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Super Quarta: Banco Central e Fed decidem juros em meio ao aumento da tensão no Oriente Médio com fala de Trump; veja os destaques do dia

Mercado globais seguem tratando o confronto entre Israel e Irã como um incêndio regional — perigoso, mas restrito. Leia mais.

Por Matheus Spiess

18 jun 2025, 08:32 - atualizado em 18 jun 2025, 08:32

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Imagem: IStock/ Trifonov_Evgeniy

As novas investidas verbais de Donald Trump nas redes sociais voltaram a incendiar o noticiário — e os mercados. Desde ontem (17), a escalada no tom contra o Irã aumentou as especulações sobre uma eventual ofensiva americana contra instalações nucleares do regime, especialmente a base subterrânea de Fordow, desenhada justamente para resistir a ataques aéreos pesados. A ameaça, por ora, ficou no campo da retórica, mas bastou para reacender temores e provocar mais um soluço de aversão a risco.

Apesar do ruído, o mercado segue tratando o confronto entre Israel e Irã como um incêndio regional — perigoso, mas restrito — sem extrapolações significativas sobre os fluxos econômicos globais. Ainda assim, a simples possibilidade de envolvimento direto dos EUA no conflito já foi suficiente para pressionar o petróleo para cima e os ativos de risco para baixo: bolsas em queda, dólar mais forte e recuo nas taxas de juros.

Nesta manhã, o humor tenta se reequilibrar: o petróleo devolve parte dos ganhos, o dólar perde força e as bolsas internacionais esboçam recuperação. Tudo isso, em meio à preparação para a chamada Super Quarta (ao menos para nós, brasileiros) — quando os holofotes deveriam migrar da retórica geopolítica para a política monetária. Nos EUA, espera-se a manutenção dos juros, mas com um discurso que poderá redefinir as apostas para os próximos meses. No Brasil, a expectativa gira em torno da provável última alta da Selic neste ciclo — uma despedida, enfim, do aperto monetário. 

· 00:51 — Os 25 pontos que selam o ciclo?

No Brasil, o Ibovespa acompanhou a maré global de aversão a risco e encerrou o dia em queda, com os investidores atentos ao agravamento das tensões entre Israel e Irã. O dólar também se fortaleceu frente ao real. O cenário, no entanto, poderia ter sido ainda mais adverso — o avanço expressivo do petróleo ofereceu certo alívio, favorecendo a Petrobras (PETR4), que carrega peso relevante no índice, e sustentando o real, dada a relevância da commodity para a pauta exportadora do país (bom para a divisa).

Curiosamente — e isso merece um renovado destaque — os ativos brasileiros têm demonstrado uma interessante resiliência que desafia o senso comum: caem menos do que se esperaria em momentos de estresse global e reagem com mais entusiasmo quando o humor melhora. Parte disso pode ser atribuída à atratividade relativa de nossos preços, ainda descontados, combinada a um diferencial de juros ainda elevado.

Enquanto isso, os mercados locais mantinham a atenção voltada ao Comitê de Política Monetária (Copom), cuja reunião começou ontem e terá sua decisão sobre a taxa Selic divulgada após o fechamento de hoje. (18) O consenso está dividido: há quem aposte em mais um aperto, levando a Selic a 15%, e há quem defenda o encerramento do ciclo já no patamar atual de 14,75%. De fato, os dados recentes até permitiriam um argumento em prol da manutenção. No entanto, a inflação segue acima do centro da meta, as expectativas permanecem desancoradas, o cenário fiscal continua frágil e a turbulência externa não oferece alívio — fatores que deixam a porta aberta para um último ajuste.

A nova escalada geopolítica, por si só, dificilmente será o gatilho determinante para a decisão do Copom. Mas deve reforçar o tom conservador do comunicado, empurrando para mais adiante qualquer discussão sobre cortes. Muito provavelmente, estamos assistindo ao fim do ciclo de alta — possivelmente cravado em 15% — mas não ao início de um novo ciclo de afrouxamento. Ainda que o BC possa voltar a cortar os juros em dezembro, possivelmente após o Fed retomar sua própria flexibilização, a comunicação até lá será, previsivelmente, de contenção. Afinal, na ausência de uma âncora fiscal crível, resta à autoridade monetária o papel de guardiã da racionalidade.

E por falar em ausência de responsabilidade fiscal: o governo voltou a colecionar derrotas no Congresso. Como se não bastasse a aprovação do regime de urgência para sustar o aumento do IOF e as medidas que o complementam, vieram também agora a criação da CPMI do INSS — algo já esperado, mas agora concretizado — e a derrubada de vetos relevantes para o equilíbrio das contas públicas (mais gasto).

