
Imagem: Paralaxis
O feriado de 4 de julho mantém os mercados norte-americanos fechados hoje (4) e reduz a liquidez global, em uma sessão que, de qualquer forma, já seria marcada por uma agenda econômica bastante enxuta. Apesar da pausa nos pregões, os olhos continuam voltados para os EUA, onde o presidente Trump deve assinar seu “grande e lindo projeto de lei”, aprovado ontem (3) pela Câmara, depois de voltar do Senado. O pacote — que prorroga os cortes de impostos implementados durante o seu primeiro mandato, em 2017 — pode até oferecer algum alívio às bolsas, reforçando o apetite por risco no curto prazo. Mas, do ponto de vista fiscal, o impacto é mais uma pá de terra sobre as contas públicas americanas, que seguem se deteriorando de forma acelerada.
Em paralelo, o prazo de 90 dias estabelecido para as chamadas “tarifas recíprocas” se aproxima do fim. Como parte desse processo, investidores aguardam com expectativa o envio oficial das cartas da Casa Branca aos parceiros comerciais que ainda não firmaram acordos bilaterais — ou seja, praticamente todos, já que apenas dois países chegaram a algum entendimento. Essas cartas devem incluir as novas tarifas de importação a serem aplicadas. Se espera uma prorrogação da trégua, já que retomar a proposta original (tarifas altas generalizadas) beiraria a insanidade econômica.
Na Ásia, os mercados reagiram com cautela: as principais bolsas encerraram a sexta-feira no campo negativo, refletindo a tensão crescente em torno da política comercial americana e também os dados de emprego dos EUA divulgados ontem, que vieram mais fortes do que o esperado, reduzindo o ímpeto por apostas em corte de juros. Já na Europa, as bolsas iniciam o dia em queda, pressionadas pela incerteza quanto à definição final dos acordos comerciais com Washington e pelo receio de que o ambiente geopolítico continue contaminando o humor dos mercados.
· 00:51 — Ibovespa renova máxima, apesar do ruído em Brasília
O Ibovespa encerrou a quinta-feira (3) com novo recorde nominal, avançando 1,35% e fechando aos 140.928 pontos, superando a máxima anterior de 140.381 registrada em 27 de maio. O movimento foi impulsionado pelo bom humor nos mercados globais e pela valorização das blue chips. No câmbio, o dólar recuou 0,29%, cotado a R$ 5,405, menor nível desde junho de 2024. A euforia, no entanto, tem mais a ver com o que acontece lá fora do que com méritos domésticos. Por aqui, o cenário estrutural permanece frágil — o ambiente político continua dificultando a vida do investidor local.
O governo Lula segue em busca de uma saída para a crise institucional que se agravou com a judicialização da questão do IOF. Houve, é verdade, sinais iniciais de tentativa de distensão, com acenos mútuos entre alas do Congresso e do Planalto. Para ilustrar, o deputado Ciro Nogueira se disse aberto a discutir uma redução linear de emendas e despesas, o que poderia ser um ponto de partida para a retomada do diálogo. Ainda assim, é difícil ignorar o fato de que o estrago institucional já está feito.
Ontem, o deputado Arthur Lira, criticou abertamente o movimento do governo ao acionar o STF, afirmando que o Supremo não tem legitimidade para decidir sobre questões orçamentárias. Na sequência, um bloco formado por oito partidos — PP, União Brasil, Republicanos, PSDB, Solidariedade, PRD, Podemos e Avante — anunciou que ingressará no STF com uma Ação Declaratória de Constitucionalidade, buscando garantir a validade do Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que suspendeu o aumento do IOF. Trata-se de um embate jurídico-político de alto risco, no qual todos perdem: o governo compromete sua capacidade de articulação e os parlamentares reagem pensando, também, em seus próprios projetos de reeleição.
A eleição de 2026 não está apenas no radar de Lula: ela é uma variável central para praticamente todo o Congresso. E, nesse contexto, o governo parece insistir em jogar para a torcida, dobrando a aposta no confronto, mesmo que isso comprometa sua própria agenda. Um exemplo claro disso é a proposta de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, que corre risco de ser travada em retaliação.
