Imagem: iStock/ Wipada Wipawin
Os dados mais recentes de inflação nos Estados Unidos trouxeram sinais mistos, mas reforçaram a percepção de que o Federal Reserve mantém espaço para iniciar um ciclo de flexibilização monetária. O índice de preços ao produtor (PPI) recuou 0,1% em agosto, surpreendendo positivamente em relação às projeções de alta e sugerindo algum alívio nos custos. Ainda assim, setores específicos, como eletrônicos, pneus e têxteis, apresentaram pressões localizadas. Agora, as atenções se concentram no CPI de agosto, que deve indicar se a inflação ao consumidor continua em processo de acomodação ou se os serviços seguem como principal foco de preocupação. O consenso de mercado projeta alta de 0,3% no mês e de 2,9% na comparação anual, com núcleo estável em 3,1%. O resultado será determinante não apenas para confirmar o corte esperado de 25 pontos-base na próxima reunião do Fed, mas também para orientar a intensidade do ciclo de afrouxamento nos próximos meses.
Paralelamente, o pano de fundo dos mercados permanece marcado pelo entusiasmo em torno da inteligência artificial. A Oracle surpreendeu ao divulgar uma carteira recorde de pedidos em nuvem de US$ 455 bilhões — grande parte ligada à OpenAI —, o que levou suas ações a dispararem 36% em um único pregão e impulsionou Nasdaq e S&P 500 a novas máximas históricas. O movimento reacendeu comparações com a bolha das pontocom, embora, desta vez, o contexto de queda de juros ofereça suporte adicional a valuations mais elevados, sobretudo em tecnologia. Ainda assim, persistem dúvidas sobre a sustentabilidade de contratos tão vultosos, o que recomenda cautela diante de um ambiente de otimismo seletivo. Na Ásia, as bolsas acompanharam o movimento positivo, com destaque para os índices chineses, e na Europa, os mercados operam em leve alta à espera da decisão do BCE, que deve manter juros inalterados.
No campo político, o novo premiê francês, Sébastien Lecornu, enfrenta um parlamento fragmentado em meio a protestos, enquanto, na geopolítica, a OTAN elevou o tom após drones russos serem abatidos na Polônia. Já nos EUA, a disputa em torno da permanência de Cook no Fed adiciona mais um elemento de incerteza institucional.
· 00:57 — Entre a deflação de agosto e o voto do Fux
No Brasil, o IPCA de agosto trouxe uma deflação mais branda do que o esperado, o que levou parte do mercado a reduzir as apostas em um corte antecipado da Selic pelo Copom. Na minha visão, trata-se de uma reação precipitada, reflexo de uma ansiedade recorrente dos investidores diante da política monetária (mercado sensível demais). O índice registrou queda de 0,11% no mês, acima da mediana das projeções de -0,15%, mas em linha com a estimativa da Empiricus, levando a taxa acumulada em 12 meses para 5,13%. O alívio veio principalmente de alimentos e energia, mas os núcleos e os serviços, sobretudo os mais intensivos em mão de obra, seguem pressionados em patamares de 5% a 6% ao ano, evidenciando que a inflação permanece disseminada e resiliente. O quadro ainda é ruim, inegavelmente, embora haja sinais de desaceleração gradual, com perspectivas de convergência abaixo de 5% até o final do ano. Se essa tendência se mantiver, em conjunto com dados de atividade doméstica em desaceleração e um eventual corte de juros nos Estados Unidos, abre-se espaço para redução da Selic em dezembro. Nesse contexto, as vendas do varejo, divulgadas hoje, serão relevantes para calibrar as expectativas sobre a atividade econômica.
No campo político, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro ganhou um novo contorno com o voto do ministro Luiz Fux, que surpreendeu ao ir além das divergências esperadas. Em um voto de mais de 13 horas, Fux não apenas questionou as preliminares do processo, mas rejeitou o mérito da acusação de tentativa de golpe e até mesmo a competência do STF para julgá-lo. Ao final, absolveu Bolsonaro de todos os crimes apontados pela PGR, acolhendo integralmente as teses da defesa. O posicionamento gerou euforia entre aliados do ex-presidente e abre margem para que, mesmo diante de uma provável condenação majoritária, o tema volte a ser debatido no futuro, talvez em dois ou três anos, em um cenário político diferente do atual. A expectativa é que a decisão final sobre as penas seja anunciada amanhã, com possibilidade de condenações variando entre 25 e 30 anos, a depender da definição de regime e progressão. Hoje, a atenção se concentra nos votos da ministra Cármen Lúcia e de Cristiano Zanin, que tendem a ser determinantes para o desfecho do processo. Para os mercados, o julgamento segue no radar por seu potencial de gerar novas sanções americanas ou repercussões políticas relevantes no horizonte eleitoral.
