
Imagem: iStock/Edson Souza
O mercado abre hoje (3) de olho na divulgação do relatório de payroll de junho — o indicador mais aguardado da semana. Um número mais fraco que o consenso pode reforçar a expectativa de corte de juros nos EUA no segundo semestre, sobretudo após o relatório ADP de ontem (2) mostrar a eliminação de 33 mil vagas no setor privado. Vale lembrar que, por lá, o dia será mais curto: os mercados americanos encerram o pregão mais cedo, em função do feriado de 4 de julho amanhã. Ou seja, teremos uma sessão anêmica em termos de liquidez internacional, com menor volume de negócios e pouca disposição a tomar risco. Ainda assim, os mercados seguem abertos nas demais praças, com destaque para a Ásia, que fechou o dia em terreno misto — leve alta na China, recuo no Japão e em Hong Kong — e para a Europa, que sobe moderadamente, ainda que com alguma cautela antes da divulgação do payroll.
No pano de fundo, seguem as preocupações com o pacote fiscal de Trump e os desdobramentos comerciais. O acordo com o Vietnã, anunciado ontem, ajudou a manter o apetite por risco, mas não foi suficiente para dissipar a incerteza quanto às tarifas sobre o Japão, a União Europeia e a China. Para adicionar uma pitada de ansiedade, o Banco do Japão alertou que pode subir juros caso o ambiente comercial melhore. Para o Brasil, o payroll também importa. Um dado fraco nos EUA tende a ampliar a percepção de que o Fed começará a cortar juros mais cedo, o que abre espaço para flexibilização monetária em outros países, inclusive por aqui. Portanto, não se trata apenas de saber quantos empregos foram criados ou perdidos em junho, mas de entender o que esses números significam para o custo do dinheiro no mundo inteiro.
· 00:58 — Radicalizar para perder: Lula caminha para o isolamento
Com a agenda doméstica esvaziada, os holofotes se voltam inevitavelmente para o dado de emprego nos Estados Unidos — com potencial de balizar expectativas globais sobre juros — e, claro, para o enredo político de Brasília, já que o governo segue operando em modo de autossabotagem. O dólar voltou ao patamar dos R$ 5,42, mas não se iluda: a valorização do real deve-se mais à fraqueza global da moeda americana do que a qualquer mérito local. Internamente, a crise entre Executivo e Legislativo segue viva no radar, ainda que disfarçada por gestos pontuais de trégua.
Mesmo em meio ao ambiente conflagrado, houve avanços. O Senado aprovou a MP do Fundo Social — permitindo leilões de excedentes do pré-sal que podem render até R$ 20 bilhões aos cofres públicos — e também a MP do consignado para trabalhadores da iniciativa privada. Mas não nos enganemos: o estrago político já foi feito. O ambiente no Congresso continua ácido, com parlamentares prometendo ampliar as retaliações. O episódio do IOF, levado ao STF pelo governo numa aposta judicial mal calculada, acentuou as fissuras entre os poderes. E, mais grave: mostrou um Executivo disposto a dobrar a aposta antes das eleições, mesmo em condições de clara inferioridade tática.
Fernando Haddad, por sua vez, foi sincero ao dizer que precisa desesperadamente do IOF para tentar fechar o orçamento de 2026 com a meta de superávit de 0,25% do PIB. Mas essa conta depende também da aprovação de corte de R$ 15 bilhões em benefícios tributários e da elevação de tributos sobre apostas e aplicações financeiras. E, honestamente, depois do espetáculo de beligerância institucional promovido pelo Planalto, não é garantido que qualquer uma dessas medidas passe pelo Congresso.
