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Ações da B3 (B3SA3): vale a pena virar sócio da Bolsa Valores?

Entenda a tese por trás da empresa que se tornou central no mercado acionário brasileiro

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Data de publicação
29 de março de 2021
Categoria
Investimentos

As ações da nossa Bolsa de Valores, a B3 (B3SA3) são indicadas em várias séries da Empiricus, como As Melhores Ações da Bolsa, Carteira Empiricus, Empiricus FIRE® e Palavra do Estrategista, consagrando-se entre nossos analistas que lideram os relatórios (Max Bohm, João Piccioni, Rodolfo Amstalden e Felipe Miranda, respectivamente).

Neste artigo, vamos discorrer sobre o que nunca te contaram acerca desse negócio e da B3, além de dissecar a tese de investimento desse ativo. Para facilitar a sua leitura, dividimos o conteúdo nos seguintes tópicos:

As origens das Bolsas de Valores

As Bolsas de Valores, atualmente, são mercados complexos e robustos que possibilitam a negociação de ações de empresas e outros valores mobiliários, como opções. Por meio delas, você pode, por exemplo, comprar BKBR3 e se tornar sócio de Jorge Paulo Lemann.

Ainda é possível realizar movimentos mais sofisticados, como pegar emprestado a ação de uma empresa da própria Bolsa de Valores e lucrar com a sua desvalorização (short selling), ou seja, o oposto do tradicional. Tratam-se, portanto, dos maiores e mais aperfeiçoados mecanismos de investimento quando o assunto é renda variável.

Mas nem sempre foi assim.

Ao rastrear as origens desse mercado, voltamos ao século XV e encontramos negócios com funções e possibilidades mais modestas, resumidas na compra e venda de moedas, letras de câmbio e metais preciosos.

O próprio nome pelo qual conhecemos essas empresas hoje, “bolsas”, foi adotado de forma rudimentar, improvisado.

Na Bélgica, em 1487, a casa de um tal Van der Burse servia como ponto de encontro para mercadores e comerciantes negociarem as moedas, letras de câmbio e metais preciosos. Acontece que as casas, naquele tempo, eram identificadas pelos símbolos estampados em sua fachada e, no caso de Van der Burse, o brasão familiar era composto por três bolsas.

Eis o brasão da família de Van der Burse

Algum tempo depois, a Companhia Holandesa das Índias Orientais criou a Bolsa de Valores de Amsterdã e começou a captar recursos para financiar suas navegações, marcando, finalmente, a inauguração das ações como conhecemos hoje.

Assim, ainda que tenham surgido de origens humildes e com um nome improvisado, as Bolsas de Valores provaram sua relevância com o tempo e se mostraram ótimas ferramentas para resolver situações problemáticas, como a captação de recursos para nutrir uma empresa e a multiplicação do seu patrimônio.

Pelas Bolsas, muitas empresas prosperaram e desenvolveram a economia de seus países e do mundo, desde a Companhia Holandesa das Índias Orientais até a Apple (AAPL34); assim como inúmeras pessoas enriqueceram aproveitando essas dinâmicas.

A trajetória da B3

A nossa Bolsa de Valores é fruto da consolidação do mercado de capitais brasileiros. Isso significa que os maiores players desse segmento passaram por fusões até formarem a conhecida B3, que significa Brasil, Bolsa e Balcão.

A primeira união aconteceu em 2002, quando a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro (que negociava títulos públicos) foi incorporada pela BM&F (onde se negociavam contratos futuros). Em 2008, outra fusão, dessa vez envolvendo a BM&F e a Bovespa (onde se compravam e vendiam ações), criando a BM&FBovespa e… paralisando esse mercado.

Rodolfo nos explica.

No mundo dos investimentos, a BM&FBovespa era uma empresa nada apreciada, uma vez que se encontrava “sentada num monopólio com margens elevadas e alta conversão EBITDA/caixa”, aponta Rodolfo.

Em termos práticos, nosso sócio aponta que “foram anos e anos de baixo crescimento no volume de negociação, perdendo vergonhosamente do fluxo incessante dos brasileiros correndo para os braços da poupança”.

