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Estímulos fiscais X inflação nos EUA: “A situação não é sustentável. O mercado está com medo e com razão”, diz Luiz Fernando Figueiredo, CEO da Mauá Capital no RadioCash

Em conversa no podcast da Empiricus e da Vitreo, o economista comenta sobre o temor com a inflação nos Estados Unidos e fala também sobre a disputa eleitoral de 2022 no país, a possibilidade de reformas, entre outros assuntos de mercado.

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Data de publicação
1 de junho de 2021
Categoria
Investimentos

Na avaliação de Luiz Fernando Figueiredo, sócio-fundador e CEO da Mauá Capital, gestora de recursos independente, há incertezas rondando o ambiente macro dos Estados Unidos

É fato que o governo americano quer garantir a retomada da economia e resolver a questão do desemprego a todo custo – tem injetado trilhões de dólares para isso – e o FED, Banco Central  dos EUA, se manifestou comprometido em não mexer nos juros nos próximos trimestres. O problema, segundo o economista, consiste  em não se basearem em uma dinâmica de crescimento diferente daquela que prevaleceu historicamente. 

“O risco crescimento, ele não está associado a uma situação de crescimento normal, mas sim, a uma pandemia. Se ela for embora, esse risco é muito baixo. Então, se houver retorno à normalidade, esses estímulos terão que ser muito menores”, explicou o economista e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central no último episódio do RadioCash, podcast da Empiricus junto com a Vitreo

Para ele, a  preocupação com a alta acentuada da inflação é fundamentada e a política fiscal adotada precisa ser melhor dimensionada: “A situação de hoje não é sustentável. Então, o mercado está com medo e com razão”, ressaltou.

Para o CEO da Mauá, será necessário um balanceamento – aumentando os impostos ou diminuindo esses estímulos fiscais. A insistência em estímulos maiores do que o necessário pode gerar problemas no futuro. “Eu estou preocupado com essa questão dos Estados Unidos. É um lugar onde se meteram e que eu não sei como vão sair”, comentou. Porém, se nada for feito, isso poderá “dar problema lá na frente”. 

Mas ajustes serão feitos nos EUA?

Luiz Fernando Figueiredo acredita que alguns ajustes serão feitos na política econômica dos EUA, porém, o que não se sabe é quando. “A turma do FED não ficou burra de dois anos para cá, nem a Janet Yellen, a secretaria do Tesouro jogou fora tudo o que aprendeu em teoria econômica. Assim, eu acredito que eles não vão deixar a gente se jogar no precipício.”

Conforme ele, o contexto é de tantas incertezas que muitas pessoas chegam a dizer que o que está acontecendo é uma espécie de experimento e que uma hora a situação vai explodir – o que ele rebate frontalmente. “Eu não acredito nisso. Aliás, os economistas, muitas vezes projetam isso, mas não que as projeções estejam erradas, é porque tem um momento em que é preciso sair da teoria econômica e entrar na política econômica. E na questão da política econômica, toda ação deve ter uma reação”, destacou. Portanto, alguma hora FED e governo americano  terão que mexer em alguma coisa. 

E o cenário brasileiro? 

Logicamente, o entrevistado do RadioCash não deixou o cenário macro do nosso Brasil de lado. Ele comentou a postura adotada pelo Banco Central na pandemia. “Eu acho que o plano de voo do Banco Central foi tentar não atrapalhar a economia, que já estava indo muito mal, né? O problema foi que nós flertamos tanto com o insustentável nos últimos dez meses, que tivemos choques demais. Esses choques das commodities resultaram em uma inflação muito mais alta”, afirmou Luiz Fernando Figueiredo. Segundo ele, esse foi o contexto para que a Selic entrasse em uma trajetória de alta. A projeção da Mauá para inflação em 2021 é de 5,5%. 

O CEO da Mauá disse que continua cético em relação ao andamento das privatizações.  Já as reformas administrativa e tributária são factíveis até certo ponto, pois o ministro da Economia, Paulo Guedes, tem perdido adeptos. “Eu vejo um governo com duas caras. Tem uma turma a favor das reformas, que é a do Paulo Guedes, e um outro grupo que é contra.  E o Congresso, por mais que seja de centrão, tem uma agenda que é de reformas. Então, é possível avançar em alguma coisa, mas não falo aqui de grandes reformas e, sim, de pequenos ajustes”, disse. 

Mesmo que saiam pequenos ajustes e reduções de despesas administrativas, ele considera que o país não terá como escapar de um aumento da carga tributária

Figueiredo ressaltou ainda que, mesmo com tantos desafios no país, a relação entre a dívida e o Produto Interno Bruto (PIB) está com um comportamento razoável. “Há seis meses, havia quase uma unanimidade em dizer que a Dívida/PIB iria explodir, ou seja, que iria passar de 110% ou chegar a 120%. Hoje, os economistas mais pessimistas não acham que a dívida vai bater em 100% do PIB.“

No podcast, ele aproveitou para falar como a Mauá Capital está posicionada. Em linhas gerais, a gestora montou posições no real – especificamente operações de opções; investiu em títulos de renda fixa com prazos de 2025 a 2029 e ações de empresas associadas ao varejo e commodities. 

Política e economia de mãos dadas: as perspectivas para as eleições de 2022

Apesar de se falar tanto em um ambiente político polarizado no país, Luiz Fernando Figueiredo vê condições para o fortalecimento de uma terceira via na eleição presidencial de 2022

“Eu acho que por conta da alta rejeição ao Lula e ao Bolsonaro, a chance de um cara de centro aumentou”, disse.

Ainda que o mercado tenha embarcado, a princípio, na história que as alternativas reais são somente o candidato do PT ou o atual presidente da República, na avaliação de Figueiredo, há uma probabilidade de 30 a 35% de não ser nenhum dos dois. 

Porém, para que uma terceira tenha sucesso, serão essenciais negociações entre partidos e lideranças em torno de um projeto. “Se não houver acordo, uma concentração geral, daí serão vários candidatos. Se em vez de dois, tivermos cinco candidatos, não haverá chance, daí estamos fritos”, ressaltou. 

Conforme ele, ainda não há clareza do que está por vir. Aparentemente, os ex-ministros Sergio Moro e Luiz Henrique Mandetta estariam dispostos a abrir mão de uma possível candidatura para unificar em uma pessoa só. Outros prováveis candidatos seriam o Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, e o João Dória, governador de São Paulo. “Em relação ao João Doria, ele tem um jeitão, não larga o osso nem a pau”, comentou.  

Mesmo em um cenário complexo, o CEO da Mauá acredita que dá tempo de trabalhar em uma boa candidatura. “A maioria do Brasil é de centro”, destacou. 

Quer saber mais sobre o que rolou nessa entrevista? Ouça o Podcast RadioCash na íntegra aqui: