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As bolsas asiáticas encerraram a semana no campo negativo, pressionadas pela realização de lucros nas empresas ligadas à inteligência artificial e pela volatilidade crescente nos mercados globais. O movimento reflete a piora recente em Wall Street, onde levantamentos privados mostraram o maior número de demissões em mais de duas décadas, provocando forte correção em ações de tecnologia e criptoativos. Somou-se a isso a desaceleração das exportações chinesas em outubro, que vieram abaixo do esperado e evidenciaram tanto o impacto das tarifas americanas quanto a demanda internacional mais fraca. Para completar o quadro, o payroll dos EUA foi novamente suspenso devido à paralisação do governo, deixando o Federal Reserve e os investidores com pouca visibilidade sobre o ritmo da economia no curto prazo.
Na Europa, o tom também é de cautela nesta manhã. Os principais índices recuam e caminham para fechar a semana no negativo, em meio à análise de resultados corporativos, sinais de valuations esticados das empresas de IA e incerteza sobre a trajetória da política monetária. O petróleo tenta recuperar parte das perdas recentes, favorecido pelo dólar mais fraco, mas ainda sente o peso de estoques elevados e do risco de superoferta. No campo político, Donald Trump indicou que não pretende anunciar novas tarifas até a decisão da Suprema Corte, embora já trabalhe em um “plano alternativo” caso o resultado seja desfavorável (o desfecho da questão, porém, deve demorar). Com dados econômicos fracos, a incerteza fiscal nos Estados Unidos e a volatilidade persistente, o ambiente global segue defensivo — e qualquer sinal sobre juros, inflação ou atividade segue capaz de movimentar preços com intensidade.
· 00:54 — Ibovespa resiste ao Copom duro e renova recordes
No Brasil, o Ibovespa encerrou a quinta-feira (6) praticamente estável, com leve alta de 0,03%, permanecendo acima dos 153 mil pontos e registrando seu nono recorde consecutivo dentro da sequência de 12 pregões positivos. O índice até chegou a superar 154 mil pontos ao longo do dia, mas perdeu fôlego acompanhando o recuo das bolsas americanas e digerindo o tom mais duro adotado pelo Banco Central. Na quarta-feira à noite, o Copom manteve a Selic em 15%, como amplamente esperado. O ponto central, no entanto, não era a decisão em si — ninguém projetava um corte, como já explorei —, mas sim a expectativa de um ajuste no discurso, que acabou não vindo. O BC reforçou que os juros permanecerão em nível “contracionista por um período bastante prolongado”, frustrando quem esperava algum sinal de suavização.
Com essa leitura mais restritiva e percepção de maior diferencial de juros, o dólar recuou para R$ 5,35. Os investidores também ajustaram a curva de juros, postergando as apostas para o primeiro corte da Selic: a maioria passou a trabalhar com março, embora janeiro ainda não esteja descartado — tudo dependerá da evolução dos indicadores até lá e, em paralelo, do ritmo de flexibilização monetária nos EUA. Para uma sinalização mais concreta, o mercado aguarda a ata do Copom na próxima terça-feira (11), que deve detalhar as projeções de inflação para 2026 e para o segundo trimestre de 2027, horizonte relevante da política monetária. Um ponto importante: parte do problema dos juros elevados segue associado à ausência de uma âncora fiscal crível. Nesse contexto, o Congresso deve apresentar uma proposta de redução gradual das isenções fiscais até 2033, alinhada ao fim da transição da reforma tributária, buscando uma solução menos paliativa. Ainda assim, a iniciativa não resolve o avanço contínuo dos gastos públicos — um debate que, tudo indica, ficará apenas para depois das eleições de 2026, ainda que seja inevitável pela escala do problema.
Entre as grandes ações, Petrobras (PETR4) contribuiu para sustentar o índice: os papéis subiram antes da divulgação do balanço, que veio forte, com lucro líquido de US$ 6 bilhões, superando com folga as expectativas, além do anúncio de R$ 12,16 bilhões em dividendos. Apesar do desempenho financeiro robusto, o mercado permanece atento ao aumento da dívida e ao ritmo acelerado de investimentos, que já somam US$ 14 bilhões neste ano, concentrados principalmente em exploração e produção. De todo modo, as ADRs da petroleira avançam nesta manhã no pré-market de Nova York.
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· 01:41 — Mercado de trabalho fraco
Os indicadores privados divulgados na quinta-feira reforçaram a percepção de enfraquecimento do mercado de trabalho americano, provocando aversão a risco. Diante dos números, investidores migraram de ações para a segurança dos títulos do Tesouro. A Revelio Labs apontou uma perda líquida de 9.100 vagas em outubro, enquanto a consultoria Challenger, Gray & Christmas registrou mais de 153 mil anúncios de demissões no mês — o maior volume desde 2003, concentrado principalmente nos setores de armazenagem e tecnologia (relação com guerra comercial e IA). No acumulado do ano, os cortes já somam quase 1,1 milhão, o maior nível desde 2020. A reação foi imediata: o Nasdaq chegou a cair 1,9%, o S&P 500 recuou 1,1%, e os yields dos Treasuries cederam, refletindo a corrida por proteção.
Embora automação e inteligência artificial apareçam como fatores crescentes de modernização das empresas, economistas ressaltam que o ajuste ainda está muito mais ligado à queda de demanda e ao esforço de redução de custos. Como a paralisação do governo já impede, pelo segundo mês seguido, a divulgação dos dados oficiais de emprego, o mercado precisa recorrer a fontes privadas — que nem sempre convergem entre si. Um dia antes, por exemplo, a ADP estimou criação de 42 mil vagas no setor privado. Enquanto isso, o shutdown, prestes a completar 40 dias.