Até que a oportunidade de ouro surgiu.

A companhia tinha 5% da Chicago Mercantile Exchange (CME), que viu seus papéis dispararem entre 2014 e 2016. Em certo ponto, esses 5% chegaram a representar quase 30% do valuation da BM&FBovespa.

A pressão que os investidores impunham era que o management vendesse a participação e investisse no crescimento do mercado brasileiro.

Mas foi uma luta.

Nos primeiros momentos, a BM&FBovespa não fez nada além de resistir e dar desculpas. No entanto, quando a CME decidiu desinvestir ativos na América Latina, a gestão da empresa brasileira não podia mais evitar.

A coragem surgiu e a venda da participação trouxe uma quantia exorbitante para o caixa da companhia, que decidiu utilizar o capital para comprar a CETIP, única central depositária de balcão do país na época, responsável por todas as emissões de títulos de renda fixa no mercado brasileiro.

Finalmente, irrompe a B3 que conhecemos atualmente.

Aliando a infraestrutura das três empresas que a formaram, nossa Bolsa de Valores superou as dores de crescimento enfrentadas antes da última fusão e se configura como um player gigantesco nesse segmento, até agora sem oponentes em território nacional.

O cenário macroeconômico recente — a queda estrutural dos juros no Brasil — também ajudou a empresa a prosperar, uma vez que incentivou uma migração massiva de recursos para o mercado de ações.

Em números, vimos a marca de três milhões de CPFs ser superada em 2020, ou seja, houve um crescimento de 82,37% em relação a 2019. Além disso, “há alguns anos, era completamente impensável entre os investidores que a Bolsa pudesse negociar mais de R$ 5 bilhões ao dia, começa Rodolfo, mas, “na semana passada, a B3 divulgou os resultados do 4T20, com volume financeiro médio diário negociado de R$ 31,5 bilhões”, ele conclui.

Antes de entrarmos nos bastidores da B3 enquanto negócio, vale ressaltar o alerta do Rodolfo: o crescimento foi excelente, mas “não imaginamos que esse ritmo irá se sustentar para sempre, nenhuma árvore cresce até o céu”.

O negócio chamado B3

Revelamos que a B3 é um mercado de capitais sofisticado e, portanto, se você achava que ela era apenas uma plataforma de negociação e custódia de ações, precisamos admitir que cometia um ledo engano.

Abaixo, todos os serviços executados pela B3:

Fonte: B3 S.A.

Para sintetizarmos essa estrutura, podemos entender o segmento Listado como o mercado tradicional de renda variável, onde as ações das empresas são listadas e negociadas; o Balcão como o mercado de renda fixa e outros ativos que não são negociados no segmento anterior; em Infraestrutura para Financiamento temos serviços mais exóticos, como o gravame (registro de veículos financiados); e em Tecnologia, Dados e Serviços, encontramos a disponibilidade de dados estratégicos para players que analisam o mercado financeiro.

Antes de prosseguirmos, vale um detalhamento sobre o Balcão: nesse espaço, as empresas podem acessar o mercado acionário sem, necessariamente, assumir todos os requisitos e custos da Bolsa de Valores — o que não significa que essa dinâmica não é supervisionada e fiscalizada — e, dessa forma, negociam diretamente com os interessados na compra.

Bom, ao analisarmos as linhas de negócio da B3, podemos aferir que ela se tornou central no mercado de capitais brasileiro, realizando a gestão até mesmo do Tesouro Direto, do Governo Federal.

A companhia registrou uma receita de R$ 8,5 bilhões em 2020 e, por meio do breakdown, descobrimos de onde vem o dinheiro:

  1. O segmento Listado gerou 70% (47% na negociação, compensação e liquidação de renda variável, 23% na liquidação e compensação de transações internacionais);

  2. O segmento Balcão gerou 15%;

  3. O segmento Tecnologia, Dados e Serviços gerou 11% no fornecimento de sistemas e dados; e

  4. O segmento Infraestrutura para Financiamento gerou 9% no registro de compra e venda de veículos.

Na próxima seção, vamos entender se há dados e informações que sustentem uma tese atrativa para a compra de B3SA3.

