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Não durma ao volante

Os prudentes rapidamente tomam uma atitude. Param. Tomam um café. Esticam as pernas. Os outros…

Por Caio Mesquita

30 jun 2025, 10:06 - atualizado em 30 jun 2025, 10:06

Não durma ao volant

Imagem: iStock.com/honglouwawa

Sabe aquela estrada longa, reta, sem curvas nem buracos? Você acelera tranquilo, o carro desliza, a paisagem se repete. Vem a falsa sensação de controle. O corpo relaxa, os olhos piscam devagar. Se for à noite, então, a monotonia e o cansaço pesam ainda mais.

E, quando percebe, por uma fração, você se pega dormindo ao volante. Você usa a adrenalina do susto para se reanimar. Mas isso dura pouco e você cai no sono novamente. Não porque quis. Mas porque parou de prestar atenção.

Os prudentes rapidamente tomam uma atitude. Param. Tomam um café. Esticam as pernas. Os outros…

É assim que vejo muitos investidores neste momento. Sua carteira de investimentos funcionou muito bem nos últimos dois anos. Exposição baixa a risco, alocação pesada em renda fixa, conforto no carrego da Selic gorda. Uma estratégia que fez sentido, e entregou resultado. Mas que pode se transformar em armadilha se for mantida daqui pra frente.

Porque o cenário está virando já que, por várias razões, estamos num ponto de inflexão.

O ciclo de corte da Selic terminou oficialmente na última reunião do Banco Central. Um derradeiro corte de 0,25 ponto percentual e o recado claro de que agora é hora de pausa

A renda fixa ainda entrega retorno, com excelente carrego. Mas com a boa performance de algumas ações este ano – com algumas acumulando altas de mais de 50% – o custo de oportunidade de não se expor a risco começa a aparecer.

Assim, aquela sensação confortável de retorno sem risco começa a perder sustentação. O investidor que seguir na mesma posição, por comodidade, pode simplesmente deixar dinheiro na mesa.

No campo político, o ambiente também está mudando rapidamente, com importantes implicações aos nossos investimentos.

Lula segue em queda de popularidade e parece, por conta da idade e do desgaste de três mandatos, sem energia para reverter o quadro. A massacrante derrota desta semana no Congresso, com a revogação do aumento do IOF, escancarou essa fragilidade. Não foi sobre o IOF em si, mas sobre comando. O Centrão definitivamente desembarcou, deixando o Governo com uma minúscula base ideológica (PT, PSOL e PCdoB).

Enquanto isso, a candidatura de Tarcísio de Freitas vai ganhando densidade. O apoio de Bolsonaro parece cada vez mais próximo, e o mercado já começa a considerar com seriedade esse cenário eleitoral, o que abriria caminho para o que pode vir a ser “a mãe de todos os ralis”, como André Esteves declarou há alguns meses.

Nesta semana, em evento do BTG Pactual, o mesmo André Esteves foi direto ao ponto: “Não precisa desenterrar um Einstein para saber o que precisa ser feito”, lembrando que, com liderança política, o Congresso aprova qualquer ajuste necessário. Esteves também disse que ‘”vê prêmio para todo lado” no ativos brasileiros, tanto na renda fixa como na bolsa.

Lá fora, o pano de fundo segue ajudando. A inflação americana dá sinais de alívio. O dólar enfraquece. E a expectativa por cortes de juros pelo Fed no segundo semestre cresce. O ciclo global também parece estar mudando de direção — e os mercados emergentes, incluindo o Brasil, voltam para o radar de forma mais relevante.

O problema é que muitos seguem investindo como se nada disso estivesse acontecendo. Com alocações montadas para o passado recente, que funcionaram bem até aqui, mas que carregam o risco oculto da inércia. O erro não foi ser conservador em 2024.

O erro é permanecer parado agora, quando o mundo começa a se mover.

Sobre o autor

Caio Mesquita

CEO da Empiricus