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Rotinas e mudanças

Exceto pelo clima frio e úmido de agora, pouco mudou na minha rotina […]

Por Caio Mesquita

19 de junho de 2023, 08:05

Mudança e rotinas
Imagem: Freepik

It took so long
To realize
And I can still hear
Her last goodbyes
Now all my days
Are filled with tears
Wish I could go back
And change these years

Changes, Black Sabbath

Exceto pelo clima frio e úmido de agora, pouco mudou na minha rotina nos últimos três meses.

Aristóteles dizia que somos aquilo que fazemos repetidamente.

Sendo assim, continuo reafirmando minha existência, mantendo meus hábitos, principalmente os matinais.

Sigo acordando às 6h30, tempo suficiente para tomar o meu café enquanto me intero com o noticiário do dia.

Começo com um café preto somente, sem adoçante (depois de muita resistência, aderi à modinha). Dou uma enganada no amargo, compensando com algumas mordidas numa barra de proteína.

Às 7h, chamo as crianças, abrindo as janelas dos quartos. As meninas despertam fácil, muitas vezes a Bella, a mais velha, já está acordada. A dificuldade fica por conta do caçula David, que às vezes requer chacoalhões e um tom de voz mais alto para sair da dormência.

Vestida e alimentada, a tropa embarca no ônibus escolar às 7h45. Com a casa mais calma, sento-me à mesa com a Larissa para tomar nosso café da manhã e colocar os assuntos de casal em dia.

Normalmente saio para o trabalho às 8h45. Apesar de morar perto da Empiricus, prefiro ir de carro. O curto trajeto dura mais ou menos o tempo do áudio do Felipe no “Ideias Antifrágeis”, um ótimo apanhado do que está por vir no mercado do dia.

Chego dando bom dia ao Dagoberto, corintiano que cuida da nossa recepção, e que prontamente me oferece o café.

Ao entrar na minha sala, já encontro Felipe e Rodolfo na labuta. Ao sentar-me à mesa, Dona Graça traz o café fresquinho oferecido pelo Dagoberto.

Como escrevi no início, nada mudou de três meses para cá. E não é só na minha rotina.

No exterior, os temas e riscos também permanecem, com as autoridades monetárias pilotando na ponta dos dedos, equilibrando o controle de preços com os riscos de recessão indesejada.

Por aqui, a política e a economia carregam as mesmas e preocupantes questões.

Temos um governo de esquerda, com pouca propensão à moderação fiscal.

Os gastos da administração, acima da arrecadação, continuam elevando o endividamento do Estado, acima do adequado para países com nosso perfil de risco.

Para conter inflação, nosso banco central segue sua política monetária altamente restritiva, tentando compensar os efeitos que o fiscal frouxo tem sobre a inflação.

Como consequência, persistem os problemas de liquidez e crédito que atormentam empresas e indivíduos, sufocados em sua capacidade de fazer frente aos seus compromissos financeiros.

A única evolução digna de nota fica por conta da tranquila tramitação do Arcabouço Fiscal no Congresso que, por sinal, vem atendendo a expectativa de impedir rompantes heterodoxos do Executivo.

Se objetivamente quase nada mudou, o mesmo não pode ser dito sobre os ativos financeiros. De maneira rápida e contundente, saímos do escuro porão do fim de março, com o Ibovespa sendo negociado abaixo dos 100 mil pontos, para um espetacular rali, elevando os preços aos níveis de bull market.

Além da Bolsa, tanto a curva de juros como o dólar passaram por ajustes importantes, convertendo em retorno os gordos prêmios que estavam embutidos nas cotações depreciadas.

Surge, então, a pergunta óbvia. Se estruturalmente pouco mudou, o que teria causado tamanha transformação no humor do mercado?

Sandro Sobral, head de tesouraria do Banco Santander, nos deu uma pista, em sua participação no episódio do Market Makers desta semana, ao lembrar que o mercado se movimenta em temas.

De três meses para cá, por conta do avanço na aprovação do Arcabouço Fiscal, o tema (des)equilíbrio fiscal perdeu o protagonismo.

Em seu lugar, analistas e gestores passaram a destacar a iminente inflexão na política monetária, com o Banco Central sendo um dos primeiros do mundo a cortar juros, e seus reflexos positivos para a avaliação dos ativos.

Juros mais baixos têm um impacto duplo no preço das ações, pois elevam o lucro com despesas financeiras menores e diminuem a taxa de desconto, aumentando o valor presente dos lucros futuros.

Não é à toa que se nota um entusiasmo renovado por small caps, tão judiadas desde quando os juros começaram a ser elevados.

Os bons números da inflação que vêm sendo divulgados, com índices de atacado mostrando forte contração nos preços, abrem espaço para um Banco Central ainda mais agressivo no ritmo dos cortes, retroalimentando as boas expectativas para ativos de risco.

Na semana que vem meus filhos entram de férias. Mudarei minha rotina, ajustando meu despertador para às 7h.

Mesmo para quem preza os hábitos, o que é meu caso, faz-se necessário ajustes constantes, para fazer frente a mudanças que aparecem.

Ficamos (mal) acostumados com os atuais juros altos, com alta rentabilidade e liquidez diária. Tal moleza está com seus dias contados.

Você está preparado para a mudança?

Deixo você agora com os destaques da semana.

Boa leitura e um abraço.

Sobre o autor

Caio Mesquita

CEO da Empiricus