Investimentos

Mercados globais iniciam a semana em tom de cautela; veja os motivos e os destaques desta segunda (26)

No Brasil, cenário se desenha desafiador para o mercado, influenciado pelo pessimismo global e pela desvalorização das commodities

Por Matheus Spiess

26 fev 2024, 09:19 - atualizado em 26 fev 2024, 09:19

Imagem representando o financial deepening, uma expressão que denota um avanço significativo na sofisticação dos produtos oferecidos no mercado financeiro.

Bom dia, pessoal. A semana se inicia sob tensões nos mercados, com os índices europeus em declínio e os futuros nos Estados Unidos apontando para baixo, sequência de uma jornada de resultados mistos na Ásia. Esse ambiente de cautela segue a recente euforia provocada pelo desempenho impressionante da Nvidia, que conseguiu superar todas as expectativas com seus resultados financeiros. Adicionalmente, a publicação da ata do Federal Reserve contribuiu para um tom mais reservado, destacando a postura prudente adotada pelos seus membros. Essa atmosfera serve de pano de fundo para os dados importantes desta semana, especialmente o índice de Preços para Consumo Pessoal (PCE) de janeiro, indicador preferencial do Fed para medir a inflação, que será divulgado na quinta-feira.

Neste dia, merecem atenção especial declarações de figuras-chave do cenário monetário, como a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, cujas palavras podem calibrar as expectativas do mercado quanto ao iminente ajuste de juros pelo BCE. Da mesma forma, a fala do economista-chefe do Banco da Inglaterra está prevista para orientar as projeções de mercado. Paralelamente, a temporada de divulgação de resultados corporativos continua a todo vapor, com empresas de peso como Lowe’s, eBay e Anheuser-Busch InBev apresentando seus números. No campo das commodities, a semana começa com desafios, evidenciados pela queda nos preços do petróleo, influenciada pela possibilidade de um cessar-fogo em Gaza, e do minério de ferro, afetado pela expectativa em relação aos indicadores de atividade econômica da China.

A ver…

· 00:46 — Brasília dá o tom

No Brasil, o cenário se desenha desafiador, influenciado pelo pessimismo global e pela desvalorização das commodities. Além disso, as recentes movimentações políticas em Brasília têm intensificado as tensões, especialmente após a autorização de R$ 14,5 bilhões em emendas parlamentares, visando as eleições municipais. O impacto dessa liberação de recursos no apoio dos parlamentares permanece incerto, particularmente diante da apresentação de um pedido de impeachment contra o presidente Lula, motivado por suas controversas declarações sobre Israel, que já acumulou 139 assinaturas. Embora seja improvável que o pedido prospere, ele eleva o custo político para o governo, já tensionado pela postura do presidente da Câmara, Arthur Lira, em relação ao caso. As manifestações recentes em apoio ao ex-presidente Bolsonaro apenas complicam o ambiente para o governo.

No âmbito econômico, a semana reserva divulgações importantes, como o Produto Interno Bruto (PIB) na sexta-feira e a prévia da inflação oficial, o IPCA-15, previsto para amanhã. Este último é de particular interesse, esperando-se uma aceleração para 0,82% em fevereiro, após um aumento de 0,31% em janeiro, impulsionado pelo reajuste de mensalidades escolares e os efeitos da nova alíquota do ICMS sobre combustíveis. Embora uma inflação acima do esperado não deva alterar imediatamente a trajetória dos cortes de juros nas próximas reuniões do Banco Central, pode ajustar as expectativas para o ritmo de redução da taxa Selic no segundo semestre, além de influenciar a projeção para a taxa final. Esse cenário poderia impactar negativamente os ativos de risco no mercado.

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· 01:38 — Entre o rali do S&P 500 e as primárias republicanas

Na última semana nos EUA, o setor de inteligência artificial (IA) ganhou um impulso significativo, especialmente após a Nvidia reportar lucros surpreendentes, provocando um entusiasmo generalizado entre os investidores. Essa euforia não só estabeleceu a Nvidia em um novo patamar, com a empresa alcançando brevemente um valor de mercado de US$ 2 trilhões, mas também impulsionou o Nasdaq Composite, focado em tecnologia, a se aproximar de seu primeiro fechamento recorde desde novembro de 2021. Apesar da atenção concentrada na IA, outros segmentos do mercado também registraram performances notáveis, com os setores de tecnologia, saúde e industrial atingindo novos máximos na semana. Os setores financeiro e de materiais ficaram a menos de 5% de alcançar seus respectivos picos.

Curiosamente, o mercado de ações tem se mantido resiliente, mesmo com os investidores antecipando uma política de juros altos por um período prolongado por parte do Federal Reserve. A expectativa é que, eventualmente, os cortes nas taxas de juros ganharão relevância novamente. Por ora, contudo, os investidores encontram motivos adicionais para otimismo. Destaque para esta semana inclui a Amazon sendo adicionada ao índice Dow, juntamente com a divulgação de resultados financeiros de empresas como Zoom, Domino’s, eBay, Monster, Macy’s, Lowe’s, Beyond Meat, Salesforce, Anheuser-Busch Inbev e Best Buy. No calendário econômico, as atenções estão voltadas para o anúncio do PIB na quarta-feira e do índice de Preços para Consumo Pessoal (PCE) na quinta-feira.

