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Ibovespa tem reação contida à tensão fiscal dos EUA, enquanto Europa espera novos impostos de Trump; veja os destaques desta sexta-feira (11)

Sem resposta imediata à tarifa de Trump, governo alivia tensão e mercado se acomoda ao longo do dia. Veja o que esperar para hoje.

Por Matheus Spiess

11 jul 2025, 09:45 - atualizado em 17 jul 2025, 16:08

dólar eua mercado bolsas

Imagem: iStock/ Dilok Klaisataporn

A reação contida do governo brasileiro à tarifa de 50% imposta por Trump trouxe certo alívio aos mercados, que haviam iniciado o dia em clima de forte tensão. Com o Planalto sinalizando que não pretende responder de imediato — ao menos até o prazo oficial de 1º de agosto —, os investidores respiraram mais tranquilos e o pregão se acomodou ao longo do dia. Resta saber se o bom senso vai perdurar nas negociações diplomáticas, já que a relação entre Brasil e Estados Unidos, que há tempos oscila entre pragmatismo e tropeços ideológicos, agora caminha em terreno minado. Ontem (10), comentei em detalhes o movimento tarifário dos EUA contra o Brasil — se você perdeu, clique aqui para acessar. Dado o aprofundamento de ontem, hoje serei mais conciso.

O grande risco segue sendo o da reciprocidade. Caso o Brasil decida revidar com tarifas próprias, abre-se uma janela para a escalada do conflito comercial — e aquilo que hoje é percebido como uma tempestade limitada contornável pode se transformar em um furacão de consequências mais sérias para os ativos brasileiros. Felizmente, por ora, o Planalto resistiu à tentação de devolver na mesma moeda, o que seria, convenhamos, o pior dos mundos. O mercado agradece a moderação. A aposta crescente agora é que Trump volte atrás — um padrão já conhecido e recorrente em sua cartilha de negociação, onde a ameaça costuma preceder a meia-volta estratégica.

O pano de fundo global, contudo, permanece conturbado. Trump decidiu mirar também no Canadá, impondo uma tarifa de 35% sobre produtos do vizinho do norte, e deve anunciar ainda hoje novas tarifas direcionadas à União Europeia — fator que, não por acaso, pressiona as bolsas europeias nesta manhã. Na Ásia, o dia foi misto: as bolsas chinesas conseguiram fechar em leve alta, ao contrário de Tóquio e Seul, que encerraram no vermelho. Entre as commodities, o petróleo subiu diante da combinação entre novas sanções dos EUA ao óleo russo e rumores de que a Arábia Saudita e outros membros da OPEP+ estudam pausar o aumento na produção após o mês que vem. E, no mercado de criptoativos, o Bitcoin voltou a roubar os holofotes: atingiu novo pico e se aproxima rapidamente da impressionante marca dos 120 mil dólares.

· 00:52 — Depois do coice, vem a conversa: agora, calma e jogo de cintura

No Brasil, o Ibovespa encerrou o pregão em queda, refletindo a apreensão inicial dos investidores diante do novo capítulo da cruzada tarifária de Donald Trump, que desta vez mirou diretamente o Brasil com a imposição de tarifas de 50% sobre nossos produtos. O impacto, no entanto, foi se diluindo ao longo do dia. E isso não aconteceu por acaso — há três razões principais para a acomodação dos mercados.

Em primeiro lugar, existe margem razoável para negociação. Ao contrário da retórica trumpista, os Estados Unidos não possuem déficit comercial com o Brasil — muito pelo contrário. Nos últimos 15 anos, acumulamos um déficit de aproximadamente US$ 415 bilhões com os americanos. Essa assimetria abre espaço para tratativas à moda da atual Casa Branca: ameaça-se alto, mas se negocia abaixo. Em segundo lugar, como já comentei (clique aqui para relembrar), o impacto econômico direto da medida é limitado, ao menos no agregado. As exportações brasileiras aos EUA representam apenas cerca de 2% do nosso PIB. Por fim, a própria composição da pauta exportadora permite diferenciar com alguma clareza os setores mais vulneráveis daqueles que tendem a resistir melhor ao choque. A Embraer (EMBR3), por exemplo, sentiu o baque, dado seu alto grau de exposição ao mercado americano. Por outro lado, segmentos como petróleo, aço, alimentos e agronegócio devem sofrer menos, principalmente por conta da capacidade de redirecionar parte da produção para outros destinos.