A desordem se alastra também por outras frentes da máquina pública. Os Correios, por exemplo, já sinalizaram ao governo a necessidade de um socorro financeiro que pode variar entre R$ 4 e R$ 5 bilhões para manter a operação de pé. É mais um capítulo da longa novela de omissões e improvisos que marcam a condução do Estado brasileiro. E, enquanto o Executivo patina, as pautas estruturais seguem sem resposta.
A desorientação política já se traduz em custos: a popularidade do governo está em queda livre e os desgastes se acumulam mesmo antes de a CPMI do INSS sair do papel. Aliás, o STF homologou nesta semana o acordo da AGU para ressarcir vítimas das fraudes no Instituto — um tema sensível, que deve voltar a assombrar o Planalto nos próximos meses. Pesquisas recentes confirmam o declínio da aprovação presidencial. O UBS lembrou, com precisão cirúrgica, que nenhum governo reelegeu (ou elegeu um sucessor) com aprovação inferior a 37%. Lula, hoje, amarga apenas 26%, patamar semelhante ao de Bolsonaro em meados de 2021.
Recuperar 10 pontos até 2026 não é impossível, mas tampouco é trivial. E é justamente essa erosão contínua que fortalece a tese de mudança no eixo político do país. O pêndulo, ao que tudo indica, começa a oscilar novamente em direção ao centro reformista. O caminho até lá, no entanto, promete ser tudo menos tranquilo.
- Onde investir neste mês? Veja 10 ações em diferentes setores da economia para buscar lucros. Baixe o relatório gratuito aqui.
· 01:48 — De fora para dentro e de dentro para fora
No Rio de Janeiro, um jantar de boas-vindas nesta noite marca o início da Cúpula dos BRICS, que acontecerá no fim de semana — já nascendo esvaziada, sem a presença física de Vladimir Putin e Xi Jinping. O evento sucede a reunião do Mercosul, realizada na Argentina, onde o Brasil assumiu a presidência do bloco. Seria uma oportunidade para o nosso país exercer algum protagonismo regional e reforçar sua influência no plano internacional. Mas, como de costume, o governo brasileiro preferiu seguir o caminho do constrangimento diplomático. Na contramão da prudência, o presidente Lula optou por visitar Cristina Kirchner — condenada por corrupção — em plena viagem oficial. Um gesto político que mancha a viagem e diz muito sobre a bússola estratégica e política do atual governo. O gesto reforça a impressão de um Brasil disposto a se alinhar com figuras e governos marcados por clientelismo e populismo.
O mercado enxerga esse tipo de movimento como mais um indício preocupante de que o governo está disposto a dobrar a aposta em uma retórica cada vez mais eleitoral, demagógica, polarizada e populista. Ao invés de construir pontes com o centro político — que foi decisivo para a vitória em 2022 — Lula tem preferido dialogar com a ala mais ruidosa da esquerda, incendiando os ânimos em vez de buscar estabilidade. É a repetição de um erro estratégico: como já disse aqui, Lula jamais venceu uma eleição radicalizando. Sempre que foi eleito, foi porque caminhou para o centro. Agora, com a aproximação de 2026, o tom eleitoral já domina a pauta — e a tentação de partir para o “tudo ou nada” na economia, com medidas heterodoxas e populistas, parece crescer.
A presidência do Mercosul, que poderia ser usada como plataforma para reforçar a influência regional do Brasil em temas relevantes e urgentes — como a crise institucional venezuelana, o caos no Haiti ou a crescente fragilidade fiscal de vizinhos sul-americanos —, pode ser desperdiçada. O governo prefere mirar longe, em temas distantes e com os quais o Brasil pouco contribui de forma efetiva, insistindo em se pronunciar sobre assuntos globais em fóruns esvaziados. Até mesmo a cúpula dos BRICS, que já teve sua utilidade como instrumento de projeção de influência do Sul Global, vem se tornando um constrangimento estratégico. Lula insistiu para que Putin participasse por videoconferência, uma vez que o presidente russo não pode pisar em solo brasileiro sem que sejamos juridicamente obrigados a prendê-lo — somos signatários do Estatuto de Roma, e há um mandado de prisão emitido contra ele pelo Tribunal Penal Internacional. Ainda assim, o governo brasileiro resolveu contemporizar, flertando mais uma vez com um ditador de forma constrangedora. A ausência de Xi Jinping, por sua vez, esvazia o evento e reforça a imagem de um bloco sem coesão.
