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A verdadeira diversificação

“Bom com os números desde pequeno, Roberto sempre soube que seria engenheiro […]”.

Por Caio Mesquita

22 ago 2022, 08:51 - atualizado em 22 ago 2022, 08:51

Verdadeira diversificação
Fonte: Free Pik

Bom com os números desde pequeno, Roberto sempre soube que seria engenheiro.

Além de sua aptidão para matemática, ele tinha como sua principal brincadeira de criança a desmontagem e montagem de tudo que passasse pelas suas mãos.   

Não só adorava entender o funcionamento das coisas, como tinha um especial fascínio em erguer algo físico, permanente.

Depois de estudar em bons colégios, onde sempre foi um dos melhores alunos, Roberto decidiu trilhar sua vocação e tornar-se engenheiro. Dentro das várias especializações da profissão, escolheu a engenharia civil. Para ele, o caminho natural para tornar concreto o sonho de construir.

Trinta anos depois de formado, Roberto orgulha-se de sua trajetória profissional. Hoje trabalha em uma das principais incorporadoras do País, com atuação de destaque em várias praças.

Recentemente foi promovido ao cargo de Diretor de Engenharia, Roberto reporta-se diretamente ao CEO e fundador da empresa.

Estão sob sua responsabilidade a execução de algumas dezenas de obras, sempre no segmento residencial. O trabalho é intenso mas gratificante.  Roberto sente-se reconhecido pela sua competência profissional. Sua remuneração é bastante competitiva, à altura da sua posição na empresa.

Este ano, porém, Roberto não tem dormido bem. O seu sono, que sempre foi leve, tem se interrompido com frequência. 

Quando acorda, no meio da noite, sua mente acelera, mantendo-o em vigília. Os números, seus companheiros desde sempre, agora viram-se contra ele na forma de cifras. Sempre muito organizado financeiramente, Roberto está se sentindo inseguro quanto ao seu futuro.

A carteira de investimentos de Roberto explica parte de sua preocupação.  A performance está bastante ruim, com retornos negativos desde o ano passado. Mesmo levando em consideração as condições adversas de mercado, a carteira vai mal. Como os ativos foram escolhidos por ele mesmo, Roberto não tem ninguém a culpar senão a si mesmo.

Certa vez, Roberto ouviu de um grande investidor a recomendação de investir no que se conhece. Dessa forma, seria mais fácil entender e acompanhar os investimentos, antecipando tendências e lucrando com movimentos que só depois seriam percebidos pelo mercado em geral.

Seguindo essa orientação, montou uma carteira com ênfase em ações de incorporadoras e de propriedades imobiliárias. Para complementar e trazer renda, agregou fundos imobiliários, principalmente os chamados “fundos de tijolos”.

O ciclo de aumento de juros, iniciado no ano passado, jogou tinta vermelha em seu portfólio.

A outra parte da sua preocupação financeira vem do lado profissional. A empresa em que trabalha preparou-se para uma fase de grande expansão, prevendo um ciclo de mercado imobiliário aquecido por conta dos juros baixos.

Com o aperto monetário, compradores de imóveis se retraíram e o setor como um todo desacelerou. Diferentemente do ano passado, quando recebeu o melhor bônus de sua vida, Roberto não espera receber remuneração variável este ano em vista dos resultados fracos da empresa.

Caso o mercado não melhore, Roberto teme pelo próprio emprego já que apenas o CEO ganha mais do que ele.  Ele reconhece que alguém mais jovem, mas com competência similar, poderia ocupar a sua posição com a metade de seu salário.

A sua carteira de investimentos que, em tese, deveria dar o conforto para o Roberto atravessar esse momento adverso está, pelo contrário, contribuindo para a sua instabilidade.

Não é segredo algum, a importância da diversificação nos investimentos e a sua importância para se encontrar uma melhor relação risco-retorno.

A diversificação reduz o risco alocando investimentos em vários instrumentos financeiros, setores e outras categorias, minimizando perdas investindo em ativos que reagem de maneira diferente ao mesmo evento. 

Assim, a diversificação cumpre importante papel em mitigar o chamado risco não sistêmico, também conhecido como risco específico. Esse risco é relacionado a um ativo ou segmento de mercado específico. Ao diversificar seu portfólio, esse é o risco que se espera reduzir, diminuindo  a probabilidade de seus investimentos serem afetados da mesma forma pelos eventos do mercado.

Ao pensar em diversificação, normalmente nos atemos apenas à carteira de investimentos em si.

Como ficou claro no caso do Roberto, a efetiva diversificação somente é atingida quando levamos em consideração nossa vida financeira como um todo, não somente os investimentos.

Pensando que diminuiu o risco dos seus investimentos por conta do seu conhecimento setorial, Roberto fez justamente o contrário. Desse modo, a “empresa” Roberto apresenta grande correlação com sua carteira. Ao invés de diversificar, Roberto terminou concentrando ainda mais sua vida financeira em um setor específico da economia.

Recomendo que você faça uma autoanálise agora e avalie o quanto os retornos dos seus investimentos poderiam estar correlacionados com os seus ganhos profissionais.

O seu sono agradece.

Deixo você agora com os destaques da semana.

Boa leitura e um abraço.

Sobre o autor

Caio Mesquita

CEO da Empiricus

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