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Ibovespa se anima com rumores de recuo no aumento do IOF, Trump avança com taxação do aço e alumínio – veja os destaques desta quarta-feira (4)

Na Europa, mercados esperam início de corte de juros pelo BCE, enquanto a Holanda passa por percalços políticos.

Por Matheus Spiess

04 jun 2025, 10:06 - atualizado em 04 jun 2025, 10:06

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Imagem: iStock/ Nuthawut Somsuk

O mercado global abre a quarta-feira (4) em tom levemente positivo, desafiando mais uma rodada de estresse tarifário promovida por Donald Trump. Cumprindo o que havia prometido, o presidente americano elevou de 25% para 50% as tarifas sobre aço e alumínio a partir de hoje (4) — mais um capítulo da sua já previsível estratégia de confrontos comerciais. Mesmo assim, as bolsas asiáticas encerraram o pregão em alta, puxadas especialmente pelo setor de tecnologia. O destaque ficou com a Coreia do Sul, cujo principal índice alcançou o maior nível desde agosto, embalado pela vitória de Lee Jae-myung, líder do partido de oposição, nas eleições presidenciais.

Na Europa, os mercados também iniciam o dia em terreno positivo, apoiados na expectativa crescente de que o Banco Central Europeu possa, enfim, iniciar um ciclo de cortes de juros. O gatilho foi o núcleo da inflação da região, que recuou para 2,29% ao ano — abaixo das projeções —, com desaceleração expressiva no setor de serviços, que atingiu o menor patamar dos últimos três anos. Em outras palavras, mesmo com o barulho de Washington, há tração real em outras partes do mundo. As novas ameaças de Trump só reforçam a tese do “sell America”, intensificando a rotação de capital global para fora dos Estados Unidos e em direção a mercados com maior atratividade relativa. O excepcionalismo americano, ao menos por ora, parece ter perdido o brilho.

No Brasil, o humor dos investidores também melhorou, com rumores de que o governo pode recuar — ainda que parcialmente — do polêmico decreto que elevou o IOF. Após dias de desgaste político e pressão de todos os lados, o mercado já começa a precificar a possibilidade de bom senso, mesmo que tardio, em Brasília. O simples fato de o governo considerar uma mudança já é suficiente para aliviar parte da tensão.

· 00:51 — Quando errar demais cobra seu preço: recuo à vista

No Brasil, a ausência de indicadores relevantes abriu espaço para que o foco se voltasse integralmente ao noticiário político. A sinalização de um acordo entre o governo e o Congresso para definir uma nova agenda estruturante — e, sobretudo, para desmontar o desastre que foi a tentativa de aumento do IOF — foi recebida com alívio pelos mercados. O anúncio de que novas medidas serão apresentadas no domingo adicionou expectativa positiva à sessão. Já ontem (3), a simples possibilidade de substituição da medida provocou valorização do Ibovespa e queda do dólar.

Como já alertamos diversas vezes neste espaço, a crise do IOF não é causa, mas sintoma de uma enfermidade mais grave: a disfunção orçamentária crônica do Estado brasileiro. A provável desistência do governo em insistir na medida indica que o espaço político para aventuras arrecadatórias heterodoxas está cada vez mais estreito. Brasília parece, enfim, ter captado o recado: a paciência com puxadinhos acabou. E embora os feudos corporativos sigam firmes — todos se dizem liberais até que alguém cogite cortar o próprio privilégio —, há, ao menos, uma mudança de vento em curso.

O novo pacote de medidas incluiria propostas como a contenção do crescimento acelerado do Fundeb, uma revisão abrangente dos benefícios tributários (que devem ultrapassar R$ 800 bilhões em 2025), eventuais mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC) e até a possível retirada dos pisos constitucionais de Educação e Saúde por meio de uma PEC. Lula também não descartou desvincular os reajustes de benefícios sociais do salário mínimo — o que, caso ocorra, representaria uma inflexão relevante no discurso até aqui adotado. Ainda assim, convém manter a cautela. 

Todos sabemos o que precisa ser feito: rever profundamente a estrutura de gastos e o desenho da dinâmica orçamentária brasileiro. Mas o governo Lula parece pouco disposto a avançar em temas sensíveis como a indexação das aposentadorias ou o engessamento constitucional das despesas com saúde e educação — pilares que, juntos, condenam o orçamento. Os próximos dias devem trazer novidades, já que está prevista uma reunião com líderes políticos no final de semana para discutir os ajustes.