Para piorar, o presidente chinês recentemente criticou, de forma genérica mas claramente direcionada, “povos preguiçosos da América Latina” que viveriam à custa do governo — uma alfinetada que caiu como uma luva no assistencialismo do Brasil, país atolado na armadilha da renda média, com uma máquina estatal hipertrofiada e um desequilíbrio fiscal crônico. Foi bem humilhante… Ao mesmo tempo, a presença de uma delegação iraniana, agora que o Irã se tornou membro pleno do BRICS, também carrega implicações. O que antes era uma plataforma neutra de diálogo entre emergentes se transformou em um instrumento de política externa de regimes autoritários. Quanto mais o BRICS for capturado pelos interesses geopolíticos de Pequim e Moscou, mais difícil será para o Brasil manter o discurso de não alinhamento.
Assim como na crítica da The Economist — que o governo jurou não se importar, mas fez questão de rebater —, o Brasil consegue falhar em duas frentes. Não exerce liderança construtiva sobre seus vizinhos regionais, tampouco projeta credibilidade no cenário internacional. Quer ser protagonista em pautas nas quais sua voz mal ressoa, enquanto permanece omisso justamente onde poderia exercer influência.
· 02:34 — Um mercado de trabalho ainda forte enquanto esperamos pelas tarifas
Nos EUA, os índices voltaram a subir com força. O Nasdaq avançou 1% e ampliou sua sequência de recordes. O S&P 500 também renovou máxima histórica com alta de 0,8%. Já o Dow Jones subiu na mesma magnitude e agora se encontra a meros 0,4% de sua melhor marca de todos os tempos. A recuperação ganhou tração após a divulgação de um relatório de emprego (payroll) melhor que o esperado — dissipando, ao menos temporariamente, os temores de um desaquecimento abrupto no mercado de trabalho que haviam sido alimentados por dados mais fracos da ADP divulgados no início da semana. Apesar do otimismo de curto prazo, o mercado já abandonou a ideia de um corte de juros em julho. A realidade se impôs, e o cenário mais provável agora aponta para um primeiro corte entre setembro e outubro — se o Fed tiver a generosidade de entregar esse presente ainda neste ciclo. Antes disso, no entanto, há outra pedra no sapato: a data-limite da trégua tarifária promovida pela Casa Branca.
O prazo expira já na próxima quarta-feira, dia 9 de julho. Essa pausa de 90 dias, anunciada por Trump, foi o tempo que o governo deu a si mesmo para tentar firmar acordos bilaterais com dezenas de parceiros comerciais — uma tarefa que, francamente, mal começou. Até agora, só dois acordos foram anunciados: com o Reino Unido e com o Vietnã. A China conseguiu apenas empurrar a conversa com a barriga, em mais uma trégua que adia a definição de um novo pacote de tarifas. Faltando poucos dias para o fim do prazo, mais de 100 países ainda aguardam uma definição de Washington. E, pelo tom das declarações mais recentes de Trump, não parece que haverá nova extensão do prazo — ao contrário, o presidente já acena com novas tarifas que podem variar entre 10% e 70%. Sim, 70%. A ideia é usar a tarifa como ferramenta coercitiva de negociação, enquanto os EUA impõem sua agenda comercial a um mundo reticente. Com o Fed ainda em modo de espera, a política comercial de Trump volta a ocupar o centro do palco — com um roteiro que mistura chantagem tarifária, improviso diplomático e objetivos eleitorais. O mercado, por ora, aplaude. Mas a tensão segue no ar. O cenário permanece turvo. Os próximos dias prometem.
