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Nova onda de tensão no Oriente Médio e pressão sobre o Fed para cortar juro: Veja os destaques desta quinta-feira (12)

A escalada de tensões no Oriente Médio reverberou rapidamente nos preços do barril de petróleo na quarta-feira (11). Veja mais.

Por Matheus Spiess

12 jun 2025, 09:44 - atualizado em 12 jun 2025, 09:44

petróleo investir em ações

Imagem: iStock/ sankai

A quarta-feira (11) foi marcada por um novo capítulo de instabilidade geopolítica, com uma escalada relevante das tensões no Oriente Médio, que rapidamente reverberou nos mercados globais. O petróleo disparou, em resposta imediata à percepção de risco sobre oferta, enquanto ativos de maior risco sofreram com uma rodada global de aversão. A movimentação veio logo após a divulgação de um dado de inflação nos Estados Unidos abaixo do esperado — um CPI que trouxe sinais claros de demanda enfraquecida e apenas vestígios iniciais dos impactos tarifários recentemente implementados. O resultado reforçou a tese de que o Federal Reserve ainda pode encontrar espaço para cortar juros até o fim do ano, especialmente se o índice de preços ao produtor, a ser divulgado hoje (12), confirmar a narrativa de uma inflação contida.

Esse pano de fundo se entrelaça com um momento de transição delicado na frente comercial, à medida que avançam as negociações entre Washington e Pequim — particularmente em temas estratégicos como tecnologia e acesso a terras raras. A trégua ainda é tênue, mas sinaliza, ao menos, um esfriamento temporário da retórica acalorada. Ainda assim, os mercados não demonstraram confiança plena: as bolsas asiáticas encerraram o pregão desta quinta-feira (12) em queda, devolvendo parte do otimismo da sessão anterior, quando os investidores reagiram positivamente ao esboço de acordo entre as duas potências. Entre os índices europeus, o humor também azedou, assim como nos futuros americanos, pressionados pela incerteza geopolítica.

· 00:58 — Formalizando a nova rodada de arrecadação

No Brasil, a agenda desta quinta-feira (12) traz como destaque a divulgação das vendas no varejo, que devem recuar em abril. Um número abaixo do esperado pode reforçar a tese de encerramento do ciclo de aperto monetário sem necessidade de uma nova alta de 25 pontos-base na próxima reunião do Copom. Ainda assim, o dado ficou em segundo plano. As atenções do mercado se voltaram inteiramente para a Medida Provisória publicada ontem (11) — o tão aguardado substituto do polêmico decreto do IOF. E, como esperado, a resposta política veio com barulho: forte resistência no Congresso e mais uma camada de incerteza sobre a já frágil âncora fiscal do governo Lula.

Entre os principais pontos da MP, estão a redução de 80% na alíquota sobre operações de risco sacado para empresas, a diminuição do IOF sobre aportes em previdência tipo VGBL e a criação de uma regra de transição: a partir de 2026, aportes de até R$ 600 mil por ano em VGBLs estarão isentos, e valores excedentes pagarão 5% de IOF, somando os investimentos em todas as seguradoras. Para 2025, o limite de isenção será de R$ 300 mil, restrito a aportes feitos dentro de uma única instituição. Houve ainda isenção de IOF sobre retorno de investimento estrangeiro direto e alíquota mínima sobre aquisições de cotas de FIDCs — uma tentativa de amenizar a tensão gerada anteriormente. Mas não se engane: o grosso da MP é claramente arrecadatório.

O governo propôs, entre outras medidas, a inclusão do programa Pé-de-Meia no piso constitucional da educação, elevação da tributação sobre apostas esportivas — de 12% para 18% sobre o Gross Gaming Revenue —, padronização das alíquotas da CSLL no sistema financeiro (acabando com o benefício dos que pagavam 9%), aumento da alíquota de IR sobre Juros sobre Capital Próprio de 15% para 20%, uniformização da tributação de aplicações financeiras em 17,5% e, talvez o ponto mais sensível, o fim da isenção para títulos incentivados. LCI, LCA, CRI, CRA, FIIs, FIAGROs, letras hipotecárias e outros produtos que até ontem gozavam de isenção, agora passam a ter alíquota de 5%. Também foi prometida uma redução de 10% nos gastos tributários e a abertura de diálogo com o Congresso para cortes de despesas primárias — mas essa parte ainda está no plano das intenções.

