Investimentos

Quem não tem cão, caça com gato: As duas estratégias da Alpargatas (ALPA4) para melhorar a rentabilidade nos EUA

Gestão da ALPA4 reformula estratégias para atingir mercado norte-americano de forma diferente do europeu.

Por Ruy Hungria

23 jun 2025, 10:22 - atualizado em 23 jun 2025, 10:22

alpargatas ALPA4

Imagem: Divulgação/Havaianas

Em uma das conversas recentes que tivemos com a equipe da Alpargatas (ALPA4), perguntamos o motivo de o mercado norte-americano ser tão difícil para a companhia. 

O primeiro chute sempre tem a ver com o clima, mas isso não explicaria o sucesso das Havaianas na Europa em um passado não muito distante.

Quais são os desafios da Havainas nos EUA?

Para a gestão, a diferença está na forma como o público norte-americano enxerga o Brasil. Enquanto a tropicalidade brasileira e o design são muito valorizados na Europa ocidental, os norte-americanos se preocupam muito mais com conforto do que com a nossa cultura.

Essa falta de interesse sempre manteve as vendas baixas nos EUA, o que provocava um “efeito Tostines reverso”: as Havaianas eram pouco vendidas porque estavam fora das grandes redes de varejo, ou estavam fora delas porque eram pouco vendidas?

Fato é que as vendas em território norte-americano nunca pagaram a sua estrutura local e, há alguns meses, a Alpargatas decidiu buscar novas estratégias para melhorar a rentabilidade.

Novas estratégias

A primeira estratégia foi o aumento dos investimentos em marketing e a contratação da top model Gigi Hadid (falamos sobre isso na semana passada), nascida em Los Angeles e com mais de 70 milhões de seguidores.

Mas Gigi ainda não resolvia o relacionamento com varejistas e nem a estrutura inchada nos Estados Unidos – que demanda um tipo de abordagem mais estratégico.

Felizmente, na semana passada, a Alpargatas firmou uma parceria com a empresa de distribuição Eastman Group, mudando completamente o seu modelo de negócio nos Estados Unidos. 

Ela deixará de trabalhar no modelo direto, onde é responsável por toda a logística, distribuição e comercialização, para um modelo bem mais leve, no qual focará apenas no envio das sandálias para os EUA/Canadá e na construção da marca nesses mercados.

A distribuidora Eastman será responsável por toda a operação logística, comercial e de back office, o que faz pleno sentido dado que ela conta com uma sólida rede de distribuição em todo o território norte-americano, além de parcerias com grandes varejistas em diferentes canais – o grupo já presta esse serviço para aproximadamente 30 marcas, a maioria de calçados. 

Além de abrir portas em canais de vendas importantes e melhorar a eficiência logística, o movimento vai reduzir drasticamente a estrutura da Alpargatas nos EUA – e quem sabe finalmente acabar com a queima de caixa na região. 

Quando devemos ver os impactos das mudanças na Alpargatas?

A priori, a parceria terá um prazo de quatro anos e não implicará desembolsos financeiros para nenhuma das partes; em 2025 serão feitos os ajustes necessários para que o novo modelo já esteja em operação a partir de 2026. 

Esse é mais um passo importante no processo de turnaround da Alpargatas, que já entregou diversas melhorias no Brasil e a partir de 2025 começa a focar na rentabilidade da Havaianas Internacional. 

Sobre o autor

Ruy Hungria

Bacharel em Física formado na Universidade de São Paulo (USP), possui MBA de Finanças na Fipe e iniciou a carreira no mercado financeiro em 2011, na própria Empiricus Research. Está à frente da série da casa focada em opções desde 2018, além de contribuir na elaboração e decisões de investimentos nas séries da Empiricus focadas em microcaps e dividendos, além de fazer o acompanhamento de companhias de diversos setores, com mais foco em Utilities e Oil & Gas. Desde o início de 2020 é colunista do portal Seu Dinheiro.