Como se já não fosse suficiente, Lula decidiu reacender tensões ao prometer vetar o aumento do número de deputados — uma proposta, convenhamos, merecedora de veto, já que o problema do Brasil não é a falta de parlamentares. Mas, do ponto de vista estratégico, é mais um movimento impensado de um presidente que parece movido por ressentimentos, agindo com impulso e espírito de revanche, como se governar fosse uma vendeta. A paralisia já se insinua. O relatório do projeto de isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil foi empurrada para depois do recesso, assim como a regulamentação da reforma tributária. O governo perdeu o centro político e, com ele, perdeu também o timing. Lula está indo para o confronto sem base, sem retaguarda e sem plano — e a história mostra que esse tipo de ousadia termina mal.
As últimas pesquisas mostram o presidente perdendo para nomes como Tarcísio em um eventual segundo turno em 2026. A resposta do lulopetismo? Radicar o discurso e retomar o velho e demagógico “nós contra eles”, como se o país ainda estivesse na década de 1990. É uma tentativa de ressuscitar o espírito do confronto ideológico que já não se mobiliza como antes. Pior: ignora que Lula jamais venceu uma eleição apostando na radicalização. Sempre que triunfou, foi porque caminhou ao centro.
Desprezar esse centro, que lhe deu a vitória por margem apertada em 2022, é um erro estratégico crasso. Dobrar a aposta e confrontar um Congresso hostil é flertar com o desastre. O pêndulo político, assim, tende a girar com força rumo a uma agenda mais reformista, fiscalista e pró-mercado. A tese de inflexão ganha corpo. Mas até lá, prepare-se: o caminho promete ser turbulento, instável e, acima de tudo, imprevisível.
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· 01:43 — Qual a situação do mercado de trabalho?
Nos EUA, tanto o S&P 500 quanto o Nasdaq registraram ontem (2) seu segundo recorde de fechamento da semana. Isso porque o pregão foi marcado por forte volatilidade, em meio à ansiedade dos investidores diante da divulgação do relatório oficial de empregos (payroll) previsto para esta quinta-feira. Por trás do brilho das máximas históricas, o avanço foi tudo menos amplo: cerca de 42% das ações que compõem o S&P 500 terminaram o dia no vermelho. A performance foi puxada por um grupo já conhecido — as gigantes de tecnologia com perfil de crescimento agressivo. É como se o mercado americano estivesse se equilibrando sobre um tripé de apostas concentradas, ignorando que a base real da economia não acompanha o mesmo ritmo.
Outro destaque do dia foi o setor de consumo discricionário, que apresentou desempenho surpreendentemente positivo. O índice setorial subiu 0,8%, embalado pela notícia de que o governo Trump fechou um acordo tarifário com o Vietnã — país-chave na cadeia global de produção de roupas, calçados e móveis.
Agora, o foco do dia agora recai sobre o relatório de payroll, um dos dados mais aguardados pelos mercados — e que carrega o potencial de mexer significativamente nas expectativas para a trajetória dos juros americanos. O consenso atual aponta para a criação de 115 mil vagas de emprego não-agrícolas em junho, uma desaceleração frente às 139 mil registradas em maio. A taxa de desemprego, por sua vez, deve subir de 4,2% para 4,3%. Embora a maioria do mercado ainda veja a reunião de setembro como a data provável para o próximo corte de juros por parte do Federal Reserve, um número particularmente fraco hoje pode reacender apostas em uma flexibilização já em julho. Na prática, sigo cética quanto a esse cenário antecipado: os membros do Fed, apesar da pressão, tendem a manter a cautela e aguardar mais sinais antes de agir. A própria média de criação de empregos neste ano — 123,8 mil por mês — já mostra um claro arrefecimento quando comparada aos 191,9 mil dos dois anos anteriores.
O dado do ADP divulgado ontem, mostrando uma destruição líquida de 33 mil postos no setor privado, adicionou mais lenha à fogueira da especulação. Se o payroll de hoje vier igualmente fraco, a hipótese de corte em julho pode deixar de ser apenas uma ousadia dos investidores mais otimistas e se tornar uma possibilidade real, ainda que improvável. Em suma, o mercado está em compasso de espera.
