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Berkshire Hathaway (BERK34): no frigir dos ovos, 2022 trouxe mais uma vitória para Warren Buffett; análise

Lucro dos segmentos operacionais aumentou 12,2% na comparação com o ano anterior. Por outro lado, carteira de investimentos não escapou do cenário macro; veja os números

Por Enzo Pacheco, CFA

27 de fevereiro de 2023, 12:14

Warren Buffet Berk34 Berkshire Hathaway

No final de semana, a Berkshire Hathaway (B3: BERK34 | NYSE: BRK/B), comandada por Warren Buffett e Charlie Munger, divulgou seus resultados ao ano de 2022 — juntamente com a tão esperada carta anual aos acionistas, leitura tido por muitas como obrigatório para buscar insights importantes a respeito dos próximos passos de um dos melhores investidores de todos os tempos.

Importante lembrar que a Berkshire Hathaway não é apenas uma carteira de ações escolhida por Buffett e Munger, e sim um conjunto de negócios que o próprio megainvestidor gosta de dividir em quatro partes principais: a parte de Seguros, a de Energia, a de Transporte e a participação que a companhia possui na Apple (B3: AAPL34 | Nasdaq: AAPL).

No ano passado, o lucro dos segmentos operacionais da Berkshire totalizou US$ 30,793 bilhões, aumento de 12,2% na comparação com o período anterior. Os principais vetores de crescimento da linha final de resultado foram as linhas de Seguros (+15,5% vs. 2021), Manufatura, Serviços e Varejo (+12,5%) e Utilities e Energia (+9,3%).

Lucro operacional anual por segmento operacional da Berkshire Hathaway | Fontes: Berkshire Hathaway e Empiricus

Cenário macro não aliviou e carteira de investimentos perde US$ 53 bi

Por outro lado, o resultado da carteira de investimentos da Berkshire não escapou do sentimento ruim para os ativos financeiros em 2022, resultando em uma perda de mais de US$ 53,6 bilhões no último ano (ante ganhos de mais de US$ 62,3 bilhões reportados em 2021).

Ganhos (perdas) anuais com investimentos e derivativos da Berkshire Hathaway | Fontes: Berkshire Hathaway e Empiricus

Até por isso, na carta para os acionistas, Buffett reforçou a ideia de que os investidores devem se preocupar com os resultados operacionais de suas companhias, e não com o número final que engloba as variações de mercado de sua carteira de ações — que, por uma questão contábil, tem que ser marcada a mercado, gerando grande volatilidade no resultado final da holding.

Lucro operacional e lucro líquido (de acordo com os princípios contábeis aceitáveis nos Estados Unidos) trimestral da Berkshire Hathaway | Fontes: Berkshire Hathaway e Empiricus

E mesmo a parte mais volátil do negócio tem que ser visto com uma visão de longo prazo, com investimentos em companhias que possuem características que consigam se adaptar diante de qualquer cenário macroeconômico (e se beneficiar), além de contar com profissionais confiáveis para manter essas empresas no caminho certo. 

Segundo Buffett, ele e Munger não são “stock-pickers” (profissionais focados na escolha de ações), e sim “business-pickers” (focados nos negócios das companhias que investem).

E essa característica de diversificar a Berkshire em negócios resilientes nos mais diversos ramos da economia americana mais uma vez resultou em uma vitória para Buffett em relação ao mercado: em 2022, enquanto o S&P 500 se desvalorizou 18,1% (considerando dividendos recebidos no período), as ações da Berkshire Hathaway se valorizaram 4%.

Berkshire Hathaway: otimismo para 2023

E as perspectivas para os próximos anos seguem positivas.

Isso porque 2022 deu a oportunidade para Buffett finalmente colocar parte dos mais de US$ 100 bilhões que a Berkshire possuía em caixa para realizar novos investimentos — algo que o mercado já se questionava há algum tempo quando ocorreria.

Uma das principais aquisições feita pela holding no ano passado foi a compra da Alleghany Corporation, uma seguradora com atuações no mercado de seguros de propriedades e de casualidades. Com essa transação, os recursos de float (aqueles que ficam de posse da seguradora entre o recebimento do prêmio da apólice até o eventual pagamento do valor segurado) passaram de US$ 147 bilhões para US$ 164 bilhões.

E, seguindo as melhores práticas para subscrever novas apólices, a chance de que esses recursos sejam uma fonte de captação sem custos para a Berkshire (e que gere retorno para seus acionistas) são grandes, dado o histórico de disciplina das empresas desse segmento no negócio: desde 1967, o float da holding cresceu mais de 8 mil vezes por meio de aquisições, melhoria de suas operações e inovações. Ainda que esses valores não passem pelos demonstrativos financeiros da companhia, eles tem sido de suma importância para o crescimento da Berkshire Hathaway como um todo.

Além disso, a companhia também realizou aquisições interessantes em empresas listadas, sendo a mais notável dela a compra das ações da Occidental Petroleum (NYSE: OXY), que hoje representam uma posição de aproximadamente US$ 11 bilhões na petroleira (cerca de 20% do valor de mercado da companhia). E não deve ficar só nisso. Em meados do ano passado, a holding recebeu a autorização para deter até 50% da Occidental.

BERK34: preço atrativo e a segurança de ser sócio de Warren Buffet

Considerando que ao final de 2022 a carteira de ações da Berkshire totalizava quase US$ 309 bilhões, e a holding está avaliada em US$ 668 bilhões, significa que todas as outras operações da companhia estão avaliadas em 11,5 vezes a 12,5 vezes seus lucros operacionais.

Um preço atrativo para se tornar sócio de um dos maiores investidores de todos os tempos em um mercado ainda muito incerto pela frente – ainda uma tese válida nas nossas séries Investidor Internacional e Carteira Empiricus.

Sobre o autor

Enzo Pacheco, CFA

Formado em Administração pela Universidade Federal do Espírito Santo e pós-graduado em Operador de Mercado Financeiro pela FIA. Desde 2017 atua na análise dos mercados internacionais na série da Empiricus voltada a este propósito (MoneyBets).