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· 01:42 — Barril de pólvora
Nos Estados Unidos, o assassinato do ativista político Charlie Kirk, de apenas 31 anos, durante um evento universitário em Utah, abalou profundamente a opinião pública e expôs, de forma contundente, a escalada da violência política no país. Kirk foi morto a tiros enquanto discursava, episódio que simboliza o ambiente cada vez mais polarizado e inflamável da sociedade americana. Trata-se de um acontecimento lamentável, com potencial para gerar repercussões políticas relevantes no futuro.
No mercado financeiro, contudo, a narrativa foi dominada por dados macroeconômicos e surpresas corporativas. O S&P 500 renovou máximas de fechamento, sustentado por dois fatores principais: a inesperada queda de 0,1% no índice de preços ao produtor (PPI) em agosto — sinalizando alívio adicional nas pressões inflacionárias — e a disparada de 36% das ações da Oracle, após a companhia anunciar um salto expressivo em sua carteira de contratos ligados à inteligência artificial.
Diante desse pano de fundo, todas as atenções agora se voltam para a divulgação do CPI (inflação ao consumidor), que deve trazer indicações mais precisas sobre a trajetória da política monetária do Federal Reserve. O consenso aponta para um corte de 25 pontos-base já na próxima reunião (semana que vem), mas a dinâmica dos preços de serviços permanece como o principal ponto de atenção, capaz de influenciar não apenas o ritmo, mas também a intensidade do ciclo de flexibilização monetária.
· 02:39 — Nova euforia
A Oracle, tradicional fornecedora de software corporativo, surpreendeu o mercado ao se reposicionar como uma das protagonistas do atual ciclo de euforia em torno da inteligência artificial. A companhia anunciou um volume impressionante de contratos em nuvem, que alcançam US$ 455 bilhões — quatro vezes mais do que no mesmo período do ano anterior. O principal motor desse salto foi um acordo de peso com a OpenAI, que prevê US$ 300 bilhões em pagamentos ao longo dos próximos cinco anos. A resposta do mercado foi imediata: as ações da Oracle dispararam 36% em um único pregão, registrando o maior ganho diário em mais de 30 anos e projetando a receita da unidade de infraestrutura em nuvem para US$ 144 bilhões até 2030. O impacto foi tão marcante que Larry Ellison, cofundador e presidente da empresa, ultrapassou Elon Musk como a pessoa mais rica do mundo em apenas um dia.
Entretanto, por trás da euforia há pontos de atenção. A materialização dessa receita futura depende fortemente da capacidade da OpenAI e de outras gigantes de IA, como a xAI e a Meta, de sustentar um ritmo acelerado de crescimento — o que naturalmente levanta questionamentos sobre a viabilidade de projeções tão agressivas. Além disso, a maior parte das obrigações de desempenho contratadas (RPO) só deve ser reconhecida como receita efetiva no longo prazo, criando um desalinhamento entre expectativas do mercado e geração de caixa no curto prazo. Ainda assim, a Oracle conseguiu se consolidar como um dos pilares estratégicos da infraestrutura de nuvem para IA, apoiada em um robusto plano de investimentos de US$ 35 bilhões neste ano fiscal. A guinada não apenas reposiciona a companhia perante investidores e clientes, como também injeta novo fôlego no setor de IA, sinalizando que estamos diante apenas da primeira etapa de uma corrida de décadas por contratos multibilionários.
