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Fluxo estrangeiro para a Bolsa brasileira prosseguirá: “Melhor uma democracia bagunçada do que autocracias”, diz Henrique Bredda

O sócio fundador da Alaska, bem como João Braga, sócio da Encore e Werner Roger, sócio da Trígono – três gestoras de fundos de ações que se destacam no mercado, veem fatores de atratividade de recursos ao país e fase positiva para Bolsa

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Data de publicação
28 de março de 2022
Categoria
Investimentos

O saldo dos investidores estrangeiros na Bolsa brasileira chegou a cerca de *R$ 90 bilhões nos três primeiros meses de 2022. Para se ter uma ideia da intensidade desse fluxo, ao longo de todo o ano passado, entraram R$ 140 bilhões, quando o volume anual foi recorde. 

A grande dúvida é se os investimentos gringos, em grande parte, se sustentarão por aqui. A resposta dos sócios da Alaska, Encore e Trígono, três gestoras de fundos de ações que se destacam pelo track record acima da média, é que sim, não se trata de mera especulação. Eles veem condições favoráveis para um movimento de retomada do mercado acionário. 

Em que pesem os conhecidos desafios políticos e econômicos do país, que já atravessou inúmeras crises, Henrique Bredda, da Alaska, avalia que os contratos e instituições vêm sendo respeitados ao longo do tempo. 

Por sua vez, a guerra entre Rússia e Ucrânia escancarou os aspectos negativos e a dificuldade de se fazer negócios em autocracias. 

“Melhor uma democracia bagunçada como a do Brasil do que autocracias como China, Rússia e Turquia. Por incrível que pareça, os contratos são respeitados aqui. Então, o Brasil é tudo que o investidor precisa, tem liquidez, commodities e bons ativos”, disse nesta segunda-feira (28/03) no debate sobre Renda Variável da Semana de Fundos Vitreo. O bate-papo foi conduzido por Rodolfo Amstalden, VP da Empiricus e Vitreo

Conforme Werner Roger, sócio e CIO da Trígono Capital, que antes de atuar na gestora teve passagem por bancos e empresas do mercado financeiro atendendo grandes investidores institucionais estrangeiros, o foco dos aportes costuma ser no médio e longo prazo. “Aprendi que, de modo geral, os investimentos são em papéis, em empresas e não em governos”, comentou, referindo-se também às eleições presidenciais. 

Roger destacou ainda que é difícil prever se os preços das commodities, que hoje têm gerado atratividade ao país, irão cair ou não, entretanto, o quadro mais provável é de persistência do desequilíbrio da oferta e cotações se sustentando em patamares elevados por um bom tempo. “Não acho provável uma baixa de preços assim tão cedo. Além da questão ESG que diminuiu investimentos em petróleo nos últimos tempos, tem o fator Rússia, que não será resolvido no curto prazo.” 

Os gestores avaliam que as commodities energéticas e agrícolas brasileiras têm espaço para avançar e suprir parte do gap aberto pelo conflito geopolítico. Enquanto a Rússia tem 11% do market share de petróleo, a Ucrânia é considerada o celeiro da Europa, o que modifica a dinâmica de comércio global desses itens.   

E mesmo diante de possível alívio nos preços das commodities, o cenário é positivo devido ao controle da inflação e queda dos juros internamente, com o consequente crescimento do PIB. “Quais emergentes restam? Quais são as opções? O Brasil tem um conjunto de fatores que os gringos gostam”, enfatizou o CIO da Trígono. 

Na avaliação de João Luiz Braga, sócio e analista da Encore Asset Management, o Brasil também está sob holofotes devido ao fato de os Estados Unidos começarem a desestimular a economia, promovendo um ciclo de aperto monetário. “Quando lá fora fica ‘morno’, o dinheiro vem para cá, ainda mais em um ambiente global inflacionário para commodities e com a nossa balança comercial indo bem.”

Ele ressaltou que os estrangeiros têm aproveitado para comprar ações de empresas de qualidade extremamente descontadas. De acordo com Braga, a Bolsa brasileira segue negociando a valuation no patamar das grandes turbulências e crises como em 2002 (período que antecedeu a eleição de Lula para presidência), 2008 (Subprime), em 2015 e 2016 (maior recessão do país) e 2020 (pandemia). 

“Se seu estiver certo, poderemos entrar em ciclo positivo como o que tivemos entre 2003 e 2008. Não estou falando de trade, mas de um ciclo”, disse o sócio da Encore. 

Horizonte de investimentos necessário

O fundo Alaska Black BDR Black FIC FIA completou recentemente 5 anos e Henrique Bredda escreveu uma carta de gestão especial. Ele enfatizou que essa é a janela temporal mínima necessária para avaliação da consistência de um produto de ações. 

“Falamos que o prazo mínimo de permanência em um fundo de ações é de 5 anos. Na realidade, acho que uma janela de 10 anos é a ideal, mas o pessoal pode me chamar de exagerado”, comentou Bredda na live da Semana de Fundos Vitreo

Segundo ele, o investidor em um fundo de ações precisa se preparar financeiramente e psicologicamente para o longo prazo. Ele explica que é como comprar pedacinhos de várias empresas, que necessitam de um período maior para  maturação dos seus projetos. “A natureza dos ativos que a gente está investindo é a mesma do empresário que está montando uma cadeia de franquias, abrindo lojas ou construindo uma fábrica de tecidos”, destacou. 

Portanto, para ter resultados positivos,  é importante se atentar mais aos fundamentos das empresas e capacidade de execução de estratégias e de geração de lucros ao longo do tempo do que aos movimentos de curto prazo. “Quem tira os investimentos antes do tempo, fica suscetível aos eventos de sorte ou azar. Por exemplo, quando aconteceu o Joesley Day, uma ação caiu 30% com o episódio. Quem saiu não viu a estratégia da companhia se materializar mais adiante e não pegou dividendos”, contou. 

Sob a ótica de gestão dos fundos, Bredda comenta que um prazo mais largo é fundamental para a avaliação adequada das companhias, assim como para os ajustes nos modelos de valuation e na alocação com objetivo de obter resultados acima da média. Werner Roger, da Trígono, e João Luiz Braga, da Encore, compartilham da mesma visão. 

“Em períodos menores, são os ciclos econômicos que afetam os preços, e nada tem a ver com o micro, que é a atuação da empresa. Por exemplo, a ação do Mercado Livre está caindo em função da alta do juro americano, porém, a empresa está vendendo mais. Ao segurar essa ação, quando você alonga o prazo, tira o ciclo da jogada”, exemplificou Braga. 

Vale a pena assistir ao bate-papo completo com os sócios das gestoras Alaska, Trígono e Encore: clique aqui.

E fique por dentro da programação da Semana de Fundos Vitreo. Na agenda, ainda tem painéis com gestores de fundos de renda fixa, multimercados, imobiliários, quânticos e de ativos internacionais. 

Além disso, a Vitreo está oferecendo condições especiais de cashback para uma seleção de fundos. Faça sua inscrição gratuita aqui.  

 

*Atualização:  No dia 1/04, a B3 informou que havia um erro na sua base de dados, e que o ingresso líquido de recursos estrangeiros na bolsa brasileira no ano até o fim de março na verdade totalizava R$ 64,1 bilhões.