É verdade, claro, que há divergências. Algumas vozes relevantes têm alertado para o risco de relativizar o impacto econômico. É uma ponderação legítima. No entanto, meu entendimento é que, desde que o Brasil evite cair na tentação de escalar o conflito com uma retórica ruidosa de retaliação, há espaço real para uma mitigação dos danos. Alguns setores vão, sim, sentir mais — mas não há, por ora, elementos para supor um estrago generalizado. Justamente por isso, seria imprudente insistir em gestos performáticos agressivos, como a reciprocidade tarifária. Já vimos o que esse tipo de beligerância política nos trouxe. É hora de deixar a diplomacia técnica do Itamaraty conduzir o processo com a serenidade e firmeza que a situação exige — naturalmente, uma negociação só será possível se a questão político-ideológica for deixada de lado.

Nesse sentido, o governo brasileiro parece ter optado por esperar a poeira baixar e usar o relógio até o prazo final de 1º de agosto como instrumento de pressão suave, na esperança de que Trump recue (como já o fez tantas vezes). No pano de fundo, o barulho também é político. Há quem argumente que, no curtíssimo prazo, o episódio até reforça a imagem de Lula como defensor da soberania nacional. Não é impossível. De fato, aliados do ex-presidente Bolsonaro já cogitam apelar diretamente a Trump para reverter a tarifa — o que apenas reforça o grau de polarização que 2026 já começou a carregar. Mas, sejamos claros: esse efeito positivo para Lula deve ser pontual e não deve alterar de forma substancial a trajetória do cenário eleitoral.

A contaminação político-partidária do tema, aliás, já provocou atrasos na reação institucional. Os presidentes da Câmara e do Senado, Hugo Motta e Davi Alcolumbre, só se manifestaram ontem à tarde — por meio de uma nota conjunta defendendo o uso da Lei de Reciprocidade Econômica. É um movimento mais retórico do que prático, até porque uma reação tarifária brasileira apenas alimentaria a sanha protecionista de Trump, que sabe escalar conflitos como poucos. A tendência é que esse discurso seja mantido apenas como instrumento de barganha, até que alguma negociação avance.

E tudo isso ainda acontece em meio a um cenário doméstico que já não é simples: o governo segue com pautas relevantes travadas no Congresso — da substituição do IOF à revisão de incentivos fiscais, passando por medidas de arrecadação e o projeto de isenção do IR. A tempestade tarifária chegou, mas não sozinha. E enquanto ela passa, é preciso não perder de vista os nós internos que continuam sem desatar.

· 01:45 — O mundo virou alvo: Trump aperta o botão tarifário sem pensar duas vezes

Estamos no meio do que pode ser descrito como a etapa mais ruidosa da atual cruzada tarifária de Donald Trump. O ambiente segue carregado de tensão e novos ruídos nas negociações devem continuar provocando volatilidade de curto prazo. O episódio mais recente veio na noite de ontem, com Trump ameaçando impor tarifas de 35% sobre determinados produtos canadenses a partir de 1º de agosto, mirando nada menos que um dos maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos. Isso, vale lembrar, apesar das concessões que o Canadá já havia feito na questão dos impostos digitais — ou seja, mesmo quem cede não escapa. Ainda não está claro se a nova tarifa abrangerá todos os produtos canadenses ou apenas os que estão fora do escopo do USMCA (o antigo NAFTA), atualmente tarifados em 25%, ou se se estenderá ao petróleo, que hoje sofre uma tarifa de 10%. A política comercial dos EUA sob Trump tornou-se um jogo de blefes agressivos, muitas vezes desconectados de qualquer lógica econômica.

É importante lembrar que a maioria dessas tarifas, quando efetivamente aplicadas, tende a impactar os consumidores americanos com uma certa defasagem temporal — geralmente alguns meses. Mas tarifas sobre alimentos e combustíveis, caso venham, seriam sentidas de forma muito mais imediata e dolorosa, inclusive com potencial para alimentar a inflação num momento delicado. Aqui, entra o paradoxo que desafia os mercados: os investidores seguem confiantes de que Trump vai recuar — como já fez em inúmeras ocasiões anteriores. Essa expectativa alimenta os preços dos ativos. Mas, justamente por manter os mercados em alta, essa mesma confiança reduz o custo político de Trump manter sua postura beligerante. Ou seja, os mercados apostam no recuo… e isso pode ser exatamente o que o mantém firme.

No radar de hoje, a próxima peça do tabuleiro: a aguardada carta de Trump direcionada à União Europeia, com novos termos sobre impostos comerciais. O mercado acompanhará de perto não apenas o conteúdo da ameaça americana, mas principalmente os sinais de como Bruxelas pretende responder. Uma escalada retaliatória com o bloco europeu teria peso bem diferente do embate com o Canadá — e pode mudar o tom das apostas em risco global.

· 02:32 — E ainda assim, temos diluição do risco…

Nos EUA, o mercado acionário parece ter entrado em modo celebração. Uma recuperação ampla dos ativos, puxada principalmente pela febre da Inteligência Artificial, levou dois dos três principais índices americanos a novos recordes históricos de fechamento ontem. A exuberância não é modesta: as ações ligadas à IA continuam em escalada vertiginosa, com o ETF iShares Semiconductor subindo 1% e a Nvidia cravando um novo marco — ultrapassou pela primeira vez a marca de US$ 4 trilhões em valor de mercado, tornando-se não só a primeira empresa americana a atingir esse patamar, mas também a primeira a encerrar o dia nesse nível.

Mas seria um erro atribuir toda a alta ao frenesi da IA. O avanço foi generalizado: nove dos onze principais setores do S&P 500 fecharam no azul, sendo que oito deles subiram mais de 0,5%. Há claramente uma ampliação da performance para além das “queridinhas da tecnologia”, sugerindo uma rotação saudável e uma recuperação mais disseminada. O investidor, ao que tudo indica, está disposto a ignorar — por ora — o ruído geopolítico e as ameaças tarifárias de Donald Trump, incluindo a já famosa leva de tarifas programadas para entrar em vigor em 1º de agosto. O mercado simplesmente escolheu não se importar com a possibilidade de preços mais altos ou com o risco de uma desaceleração econômica à frente.

O reflexo disso pode ser observado no VIX, o índice de volatilidade da CBOE, que caiu para 15,78 — o menor nível desde fevereiro. Em outras palavras, a sensação de risco evaporou. A comparação mais próxima? Lembra muito o cenário do ano passado, quando o Nasdaq surfava uma alta animadora antes da temporada de resultados do segundo trimestre em julho. O investidor, ao que parece, voltou a apostar no melhor dos mundos — e o mercado, por enquanto, está comprando essa narrativa.

· 03:26 — Renúncia no feudo de Musk

Em mais um capítulo da rotina multitarefa de Elon Musk, a CEO da X — a plataforma anteriormente conhecida como Twitter — anunciou sua renúncia. Linda Yaccarino, que ocupava o cargo havia dois anos, saiu sob o manto de uma “reviravolta histórica nos negócios”, segundo suas próprias palavras. A saída de Yaccarino ocorre em um momento sensível: a X acaba de ser fundida à xAI, a empreitada de inteligência artificial de Musk — um movimento que levanta a suspeita de que a saída tenha menos a ver com realizações históricas e mais com mudanças de rota estratégicas.

Naturalmente, qualquer movimentação em uma das empresas do bilionário atrai escrutínio redobrado — afinal, estamos falando de alguém que, além de comandar a X e a xAI, também lidera a Tesla, a SpaceX, a The Boring Company e a Neuralink. A saída de Yaccarino, portanto, acrescenta mais uma bola para Musk equilibrar no ar. E, como qualquer equilibrista sabe, uma a mais pode ser justamente a que desestabiliza tudo. No caso de Musk, é cada vez mais difícil distinguir se estamos diante de genialidade visionária ou de pura sobrecarga operacional. De qualquer forma, para os investidores, o risco de dispersão e de execução mal calibrada é real.

