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PETR4: comprar ou vender ações da Petrobras?

Os prós da petrolífera podem superar os fantasmas do seu passado

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Data de publicação
19 de abril de 2021
Categoria
Investimentos

As ações da Petrobras (especificamente PETR4) não são recomendadas nas séries da Empiricus: Max Bohm, sócio e analista da Empiricus, recomendou a venda do ativo em fevereiro de 2021 para os assinantes da sua série As Melhores Ações da Bolsa.

Neste artigo, vamos nos aprofundar sobre os principais pontos da empresa estatal e destrinchar o racional de Max em sua sugestão. Paralelamente a isso, você pode ver a análise do Ruy Hungria sobre as ações da Petrobras (PETR4), nosso analista responsável pela série Flash Trader:

Voltando ao artigo, o conteúdo, para facilitar sua leitura, foi dividido da seguinte maneira:

Entendendo a Petrobras

É muito improvável que você não conheça a Petrobras (PETR4). Ainda assim, você conhece sua trajetória e suas particularidades?

Nesta seção, vamos nos debruçar sobre estes pontos e, então, na diferença entre seus dois ativos negociados na Bolsa: PETR3 e PETR4.

O início da história da Petrobras nos leva à figura de Getúlio Vargas: após criar o IRB Brasil Resseguros (IRBR3) em 1939 e a Vale (VALE3) em 1942, ele fundou a Petrobras (PETR3 e PETR4) em 1953.

Trata-se de um empreendedor em série.

O objetivo da Petrobras (PETR4), até então, era exclusivamente a exploração e produção de petróleo. Como bem sabemos, a companhia se transformou especialista nesse segmento.

Mas vamos por partes.

Em 1968, lançou a primeira plataforma móvel de perfuração no mar, a P-I, que foi responsável pela descoberta do primeiro campo de petróleo marítimo no Brasil. Uma nova avenida de crescimento se apresentou e a Petrobras decidiu explorá-la com força total.

Perfuração do primeiro poço submarino no RJ, em 1969

Perfuração do primeiro poço submarino no RJ, em 1969

A extração submarina foi um terreno próspero para a Petrobras (PETR4) se expandir e, a partir disso, incorporar novas frentes de negócio ao seu portfólio, como refino e a comercialização/transporte de petróleo, gás natural e seus derivados.

Com o tempo, uma nova descoberta de um tal pré-sal ajudaria a estatal a expandir ainda mais agressivamente no setor, não fosse o envolvimento num dos maiores escândalos de corrupção do país.

Mas falaremos disso mais tarde.

Nos dias atuais, “a Petrobras é líder mundial no desenvolvimento de tecnologia avançada para a exploração petrolífera em águas profundas e ultraprofundas”, aponta Max Bohm.

Vamos entender quem está por trás dessa empresa. A composição acionária da Petrobras, atualmente, é a seguinte:

Composição Acionária da Petrobras

Fonte: Petrobras | Elaboração: Empiricus

O governo brasileiro se configura, portanto, como o controlador da petrolífera; e o free float — ações que circulam livremente no mercado, ou seja, as que podemos comprar e vender — da Petrobras (PETR4) está na casa dos 40%. Assim, temos o clássico cenário de concentração acionária do Estado, um dos pontos mais preocupantes até pouco tempo atrás.

Uma carta na manga chamada pré-sal

Na seção anterior, citamos brevemente o pré-sal e, para sermos justos com a empresa — e conosco, como investidores —, devemos nos aprofundar nessa descoberta da Petrobras (PETR4).

No princípio das operações marítimas da Petrobras, lá em 1968, a P-I era capaz de operar numa profundidade de meros 30 metros. No entanto, a evolução da tecnologia foi impressionante e a profundidade do pré-sal tangibiliza isso: a reserva se encontra numa faixa de 7.000 a 8.000 metros abaixo do nível do mar.

Mapa do Pré-Sal

Descoberto em 2006, essa reserva petrolífera se estende durante cerca de 800 quilômetros, abrangendo cinco estados da costa brasileira: Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina.

Mapa do Pré-Sal

Fonte: Governo Federal do Brasil

Até aqui, fica claro que estamos falando de uma reserva absurdamente vasta de petróleo. Mas, como bons investidores, devemos ser céticos e nos questionar: vai sair muito caro?

Nem um pouco e podemos provar:

Custos de Extração da Petrobras

Fonte: Petrobras

Portanto, a avenida de crescimento que se apresenta para Petrobras (PETR4) tem, como fundamento, a quantidade enorme da commodity em questão e um custo de extração baixíssimo: trata-se de uma mina de ouro para a empresa.