No pano de fundo de toda essa movimentação está a erosão da popularidade presidencial, que se intensifica. A pesquisa Genial/Quaest divulgada hoje revelou que a desaprovação ao governo Lula atingiu 57%, o maior patamar desde o início do mandato. O dado corrobora o que já vinha sendo sinalizado por levantamentos anteriores, como os do PoderData. O receituário de Sidônio Palmeira, centrado em marketing emocional, parece não ter tido efeito. As entrevistas e coletivas de imprensa — como a de ontem — não têm sido suficientes para conter a perda de capital político.

A história mostra que presidentes com desaprovação acima de 50% enfrentam sérias dificuldades para viabilizar a reeleição. Ainda há muito chão até 2026, mas o relógio político já começou a correr. E, ao que tudo indica, o pêndulo eleitoral começa a oscilar.

· 01:25 — Uma economia não tão fraca

Nos EUA, o índice Nasdaq voltou a entrar no campo positivo no acumulado de 2025 pela primeira vez desde fevereiro — um marco simbólico, mas que ajuda a ilustrar a recuperação mais ampla que vem ganhando corpo no mercado. A sessão de terça-feira (3) foi embalada por uma combinação de fatores: um relatório JOLTS surpreendentemente firme, a volta das compras por parte de investidores de varejo e o burburinho em torno de um novo projeto de lei tributária patrocinado pelos republicanos, que reacendeu esperanças de estímulos direcionados ao setor corporativo.

Ainda assim, não convém se deixar levar por euforia desmedida: o humor dos investidores permanece altamente sensível ao noticiário vindo de Washington, e qualquer reviravolta política, comercial ou fiscal pode interromper essa alta.

Na agenda, os dados de hoje prometem calibrar melhor as expectativas do mercado em relação à resiliência da atividade. O Relatório Nacional de Emprego da ADP, referente ao mês de maio, será acompanhado com lupa. Idealmente, o número viria alinhado ao consenso — ou levemente abaixo —, o que ajudaria a manter viva a tese de cortes de juros ainda em 2025. Um dado muito forte, por outro lado, poderia reacender os receios de que o Federal Reserve permaneça mais tempo em modo hawkish. Além disso, teremos também o PMI de Serviços para maio e a divulgação do Livro Bege do Fed, oferecendo mais pistas sobre a temperatura da economia real e a disposição do banco central em mudar a chave da política monetária.

· 02:39 — Fogo amigo?

Elon Musk não economizou palavras ao classificar o projeto orçamentário defendido por Donald Trump como uma “abominação repugnante“. E, francamente, é difícil discordar. Como já discutimos neste espaço, o texto aprovado pela Câmara — por uma margem mínima — traz uma série de distorções que preocupam profundamente o mercado. Agora, com o projeto a caminho do Senado, o ataque frontal de Musk pode acabar servindo como munição inesperada para senadores republicanos mais sensatos, que resistem a embarcar em mais um pacote de estímulos sem âncora fiscal.

Na mesma dinâmica de ruídos, Trump decidiu dobrar a aposta no protecionismo tarifário, elevando de 25% para 50% as alíquotas sobre aço e alumínio importados. O movimento busca agradar a indústria doméstica, mas ignora completamente os efeitos colaterais: pressiona os custos das empresas americanas, agrava tensões comerciais e afasta investidores estrangeiros em busca de previsibilidade.

No fundo, mesmo fora do governo, o diagnóstico de Musk escancara uma realidade incômoda: Trump segue sendo uma força de desorganização fiscal e comercial. A retórica de apoio ao “empresariado nacional” esconde um populismo econômico de consequências duvidosas (nós, brasileiros, conhecemos bem). Soma-se a isso a escalada tarifária, e o cenário fica ainda mais claro: a tese do “sell America” — ou seja, evitar exposição exagerada aos ativos americanos — ganha tração. 