· 04:11 — O mundo não pertence aos incumbentes moderados, aparentemente

Há pouco mais de um ano, Keir Starmer subiu as escadas do número 10 da Downing Street com a promessa de restaurar a sobriedade institucional. A vitória foi contundente: maioria de 174 cadeiras no Parlamento e um Partido Conservador vindo da pior eleição de sua história. Starmer parecia ter nas mãos todas as cartas para reposicionar o Reino Unido no tabuleiro global — e com uma agenda centrista, moderada, bem distinta do trabalhismo radical sob Jeremy Corbyn.

Mas do entusiasmo inicial à realidade política, o caminho revelou-se ingrato. Desde o início de seu mandato, o premiê vem acumulando tropeços. O mais recente foi a derrota humilhante de uma proposta central de seu governo: a reforma do sistema de previdência social. Starmer não conseguiu apoio nem dentro de seu próprio partido para endurecer critérios de concessão de benefícios por invalidez. A esquerda trabalhista reagiu com força. O resultado foi a implosão de uma medida que se mostrava necessária do ponto de vista fiscal — e que serve como espelho de um dilema global: todo mundo precisa ajustar os gastos, mas ninguém quer pagar a conta.

A derrota veio na esteira de meses de frustração econômica. O Reino Unido, atolado em estagnação crônica desde o Brexit, continua sem sinal de recuperação consistente. As tímidas tentativas de reanimar o crescimento naufragaram entre as amarras fiscais e a inércia estrutural. Mesmo os acertos do governo — como os acordos comerciais firmados com os Estados Unidos e a Índia — mal encontraram espaço no noticiário, soterrados por uma percepção de paralisia e ineficácia.

O custo político está sendo brutal. As pesquisas mais recentes mostram o Partido Trabalhista com meros 24% das intenções de voto, enquanto o índice de aprovação líquida de Starmer despencou para -40 — um número que, em qualquer democracia, cheira a colapso iminente. O recado é claro: o eleitorado está impaciente, e o centro político, que um dia foi símbolo de racionalidade e estabilidade, tornou-se um alvo fácil tanto para a direita populista quanto para a esquerda radical.

O caso de Starmer escancara um problema maior enfrentado por partidos moderados ao redor do mundo. Eles operam como tecnocratas dentro de sistemas que os eleitores passaram a considerar quebrados, oferecendo soluções milimétricas para problemas estruturais, enquanto o ambiente exige narrativas contundentes e gestos de ruptura. É o paradoxo da política contemporânea: para ser eleito, é preciso ocupar o centro; mas, uma vez no poder, tentar governar a partir dele leva à erosão do capital político, porque ninguém mais se satisfaz com reformas mornas e consensos desgastados.

O mundo de hoje castiga os incumbentes, especialmente os que se recusam a gritar. A moderação virou sinônimo de fraqueza, e a construção institucional, de lentidão. Keir Starmer é, nesse sentido, mais um personagem em um enredo que já virou tendência: o centrismo está à deriva, tentando navegar em um mar que já não reconhece bússolas. Ao menos, a rejeição ao incumbente reforça nossa tese de que o pêndulo político continua girando — e pode girar também no Brasil nas eleições de 2026.

· 05:04 — US$ 4 trilhões

A disparada das ações da Nvidia atingiu mais um patamar histórico. A gigante dos semicondutores tornou-se a primeira empresa listada a ultrapassar a marca de US$ 4 trilhões em valor de mercado, superando até mesmo a Apple. Para se ter uma ideia da escala, a maior capitalização já registrada pela fabricante do iPhone havia sido de US$ 3,9 trilhões, no fim de dezembro de 2023 — marca que agora parece distante, dado que a própria Apple ronda atualmente os US$ 3,15 trilhões.

Fundada em 1993 por Jensen Huang, a Nvidia nasceu como um nicho entre gamers entusiastas. Durante anos, foi…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.