
Imagem: IStock/ Trifonov_Evgeniy
As novas investidas verbais de Donald Trump nas redes sociais voltaram a incendiar o noticiário — e os mercados. Desde ontem (17), a escalada no tom contra o Irã aumentou as especulações sobre uma eventual ofensiva americana contra instalações nucleares do regime, especialmente a base subterrânea de Fordow, desenhada justamente para resistir a ataques aéreos pesados. A ameaça, por ora, ficou no campo da retórica, mas bastou para reacender temores e provocar mais um soluço de aversão a risco.
Apesar do ruído, o mercado segue tratando o confronto entre Israel e Irã como um incêndio regional — perigoso, mas restrito — sem extrapolações significativas sobre os fluxos econômicos globais. Ainda assim, a simples possibilidade de envolvimento direto dos EUA no conflito já foi suficiente para pressionar o petróleo para cima e os ativos de risco para baixo: bolsas em queda, dólar mais forte e recuo nas taxas de juros.
Nesta manhã, o humor tenta se reequilibrar: o petróleo devolve parte dos ganhos, o dólar perde força e as bolsas internacionais esboçam recuperação. Tudo isso, em meio à preparação para a chamada Super Quarta (ao menos para nós, brasileiros) — quando os holofotes deveriam migrar da retórica geopolítica para a política monetária. Nos EUA, espera-se a manutenção dos juros, mas com um discurso que poderá redefinir as apostas para os próximos meses. No Brasil, a expectativa gira em torno da provável última alta da Selic neste ciclo — uma despedida, enfim, do aperto monetário.
· 00:51 — Os 25 pontos que selam o ciclo?
No Brasil, o Ibovespa acompanhou a maré global de aversão a risco e encerrou o dia em queda, com os investidores atentos ao agravamento das tensões entre Israel e Irã. O dólar também se fortaleceu frente ao real. O cenário, no entanto, poderia ter sido ainda mais adverso — o avanço expressivo do petróleo ofereceu certo alívio, favorecendo a Petrobras (PETR4), que carrega peso relevante no índice, e sustentando o real, dada a relevância da commodity para a pauta exportadora do país (bom para a divisa).
Curiosamente — e isso merece um renovado destaque — os ativos brasileiros têm demonstrado uma interessante resiliência que desafia o senso comum: caem menos do que se esperaria em momentos de estresse global e reagem com mais entusiasmo quando o humor melhora. Parte disso pode ser atribuída à atratividade relativa de nossos preços, ainda descontados, combinada a um diferencial de juros ainda elevado.
Enquanto isso, os mercados locais mantinham a atenção voltada ao Comitê de Política Monetária (Copom), cuja reunião começou ontem e terá sua decisão sobre a taxa Selic divulgada após o fechamento de hoje. (18) O consenso está dividido: há quem aposte em mais um aperto, levando a Selic a 15%, e há quem defenda o encerramento do ciclo já no patamar atual de 14,75%. De fato, os dados recentes até permitiriam um argumento em prol da manutenção. No entanto, a inflação segue acima do centro da meta, as expectativas permanecem desancoradas, o cenário fiscal continua frágil e a turbulência externa não oferece alívio — fatores que deixam a porta aberta para um último ajuste.
A nova escalada geopolítica, por si só, dificilmente será o gatilho determinante para a decisão do Copom. Mas deve reforçar o tom conservador do comunicado, empurrando para mais adiante qualquer discussão sobre cortes. Muito provavelmente, estamos assistindo ao fim do ciclo de alta — possivelmente cravado em 15% — mas não ao início de um novo ciclo de afrouxamento. Ainda que o BC possa voltar a cortar os juros em dezembro, possivelmente após o Fed retomar sua própria flexibilização, a comunicação até lá será, previsivelmente, de contenção. Afinal, na ausência de uma âncora fiscal crível, resta à autoridade monetária o papel de guardiã da racionalidade.
E por falar em ausência de responsabilidade fiscal: o governo voltou a colecionar derrotas no Congresso. Como se não bastasse a aprovação do regime de urgência para sustar o aumento do IOF e as medidas que o complementam, vieram também agora a criação da CPMI do INSS — algo já esperado, mas agora concretizado — e a derrubada de vetos relevantes para o equilíbrio das contas públicas (mais gasto).
Esses movimentos não apenas pressionam ainda mais a já combalida popularidade do governo, como aprofundam as preocupações fiscais. A gestão parece cada vez mais paralisada, incapaz de articular ou avançar. O país, à luz dos fatos, soa ingovernável. O pêndulo político dá sinais de que está se preparando para oscilar novamente em 2026 — e embora essa virada pareça inevitável, o caminho até lá será tudo, menos linear.