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· 03:26 — Flexibilizando normas
O governo dos EUA anunciou que pretende flexibilizar normas que, até então, restringiam a adoção em larga escala e a produção de veículos autônomos, criando condições mais favoráveis para a aceleração desse mercado emergente. A decisão regulatória coincidiu com um marco relevante para a Tesla, que viu seu novo aplicativo de Robotaxi rapidamente alcançar o sexto lugar entre os mais baixados da App Store e assumir a liderança no segmento de transporte, superando concorrentes consolidados como Uber e Lyft. O resultado evidencia o crescente apetite do público por soluções de mobilidade ancoradas em inteligência artificial e condução autônoma, indicando uma possível inflexão na forma como os consumidores enxergam o futuro do transporte.
No campo regulatório, a Administração Nacional de Segurança no Tráfego Rodoviário dos EUA comunicou a intenção de propor três novas regras destinadas a facilitar o avanço dos veículos sem condutor humano. Entre as mudanças, está a eliminação de requisitos historicamente atrelados à presença de motoristas, como a obrigatoriedade de alavancas de câmbio, sistemas de desembaçamento e descongelamento de para-brisa, além de determinados itens de iluminação. O argumento da agência é claro: os padrões atuais foram concebidos para carros tradicionais e precisam ser atualizados para refletir a nova realidade tecnológica. Ainda assim, subsiste um ponto sensível: a aceitação social. Veículos sem componentes considerados básicos para segurança e dirigibilidade podem gerar desconforto e desconfiança entre usuários e demais condutores, sobretudo à luz de episódios recentes envolvendo falhas em testes.
· 04:11 — Demissões
Nos últimos anos, a percepção do mercado em relação às demissões em massa passou por uma reviravolta significativa. O que antes era motivo de preocupação entre investidores, hoje se transformou em sinal de eficiência e valorização de ações, principalmente quando associado ao avanço da inteligência artificial generativa, que substitui atividades humanas a custos mais baixos. A Salesforce é um caso emblemático: seu CEO, Marc Benioff, afirmou em entrevista que a companhia eliminou cerca de 4.000 postos de atendimento ao cliente em função da automação por IA, tecnologia que já responde por aproximadamente metade das operações da empresa. O impacto foi imediato nos resultados: receita e lucro por ação superaram as expectativas no segundo trimestre, ainda que projeções mais conservadoras para o terceiro trimestre tenham levado a uma correção das ações no pós-mercado.
Esse movimento não se restringe à Salesforce. Gigantes globais vêm utilizando cortes de pessoal como alavanca para ganhos em rentabilidade e desempenho em bolsa. O Wells Fargo, por exemplo, reduziu seu quadro por 20 trimestres consecutivos e viu suas ações acumularem alta de 228% nos últimos cinco anos. O Bank of America, por sua vez, cortou 88 mil empregos em 15 anos e ainda assim entregou valorização de 95% desde 2020. Amazon e Microsoft também intensificaram recentemente suas demissões relacionadas à adoção da IA, acompanhadas por ganhos de 28% e altas adicionais desde julho, respectivamente. De acordo com pesquisa da HR Dive, 34% dos CEOs pretendem seguir o mesmo caminho nos próximos 12 meses — o quinto trimestre consecutivo em que essa expectativa cresce. Se, por um lado, os investidores celebram os ganhos de produtividade e a disciplina de custos, por outro, a realidade do trabalhador americano torna-se cada vez mais desafiadora, reforçando tensões sociais em torno da substituição do capital humano pela tecnologia ao longo do tempo.
· 05:07 — Chegou a hora de voltar à tese?
A Tesla caminha para registrar um trimestre de destaque nos EUA, com projeção de vendas recordes de 178 mil veículos, superando com folga as 156 mil unidades entregues no mesmo período do ano passado. A estimativa que acompanha de perto os dados de identificação dos veículos, reflete a antecipação da demanda por parte dos consumidores, que buscam aproveitar o crédito tributário de US$ 7.500 válido até 30 de setembro. Para potencializar esse movimento, a companhia adotou uma estratégia de descontos agressivos, mais profundos que os da concorrência, o que já começa a se refletir na redução dos estoques no mercado americano. Ainda assim, vale destacar que o desempenho robusto no terceiro trimestre pode significar apenas um deslocamento de demanda, reduzindo as vendas do quarto tri, além de não reverter a fraqueza estrutural observada em outros mercados estratégicos, como China e Europa.
No quadro global, a expectativa é de…