Em outro cenário, o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, consolidou sua posição de liderança ao vencer as primárias republicanas na Carolina do Sul, fortalecendo seu status como favorito à indicação pelo partido. Nikki Haley permanece na disputa, contando com possíveis impedimentos legais ao ex-presidente, que, no entanto, parecem cada vez mais improváveis. O impacto das eleições americanas no mercado deve começar a ser mais significativamente considerado a partir do segundo trimestre.

· 02:42 — Cessar-fogo

O preço do petróleo registrou queda nesta manhã, aproximando-se da marca de US$ 80 por barril. Essa tendência é influenciada não só pela expectativa em torno dos novos dados econômicos da China, mas também pela diminuição das chances de uma intensificação dos conflitos no Oriente Médio, o que tende a reduzir as tensões no mercado de commodities. Em uma recente entrevista à CBS, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, expressou o interesse de seu país em alcançar um acordo de trégua e a realização de uma troca de reféns com o Hamas, condicionada à revisão de demandas irrealistas do grupo.

Netanyahu reiterou a determinação de Israel em alcançar três objetivos principais, apesar das solicitações de moderação por parte dos Estados Unidos: a libertação de reféns, a desarticulação do Hamas e a garantia de que a Faixa de Gaza não represente uma ameaça futura a Israel. Diante dessas condições, qualquer cessar-fogo que venha a ser estabelecido parece destinado a ser apenas uma solução temporária. Apesar da perspectiva de um alívio iminente, o cenário sugere que o conflito está longe de uma resolução definitiva.

· 03:31 — Japão continua impressionando

Hoje, o mercado acionário japonês voltou a impressionar, estabelecendo novos recordes de fechamento pelo segundo dia consecutivo, ainda que com avanços modestos. Recentemente abordei o desempenho notável do Japão e acredito ser oportuno aprofundarmos a análise sobre o que tem impulsionado essa ascensão. O mercado japonês está vivenciando uma fase de otimismo, atribuída a uma combinação de fatores que parecem inaugurar uma nova era para a economia local. A depreciação do iene e a diminuição do apelo da China têm sido catalisadores para o aumento do interesse de investidores internacionais. Além disso, reformas no governo corporativo incentivaram um aumento nas recompras de ações, enquanto a redução dos excessivos saldos de caixa e das participações cruzadas entre conglomerados também contribuíram positivamente.

Este cenário é complementado pela expectativa de que o Japão tenha finalmente superado décadas de deflação e estagnação econômica, com o setor industrial intensificando investimentos em semicondutores para aplicativos de inteligência artificial. Assim, o Japão está se reerguendo de um longo período de inatividade econômica, impulsionado por políticas governamentais que têm favorecido a valorização das ações e do próprio iene. Apesar desses avanços, o mercado acionário japonês ainda apresenta avaliações atrativas em comparação ao americano, com o ETF iShares MSCI Japan negociando a um múltiplo de pouco mais de 15 vezes os lucros esperados para os próximos 12 meses, frente às mais de 20 vezes do S&P 500. Embora haja preocupações com uma possível recessão, este cenário não representa uma novidade para a trajetória econômica japonesa, mantendo-se dentro do esperado diante de seu histórico.

· 04:25 — Dois anos depois

Este fim de semana marcou o início do terceiro ano do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, um confronto que, desde seu início, não mostra sinais de resolução iminente. A invasão comandada por Vladimir Putin evoluiu para um extenso embate que testa a resistência e a determinação tanto da Ucrânia quanto de seus aliados ocidentais. A Ucrânia, apesar dos desafios crescentes e da escassez de recursos, como munições e apoio militar, continua a resistir firmemente, embora recentemente as forças russas tenham conseguido avanços significativos, incluindo a captura da cidade de Avdiivka após intensos combates, trazendo um clima ainda mais tenso a Kiev.

As ações militares recentes e a reestruturação das forças ucranianas revelam fricções internas em um momento de crescente exaustão pela guerra, enquanto na Rússia, eventos como a morte do líder da oposição Alexey Navalny na prisão destacam o aumento da repressão estatal sob o regime de Putin. Desde o começo do conflito, estima-se que a Ucrânia tenha sofrido a perda de dezenas de milhares de soldados, e o deslocamento populacional é alarmante, com 6,5 milhões de ucranianos vivendo no exterior e outros 3,7 milhões deslocados internamente.

À medida que o conflito se prolonga, a busca por uma solução pacífica parece cada vez mais depender de negociações complexas, potencialmente envolvendo concessões territoriais por parte da Ucrânia, uma perspectiva que poderia redefinir as fronteiras na Europa de maneira significativa pela primeira vez em décadas.

· 05:19 — Não decepciona

Para aqueles que acompanham minhas análises, é sabido que prezo por contextualizar cada recomendação dentro de uma estrutura de portfólio teórica, abrangendo diversas classes de ativos e adaptada a diferentes perfis de risco. Por exemplo, a proporção destinada a ações locais pode oscilar entre 10% e 30% do portfólio total, dependendo do apetite ao risco do investidor.

De maneira similar, a parcela alocada a investimentos internacionais poderia representar de 15% a 30% do portfólio, com a possibilidade de dedicar metade deste percentual especificamente a ações estrangeiras. Para tal, o investidor pode optar por fundos de ações, ETFs ou uma seleção diversificada de 10 a 15 empresas.

Entre as recomendações internacionais já mencionadas, destaco a…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.