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Semana é marcada por feriado no Reino Unido e no Japão e Super Quarta; confira os destaques

A semana que passou foi marcada por uma intensa atividade e volatilidade; a que se inicia tem importantes decisões de política monetária.

Por Matheus Spiess

6 de maio de 2024, 09:23

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Imagem: Freepik

Bom dia, pessoal. A semana que passou foi marcada por uma intensa atividade e volatilidade para investidores ao redor do mundo, que se mantiveram vigilantes diante das últimas notícias econômicas dos Estados Unidos, particularmente em relação ao mercado de trabalho. A coletiva de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, após a reunião da quarta-feira (1), foi crucial para suavizar as preocupações, especialmente após o índice de custo do emprego do primeiro trimestre indicar uma elevação acima das previsões.

Powell minimizou as chances de um aumento na taxa de juros para este ano, um alívio para o mercado que temia justamente isso. Ele ainda destacou que cortes nos juros poderiam ocorrer se houvesse um declínio significativo no mercado de trabalho. Curiosamente, na última terça-feira (30), dados de emprego abaixo do esperado corroboraram essa perspectiva, levando o mercado a se animar novamente com a possibilidade de uma redução das taxas já em setembro e dezembro.

Neste início desta semana, feriados no Japão e no Reino Unido reduzem a liquidez nos mercados globais. No Reino Unido, por sinal, a atenção se volta para a decisão de política monetária na quinta-feira. Enquanto isso, a maioria das bolsas asiáticas teve ganhos nesta segunda, refletindo o otimismo de Wall Street na última sexta-feira.

Em breve, a China divulgará dados cruciais, como sua balança comercial, enquanto o presidente Xi Jinping realiza uma importante visita à Europa esta semana. Na zona do euro e nos Estados Unidos, a agenda econômica parece mais leve, mas será movimentada pelas várias aparições programadas de membros do Fed, que poderão influenciar as expectativas após os fracos dados de emprego.

No âmbito corporativo, mais de 50 empresas do S&P 500 estão agendadas para divulgar seus resultados, assim como diversas companhias brasileiras. No mercado de commodities, o petróleo apresentou alta nesta manhã, enquanto o minério de ferro mostrou estabilidade.

A ver…

· 00:56 — Na expectativa pelo Copom de quarta-feira

No Brasil, após uma semana favorável para os ativos locais, impulsionada por um cenário internacional positivo e pela melhora na perspectiva da Moody’s para o país — com expectativas de que a Fitch também melhore sua avaliação em breve —, a atenção se volta para Brasília. O foco está na política monetária, com o mercado dividido entre expectativas de um corte da Selic de 0,25 ou 0,50 ponto percentual na próxima reunião do Copom.

A tendência de um corte mais moderado de 25 pontos se fortalece devido à influência de cenários externos considerados anteriormente pelo Banco Central. Contudo, diante dos recentes indicadores — como a inflação local abaixo do esperado e o mercado de trabalho americano mostrando menos dinamismo — mantenho uma visão otimista de que o corte de 50 pontos pode ser confirmado, idealmente acompanhado de um comunicado mais assertivo.

Além disso, a agenda econômica ainda reserva a divulgação do IPCA de abril na sexta-feira. As expectativas são de um aumento de 0,38% em comparação mensal, o que representaria uma aceleração em relação aos 0,16% observados em março. Essa aceleração deve ser ampla, influenciada por fatores como condições climáticas adversas afetando os alimentos consumidos em domicílio, a redução dos descontos aplicados em março sobre bens industriais duráveis, aumentos sazonais em vestuário e produtos farmacêuticos, e a alta nos preços dos combustíveis.

Um resultado abaixo do esperado seria bem visto pelo mercado, especialmente se houver uma queda no núcleo da inflação de serviços, conforme previsto por algumas análises. Completam a agenda da semana os dados sobre vendas no varejo, resultados fiscais consolidados, balança comercial e a continuidade da temporada de divulgação de resultados.

· 01:49 — Mudança de humor

Nos EUA, após ajustes significativos em abril, a última semana marcou uma virada para os mercados financeiros. Especificamente nos três últimos dias da semana, assistimos a uma recuperação impressionante do título do Tesouro de dois anos, que é particularmente sensível às expectativas de juros. Este título subiu mais de 5% em antecipação à reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) na quarta-feira, alcançando níveis que não se viam desde novembro, para depois ajustar-se a 4,70% após o relatório de empregos de sexta-feira.

Ao final, estabilizou-se em um nível mais moderado de cerca de 4,82%. Essa movimentação sinaliza um desejo do Federal Reserve de suavizar a política monetária, apoiado por justificativas robustas no campo do emprego que permitem aos formuladores de política seguir essa direção, interrompendo assim a escalada para 5% ao longo da curva de rendimentos. A desaceleração no emprego adicionou mais argumentos para os otimistas.

O Departamento do Trabalho americano informou que a economia adicionou 175 mil empregos em abril, um número bem abaixo dos 315 mil de março e inferior ao consenso dos economistas, que esperavam cerca de 235 mil empregos. A taxa de desemprego também aumentou ligeiramente para 3,9%, contra 3,8% no mês anterior.

Adicionalmente, o crescimento salarial desacelerou para 0,2%, de 0,3% em março. Paralelamente, a temporada de resultados tem apresentado desempenho positivo, destacado pelo aumento de 6% nas ações da Apple na sexta-feira. Apesar de todos os principais setores do S&P 500 terem registrado ganhos nesse dia, o setor de tecnologia se sobressaiu com um avanço de 2,8%. Mais resultados estão programados para esta semana, embora os mais significativos da temporada pareçam já ter passado.