Não por acaso, “o pré-sal se tornou o carro-chefe da Petrobras”, diz Max.

Qual é a diferença entre PETR3 e PETR4?

As empresas listadas na Bolsa de Valores têm um nome especial que as diferenciam: os tickers. São os códigos que você vê por aí, compostos por quatro letras e um ou dois números.

Pode parecer confuso se você está começando agora, mas entenda que é necessário: existem mais de 300 companhias listadas na B3. Além disso, uma empresa pode ter mais de um tipo de ação, que é o caso da Petrobras.

A PETR3 é uma ação ordinária (ON). Ao comprá-la, você ganha direito ao voto nas assembleias da empresa, ou seja, você vira um sócio ativo nas decisões da estatal. É o fato de ter a maioria das ações PETR3 disponíveis no mercado que garante a posição de controlador ao governo federal.

Então, que fique claro: sua opinião só será expressiva no conselho de administração se você comprar uma quantidade enorme de PETR3.

Agora, quando falamos de PETR4, trata-se de uma ação preferencial (PN). Aqui, você possui preferência na distribuição de dividendos e, caso o pior aconteça e a Petrobras seja liquidada, você também está na fila VIP para o reembolso do investimento (ou do que sobrar dele).

Perceba que, como são ativos de tipos diferentes, suas demandas são diferentes. Isso pode causar ligeiras oscilações nos preços de ambos, quando comparados.

Ainda assim, o desenrolar positivo da companhia vai fazer ambas subirem — e o oposto segue a mesma lógica.

Na Empiricus, priorizamos a indicação de PETR4 atualmente por dois fatores: liquidez e sua vantagem inerente à sua categoria.

Explicamos.

No primeiro ponto, esse ativo é muito mais fácil de ser vendido quando você quiser. O free float — as ações que estão sendo negociadas livremente no mercado — de PETR4 está na casa dos 81%, frente a 49% de PETR3.

Sobre o segundo ponto, entendemos que a preferência no recebimento de dividendos é muito mais atrativa do que as vantagens oferecidas por PETR3, que só são pragmaticamente válidas quando compramos milhões de ações.

No olho do furacão: PETR4 e a Operação Lava Jato

A Operação Lava Jato foi tão estrondosa para o país quanto para as ações da Petrobras (PETR4), envolvida diretamente no escândalo político.

E, para explicarmos o papel da estatal nisso tudo, devemos destacar as figuras de Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró.

Em março de 2014, Paulo foi preso pela Polícia Federal, apontado como integrante de um esquema que movimentou, de forma suspeita, cerca de R$ 10 bilhões. Na sua delação premiada, Paulo mesmo admitiu que usou o cargo de diretor de abastecimento na Petrobras para lavar dinheiro.

Nesse processo, ele expôs muitas coisas, dentre elas a compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras, lá em 2006. Estamos falando, aqui, de uma empresa velha e pouco atrativa quando comparada com outras opções. Ainda assim, a estatal pagou 360 milhões de dólares por metade da empresa.

O grande problema por trás da compra de Paulo Roberto

A empresa belga Astra Oil desembolsou quase oito vezes menos (cerca de 42 milhões de dólares) para adquirir a refinaria apenas um ano antes. A divergência, que levantou suspeitas sobre lavagem de dinheiro, era gritante.

Refinaria de Pasadena

A compra refinaria de Pasadena pela Petrobras ainda é investigada (hoje, pela CVM)

Em maio de 2015, foi a vez de Nestor, preso por lavar dinheiro. Assim como Paulo, ele também estava envolvido tanto no esquema dos R$ 10 bilhões quanto no de Pasadena. Além disso, foi acusado de receber US$ 30 milhões em propinas em contratos de sondas de perfuração de águas profundas no Golfo do México e na África.

Nestor Cerveró

Nestor Cerveró foi condenado a 27 anos, mas de acordo com os termos da delação premiada

Fonte: Estadão

Nesse vórtice de escândalos noticiados quase diariamente, o mercado financeiro puniu as ações da Petrobras (PETR4) com a mesma intensidade.

Em setembro, a ação atingiu R$ 22,82 e, então, deu início ao processo de derrocada que se arrastou até o começo de 2016, quando atingiu a mínima histórica de R$ 4,41. Com uma desvalorização que supera 80%, quem colocou R$ 10 mil em PETR4 nesse período viu seu investimento virar R$ 1.932,00.

Mas isso não foi tudo.

Para além da corrupção, a Petrobras também sofreu duros golpes no seu faturamento, desta vez por interferência do próprio Estado.

Na época, o governo Dilma se preocupava com a inflação e, numa tentativa de controlá-la, passou a instrumentalizar a Petrobras.