Esses movimentos não apenas pressionam ainda mais a já combalida popularidade do governo, como aprofundam as preocupações fiscais. A gestão parece cada vez mais paralisada, incapaz de articular ou avançar. O país, à luz dos fatos, soa ingovernável. O pêndulo político dá sinais de que está se preparando para oscilar novamente em 2026 — e embora essa virada pareça inevitável, o caminho até lá será tudo, menos linear.

· 01:42 — Salutar cautela

Nos Estados Unidos, a tênue esperança de distensionamento no conflito entre Israel e Irã perdeu força após o presidente Donald Trump exigir uma “rendição incondicional” do regime iraniano. O mercado, que até então oscilava próximo da estabilidade, reagiu mal à declaração: os índices acionários viraram para o negativo no fim do pregão. Ainda assim, as bolsas americanas demonstraram certa resiliência, mesmo sob o peso combinado das ameaças bélicas e de dados econômicos decepcionantes — as vendas no varejo caíram 0,9% em maio (resultado pior que o esperado e indicativo de que o consumo, motor tradicional da economia americana, está finalmente perdendo fôlego).

Sobre o tema de atividade e inflação, o grande evento desta quarta-feira será o anúncio da política monetária, seguido pela coletiva de imprensa de Jerome Powell. E, para apimentar, teremos a divulgação do tradicional “dot plot”, o gráfico de pontos que revela as projeções dos membros do comitê para crescimento, inflação, desemprego e, claro, os juros. Esse resumo de projeções é o melhor termômetro disponível sobre o pensamento coletivo do Fed a respeito dos próximos passos — embora, ultimamente, o “consenso” da autoridade monetária tenha oscilado bastante. Por ora, o Fed permanece em modo de espera, com um discurso cauteloso, tentando equilibrar os riscos de uma inflação persistente com os sinais de desaceleração econômica. O mercado continua apostando em cortes neste ano — tese que acredito ser válida.

· 02:36 — Elevando a tensão

Donald Trump reuniu-se com sua equipe de segurança nacional para discutir o avanço da guerra no Oriente Médio — um gesto que, longe de acalmar, serviu para alimentar especulações sobre a possível entrada direta dos EUA no conflito entre Israel e Irã. A antecipação de sua saída da cúpula do G7 no Canadá só reforçou a dúvida: Trump quer realmente encerrar essa guerra… ou está pavimentando um palco maior para ela?

Por ora, a movimentação prática mais visível foi o fechamento temporário da embaixada americana em Jerusalém, anunciado pelo Departamento de Estado. Mas, no campo retórico, a escalada é evidente. Cinco dias após o ataque de Israel deflagrar uma nova guerra na região, Trump exigiu publicamente a “rendição incondicional” do Irã. E, como se isso não bastasse, insinuou que a eliminação física do Aiatolá Ali Khamenei — o Líder Supremo iraniano — estaria sobre a mesa. Não por acaso, a fala ecoa uma ameaça semelhante feita por Netanyahu nesta mesma semana.

A essas alturas, seria ingênuo tratar tais declarações como simples bravatas. Vale lembrar que, em seu primeiro mandato, Trump autorizou o assassinato de Qassem Soleimani, o então comandante da Guarda Revolucionária Iraniana. Seja tática de dissuasão ou ameaça concreta, o fato é que o risco de uma escalada regional — e, por que não, global — ganhou uma camada extra de complexidade. Em paralelo, países vizinhos começaram a se mover preventivamente, temendo o alastramento do conflito.

Caso os EUA entrem de maneira decisiva na guerra, os desdobramentos podem ser brutais: por um lado, o aparato nuclear e militar iraniano poderia ser rapidamente desmantelado por completo, finalmente retirando de palco um ator de instabilidade global; por outro, a simples perspectiva de um confronto direto entre Washington e Teerã representa um choque de primeira grandeza nos mercados globais.

Não se pode ignorar, ainda, que o colapso do atual regime iraniano — aquele fundado após a Revolução Islâmica de 1979 — passou a ser cogitado com mais seriedade. A ponto de Reza Pahlavi, príncipe herdeiro e filho do último xá da Pérsia, vir a público para comentar, com visível entusiasmo, sobre o possível fim do regime dos Aiatolás. 

· 03:27 — Onda de demissões?

