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Renner (LREN3): entenda como o frio impactou os resultados do 3T22 da varejista

Clima e inadimplência prejudicam desempenho da Renner no 3T22, mas resultado vem conforme o esperado pelo mercado

Por Larissa Quaresma, CFA

4 de novembro de 2022, 13:09

Renner LREN3
Imagem: Divulgação/Renner

As Lojas Renner (LREN3) divulgaram, na noite da última quinta-feira (4), um resultado morno referente ao 3T22, conforme era esperado pelo mercado.

Houve uma desaceleração no ritmo de crescimento das vendas, em razão de fenômenos climáticos, embora a companhia tenha conseguido preservar a rentabilidade no varejo por meio de repasse de preços.

Na Realize, vertical de serviços financeiros, o aumento acentuado da inadimplência prejudicou o resultado consolidado.

Frio impactou resultados da Renner

Neste ano, o frio começou mais cedo que o normal, e persiste também por mais tempo que de costume. Por um lado, isso gerou uma antecipação das compras de inverno para o trimestre anterior, o que havia gerado um bom resultado no 2T22, já que as peças de inverno têm tickets e margens maiores. Por outro lado, as varejistas costumam lançar suas coleções de primavera em setembro; mas, neste ano, ainda fazia frio na época, e a coleção de inverno já havia praticamente acabado. Isso levou à desaceleração no crescimento das vendas nas mesmas lojas, que foi de 7,9% na comparação anual, bem menor que os 39,5% reportados no segundo trimestre.

Esse não foi um fenômeno exclusivo da Renner: nas nossas conversas com outras varejistas de moda, observamos o mesmo padrão. Com isso, a receita líquida da companhia cresceu 10,3% na comparação anual, atingindo R$ 2,6 bilhões, ajudada principalmente pelas marcas Renner (+13%) e Youcom (27%), já que a Camicado (-27%) continua sentindo a venda fraca de artigos para a casa.

Do lado da rentabilidade no varejo, a varejista conseguiu repassar a inflação para os preços finais, o que ajudou a manter o patamar de margem bruta em 54%, estável na comparação trimestral. O crescimento de receita levou a uma diluição das despesas e, com isso, a margem EBITDA teve um ganho de 1,5 ponto percentual anualmente, atingindo 16,8%.

Inadimplência segue como um problema para a empresa

O ponto negativo foi o aumento da inadimplência, que subiu de forma sensível no trimestre. O índice de empréstimos atrasados atingiu 27% da carteira, 8 pontos percentuais maior na comparação trimestral.

O provisionamento para essa inadimplência penalizou o resultado da Realize, a vertical de serviços financeiros, o que diminuiu sua relevância no EBITDA total da companhia: 4%, versus um patamar normalizado de cerca de 20%. O EBITDA consolidado ficou em R$ 460 milhões, com margem de 17,6%, queda anual de 0,8 ponto percentual. Na nossa visão, a inadimplência de Renner ainda deve demorar para se normalizar – provavelmente, só em 2023.

Embora LREN3 tenha bom histórico, GUAR3 apresenta valuations mais atrativos

Mais do que falar sobre a Renner em si, esse resultado acende um alerta para o setor como um todo: se a varejista de melhor execução está sentindo os efeitos climáticos e macroeconômicos no seu resultado, o que será das demais?

Por outro lado, o setor está em patamares de valuation historicamente deprimidos, o que nos sugere que boa parte do cenário difícil já está nos preços. Mesmo que Renner tenha o melhor histórico de execução, continuamos preferindo Guararapes (GUAR3) em varejo de moda, pelo seu valuation mais descontado: LREN3 está 17x o lucro estimado para 2023, versus 13x de GUAR3.

Sobre o autor

Larissa Quaresma, CFA

Analista de Ações focada em Bancos e Instituições Financeiras, integra a equipe da Carteira Empiricus, o portfólio multimercado da casa. Mais de 5 anos de experiência em análise de empresas, com passagens pela Núcleo Capital e pelo Credit Suisse. Administradora formada pelo Ibmec-MG, com certificações CFA, CNPI e CGA.