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Investimentos

S01E28 – Wish You Were Here (Season Finale)

Nosso analista com cara de mau mostra que até os mais carrancudos têm sentimentos. No final de temporada, uma despedida emocionante.

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Data de publicação
8 de maio de 2017
Categoria
Investimentos

Hoje peço licença para não falar sobre investimentos.Além de ser minha última semana por aqui, faz exatamente um ano que meu pai se foi.

Escolhi, então, fazer uma homenagem ao velho.

 

É clichê, mas a morte muda tudo, mesmo – depois que meus pais se foram, a vontade de ter um filho, por exemplo, aumentou e aquele sentimento de imortalidade se desfez (confesso que já me pego fazendo contas pra saber quantos anos me restam).

Além de grandes questões, coisas do dia-a-dia também mudam.

O conceito de saudades, então, é completamente novo.

Amigos que moram em Londres ou Miami estão a um voo de distância, Heathrow é logo ali do lado.

Mas, para o além não tem Whatsapp – voo até tem, mas só de ida.

Desde 7 de maio de 2016, ouvir “Wish You Were Here” me faz lembrar do abraço e dos conselhos que perdi e da companhia incrível que se foi.

Ao comentar a música, Roger Waters fala: “Quero estar… quero estar empenhado. Provavelmente eu diria… de uma maneira que meu pai aprovaria.”

Por anos, achei que era sobre um amor perdido.

Depois, sobre Syd Barret – diz-se que o álbum todo foi escrito pra ele.

Hoje, não.

Na minha cabeça, é uma conversa entre Roger Waters e seu pai.

Um cara que literalmente mudou a história da música e da arte, ainda está, depois de tudo, procurando a aprovação paterna.

E como eu gostaria que o meu velho tivesse lido cada uma dessas linhas que escrevi.

Ela ia adorar ver ali “Mastrocinque” assinando uma newsletter.

E eu ia adorar ouvir suas opiniões, saber do que ele gostou…

“How I wish…”

Minha vontade é contar aqui tudo sobre ele, a pessoa incrível que ele foi e como o mundo ficou bem pior sem ele por aqui.

– The world used to be a bigger place.
– The world’s still the same. There’s just… less in it

O casal incrível que os dois foram, ele e minha mãe…

Aqui não dá, me falta espaço, recurso e tempo.

Quem sabe um dia, um livro?

Me despeço, então, deles dois e de vocês todos, com o texto que escrevi há exatamente um ano.

É um breve resumo de como foi viver com essa Cara (eu e meu primo passamos a chamá-lo de “O Cara”) que fez a vida de muita gente muito melhor ao seu redor.

“Apita o árbitro.

Fim de jogo.

Domingo, 16 de dezembro de 2012. A Fiel canta em Yokohama, o hino ecoa ao redor do estádio e o time já completa sua segunda volta olímpica, mas ainda falta alguma coisa para completar o título.

Precisava falar com ele.

Pego o celular. Nada – ficar sem sinal em grandes eventos não é privilégio nosso.

Não rola nem no Japão, amigo.

Sigo tentando.

Mais algumas festividades, pequenos japas com a camisa do Chelsea nos cumprimentam pelo título (chupa!).

Seguimos em direção à saída.

Na praça em frente ao Estádio de Yokohama, mesmo local onde Vampeta e Gaúcho devem ter tomado bastante pinga em 2002, consigo, finalmente, completar a ligação.

Gritamos, choramos, nos congratulamos – a festa estava completa.

Foi assim desde 88 em Campinas até os 3×0 sobre o Galo em 2015. Qualquer que fosse a distância, sempre nos falávamos após os títulos e as derrotas mais doídas (e foram muitas!).

Na verdade, foi assim desde maio de 80. Todas as conquistas (vestibular, emprego, promoção, certificado, concursos, etc) foram partilhadas. Já as derrotas eram digeridas em conjunto – com sua serenidade e calma que só o tempo pode trazer, dava conselhos, carinho e conforto.

Estava sempre à disposição, mesmo de madrugada, quando o acordava em momentos de menor sobriedade e maior desespero. Nunca perdia a calma, sempre tinha alguma coisa positiva para falar e me lembrava que, com o tempo, as coisas iam se ajeitar.

Além disso, me ensinou quase tudo que sei: empinar pipa, andar de bicicleta e rolimã, dirigir, fazer a barba, dar nó em gravata, fazer churrasco, assar pizza, jogar xadrez, sinuca, futebol e basquete.

Mas, mais do que ensinamentos práticos e cotidianos, me deu as lições mais importantes: me ensinou os conceitos de hombridade, o despropósito da mentira, a importância de cumprir a palavra.

“Promessa é dívida”.

O respeito às opiniões divergentes, à família e às mulheres.

O valor do esforço, da dedicação e do trabalho.

“Nunca pegue nada dos outros, mas lute até a morte por aquilo que é seu”.

Sempre se revoltou com injustiças e ainda mais com a corrupção.

Me explicou que cada um tem que fazer sua parte – nada de furar fila, subornar guardas, sempre devolver o troco a mais e nunca se valer da “Lei de Gérson”.

Longe de ser perfeito, tinha vários defeitos – perdeu os superpoderes quando eu atingi a adolescência – nem por isso deixou de ser o exemplo de homem que eu gostaria de ser: caráter, generosidade, calma, paciência.

Sempre disposto a ouvir o que eu tinha para falar, mesmo histórias que não fossem de seu interesse. Parava, prestava atenção e opinava.

Grande cara.

Sempre que podia, chegava em casa com algum gibi, livro, revista ou enciclopédia.

Prioridade sempre era o conhecimento, a cultura e o estudo. Incentivava minha curiosidade e se orgulhava do meu interesse.

Deitado no sofá da sala, eu lia tudo que me trazia.

Vai ser difícil seguir na luta daqui pra frente. Sem o maior parceiro, o melhor amigo – meu cara preferido no mundo – ou, como ele sempre brincava, “meu amigo de fé, meu irmão camarada”.

Se perguntarem aos médicos, vão falar coisas como arteriosclerose, choque cardiogênico, safena, mamária, hipóxia, anóxia… A explicação pra mim é outra, bem mais simples: o coração, que nos últimos 55 anos bateu com ela – e por ela – se recusou a seguir batendo sozinho.

Apita o árbitro.

Fim de jogo.”

Só para não perder o costume, só uma notinha sobre investimentos: apesar de ter sido um cara incrível que me ensinou tantas coisas, uma das principais lições que meu pai me deu, foi por um erro que cometeu: não planejou sua aposentadoria.

Trabalhou praticamente até o último dia e teve pouco tempo para aproveitar o merecido descanso com os netos. Não faça como ele, cuide do seu futuro, gaste menos hoje e garanta uma velhice mais tranquila.

Abraços e obrigado pela audiência esse tempo todo!

 

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