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Contra a maré

“No início da década de 1950, Solomon Asch, psicólogo polonês radicado nos Estados Unidos, realizou um experimento comportamental envolvendo jovens voluntários[…]”.

Por Caio Mesquita

11 abr 2022, 10:13

No início da década de 1950, Solomon Asch, psicólogo polonês radicado nos Estados Unidos, realizou um experimento comportamental envolvendo jovens voluntários.

Asch reuniu 123 voluntários sob o pretexto de realizar um teste de visão. Cada um dos voluntários se juntou a um grupo com sete outros jovens, todos colaboradores do experimento.

O grupo então recebia duas fichas. Uma delas tinha três linhas com comprimentos diferentes, enquanto a outra apresentava apenas uma linha com comprimento idêntico ao de uma das linhas da outra ficha.

 

 

Após a apresentação das fichas, era perguntado ao grupo qual das três linhas tinha comprimento idêntico ao da outra ficha.

A resposta aparentemente era simples e clara. Havia uma evidente diferença entre o comprimento das linhas, o que deveria evitar qualquer tipo de hesitação.

Cada um dos participantes deveria responder em voz alta, declarando sua escolha diante de todos os presentes.

Estrategicamente, os voluntários eram deixados para responder por último. Para a surpresa deles, os membros do grupo, que participavam antes, sistematicamente erravam, escolhendo sempre a mesma resposta incorreta.

Para disfarçar, um ou dois dos participantes de cada grupo escolhiam outra opção, invariavelmente errada também.

O exercício era repetido várias vezes, mas sempre com a mesma estratégia e estrutura.

Ao final de cada rodada, chegava a vez do voluntário. Ao final das 18 rodadas, apenas 25% dos voluntários haviam respondido corretamente em todas as ocasiões, apesar de o resultado certo ser óbvio. Os outros 75% cometeram pelo menos um erro, deixando-se influenciar pela maioria.

Quando questionados, os voluntários admitiam que conseguiam distinguir a linha correta, mas terminavam respondendo errado para evitar serem o elemento discordante do grupo. Declaravam-se constrangidos e pressionados a acompanhar a maioria, mesmo sabendo do erro que cometiam.

Outros diziam que a convicção (errada) dos membros do grupo gerava dúvida sobre algo que parecia certo, e passavam a questionar sua escolha inicial. Como resultado, terminavam acompanhando a opinião da maioria.

Ao realizar o experimento, Solomon Asch buscava — e conseguiu — comprovar a importância do ambiente social, e das pressões dele decorrentes, nas nossas opiniões declaradas publicamente.

Ao participar de um grupo, acabamos alterando nossas ações e julgamentos de forma a concordar com a opinião dominante.

Nos investimentos, há uma estratégia que se baseia justamente em ir contra o consenso da época: o “contrarian investing”.

O “contrarian” joga contra os comportamentos de manada nos mercados, que, invariavelmente, levam a erros na precificação dos ativos.

Assim, em momentos de pessimismo generalizado, ativos de qualidade são jogados no saco generalizado da venda. Os preços deprimidos terminam divergindo do seu real valor.

Analogamente, bolhas são formadas nas ondas de amplo otimismo, trazendo em suas expectativas exageradas preços inflados, sem o correspondente lastro de valor.

Um “contrarian” busca oportunidades de investimento nas quais a maioria dos investidores está fazendo justamente o oposto.

Os acertos do “contrarian”, quando ocorrem, costumam trazer ganhos expressivos derivados dos ajustes do mercado na direção posicionada.

Quanto maior for a discordância entre a opinião do “contrarian” e o consenso de mercado, maior o potencial de ganho da posição assumida.

Como Solomon Asch comprovou, porém, há um enorme custo psicológico, e constrangimento, em posicionar-se contra a opinião consensual.

Discordar da maioria exige convicção, resistência e firmeza de caráter.

Há custos envolvidos nisso.

Aos resilientes, porém, as oportunidades dos dissidentes trazem interessantes possibilidades de ganhos.

Deixo você agora com os destaques da semana.

Um abraço e boa leitura,

Caio

P.S.: A Empiricus entende que há espaço para uma depreciação ainda maior do dólar contra o real. Por outro lado, a história mostra que posicionar-se contra a moeda americana traz riscos que não podem ser menosprezados. Sabendo disso, a Vitreo oferece aos clientes uma estrutura interessante para quem quer posicionar-se contra o dólar, mas, ao mesmo tempo, deseja proteger-se da inflação. Confira aqui.

Sobre o autor

Caio Mesquita

CEO da Empiricus

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