· 02:37 — A paralisação continua
Sobre este tema, a paralisação do governo dos Estados Unidos completou 38 dias e já é a mais longa da história. Mesmo que haja expectativa de solução até o Dia de Ação de Graças, os efeitos começam a se intensificar: a partir de sexta-feira, a autoridade de aviação deve reduzir a capacidade de voos em aeroportos movimentados, o que tende a gerar atrasos e transtornos generalizados. O impacto econômico também é significativo. Cerca de 1,4 milhão de funcionários públicos estão sem receber ou afastados, milhões de americanos podem perder benefícios do programa de assistência alimentar e projeções indicam que o PIB do quarto trimestre pode recuar até 1 ponto percentual, elevando a taxa de desemprego para acima de 4,5%.
Além do custo econômico, cresce o componente político. Embora mercados de previsão apostem no fim do impasse já na próxima semana, parlamentares democratas podem adotar uma postura mais firme após recentes vitórias eleitorais, condicionando qualquer acordo à manutenção de subsídios de saúde. Enquanto isso, controladores de tráfego aéreo continuam trabalhando sem salário, o que aumenta o risco de atrasos e restrições operacionais em um dos períodos de maior movimentação do ano.
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· 03:25 — Um novo acordo bilionário
A Apple decidiu fechar um acordo bilionário com o Google para impulsionar sua estratégia de inteligência artificial. A empresa deve pagar cerca de US$ 1 bilhão por ano para utilizar o modelo de IA do Google na Siri. O diferencial é relevante: o modelo escolhido tem 1,2 trilhão de parâmetros, muito acima da capacidade dos sistemas internos da Apple, e deve servir de base para a nova versão da assistente virtual, prevista para ser lançada ainda nesta primavera no hemisfério norte. Antes de bater o martelo, a companhia também avaliou alternativas com a OpenAI e a Anthropic, mas preferiu o Google enquanto trabalha no desenvolvimento de tecnologias próprias. O acordo só foi possível porque uma decisão antitruste recente manteve válidas as parcerias entre as duas gigantes — incluindo os mais de US$ 20 bilhões anuais que o Google já paga para ser o buscador padrão nos dispositivos da Apple.
A iniciativa expõe um ponto desconfortável para a companhia: diferentemente do que aconteceu em outras viradas tecnológicas, a Apple ficou para trás na corrida da IA. Enquanto concorrentes conseguiram levar modelos avançados diretamente ao usuário final, a fabricante do iPhone precisou recorrer a uma solução externa, algo incomum para sua história de inovação proprietária. Ainda assim, a escolha é pragmática. Ao “alugar” tecnologia de quem está mais adiantado, a empresa garante competitividade no curto prazo, enquanto ganha tempo para desenvolver modelos internos mais robustos. Para os mercados, o recado é claro: a Apple pode ter demorado a entrar no jogo da IA, mas não pretende ficar de fora da corrida mais importante do mercado.
· 04:13 — Remuneração aprovada
Os acionistas da Tesla aprovaram, com ampla margem, o maior pacote de remuneração já concedido a um executivo na história corporativa mundial. A decisão garante a Elon Musk o direito de receber até US$ 1 trilhão nos próximos dez anos, por meio de aproximadamente 425 milhões de ações que só serão liberadas se a empresa cumprir metas extremamente ousadas, como elevar sua capitalização de mercado para US$ 8,5 trilhões e alcançar um EBITDA anual de US$ 400 bilhões. Com isso, a participação acionária de Musk subiria de cerca de 15% para quase 30%, ampliando de forma relevante seu poder dentro da companhia. A aprovação veio apesar da oposição de fundos e consultorias influentes que recomendaram voto contrário ao pacote. Ainda assim, prevaleceu o temor de que uma rejeição pudesse afastar Musk ou reduzir seu envolvimento, algo considerado inaceitável por grande parte dos investidores.
No mercado, há consenso de que algumas metas são atingíveis — como o valor de mercado, que exigiria um crescimento composto de cerca de 20% ao ano até 2035 —, mas a parte operacional é significativamente mais desafiadora. Para alcançar o EBITDA projetado, a Tesla teria de multiplicar seus resultados por mais de 30 vezes e avançar de forma agressiva em segmentos como robôs, robôs-táxi e serviços associados à inteligência artificial. Mesmo assim, a votação foi interpretada como um voto explícito de confiança na visão de longo prazo da companhia e na ambição de transformá-la em uma das maiores plataformas globais de IA e automação, para além de automóveis elétricos. Caso todas as metas sejam cumpridas, a fortuna de Musk ultrapassaria US$ 2,4 trilhões — o que o colocaria não apenas como o primeiro trilionário da história, mas também com riqueza superior ao PIB da maioria dos países.
· 05:06 — Insistir no investimento
A Meta continua destinando recursos expressivos ao Reality Labs — divisão responsável por óculos de realidade aumentada e dispositivos baseados em inteligência artificial — mesmo diante de resultados financeiros ruins. No último trimestre, o segmento apresentou prejuízo operacional de US$ 4,4 bilhões, frente a uma receita de apenas US$ 470 milhões. Desde o final de 2020, as perdas acumuladas já ultrapassam US$ 73 bilhões, um contraste evidente com a elevada lucratividade das demais linhas de negócio da companhia.
Ainda assim, para Mark Zuckerberg, o investimento é estratégico. A Meta não enxerga esses dispositivos apenas como…