Em termos práticos, a estatal não podia reagir à alta dos barris de petróleo no mundo, reprecificando seus próprios produtos. Assim, ela estava proibida de adotar um dos princípios fundamentais do mercado: participar da dinâmica de oferta e demanda.

A empresa (PETR4), obrigada a vender seus produtos a preços abaixo do mercado, sofreu um prejuízo bilionário, que acabou custando mais para a empresa do que o próprio esquema de corrupção citado anteriormente…

Sem dúvidas, foram tempos difíceis para a Petrobras (PETR4) e, para sermos justos, para todas as empresas do setor de óleo e gás no país; assim como para seus investidores.

As “mudanças” de Bolsonaro nas ações da Petrobras (PETR4)

É de praxe, como investidores, temermos a interferência política no management de uma empresa. Com a Petrobras, não poderia ser diferente.

No dia 18/02/2021, esse temor se intensificou quando Bolsonaro adicionou uma pitada de incerteza sobre PETR4, comentando que estudava mudanças na estatal brasileira.

Tudo aconteceu depois que a Petrobras (PETR4) anunciou mais uma alta no preço dos combustíveis.

Cotação de PETR4 entre 18/02/2021 e 19/02/2021

O mercado reagiu mal: PETR4 caiu 6.66% após o parecer de Bolsonaro

A agência de notícias Reuters indica que Bolsonaro objetiva demitir o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco.

O objetivo? Substituí-lo por alguém mais alinhado aos interesses do atual governo.

O episódio apenas reforça a volatilidade de PETR4 e sua vulnerabilidade às medidas políticas.

A Petrobras estava no caminho certo, mas sofreu um abalo significativo que, na visão de Max Bohm, carregava um risco imenso para os pilares que sustentavam a tese de investimento de PETR4.

O que o futuro de PETR4 pode reservar aos investidores?

As coisas iam realmente bem para as ações da Petrobras (PETR4) e haviam motivos de sobre para acreditar que o pior já tinha ficado para trás.

O management da companhia começou a ser renovado ainda no governo Temer, em 2016, com o novo presidente Pedro Parente. A primeira decisão foi categórica: a política de preços seria guiada pelos interesses da Petrobras (PETR4), sem a influência do governo.

Na próxima seção, vamos nos aprofundar nas medidas que jusitificavam a confiança em PETR4.

As medidas para se recuperar da ingerência política

Como dito, a associação da empresa com a corrupção do governo federal foi uma pancada em cheio na Petrobras. E, como resposta, ela “passou por uma mudança drástica no seu corpo executivo, no qual ficou vedada a nomeação de membros do governo e líderes sindicais para o Conselho de Administração”, destaca Felipe Miranda, CIO da Empiricus.

A medida, respaldada por lei, restringe a ingerência política e blinda a Petrobras de uma possível mudança de direcionamento nos próximos governos.

Para além disso, a Petrobras (PETR4) também aprovou, no fim de 2017, “alterações estatutárias para adesão ao nível 2 de governança corporativa da B3, reforçando o compromisso e a preocupação da companhia com a transparência e melhores práticas empresariais”, diz Felipe.

E o mercado recompensou:

Cotação de PETR4

PETR4: valorização de 502% em pouco mais de 2 anos

Assim, “passados os traumas, a Petrobras renasceu — ainda que longe de ter passado incólume do escrutínio da sociedade”, aponta Felipe. Para ele, PETR4, “aos preços atuais, viraram verdadeiras oportunidades”.

E não para por aí.

O top management da estatal busca mais geração de valor, com um plano robusto fundamentado em três alavancas:

  • Ampliação do programa de desinvestimentos e redução paulatina do endividamento;

  • Diminuição de gastos operacionais gerenciáveis; e

  • Liberação do excesso de capital, permitindo sua realocação para usos mais produtivos.

O dinheiro proveniente dessas medidas será usado, principalmente, na “exploração da área do pré-sal, onde estão localizados os projetos de maior retorno para a companhia”, aponta Max.

Mas… além das regras sobre a associação do governo e dos sindicatos na alta administração, há outros motivos para acreditar que esse trem continuará nos trilhos?

A análise de Felipe indica que sim.

“O atual presidente da companhia, Roberto Castello Branco, e sua equipe têm conseguido atingir consistentemente as métricas do plano estratégico: um novo sistema de gestão foi implementado, com a criação do ciclo PDCA — uma espécie de monitoramento contínuo da efetividade do plano —, gestão ativa de riscos e criação de metas claras, com o objetivo de proporcionar mais transparência e objetividade”.