· 03:22 — O pacotão
A Câmara dos Deputados dos Estados Unidos aprovou, por 218 votos a 214, o pacote fiscal de US$ 3,4 trilhões proposto por Donald Trump. O plano amplia isenções fiscais, promove cortes de impostos e impõe restrições a programas sociais. A versão final do pacote, construída a muitas mãos sob pressão do Senado republicano, acabou sendo ainda mais custosa do que a aprovada anteriormente. Segundo o Escritório de Orçamento do Congresso (CBO), os cortes de impostos totalizam cerca de US$ 4,5 trilhões nos próximos anos, compensados parcialmente. O saldo? Um acréscimo de mais de US$ 3,3 trilhões à dívida pública americana até 2034, levando a relação dívida/PIB para algo próximo de 130% — um patamar que acende todos os alertas.
Em resumo: os gastos anuais do governo americano caminham para a casa dos US$ 7 trilhões, enquanto a arrecadação permanecerá próxima de US$ 5 trilhões. Isso implica que a dívida, que hoje já equivale a cerca de 6 vezes o valor arrecadado e a 100% do PIB, deve escalar para 7,5 vezes a arrecadação. Com isso, os pagamentos de juros e amortizações, que hoje totalizam aproximadamente US$ 10 trilhões (sendo US$ 1 trilhão de juros e US$ 9 trilhões de principal), devem alcançar US$ 18 trilhões nos próximos dez anos — com US$ 2 trilhões apenas em juros. É muito dinheiro…
O cenário projetado exige, inevitavelmente, uma escolha amarga: ou cortes profundos em gastos e aumentos de impostos — com enorme custo político —, ou a impressão desenfreada de moeda, que poderia levar a uma desvalorização generalizada do dólar. A menos que essa trajetória seja urgentemente corrigida — reduzindo-se o déficit fiscal de 7% do PIB para algo próximo a 3% —, rupturas severas parecem inevitáveis. No curto prazo, a notícia pode até agradar o mercado de ações, que tende a reagir bem a cortes de impostos. Mas, estruturalmente, o quadro fiscal permanece preocupante.
· 04:15 — Tratando com chineses
O governo Trump decidiu suspender os requisitos de licença de exportação para a venda de softwares de design de chips à China — uma medida que representa um raro gesto de distensão no ambiente cada vez mais tenso da guerra comercial. Trata-se da implementação de um acordo que flexibiliza restrições sobre tecnologias estratégicas, aliviando, por ora, o cerco a áreas sensíveis como a de semicondutores. Na prática, isso libera o fluxo de vendas de ferramentas essenciais para o desenvolvimento de chips avançados, um setor que há tempos está no epicentro das disputas tecnológicas entre Washington e Pequim. O acordo também inclui a autorização para embarques à China de insumos e equipamentos críticos, desde que o regime chinês cumpra sua parte no trato: acelerar as aprovações de exportações de minerais considerados essenciais à indústria ocidental. Ou seja, é um pacto de alívio mútuo.
Ainda que a trégua comercial se mantenha, os chineses permanecem vigilantes. Não é segredo que Washington tem buscado redesenhar as cadeias globais de suprimentos para reduzir sua dependência de regimes autoritários — e, na prática, isolar a China da engrenagem crítica da economia global. A reação em Pequim, no entanto, é de cautela pública e otimismo diplomático. Em um raro gesto conciliador, um alto funcionário do governo chinês declarou estar “otimista” com o futuro das relações sino-americanas. De todo modo, a mensagem que fica é clara: não se trata de um fim da guerra comercial, mas de um armistício tático. Um breve respiro num confronto de longo prazo, cujo desfecho ainda está longe de definido — e cujos desdobramentos continuam relevantes para os mercados globais e para o posicionamento estratégico de investidores atentos às dinâmicas geopolíticas que moldam o século.
· 05:06 — Boa oportunidade complementar em crédito privado
Com a renda fixa voltando a atrair os holofotes, em meio a um cenário de juros elevados e inflação ainda resistente, torna-se crucial identificar oportunidades que combinem retorno real atrativo, segurança e previsibilidade. É nesse contexto que se destaca a debênture incentivada …