Investimentos

Como o governo de Milei, na Argentina, poderia beneficiar Raízen (RAIZ4)?

Desde 2018, a companhia tem 10% de seu Ebitda em uma operação argentina da Shell. Veja como ela pode ser influenciada pela eleição de Javier Milei

Por Nicole Vasselai

21 nov 2023, 15:19 - atualizado em 21 nov 2023, 15:19

Raízen (RAIZ4)
Imagem: Divulgação/ Raízen

No último domingo (19), Javier Milei, candidato de direita, foi eleito presidente da Argentina. Com essa mudança na política argentina, segundo a analista Larissa Quaresma, da Empiricus Research, a Raízen (RAIZ4), que possui operações em terras argentinas pode se beneficiar depois de ver seus retornos se esvaírem diante da conjuntura econômica preocupante nos últimos anos.

Raízen entrou na Argentina em 2018

Tudo começou em 2018, quando a Raízen pagou US$ 950 milhões pela operação argentina da Shell, incluía tanto uma refinaria de produção de óleo quanto uma rede de distribuição com mais de 1200 postos de combustíveis.

Pouco depois da aquisição, a Argentina começou a entrar em um ciclo de inflação e juros crescentes.

Hoje, a parcela argentina corresponde a 10% do Ebitda da Raízen. “Não é uma fatia grande o suficiente nem para afundar a companhia caso a operação de lá dê errado, nem para explodir em sucesso caso dê muito certo”, pondera Larissa.

Operação verticalizada é diferencial

“Essa operação verticalizada, de produzir o combustível e distribuir, dá para a companhia a vantagem de ter uma margem ‘muito gorda’, que permite protegê-la contra desvalorização cambial e mesmo caso não consiga repassar a inflação em seus preços – o que hoje ela consegue”, explica a analista. Para ela, esse é um dos fatores que têm ajudado Raízen a atravessar o momento econômico conturbado.

Outro ponto positivo, segundo ela, é a característica mais “racional” do mercado de combustíveis argentino, justamente devido ao cenário inflacionário. “Os competidores de Raízen lá trabalham com remarcação de preço bem constante, bem pareado com a inflação. Isso viabiliza os ajustes constantes de preços, que são necessários para repassar os custos da inflação”.

Ela destaca, ainda, a ausência de postos “bandeiras branca” na Argentina, muito comuns em território brasileiro. “São aqueles postos menores, principalmente de interior [do Brasil], que não são representados por bandeiras como Shell, BR ou Ipiranga. Eles costumam ter estrutura tributária facilitada e muitas vezes não pagam todos os impostos, trazendo uma competição desleal para o mercado brasileiro; enquanto na Argentina é muito mais incomum isso”.

Por último, segundo Larissa, Raízen faz uma gestão inteligente de sua dívida, em termos de câmbio. “A dívida é tomada em peso argentino, mas vendida em dólar. Isso significa que no passivo, a companhia tem uma desvalorização cambial, versus uma receita que, contra o peso, sempre aumenta”.

Raízen poderia se dar bem no governo Milei?

Antes de responder à pergunta, Larissa ressalta que só a partir do dia 10 de dezembro de 2023 Javier Milei assume o cargo de presidente da Argentina, e que ainda não se sabe exatamente qual política econômica ele irá adotar.

“Tomando como linha mestra essa ideologia mais para a direita, até para uma direita radical, ele deveria caminhar no sentido de liberalização da economia, livre mercado, menos intervenção do governo na economia”, contextualiza Larissa.

Segundo ela, se essa linha for seguida, uma importante restrição para empresas poderia deixar de existir. “Existe uma regra, há uns três anos, que diz que empresas que operam Argentina não podem retirar de lá o lucro gerado por elas e são obrigados a reinvestir no país, numa moeda que perde valor dia após dia. Se essa norma acabasse, poderia destravar bastante valor para Raízen, nem que o lucro fosse usado na própria operação de lá, no sentido de importar equipamentos para refinaria, por exemplo, ou modernização e manutenção dela”.

Para finalizar, Larissa acredita que Raízen tem boas avenidas de crescimento à frente, ainda pouco refletidas no preço da ação. Um diferencial, ela cita, é o fato de a companhia ser a única a produzir etanol de segunda geração, um tipo bem menos poluente, e vender em escala comercial no mundo todo por um prêmio interessante.

Na hora de investir, porém, a analista recomenda mais o papel de Cosan (CSAN3), que é a co-controladora de Raízen junto da Shell. “[A ação de] Cosan tem um desconto de holding na ordem de 30% em relação às subsidiárias, então vale mais a pena“.

Sobre o autor

Nicole Vasselai

Editora do site da Empiricus. Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero, com MBA em Análise de Ações e Finanças e passagem por portais de notícias e fintechs.

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