· 02:37 — Venda em maio?

Há um ditado antigo bastante popular nos círculos financeiros, especialmente nos Estados Unidos: “Venda em maio e vá embora” (“Sell in May and go away”). Essa máxima sugere que os investidores devem liquidar suas posições em maio e retornar ao mercado após um suposto declínio nos preços durante os meses de verão, com base na crença de que o mercado tende a ter um desempenho pior de maio a outubro.

A origem desse ditado remonta a práticas antigas, influenciadas por fatores como ciclos de férias e períodos de bonificações, além de observações históricas de que grandes quedas do mercado, como o crash de 1929 e a Segunda-feira Negra de 1987, ocorreram nesse intervalo. Extensas pesquisas acadêmicas e estudos de mercado foram realizados sobre essa estratégia, analisando seu impacto em diferentes classes de ações e períodos específicos.

Apesar de alguns padrões sazonais serem reconhecidos e haver um risco um pouco maior nos meses de verão, as ações geralmente apresentam tendência de alta no longo prazo, superando a volatilidade sazonal. Portanto, manter os investimentos ativos ao longo do ano pode ser mais prudente do que tentar prever o mercado, especialmente considerando outros indicadores mais confiáveis para a tomada de decisão, como lucratividade das empresas, avaliações de mercado e tendências das taxas de juros.

Historicamente, nos últimos 40 anos, a estratégia de vender em maio revelou-se ineficaz, com o índice S&P 500 registrando retornos positivos em mais de 75% desses períodos. Essa velha estratégia, portanto, parece ter perdido seu fundamento na prática moderna.

· 03:24 — Problemas logísticos e perspectivas para paz

O grupo Maersk, um player chave do comércio global, alertou que as disrupções no transporte marítimo, provocadas pelos ataques dos militantes Houthis contra navios no Mar Vermelho, devem persistir até o final do ano. Desde dezembro, a Maersk e outras empresas do setor têm redirecionado suas rotas marítimas para contornar a África, evitando assim os ataques Houthi no Mar Vermelho.

Esta mudança resultou em tempos de viagem prolongados e, consequentemente, em um aumento das taxas de frete. Os ataques reduziram significativamente o fluxo de contêineres pelo Canal de Suez, com uma queda aproximada de 80%. Adicionalmente, secas persistentes têm restringido a navegabilidade pelo Canal do Panamá, e a destruição da ponte Francis Scott Key limitou o acesso de grandes navios ao porto de Baltimore, complicando ainda mais o cenário logístico global.

Paralelamente, esforços para estabelecer a paz no Oriente Médio estão em curso. Os Estados Unidos e a Arábia Saudita estão próximos de finalizar um acordo de segurança significativo, uma prioridade da administração Biden que poderia transformar as dinâmicas regionais e facilitar o estabelecimento de relações diplomáticas formais entre Israel e a Arábia Saudita pela primeira vez.

Este acordo poderia também influenciar as operações na Faixa de Gaza. Para que se torne um tratado vinculativo, aprovado com os necessários 67 votos no Senado dos EUA, é provável que a Arábia Saudita tenha que formalizar relações diplomáticas com Israel, o que demandaria uma resolução para o conflito na região. Se concretizado, esse tratado representaria uma conquista significativa para os Estados Unidos.

· 04:11 — E a maior eleição do mundo continua acontecendo

Há algumas semanas, comuniquei que estava prestes a começar a maior eleição do planeta, a da Índia. Esse processo eleitoral ainda está em andamento e continuará até o começo de junho. Realizar uma eleição com um eleitorado tão vasto (quase um bilhão de eleitores registrados em uma população de cerca de 1,5 bilhão) é extraordinariamente complexo. Depois de dez anos governando, o primeiro-ministro Narendra Modi é amplamente esperado para ser reeleito para um terceiro mandato.

O partido de Modi, o Bhartiya Janata, antecipa uma vitória ainda mais expressiva desta vez, impulsionado pelo crescimento acelerado da economia indiana e pela realização de promessas que ressoam com as aspirações populistas e nacionalistas hindus. Este ano, por exemplo, foi marcado pela inauguração de um templo controverso construído no local de uma antiga mesquita, um gesto de claro apelo populista considerando que cerca de 80% dos indianos são hindus.

Adicionalmente, a Índia tem aproveitado ventos geopolíticos favoráveis em um contexto de crescente rivalidade entre os Estados Unidos e a China. Grandes corporações como Apple, Boeing e Micron têm anunciado planos de abrir novas lojas e fábricas na Índia, buscando diversificar suas operações para além do solo chinês. Conforme discutimos anteriormente, estima-se que até o final desta década, a Índia possa superar a China como o principal motor do crescimento global.

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· 05:05 — O meu veículo favorito para agro

Em um cenário global onde as tensões geopolíticas estão em ascensão, a segurança alimentar surge como uma questão de suma importância. O Brasil, destacando-se como um dos principais produtores e exportadores de alimentos do mundo, desempenha um papel fundamental neste contexto. O cenário mundial atual é marcado por uma fragmentação acentuada, com o surgimento de novos centros de poder e um enfraquecimento das instituições internacionais estabelecidas.

Esta fragmentação afeta diretamente o agronegócio brasileiro, que depende crucialmente de um mercado global estável e receptivo. Ao mesmo tempo, neste contexto de crise de governança global, onde as instituições formadas no período pós-guerra já não atendem às expectativas, surge uma janela de oportunidade para posicionar o Brasil como um eixo central no cenário global, alinhado com nações como Índia e Arábia Saudita.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.