A estimativa oficial é de arrecadação extra de R$ 10 bilhões ainda neste ano e R$ 20 bilhões em 2026 — sem contar eventuais receitas da redução dos gastos tributários, que ainda dependem de aval político. E é justamente aí que o plano começa a ruir. O governo parece acreditar que aumentos de imposto podem ser aprovados em pleno ciclo pré-eleitoral. PP e União Brasil, que juntos somam mais de 100 deputados, já declararam voto contrário à MP. Os partidos de oposição devem acompanhar. Lula deve entrar em campo para negociar, mas o desgaste político do governo é evidente, e o presidente da Câmara já manifestou insatisfação com o conteúdo formalizado. Em um ambiente onde a pauta eleitoral vai tomando o lugar do diálogo técnico, será difícil convencer o Legislativo a carregar a imagem de sócio da sanha arrecadatória do Executivo. O governo segue tratando o desequilíbrio fiscal com aumento de carga tributária, como se o problema fosse receita — e não o apetite insaciável por gasto.

· 01:49 — Inflação mais fraca

Nos EUA, a inflação veio novamente abaixo do esperado em maio, frustrando — mais uma vez — os alarmistas que previam um estouro de preços impulsionado pelas tarifas do presidente Trump. Segundo o índice de preços ao consumidor, a inflação subiu apenas 0,1% no mês, elevando a taxa anual para 2,4%. Trata-se de uma leitura mais branda do que o mercado previa, especialmente após diversos executivos alertarem que as tarifas os forçariam a repassar custos ao consumidor. Até agora, os picos de preço anunciados em tom apocalíptico não se materializaram. Mas calma: isso não significa que o impacto não virá — apenas que, por ora, foi contido por fatores pontuais, como a suspensão de parte das tarifas e o uso estratégico de estoques acumulados previamente pelas empresas, antecipando os efeitos da guerra comercial.

A dúvida agora é se a calmaria é estrutural ou apenas uma trégua tática antes da tempestade. O que se viu até aqui foi mais precaução do que repasse de custos. Mas o efeito retardado das tarifas ainda é um risco no horizonte. No entanto, se olharmos apenas para os dados correntes, o Federal Reserve já teria argumentos de sobra para considerar a retomada dos cortes de juros. A inflação segue abaixo do centro da meta, a atividade mostra sinais de desaceleração e os riscos fiscais parecem cada vez mais deslocados para o longo prazo. O problema é que o Fed está politicamente encurralado: entre a incerteza comercial, a preocupação com a própria credibilidade e a sombra do legado que Powell deixará ao fim de seu mandato, a autoridade hesita.

Hoje, será divulgado o índice de preços ao produtor. Caso também venha abaixo do esperado, a tese de corte de juros ganha novo fôlego. O Fed ainda parece preso a um dilema: os dados recomendam cautela, mas o cenário político exige firmeza. 

· 02:35 — Avanço?

Donald Trump anunciou que o novo acordo comercial com a China que inclui terras raras está fechado. Como de costume, a declaração veio antes dos detalhes. O que se sabe até agora é pouco, mas suficiente para levantar algumas sobrancelhas. Segundo o próprio presidente, o acerto envolveria a flexibilização, por parte de Pequim, das restrições às exportações de minerais de terras raras e ímãs industriais — insumos críticos para a indústria americana, especialmente nas áreas de defesa, energia e tecnologia. Ainda assim, o alívio prometido terá vida curta: essa flexibilização valerá por apenas seis meses. Um alívio temporário, vendido como solução definitiva.

Trump também afirmou que o novo pacote tarifário sobre a China será de 55%, uma cifra que parece somar as várias camadas de tarifas que vêm sendo empilhadas desde seu primeiro mandato: os 10% aplicados recentemente sobre todas as importações, os 20% voltados ao combate ao tráfico de fentanil e os cerca de 25% herdados da guerra comercial anterior. Pequim, por sua vez, responderia com uma tarifa simbólica de 10% sobre produtos americanos. Uma trégua tarifária disfarçada de acordo equilibrado.

Como parte do gesto de “boa vontade”, a China se comprometeria a fornecer terras raras de forma antecipada, enquanto os EUA também abririam novamente as portas de suas universidades para estudantes chineses. De qualquer forma, o acordo ainda precisa ser assinado formalmente por Trump e Xi Jinping, e até que isso ocorra, tudo permanece no território ambíguo entre diplomacia performática e realidade contratual.

