Analista faz 5 previsões para o mercado internacional em 2023; confira
O analista João Piccioni revisita o cenário de 2022 e faz 5 previsões para o mercado internacional em 2023

Antes de apresentar nossas previsões para 2023, faço questão de voltar ao nosso cenário de 2022, cuja estruturação foi baseada no tradicional relatório “As dez surpresas para o ano” dos reconhecidos Byron Wein e Joe Zidle, diretores seniores da Blackstone.
Das seis proposições que escolhi explorar à época, somente uma podemos considerar acertada: a correção do índice S&P 500 ao redor dos 20%.
O início de 2022 foi marcado por uma expectativa relativamente positiva para os mercados globais. Apesar de incômoda, a dinâmica inflacionária ainda era algo compatível com a hipótese da transitoriedade, e a visão da maior parte dos economistas de plantão era de que o aperto monetário dos grandes Bancos Centrais não seria tão elevado.
A verdade é que Wein e Zidle estavam relativamente otimistas. Em suas previsões, a inflação sob a ótica do CPI não ficaria acima dos 4,5%, e o FED não subiria os juros básicos além dos 1,25%, levando o título de 10 anos para a casa dos 2,75%. Sob essas premissas, estimaram um avanço do ouro de mais de 20% e a retomada da China, que por sua vez, empurraria o petróleo para a casa dos US$ 100.
Logicamente, os eventos exógenos ocorridos em 2022 não fizeram parte do cardápio de expectativas. Ninguém esperava o avanço da Rússia sobre a Ucrânia e a ruptura das cadeias de commodities advindas daí. E tampouco se esperava a manutenção da política de Covid zero na China ao longo de todo o ano. É impossível dizer se a supressão de tais eventos teriam influenciado o macro vetor. Levando em consideração o viés de retrospectiva, parece que o destino dos mercados globais não teria sido muito diferente.
O efeito chicote (bullwhip effect) é natural dos ciclos econômicos. As economias globais apresentaram forte desempenho em 2021, calcadas nos estímulos fiscais e monetários exagerados. A resposta veio no avanço da inflação.
O que foi se descobrindo em 2022 é que a causa inflacionária, antes atribuída à constrição da oferta, na verdade, se deveu aos avanços da renda nominal dos consumidores. Ou seja, ao subir juros e frear a expansão do seu balanço, o Fed, aparentemente, segue a cartilha correta para conter os preços. A identificação tardia dessa proposição, no entanto, é o que deve levar as economias desenvolvidas para a recessão no final de 2023.

As 5 previsões para 2023
Com esse pano de fundo, traçamos o nosso cenário base para o ano. Apesar de amedrontador em uma primeira leitura, também guarda consigo tons auspiciosos.
De forma resumida, nossas cinco principais previsões para 2023 são as seguintes:
- Os índices S&P 500 e Nasdaq parecem incapazes de repetir o desempenho do biênio 20-21, mas não espero resultados amplamente negativos, como vimos em 2022. Uma valorização na casa de um dígito para o S&P 500 parece algo condizente com o cenário atual. O processo, no entanto, promete ser tortuoso: o S&P 500 deve fazer o seu fundo no segundo trimestre do ano.
- Os títulos públicos americanos parecem uma boa pedida para o ano. Em especial, aqueles com vencimento mais distantes. Se a economia caminhar para a recessão, a tendência é de que as taxas dos vencimentos mais distantes continuem a fechar (cair). Esperamos que as taxas de 10 anos se aproximem novamente dos 2,85%, faixa superior do desvio-padrão da média dos últimos dez anos.
3. O ouro e os metais preciosos, de forma geral, voltarão a ser boas apostas para 2023. A recessão que se avizinha voltará a comprimir as taxas de juros reais de longo prazo, trazendo de volta a atratividade dessas commodities. Se os juros reais de longo prazo caminharem para a marca do 1%, o ouro provavelmente voltará a superar a marca dos US$ 2 mil onça-troy.
4. Não está dentro das nossas previsões a queda acentuada do preço do petróleo. A hipótese que sustenta a tese de manutenção dos preços nos patamares atuais é a mesma do ano passado: restrição de oferta. Por outro lado, não existe força de demanda suficiente para levar os preços para cima. A não ser que outro choque surja no radar, ou que a recessão se torne ainda mais forte do que o esperado, os preços do petróleo WTI devem ficar próximos aos US$ 80 no final do ano.
5. O dólar deve se manter forte frente às demais moedas dos países desenvolvidos (DXY > 100). Essa proposição é compatível com o cenário de recessão econômica e de juros de curto prazo mais elevados nos EUA. A exceção talvez seja a moeda japonesa, que por conta das possíveis mudanças no arcabouço da sua política monetária, pode voltar a atrair capital (comentei sobre essa tese no Ride 276) e se valorizar frente ao dólar. Para as demais moedas (Euro, Franco Suíço e Libra Esterlina) superarem o dólar, seria necessário a manutenção do crescimento econômico da região mesmo com o aperto monetário do Banco Central Europeu. Dados os prognósticos dos países periféricos e da Itália, a probabilidade disto acontecer é muito pequena.
O ano de 2023 promete grandes surpresas. Não será nada fácil transitar pelas linhas tortas das incertezas da política monetária dos grandes bancos centrais e, também, da macroeconomia. Entretanto, aos poucos, o cenário ganhará contornos mais claros. Estaremos preparados para quando esta hora chegar. Vamos em frente!
- A Empiricus Investimentos, corretora com mais de R$ 13 bilhões sob custódia, está oferecendo relatórios gratuitos com recomendações de investimentos em sua plataforma. Clique aqui para começar a receber.