· 03:26 — Outra mudança no horizonte europeu

O governo holandês desmoronou. A debandada do Partido para a Liberdade (PVV), de direita, provocou o colapso da coalizão e forçou a renúncia do primeiro-ministro Dick Schoof, menos de um ano após assumir o cargo. Apesar da saída formal, espera-se que Schoof continue como interino até que novas eleições possam ser convocadas — o que, a depender do impasse, pode ocorrer bem antes de 2027, prazo antes previsto.

Por trás da ruptura está um cálculo político bem claro: Geert Wilders, líder do PVV, tenta capitalizar o avanço da maré anti-imigração que varre o continente. O timing é conveniente. A guinada nacionalista na Polônia no último fim de semana e o caos urbano nas celebrações do PSG em Paris reacenderam o debate público sobre identidade, fronteiras, violência e segurança pública — terreno fértil para discursos inflamatórios. Wilders, sem rodeios, justificou a saída afirmando que o governo estava sendo “lento demais” na implementação de políticas mais duras contra a imigração.

A permanência de um governo minoritário parece improvável, embora os partidos remanescentes da coalizão ainda tentem, com algum desespero, costurar novas alianças ou manter a engrenagem funcionando sob um gabinete de base reduzida. Caso contrário, o país será chamado novamente às urnas (mais cedo do que gostaria).

O episódio revela mais um sintoma da crescente ingovernabilidade do Ocidente. A polarização corroeu a previsibilidade institucional e transformou a simples tarefa de formar um governo funcional em uma façanha quase heróica. A pergunta que resta, como sempre, é se essa ruptura será canalizada em votos. 

· 04:14 — Realinhamento do Pacífico?

E já que falamos de eleições polarizadas, vale cruzar o planeta: ontem, os sul-coreanos foram às urnas para eleger um novo presidente — e não se tratava de uma simples escolha administrativa, mas de um plebiscito sobre os rumos geopolíticos do país. Em jogo estava a definição de uma Coreia do Sul mais alinhada a Washington e Tóquio ou, alternativamente, mais autônoma e aberta a estreitar laços com Pequim. Um dilema nada trivial em meio ao redesenho das alianças estratégicas no Indo-Pacífico.

A eleição, marcada por tensão institucional, só aconteceu após o ex-presidente Yoon Suk Yeol declarar, em dezembro, uma controversa lei marcial — que culminou em seu impeachment. O episódio escancarou a fragilidade do sistema político coreano e antecipou mudanças. Confirmando as pesquisas, o candidato da oposição, Lee Jae-myung, venceu Kim Moon-soo, encerrando os três anos de governo conservador.

A ascensão de Lee Jae-myung encerra um ciclo de instabilidade e promete uma virada ousada. O novo presidente já anunciou um pacote de estímulo econômico de US$ 25 bilhões como cartão de visitas — proposta que imediatamente mexeu com os mercados. Embora tenha reafirmado o compromisso da Coreia do Sul com a aliança trilateral com EUA e Japão, Lee também sinalizou a intenção de reequilibrar a diplomacia com a China. Uma tarefa delicada: o protecionismo de Trump e o clima de retaliação tarifária tornam qualquer aproximação com Pequim um campo minado.

Logo de saída, seu governo será testado na difícil missão de reposicionar a Coreia do Sul no tabuleiro asiático. Aliás, os impactos não se restringem ao Pacífico. A troca de comando é apenas mais um capítulo da narrativa global de desgaste dos incumbentes, que se reflete com força também em outras democracias — inclusive no Brasil.

· 05:03 — Usando energia nuclear 

A Meta (M1TA34) acaba de firmar um contrato bilionário de fornecimento de energia elétrica com a Constellation Energy — a maior operadora de usinas nucleares dos Estados Unidos —, em mais um movimento que escancara o custo energético do boom da inteligência artificial. O acordo, com duração de 20 anos, prevê que a Constellation entregue eletricidade à rede local em nome da Meta, ajudando a big tech a manter o discurso de descarbonização em dia, mesmo com a crescente fome elétrica de seus data centers. A operação também dá sobrevida à usina nuclear da Constellation em Illinois, que perderia subsídios estaduais a partir de 2027. Com o novo contrato, a planta poderá não só continuar ativa, como expandir sua produção em mais 30 megawatts.

No pano de fundo, o Vale do Silício vem abraçando a energia nuclear como a única fonte viável de eletricidade limpa capaz de dar conta da demanda colossal da IA generativa. Grandes empresas do setor estão…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.