· 02:32 — O acordo com o Vietnã
O presidente Donald Trump anunciou um acordo comercial com o Vietnã. Pelo novo arranjo, as exportações americanas para o país asiático ficarão isentas de tarifas, enquanto os produtos vietnamitas enviados aos EUA serão taxados em 20% — um recuo considerável em relação aos 46% previamente ameaçados em abril. Já os bens de terceiros países que apenas transitam pelo Vietnã antes de chegarem aos EUA serão penalizados com uma tarifa de 40%, evidenciando o esforço da Casa Branca em combater o redirecionamento de rotas comerciais para driblar as barreiras tarifárias.
Este é o segundo acordo do tipo fechado por Trump desde que resolveu ressuscitar sua agenda de “tarifas recíprocas“, em tese para reequilibrar relações comerciais bilaterais — o primeiro foi com o Reino Unido. A reação do mercado foi imediata: ações de empresas americanas de vestuário e calçados com cadeias produtivas cada vez mais deslocadas da China, como a Nike, subiram com a notícia. Nada como um pouco de previsibilidade tarifária, ainda que relativa, para trazer alívio ao setor.
O acordo, no entanto, soa mais como um ensaio do que como um grande ato. Faltando poucos dias para o prazo de 9 de julho — data marcada por Trump para aplicar tarifas recíprocas de maneira generalizada —, o governo americano parece correr contra o relógio para selar acordos com parceiros estratégicos. Mas o ritmo dos avanços é desigual e os resultados tímidos. O anúncio com o Vietnã, apesar de útil, foi pouco para quem prometia uma revolução comercial em 90 dias. Um anticlímax, no mínimo.
Ainda assim, o movimento serve como amostra do que pode estar por vir em negociações com outros países asiáticos: acordos parciais, com concessões seletivas e muitos ruídos no meio do caminho. Dado o histórico errático da atual política comercial americana, a tendência é que uma trégua temporária ganhe fôlego.
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· 03:27 — As primárias democratas em NY…
Confesso que preferia não ter de comentar este episódio, mas diante da repercussão que tomou, é impossível ignorar. Na semana passada, as primárias democratas para a prefeitura de Nova York trouxeram um sinal estranho: Zohran Mamdani, um socialista de 33 anos, venceu com ampla margem o ex-governador Andrew Cuomo, forçando sua retirada da disputa. Com um programa que inclui taxação agressiva sobre milionários e grandes empresas para bancar transporte público gratuito, creches universitárias e congelamento de aluguéis, Mamdani representa uma guinada radical em plena capital financeira do mundo. Sua ascensão abalou o establishment democrata e acendeu os alertas da oposição. Donald Trump classificou Mamdani como um “lunático 100% comunista” e disse que o Partido Democrata foi sequestrado pela extrema esquerda. Exageros à parte, há uma questão real aqui: o avanço de figuras como Mamdani sinaliza mais do que fragmentação interna. Revela um teste de estresse institucional — o que acontece quando a militância ideológica se infiltra na máquina pública.
A julgar pelas propostas, trata-se de um déjà vu para qualquer latino-americano acostumado a promessas populistas progressistas embaladas por discursos revolucionários. A fórmula é velha conhecida: vilanizar os ricos, estatizar os serviços e sufocar a livre iniciativa com uma burocracia salvadora. Para os que conhecem os efeitos práticos dessas ideias — fuga de capitais, decadência urbana, explosão de criminalidade e colapso fiscal —, o futuro de uma Nova York sob Mamdani não inspira otimismo. Los Angeles já trilha essa rota. E Detroit é o exemplo acabado do que pode acontecer quando o poder público abandona a racionalidade econômica.
Enquanto isso, cidades como Miami, Austin e outras que preservam os fundamentos da tradição americana — liberdade econômica, segurança jurídica e ambiente de negócios amigável — continuam a atrair talento, capital e crescimento. O contraste não poderia ser mais claro. Ainda assim, é preciso colocar os fatos em perspectiva. A vitória de Mamdani não garante sua eleição em novembro. A disputa foi restrita ao eleOnde investir neste mês? Veja 5 ações com bons dividendos para buscar lucros na bolsa de valores brasileira. Baixe o relatório gratuito aqui. itorado democrata — um público historicamente mais à esquerda, especialmente em Nova York, uma cidade mais progressista. O atual prefeito vai concorrer como independente e conta com uma base robusta de apoio que rejeita as propostas radicais do socialista. Há, portanto, uma chance real de que Mamdani fique pelo caminho. Curiosamente, se o Partido Democrata seguir flertando com o extremismo ideológico, permitindo que sua ala mais radical e barulhenta dite os rumos, pode continuar perdendo espaço entre os eleitores moderados e empurrando o eleitorado americano para os braços de figuras como Trump — não por amor ao trumpismo, mas por repulsa ao delírio regressivo travestido de progresso. O sonho americano sobrevive, apesar dos subversivos.
· 04:14 — Uma nova indústria flerta com a inteligência artificial
Desde o lançamento do ChatGPT pela OpenAI, no final de 2022, testemunhamos o início de uma corrida bilionária no mundo da inteligência artificial. As cinco maiores hiperescaladoras ocidentais — Amazon, Microsoft, Google, Meta e Oracle — já despejaram impressionantes US$ 477 bilhões em infraestrutura voltada para IA. E os planos seguem ambiciosos: a expectativa é que esse montante ultrapasse a marca de US$ 1,15 trilhão até 2027. Some-se a isso os bilhões adicionais aportados por players privados como a própria OpenAI e a xAI, de Elon Musk, e temos diante de nós um ciclo de investimentos sem paralelo na história recente da tecnologia.
Já é consenso que a IA vai redesenhar o mercado de trabalho de colarinho branco. A combinação de automação, algoritmos e aprendizado de máquina deverá dizimar uma quantidade significativa de empregos administrativos, repetitivos e baseados em regras — primeiro no nível operacional e, com o tempo, nos degraus mais altos da hierarquia corporativa. O que parecia coisa de ficção científica vai se tornando realidade concreta até o fim desta década, com efeito prolongado para os anos 2030. Diante desse cenário, o Goldman Sachs decidiu olhar para outra vítima em potencial da revolução algorítmica: o mercado global de publicidade.
A publicidade digital é talvez o subsetor que mais avançou na adoção e desenvolvimento de soluções baseadas em IA. Aqui, a inteligência artificial já deixou de ser conceito e virou processo. As ferramentas que remodelam o planejamento e a estratégia de campanhas, a criação de peças, a compra e otimização de mídia, além do CRM e da personalização de conteúdo, já estão em pleno funcionamento — algumas com resultados expressivos, outras ainda em fase beta, mas todas com uma direção clara: menos humanos, mais algoritmos.
A mensagem é simples, embora desconfortável: quase meio trilhão de dólares investidos em infraestrutura de IA pelas Big Techs não estão apenas mirando produtividade ou inovação. Estão pavimentando o caminho para a reconfiguração completa de indústrias inteiras. A mais recente trincheira a ser ocupada? O mercado publicitário — que, ironicamente, sempre foi mestre em vender futuros brilhantes, mas agora precisa desesperadamente encontrar o seu.
· 05:09 — Sem fronteiras
Na maior gestora de ativos do planeta, um fato curioso começou a chamar atenção. O fundo de Bitcoin da BlackRock, o iShares Bitcoin Trust ETF (IBIT), já fatura mais com taxas do que o seu produto mais tradicional e emblemático: o ETF que replica o S&P 500. A moeda digital outrora renegada pelas mesas de alocação virou fonte primária de receita para uma casa que sempre simbolizou a ortodoxia financeira global. Com um patrimônio de cerca de US$ 75 bilhões, o IBIT viu uma verdadeira avalanche de recursos nos últimos meses, vindos tanto do varejo quanto de investidores institucionais. Apenas um único mês dos últimos dezoito registrou saídas líquidas.
O motivo? Após …