Em maior ou menor grau, podemos ficar tranquilos sobre a consistência executiva por trás das ações da Petrobras (PETR4).

Bom, assim, a Petrobras (PETR4) será, até 2022, “uma empresa enxuta e muito mais forte no seu principal negócio: exploração de petróleo em águas profundas e produção em refinarias premium”, conclui Max.

O avanço dos desinvestimentos

Quando citamos a liberação do excesso de capital, na seção acima, precisamos destacar os desinvestimentos da Petrobras, que se mostram como uma excelente estratégia para essa finalidade.

Para garantir que estamos alinhados: desinvestimento é o ato de vender a participação acionária de uma empresa, abrindo mão do seu controle parcial ou integralmente.

Um grande passo da Petrobras nesse sentido aconteceu em 2017, quando a estatal vendeu a Nova Transportadora do Sudeste — que atua no transporte de gás natural de longo prazo — para a Itaúsa (ITSA4), holding por trás do Itaú (ITUB4):

O movimento, como dito, ajuda a destravar valor para a empresa. E isso significa valorização de PETR4.

No mesmo ano, ela também abriu mão de quase 29% da BR Distribuidora (BRDT3), a maior distribuidora de combustíveis do país, com um market share na casa dos 30%. Nesse episódio, ficou claro o quanto o management estava comprometido com a desestatização dessas empresas, uma vez que a BR Distribuidora era totalmente controlada pela Petrobras até então.

Em 2019, vendeu fatias ainda maiores de BRDT3, detendo apenas 37,5% da empresa atualmente.

Ainda em 2019, a Petrobras anunciou mais uma venda para a Itaúsa, que apresentou a melhor oferta para aquisição da Liquigás, uma companhia que atua no engarrafamento, distribuição e comercialização de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP).

Quem notou a notícia já sabia que tinha valorização de PETR4 no horizonte. E quem assinava a Empiricus, também: escrevemos sobre o ocorrido num relatório de agosto de 2019, apenas seis dias após o anúncio.

No dia 18 de novembro de 2020, a compra foi autorizada pelo CADE e os investidores viram mais uma rápida valorização, desta vez na casa dos 20% em pouco mais de um mês.

Como dito, isso já ocorreu. Então, o que pode ser feito agora é: acompanhe notícias envolvendo vendas por parte da Petrobras (PETR4) e/ou assine as séries da Empiricus.

A recuperação de PETR4 na pandemia

Além da crise política que ainda faz sombra sobre PETR4, a pandemia em 2020 gerou ruídos nas operações da estatal.

O preço da commodity despencou, ficando 30% mais barato do que os níveis pré-pandemia.

Mas, a despeito disso, o EBITDA do segmento de Exploração e Produção (E&P) no 3T20 permaneceu estável.

O segredo?

A variação cambial e o aumento da participação do pré-sal nos resultados da empresa, que foi responsável por equilibrar o jogo ao reduzir “mais de 40% nos custos de extração”, destaca Max.

Custos de Extração da Petrobras

Fonte: RI da empresa

Quando falamos do EBITDA na frente de Refino, entretanto, o cenário não foi tão positivo assim: R$ 7 bilhões. Em relação ao 2T20, “o resultado mostra boa recuperação no segmento, mas, mesmo assim, o resultado consolidado mostrou um prejuízo de R$ 1,7 bilhão”, explica Max.

Há certo o otimismo, no entanto, quando “excluímos os efeitos não recorrentes, o que nos leva a um lucro de R$ 3,2 bilhões, número inferior aos R$ 10 bilhões alcançados no 3T19, mas muito melhor que os R$ 13,7 bilhões de prejuízo marcados no segundo trimestre deste ano”, diz Max.

Por fim, a Petrobras registrou um forte fluxo de caixa livre no trimestre, atingindo R$ 40 bilhões e reduzindo o endividamento bruto em dólares cerca de 11% — indício de retomada do controle:

Endividamento e Amortização da Petrobras

Fonte: RI da empresa

Conclusão: vale a pena comprar PETR4?

Parecia que a estatal estava andando nos trilhos e, além disso, o preço estava mais do que justo. Era o momento certo para comprar as ações da Petrobras (PETR4)… se nã fosse a ingerência política.

A postura do Bolsonaro corroeu a confiança do mercado e causou danos que podem demorar meses — talvez anos — para serem reparados.

Assim, os pontos estratégicos que sustentavam um upside interessante em PETR4 foram suspensos como consequência das ações governamentais. Assim, ainda que você tenha esperanças para as ações da Petrobras, não se engane: para Max Bohm, há outras oportunidades que podem ser muito melhor aproveitadas agora.

Dessa forma, a sugestão de Max é que você venda PETR4.