Vai crescer?

Aqui na Empiricus, entendemos que o Brasil se encontra num momento de financial deepening, ou seja, um processo estrutural no qual países emergentes (nós, aqui) se desenvolvem profundamente no aspecto financeiro.

Na prática, isso se traduz numa transição massiva da renda fixa para a renda variável e a criação de cada vez mais produtos financeiros.

Todos nos beneficiamos disso, mas a B3 pode se permitir um sorriso mais largo.

A diáspora brutal para a Bolsa de Valores que acompanhamos em 2020 continua com força total, sendo mais de 370 mil novos CPFs na B3 apenas em janeiro de 2021. Não obstante, a sofisticação dos investimentos se deu, no último ano, por meio da democratização dos BDRs e ETFs internacionais.

Em síntese, mais autonomia para os investidores e mais dinheiro para a B3.

Essa mudança de perfil de investidor nas pessoas, aliada com as perspectivas econômicas de longo prazo — renda fixa menos atrativa — indicam uma boa e duradoura avenida de crescimento para a B3 (B3SA3).

Além disso, apostamos no crescimento dos IPOs.

Tais operações não geram receitas significativas para a Bolsa de Valores (entre 1,5% e 2% de um trimestre), mas expandem “o universo de empresas investíveis”, aponta Rodolfo.

Ele explica que a B3 é pequena e uma parcela ainda menor de empresas “possuem liquidez para investidores institucionais e, principalmente, estrangeiros”. Assim, novos nomes chegando ao mercado financeiro “abre caminho para um fluxo consistentemente maior e, dessa forma, vemos mais upside na negociação dessas companhias do que nos seus IPOs propriamente ditos”, conclui.

Em 2021, vimos 13 novas empresas na Bolsa e 31 companhias na fila até o momento.

As expectativas do mercado, no entanto, enxergam esse ano como pior do que o anterior — “um ajuste natural numa das empresas que mais cresceram no ano passado”, tranquiliza Rodolfo. A concretização do upside é vista para 2022 e os anos subsequentes, quando o mercado espera que a B3 volte aos seus níveis históricos com receitas expandindo-se entre 7% e 8% ao ano.

Ter B3SA3 apenas em 2022 pode ser tarde demais para surfar na tese

Fonte: Bloomberg | Elaboração: Empiricus

Para sermos justos, também enxergamos um ponto de atenção que pode ser bastante negativo para a B3 no futuro de médio prazo. Trata-se, numa palavra, da competição.

As maiores empresas do segmento se uniram para formar a B3 e, portanto, essa se configura como um monopólio do mercado de capitais. Por um lado, nos beneficiamos disso porque há estabilidade para a companhia, mas, por outro, tememos ao ver interesse regulatório em trazer concorrência ao segmento.

Nossos analistas apontam que, apesar do temor justificado, “é uma conversa que existe há anos, mas até agora não mostrou força em sair do papel”.

Além disso, não será tão fácil desbancar a B3, pois atuar no mercado de capitais envolve custos elevados, regulação e uma estrutura de T.I complexa, ou seja, há barreiras consideráveis que dificultam a entrada — e prosperidade — de novos players no setor.

Conclusão

Nessa altura do campeonato, compreendemos que a B3 carrega um papel social importante e está perfeitamente posicionada — porque não tem mais ninguém nessa praia — para aproveitar a totalidade do financial deepening.

Assim, mais investidores, mais empresas, mais dinheiro e, novamente, mais investidores: eis o ciclo virtuoso que impulsiona a Bolsa de Valores.

Podemos nos engajar nessa dinâmica e lucrar com ela ao “participar, indiretamente, de todas as novas histórias vindouras por meio de um peso relevante em B3SA3”, recomendam nossos analistas.

Além disso, contamos com excelentes dividendos na casa dos 3% e 4% ao ano.

Por meio dessa tese, portanto, concluímos que vale a pena comprar as ações da B3 (B3SA3) e, assim, a nossa sugestão, aqui na Empiricus, é que você aproveite o pessimismo momentâneo do mercado acerca desse ativo e preencha uma fatia do seu portfólio com ele.