O número de funcionários da McKinsey & Company encolheu mais de 10% nos últimos 18 meses — a maior retração da força de trabalho em toda a história da consultoria. Depois dos cortes na Deloitte e na Booz Allen Hamilton, o ajuste na McKinsey marca mais um capítulo da correção de rota de um setor que, durante a pandemia, contratou como se não houvesse amanhã. No fim de 2023, a McKinsey contava com cerca de 45 mil profissionais, um salto expressivo frente aos 34 mil de 2020. Hoje, esse contingente já teria recuado para algo próximo de 40 mil. A companhia insiste que a redução se deve a fatores “normais” — rotatividade natural e demissões baseadas em performance. Mas, nos bastidores, cresce a percepção de que o avanço da inteligência artificial, especialmente com o impacto de plataformas como o ChatGPT, está começando a corroer a base operacional dessas gigantes do aconselhamento corporativo. Afinal, se um algoritmo entrega diagnósticos estratégicos com agilidade e custo marginal zero, por que manter tantas pranchetas humanas em campo?

Curiosamente, a McKinsey escapou, até agora, dos efeitos mais visíveis do aperto nos contratos governamentais. Isso não se deve a mérito operacional, mas sim a um infortúnio jurídico: por ter se envolvido em escândalos relacionados à crise dos opioides, a empresa já estava excluída de muitos contratos públicos antes mesmo da atual repressão fiscal. Ainda assim, afirma que planeja contratar “milhares” de novos profissionais este ano. Se a McKinsey ainda tenta manter a fachada, seus concorrentes foram mais diretamente atingidos. A Deloitte, por exemplo, anunciou cortes em resposta ao fechamento de contratos federais promovido pelo Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), enquanto a Booz Allen Hamilton confirmou o desligamento de 7% do seu quadro. As empresas que tradicionalmente são chamadas para recomendar cortes agora se veem obrigadas a aplicar a receita em si mesmas.

Trata-se de um movimento que talvez antecipe uma mudança mais estrutural. As consultorias, que durante décadas viveram de otimizar o custo dos outros, parecem agora estar enfrentando seu próprio ajuste de eficiência. E, se vier uma desaceleração econômica mais severa nos próximos trimestres, o setor poderá descobrir que “conselhos estratégicos” não pagam a folha — pelo menos, não quando o cliente tem uma IA capaz de fazer o trabalho com menos burocracia, menos PowerPoint e mais velocidade. E estamos apenas no começo dessa revolução tecnológica.

· 04:18 — Economia da atenção

Pela primeira vez na história da publicidade digital, a receita oriunda de conteúdo e plataformas gerados por usuários superará, em 2024, os valores conquistados com produções profissionais — um marco que diz muito sobre o momento atual da economia da atenção. Em tempos de vacas magras, as marcas preferem a escala do Facebook a pagar fortunas por vitrines perfumadas. Não se trata apenas de contenção de despesas, mas de retorno prático: por mais que os orçamentos de marketing estejam encolhendo, a chamada “economia criativa” vai na contramão e ganha corpo.

É exatamente esse movimento que se desenha no Festival Internacional de Criatividade de Cannes Lions, um dos grandes palcos globais da indústria publicitária, que virou ponto de encontro entre executivos, agências e criadores de conteúdo. O clima não é mais de flerte distante com influenciadores — agora há uma clara disposição das marcas de sentar à mesa e negociar com quem realmente detém a audiência. A lógica é simples: em um mundo saturado de estímulos, a atenção virou a moeda mais valiosa. E, nesse contexto, o criador de conteúdo deixou de ser apenas uma peça da engrenagem para se tornar o motor principal.

Prova disso é a expectativa de que o mercado global de marketing de influência cresça 36% entre 2024 e 2025, atingindo US$ 33 bilhões. Trata-se de uma mudança estrutural na forma como as empresas constroem reputação e distribuem suas mensagens. O centro de gravidade saiu dos estúdios e agências tradicionais para migrar, de vez, para o celular de quem tem engajamento real. A economia da atenção, ao que tudo indica, não está apenas ganhando forma: ela está assumindo o comando.

· 05:04 — Protegendo a carteira

O ouro tem brilhado com intensidade fora do comum desde o início de 2024. A cotação saltou de pouco mais de US$ 2.000 para a casa dos US$ 3.400 por onça — um avanço que atropelou recordes históricos e, de quebra, destruiu a simbólica barreira dos US$ 3.000 pela primeira vez. A arrancada foi turbinada por uma combinação potente de fatores: inflação persistente, incerteza geopolítica, um apetite voraz dos bancos centrais por reservas e, claro, um dólar cada vez menos confiável como referência.

Com o metal precioso agora orbitando um novo patamar, não faltam apostas ousadas:

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.