· 03:21 — Tensão no Oriente Médio

Todas as bases militares dos EUA localizadas no Oriente Médio foram colocadas em estado de alerta máximo — um gesto que, por si só, revela o grau de deterioração do ambiente geopolítico na região. Washington autorizou a retirada de pessoal não essencial de suas embaixadas no Bahrein e no Kuwait e já delineia planos de evacuação para o Iraque, em resposta às ameaças diretas do ministro da Defesa do Irã. Segundo Teerã, qualquer ataque ao país poderá resultar em retaliações imediatas contra instalações militares americanas, especialmente aquelas situadas nas proximidades, como é o caso do Bahrein e do Kuwait (mais de 8 mil funcionários).

A faísca que reacendeu a tensão? A escalada verbal iraniana diante da postura americana contrária ao programa nuclear de Teerã. Em paralelo, Donald Trump não ajuda a reduzir o calor: declarou recentemente estar “perdendo a confiança” na possibilidade de selar um acordo com os iranianos — declaração feita justamente às vésperas da sexta rodada de negociações entre os dois países. O clima, que já era instável, azedou de vez. E o risco geopolítico volta a protagonizar o noticiário global.

É verdade que barulhos desse tipo na região são quase cíclicos. Na maioria das vezes, não passam de ruído restrito, absorvido rapidamente pelos mercados. No entanto, há precedentes — poucos, mas suficientes — em que esse tipo de instabilidade escalou para conflitos com efeitos estruturais sobre o petróleo e os ativos de risco mundo afora. Por ora, o cenário ainda se encaixa na categoria dos sobressaltos regionais. Mas a tensão acumulada recomenda vigilância redobrada — até porque, em contextos como este, basta uma fagulha mal interpretada para incendiar o tabuleiro inteiro.

· 04:16 — Uma experiência de digitalização

A “Carteira de Identidade Digital da União Europeia” tem lançamento previsto para o próximo ano e promete ser a grande aposta do bloco para unificar, simplificar e digitalizar o processo de identificação dos cidadãos — do embarque no aeroporto à retirada de medicamentos na farmácia. A proposta é sedutora: permitir que cada europeu comprove sua identidade online sem precisar entregar seus dados a terceiros. A carteira também funcionará como repositório de documentos oficiais, como declarações de imposto de renda, certidões trabalhistas, carteiras de motorista e até cartões de pagamento — tudo reunido em um único ambiente virtual.

Na teoria, parece um avanço. Na prática, levanta uma série de alertas que não podem ser ignorados. Ao concentrar volumes colossais de dados pessoais sob uma estrutura única, o projeto inevitavelmente vira um chamariz para hackers — por mais sofisticados que sejam os sistemas de segurança. E há a questão ainda mais incômoda: a tentação da vigilância estatal em escala industrial. A ideia de um governo (ou grandes empresas) com acesso amplo e irrestrito a cada passo digital de seus cidadãos é, para alguns, o início de uma distopia. Para outros, apenas o próximo capítulo de uma história que já vem sendo escrita — e que ninguém mais tem o controle.

Curiosamente, o Brasil está anos à frente nesse jogo. A digitalização de documentos públicos, o acesso remoto a serviços do Estado e a integração de dados através do gov.br fizeram do país uma referência improvável e, em muitos aspectos, mais eficiente do que diversas nações ditas desenvolvidas. Em tempos de euforia digital temperada por riscos reais, talvez seja hora de a Europa aprender com Brasília (inesperado).

· 05:02 — Uma boa opção para renda fixa isenta

A Petrobras (PETR4) oferece agora uma nova via de exposição com sua 8ª emissão de debêntures incentivadas — e, desta vez, com um atrativo adicional: a previsibilidade de fluxo e a isenção fiscal para pessoa física. Focamos aqui na primeira série da emissão, que entrega uma remuneração teto de IPCA + 6,85% ao ano, duration estimada de 7,6 anos, pagamento de juros semestral e amortização bullet em 2035.

Classificado como simples, quirografário e sem garantias reais, o título se sustenta na robustez da Petrobras: rating AAA.br, baixo risco de crédito e aplicação dos recursos em dois megaprojetos com selo de relevância estratégica nacional. Em tempos de política monetária apertada e incerteza fiscal crescente, a emissão emerge como um…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.