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Eletrobras (ELET6) e Eneva (ENEV3): clima favorável para as ações do setor elétrico vem aí?

ONS espera nível de chuva abaixo da média histórica no período úmido, o que deve ajudar na normalização dos preços da energia elétrica; entenda

Por Juan Rey

22 de janeiro de 2024, 16:48

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Em seus relatórios semanais, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) tem divulgado perspectivas de chuva abaixo da média histórica para o período úmido, entre dezembro a abril, em grande parte do país. E isso pode ser boa notícia tanto para a Eletrobras (ELET6) quanto para a Eneva (ENEV3).

Nos últimos anos, os altos níveis de chuva mantiveram os reservatórios do sistema elétrico cheios. Isso se traduz em sobra de energia armazenada e queda no preço de mercado da energia elétrica.

Consequentemente, as ações do setor tendem a se desvalorizar, já que o valor da energia interfere diretamente no cálculo do valuation dessas companhias

Como se não bastasse, outros fatores negativos pesaram sobre as empresas do setor e formaram – literalmente – a tempestade perfeita para os papéis, acrescentou o analista da Empiricus Research, Ruy Hungria. “Foi uma combinação de muita chuva, muita água nos reservatórios, pouca demanda de energia e outras fontes renováveis entrando em operação. Isso causou um desequilíbrio entre oferta e demanda”.

Com isso, o preço da energia, que há poucos anos estava entre R$ 150 megawatt-hora (MWh) e R$ 180/MWh, caiu para menos da metade desse valor. “Isso afetou várias companhias do setor elétrico, principalmente as geradoras. No caso das distribuidoras e transmissoras, não têm tanto impacto”, afirmou o analista

Sinais de melhora para o setor elétrico

Agora, os dados da ONS indicam uma diminuição das perspectivas de chuva e, consequentemente, um menor nível dos reservatórios

Isso se dá pelos efeitos do fenômeno climático El Niño, que traz muita chuva à Região Sul e maior seca nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte, onde estão os principais reservatórios.

Além disso, a onda de calor nessas regiões provoca picos na demanda por energia – principalmente por conta do ar condicionado – e um maior casamento entre oferta e demanda, o que pode contribuir para a “volta” do preço da energia.

“Inclusive já vimos o preço da energia acima dos R$ 100 nas últimas semanas, o que já é uma boa notícia. Entendemos que o normal seria mais do que isso, mas já não é mais o valor que vimos no meio do ano passado”, avaliou Hungria. 

É claro que tentar prever o nível de chuva no Brasil já se mostrou um desafio ao longo dos anos, mas a união de todos esses fatores negativos ao mesmo tempo é algo atípico, na visão do analista.

“Pode ser que as previsões estejam erradas e a gente volte a ver muita chuva, os reservatórios voltem a encher muito e a gente não tenha mais onda de calor. Mas estamos em um momento com tantas coisas jogando os preços para baixo que qualquer normalização deveria fazer esses preços terem muito mais upside. Os níveis de preço hoje me parecem mais próximos do piso do que de um eventual teto”.

Eletrobras e Eneva são recomendadas para capturar a possível virada do setor

Com isso, o cenário tende a ser mais favorável para as empresas do setor, e, mais especificamente, às do segmento de geração.

Neste contexto, as ações recomendadas pela Empiricus Research são Eletrobras (ELET6) e Eneva (ENEV3). “São empresas que o mercado está precificando com base em preços de energia muito baixos por muito tempo”, apontou Hungria.

O analista explica que, quando foi privatizada, a Eletrobras ganhou o direito de vender a energia de acordo com o preço de mercado – o valor era limitado anteriormente.

“O problema foi que isso aconteceu no mesmo tempo em que o preço da energia desabou por conta desses fatores. Foi um azar. Com a recuperação dos preços, ela vai conseguir vender essa grande quantidade de energia descontratada a preços muito melhores, e isso tem sensibilidade muito grande no preço da ação”, afirmou Ruy Hungria.

Já a Eneva sofreu não só pelo baixo preço da energia, mas também com os níveis elevados de seus reservatórios, que não demandavam grande geração termelétrica.

“O contrato de receita das termelétricas é dividido em dois: uma receita fixa que ela recebe sem gerar energia, só pela disponibilidade do sistema, e a receita variável recebida quando gera energia através do despacho contratado pela ONS. A grande geração de caixa da Eneva vem de quando ela é despachada”, explicou o analista.

Como a companhia não estava tendo essa fonte de receita variável, as ações sofreram na Bolsa. Mas, com o cenário de queda nos reservatórios, a Eneva tende a se beneficiar. 

Sobre o autor

Juan Rey

Jornalista pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Contato: juan.rey@empiricus.com.br