- Como investir na bolsa? Confira 5 ações que podem trazer bons ganhos com dividendos. Acesse o relatório gratuito aqui.
· 01:42 — Salutar cautela
Nos Estados Unidos, a tênue esperança de distensionamento no conflito entre Israel e Irã perdeu força após o presidente Donald Trump exigir uma “rendição incondicional” do regime iraniano. O mercado, que até então oscilava próximo da estabilidade, reagiu mal à declaração: os índices acionários viraram para o negativo no fim do pregão. Ainda assim, as bolsas americanas demonstraram certa resiliência, mesmo sob o peso combinado das ameaças bélicas e de dados econômicos decepcionantes — as vendas no varejo caíram 0,9% em maio (resultado pior que o esperado e indicativo de que o consumo, motor tradicional da economia americana, está finalmente perdendo fôlego).
Sobre o tema de atividade e inflação, o grande evento desta quarta-feira será o anúncio da política monetária, seguido pela coletiva de imprensa de Jerome Powell. E, para apimentar, teremos a divulgação do tradicional “dot plot”, o gráfico de pontos que revela as projeções dos membros do comitê para crescimento, inflação, desemprego e, claro, os juros. Esse resumo de projeções é o melhor termômetro disponível sobre o pensamento coletivo do Fed a respeito dos próximos passos — embora, ultimamente, o “consenso” da autoridade monetária tenha oscilado bastante. Por ora, o Fed permanece em modo de espera, com um discurso cauteloso, tentando equilibrar os riscos de uma inflação persistente com os sinais de desaceleração econômica. O mercado continua apostando em cortes neste ano — tese que acredito ser válida.
· 02:36 — Elevando a tensão
Donald Trump reuniu-se com sua equipe de segurança nacional para discutir o avanço da guerra no Oriente Médio — um gesto que, longe de acalmar, serviu para alimentar especulações sobre a possível entrada direta dos EUA no conflito entre Israel e Irã. A antecipação de sua saída da cúpula do G7 no Canadá só reforçou a dúvida: Trump quer realmente encerrar essa guerra… ou está pavimentando um palco maior para ela?
Por ora, a movimentação prática mais visível foi o fechamento temporário da embaixada americana em Jerusalém, anunciado pelo Departamento de Estado. Mas, no campo retórico, a escalada é evidente. Cinco dias após o ataque de Israel deflagrar uma nova guerra na região, Trump exigiu publicamente a “rendição incondicional” do Irã. E, como se isso não bastasse, insinuou que a eliminação física do Aiatolá Ali Khamenei — o Líder Supremo iraniano — estaria sobre a mesa. Não por acaso, a fala ecoa uma ameaça semelhante feita por Netanyahu nesta mesma semana.
A essas alturas, seria ingênuo tratar tais declarações como simples bravatas. Vale lembrar que, em seu primeiro mandato, Trump autorizou o assassinato de Qassem Soleimani, o então comandante da Guarda Revolucionária Iraniana. Seja tática de dissuasão ou ameaça concreta, o fato é que o risco de uma escalada regional — e, por que não, global — ganhou uma camada extra de complexidade. Em paralelo, países vizinhos começaram a se mover preventivamente, temendo o alastramento do conflito.
Caso os EUA entrem de maneira decisiva na guerra, os desdobramentos podem ser brutais: por um lado, o aparato nuclear e militar iraniano poderia ser rapidamente desmantelado por completo, finalmente retirando de palco um ator de instabilidade global; por outro, a simples perspectiva de um confronto direto entre Washington e Teerã representa um choque de primeira grandeza nos mercados globais.
Não se pode ignorar, ainda, que o colapso do atual regime iraniano — aquele fundado após a Revolução Islâmica de 1979 — passou a ser cogitado com mais seriedade. A ponto de Reza Pahlavi, príncipe herdeiro e filho do último xá da Pérsia, vir a público para comentar, com visível entusiasmo, sobre o possível fim do regime dos Aiatolás.
- Onde investir neste mês? Veja 10 ações em diferentes setores da economia para buscar lucros. Baixe o relatório gratuito aqui.
· 03:27 — Onda de demissões?
