhões acumulados no ano). A matemática real cobra seu preço: nesse período, o governo simplesmente não pagou precatórios. Essa fatura — de cerca de R$ 70 bilhões — chega no segundo semestre. Quando se desconta esse valor, o tal superávit se transforma num déficit de R$ 50 bilhões. Em outras palavras, não há chance real de superávit em 2025. O governo se recusa a cortar gastos; o Congresso se recusa a subir impostos. Resultado? O déficit é inevitável.

A bomba está armada. E, convenhamos, a tão sonhada reforma estrutural só virá em 2027. Até lá, o melhor que se pode esperar é uma estagnação fiscal disfarçada de “esforço técnico”. Nos bastidores, o clima já é de mudança: setores do agronegócio articulam para que Bolsonaro já desista da candidatura e pavimente o caminho para Tarcísio. A lógica é pragmática. Quanto antes a oposição se reorganizar em torno de um nome viável, reformista, fiscalista e pró-mercado, melhor para os ativos de risco. A partir de agora, a política começa a contaminar os preços com mais intensidade.

· 01:44 — Novos motivos de preocupação

Nos EUA, os mercados respiraram aliviados. A trégua, ainda que frágil, no Oriente Médio — e a continuidade da queda no preço do petróleo — reacendeu o apetite por risco. Com o cessar-fogo entre Irã e Israel anunciado por Trump, o prêmio geopolítico evaporou quase tão rapidamente quanto foi inflado. O petróleo voltou aos níveis anteriores ao conflito e o ouro perdeu tração, com investidores desmontando posições defensivas e correndo para ações e Treasuries como se nada tivesse acontecido. A paz — ou algo que se assemelha a ela — voltou a ser temporariamente precificada.

Mas o alívio pode ser breve. Com a poeira assentando no front geopolítico, os holofotes agora se voltam para o campo comercial, onde o cenário promete menos tranquilidade. A trégua tarifária, em vigor desde abril, tem data marcada para expirar: 9 de julho. O acordo informal, que suspende por 90 dias a escalada mútua de tarifas entre os Estados Unidos e seus principais parceiros comerciais, parece cada vez mais dependente do avanço legislativo do pacote de impostos e gastos — a nova obsessão do governo Trump. O texto está atualmente pendurado no Senado, e sua aprovação é vista como pré-condição para qualquer retomada séria das negociações comerciais.

Enquanto isso, Jerome Powell segue sua romaria pelo Capitólio. Na terça-feira, apresentou seu relatório semestral à Câmara dos Representantes; nesta quarta, é a vez do Senado. O presidente do Federal Reserve mantém, ao menos publicamente, um tom comedido. A guerra comercial e suas repercussões sobre os preços ainda exigem cautela. No entanto, nas entrelinhas, Powell acena com a possibilidade de uma flexibilização mais adiante, caso os dados justifiquem. A leitura do mercado é clara: mesmo sem pressa, a porta para um corte de juros no segundo semestre segue aberta.

· 02:31 — O pacote tributário americano

Sob a liderança de John Thune, senador pela Dakota do Sul e atual líder da maioria, os republicanos no Senado estão avançando com uma versão própria do projeto de impostos já aprovado pela Câmara. A proposta, embora mantenha o espírito da plataforma fiscal trumpista, busca suavizar algumas de suas promessas mais populistas. Trata-se de um ajuste cosmético, mas simbólico, que tenta aplicar verniz de responsabilidade a uma agenda fiscal essencialmente expansionista.

Ambas as versões do projeto, no entanto, compartilham o mesmo objetivo central: tornar permanentes os cortes de impostos aprovados no primeiro mandato de Donald Trump. O problema? A conta não fecha. Ainda que os parlamentares insistam em demonstrar alguma disposição para “pagar a conta”, a verdade é que nenhum dos textos cobre integralmente os custos. Na melhor das hipóteses, são soluções parciais. 

O impacto fiscal é colossal: a extensão integral por dez anos dos cortes tributários de 2017 deve adicionar impressionantes US$ 3,8 trilhões ao déficit. Caso se confirme, a dívida pública americana ultrapassaria, com folga, os US$ 40 trilhões. A solução encontrada pelos republicanos, no entanto, é de uma criatividade contábil digna de nota: pretendem mudar as regras do jogo, reclassificando os cortes como neutros para o orçamento federal — mesmo que não sejam. O truque, se bem-sucedido, derrubaria décadas de precedentes legislativos, abrindo espaço para que qualquer maioria ocasional no Congresso aprove medidas temporárias com impacto permanente. Trata-se de um precedente perigoso. O que começa como exceção se consolida como regra. A dor de cabeça fiscal, afinal, não é uma exclusividade nossa.

· 03:25 — E se o programa continuar de pé

Israel e Irã, ao menos por ora, seguem respeitando a trégua intermediada por Trump. O anúncio veio após a resposta ao ataque americano do fim de semana (Teerã lançou mísseis contra uma base aérea dos EUA no Catar). Como destacamos anteriormente, foi uma retaliação coreografada — o tipo de gesto mais performático do que bélico. O governo iraniano avisou previamente tanto os americanos quanto os cataris. Resultado: nenhum ferido, nenhum estrago significativo, apenas fumaça e sinalização.

A encenação, no entanto, foi suficiente para que os líderes políticos pudessem proclamar suas respectivas “vitórias”. O presidente iraniano declarou o fim da chamada “Guerra dos 12 Dias”. Benjamin Netanyahu, por sua vez, não perdeu a oportunidade de afirmar que Israel teria alcançado uma “vitória histórica” sobre o Irã. A grande interrogação agora é: os Estado Unidos conseguirão sustentar essa paz?

Os mercados ainda não compraram essa tese por completo. O petróleo voltou a subir nesta manhã, refletindo as incertezas em torno do verdadeiro estado do programa nuclear iraniano. Um relatório preliminar da inteligência americana, vazado ontem à noite, trouxe um banho de realidade: segundo a avaliação, os bombardeios americanos do último sábado atingiram três instalações nucleares do Irã, mas com impacto limitado — não eliminaram o risco, apenas empurraram a ameaça alguns meses adiante.

A discrepância entre os fatos e a narrativa presidencial começa a incomodar. A retórica triunfalista de Trump — sugerindo que a batalha estava vencida e a paz, selada — esbarra em um diagnóstico mais frio e técnico: o núcleo do programa nuclear iraniano permanece intacto. A dúvida se impõe com força: estamos diante de uma trégua sustentável ou apenas de uma pausa estratégica antes do próximo capítulo? Para o investidor, o recado é claro: o barril de petróleo ainda tem combustível geopolítico.

· 04:12 — Resistência ao mundo “tecnopolar”

Ontem, falamos sobre o mundo “tecnopolar” — aquele moldado sob o domínio das big techs (clique aqui para ver), que pareciam caminhar para uma hegemonia incontestável. Mas, justo quando a consolidação desse poder parecia inevitável, forças mais instintivas da geopolítica voltaram a bater à porta. O protecionismo, a busca por segurança econômica e a rivalidade entre potências ressurgiram com força, ressuscitando uma agenda estatal que muitos julgavam arquivada desde o auge da globalização. A invasão da Ucrânia pela Rússia e o agravamento das tensões entre Estados Unidos e China selaram esse retorno do Estado ao centro do jogo.

Diante desse novo arranjo, governos correram para retomar o controle de domínios estratégicos que haviam, nas últimas décadas, terceirizado às empresas de tecnologia. Os EUA proibiram a exportação de semicondutores avançados, sancionaram empresas chinesas e despejaram bilhões em políticas de relocalização de cadeias de suprimentos — num esforço explícito para reconstruir soberania produtiva. Pequim respondeu à altura: adotou restrições próprias, acelerou sua agenda de autossuficiência e reforçou a mão do Estado sobre seu setor de tecnologia. O que era exceção virou regra: o protecionismo virou política oficial, e a política industrial voltou ao léxico de todos os formuladores de estratégia global. Não gosto dessa direção.

O impacto foi direto: o ecossistema tecnológico global, antes interconectado e relativamente neutro, passou a se fragmentar em blocos rivais. Empresas como Apple e Tesla, que floresceram sob o mantra da integração global e da eficiência de cadeias produtivas dispersas, viram seus modelos de negócios ficarem vulneráveis da noite para o dia. A resposta das companhias foi pragmática: se o novo jogo exige proximidade com o Estado, que assim seja. No mundo pós-globalização, dominado pela lógica da hipersecuritização e da política de blocos, prosperar significa se alinhar — e, em muitos casos, se submeter — aos interesses estratégicos dos governos. Pode soar como resistência à ordem tecnopolar que parecia inescapável, mas o desfecho pode ser justamente o oposto: uma simbiose ainda mais profunda entre Estados e empresas, agora não mais em nome da eficiência, mas da sobrevivência estratégica.

· 05:08 — Alguns bons sinais

O mais recente leilão da ANP para a oferta de blocos exploratórios trouxe sinais encorajadores para os acionistas da Petrobras — ainda que o otimismo, desta vez, venha justamente da ausência de excessos. Embora tenha sido a companhia que mais blocos arrematou em número absoluto, a estatal apareceu apenas na terceira posição em termos de desembolso financeiro, atrás de pesos-pesados como Chevron e CNPC. É um bom sinal. Com o buraco fiscal se tornando cada vez mais explícito, pairavam receios de que a Petrobras fosse compelida a forçar a mão no leilão — uma espécie de socorro indireto ao governo, pagando caro por ativos estratégicos. Não foi o caso.

Dos quase R$ 1 bilhão arrecadados no certame, a Petrobras participou com uma contribuição modesta de R$ 139 milhões — e, ainda assim, sem abrir mão dos ativos considerados prioritários, com destaque para os blocos da Bacia da Foz do Amazonas. A propósito, vale a pena destacar…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.