Ibovespa cai -5% desde o início do ano, enquanto o dólar sobe +2% contra o real.
Qualquer pessoa que acompanhe minimamente o terminal Bloomberg vai lhe explicar que o repique dos yields dos Treasuries deu uma azedada no clima.
Ainda que o mercado tenha ensaiado um direcionamento dovish ao fim do ano passado, a distribuição dos palpites sobre corte de juros nos EUA segue totalmente errática.
Tem gente séria acreditando em 50 bps de corte já em 20 de março e gente seríssima apostando em um primeiro ajuste só na reunião de 7 de novembro.
Ou seja, ninguém faz ideia.
Sobre China, Rogério Xavier tem pesadelos, Luis Stuhlberger acredita em uma desaceleração moderada e a Gavekal está mandando comprar a “oportunidade do século”, com bolsa chinesa negociando a 8x lucros.
Mas a história não para por aí.
Em paralelo ao cenário internacional, carregamos nossas próprias culpas.
Afinal, o primeiro ano do Governo Lula fechou com um déficit primário de -2,12% do PIB, pior do que o prometido, deixando em xeque a meta fiscal de 2024-26.
Ao mesmo tempo, sob uma ótica de comparação com pares, vários outros mercados emergentes caíram tanto ou mais do que Brasil neste início de ano.
África do Sul perde -6% em dólar.
Coreia do Sul derrete -9%.
Existem problemas fiscais por lá também?
Bem, o fiscal está deixando a desejar no mundo inteiro, é um vício sistêmico disfarçado de intrínseco.
Mas não acho que o dinheiro está saindo dos emergentes por conta do fiscal.
Tem gente vendendo Ásia para comprar Brasil + México, tem gente vendendo Brasil para comprar big techs americanas, e tem gente vendendo big techs pra voltar para uma Ásia a preço de barganha.
Vai entender…
Essa situação de falta de consenso costuma demarcar os preâmbulos de grandes direcionamentos do fluxo de capital global (pode ser para o bem ou para o mal).
Vamos cada um para um lado até que, de repente, estão todos indo para o mesmo lugar.
De certa forma, é uma surpresa que tamanha dispersão esteja acontecendo neste início de 2024.
Até pouco tempo atrás, o ano prometia um cenário mais inteligível, no sentido de que os intervalos de confiança para os principais eventos “mapeáveis” pareciam mais bem delineados.
No entanto, esses intervalos ganharam amplitude.
É como se a volatilidade de fora da caixa tivesse sido remanejada para dentro da caixa; ela foi movida de lugar, mas não foi resolvida.
Não é um ano de “unknown unknowns” como foi 2023, mas pode ser um ano de “known unknowns” bastante desafiador.