O número de funcionários da McKinsey & Company encolheu mais de 10% nos últimos 18 meses — a maior retração da força de trabalho em toda a história da consultoria. Depois dos cortes na Deloitte e na Booz Allen Hamilton, o ajuste na McKinsey marca mais um capítulo da correção de rota de um setor que, durante a pandemia, contratou como se não houvesse amanhã. No fim de 2023, a McKinsey contava com cerca de 45 mil profissionais, um salto expressivo frente aos 34 mil de 2020. Hoje, esse contingente já teria recuado para algo próximo de 40 mil. A companhia insiste que a redução se deve a fatores “normais” — rotatividade natural e demissões baseadas em performance. Mas, nos bastidores, cresce a percepção de que o avanço da inteligência artificial, especialmente com o impacto de plataformas como o ChatGPT, está começando a corroer a base operacional dessas gigantes do aconselhamento corporativo. Afinal, se um algoritmo entrega diagnósticos estratégicos com agilidade e custo marginal zero, por que manter tantas pranchetas humanas em campo?
Curiosamente, a McKinsey escapou, até agora, dos efeitos mais visíveis do aperto nos contratos governamentais. Isso não se deve a mérito operacional, mas sim a um infortúnio jurídico: por ter se envolvido em escândalos relacionados à crise dos opioides, a empresa já estava excluída de muitos contratos públicos antes mesmo da atual repressão fiscal. Ainda assim, afirma que planeja contratar “milhares” de novos profissionais este ano. Se a McKinsey ainda tenta manter a fachada, seus concorrentes foram mais diretamente atingidos. A Deloitte, por exemplo, anunciou cortes em resposta ao fechamento de contratos federais promovido pelo Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), enquanto a Booz Allen Hamilton confirmou o desligamento de 7% do seu quadro. As empresas que tradicionalmente são chamadas para recomendar cortes agora se veem obrigadas a aplicar a receita em si mesmas.
Trata-se de um movimento que talvez antecipe uma mudança mais estrutural. As consultorias, que durante décadas viveram de otimizar o custo dos outros, parecem agora estar enfrentando seu próprio ajuste de eficiência. E, se vier uma desaceleração econômica mais severa nos próximos trimestres, o setor poderá descobrir que “conselhos estratégicos” não pagam a folha — pelo menos, não quando o cliente tem uma IA capaz de fazer o trabalho com menos burocracia, menos PowerPoint e mais velocidade. E estamos apenas no começo dessa revolução tecnológica.
· 04:18 — Economia da atenção
Pela primeira vez na história da publicidade digital, a receita oriunda de conteúdo e plataformas gerados por usuários superará, em 2024, os valores conquistados com produções profissionais — um marco que diz muito sobre o momento atual da economia da atenção. Em tempos de vacas magras, as marcas preferem a escala do Facebook a pagar fortunas por vitrines perfumadas. Não se trata apenas de contenção de despesas, mas de retorno prático: por mais que os orçamentos de marketing estejam encolhendo, a chamada “economia criativa” vai na contramão e ganha corpo.
É exatamente esse movimento que se desenha no Festival Internacional de Criatividade de Cannes Lions, um dos grandes palcos globais da indústria publicitária, que virou ponto de encontro entre executivos, agências e criadores de conteúdo. O clima não é mais de flerte distante com influenciadores — agora há uma clara disposição das marcas de sentar à mesa e negociar com quem realmente detém a audiência. A lógica é simples: em um mundo saturado de estímulos, a atenção virou a moeda mais valiosa. E, nesse contexto, o criador de conteúdo deixou de ser apenas uma peça da engrenagem para se tornar o motor principal.
Prova disso é a expectativa de que o mercado global de marketing de influência cresça 36% entre 2024 e 2025, atingindo US$ 33 bilhões. Trata-se de uma mudança estrutural na forma como as empresas constroem reputação e distribuem suas mensagens. O centro de gravidade saiu dos estúdios e agências tradicionais para migrar, de vez, para o celular de quem tem engajamento real. A economia da atenção, ao que tudo indica, não está apenas ganhando forma: ela está assumindo o comando.
· 05:04 — Protegendo a carteira
O ouro tem brilhado com intensidade fora do comum desde o início de 2024. A cotação saltou de pouco mais de US$ 2.000 para a casa dos US$ 3.400 por onça — um avanço que atropelou recordes históricos e, de quebra, destruiu a simbólica barreira dos US$ 3.000 pela primeira vez. A arrancada foi turbinada por uma combinação potente de fatores: inflação persistente, incerteza geopolítica, um apetite voraz dos bancos centrais por reservas e, claro, um dólar cada vez menos confiável como referência.
Com o metal precioso agora orbitando um novo patamar, não faltam apostas ousadas: