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Agenda de resultados trimestrais com Embraer (EMBR3) e Prio (PRIO3), mercados europeus azedos e início de reuniões do Fed e BC são destaques desta terça-feira (6)

Os mercados na Europa azedam o apetite global após uma reviravolta nas eleições alemãs. Veja o que mais deve chamar atenção dos investidores hoje.

Por Matheus Spiess

06 maio 2025, 09:49 - atualizado em 06 maio 2025, 09:58

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Imagem: iStock/ photosvit

Começamos a sessão com o humor azedando na Europa, contaminando o apetite global por risco, apesar da retomada positiva observada nos mercados asiáticos após o feriado do Dia do Trabalho. O gatilho da correção veio da política alemã: Friedrich Merz, líder conservador e em vias de se tornar o novo chanceler, fracassou na tentativa de formar maioria parlamentar em sua votação, postergando a transição de poder. O episódio adiciona um novo grau de instabilidade à já congestionada lista de incertezas internacionais — especialmente no momento em que os mercados esperavam avanços concretos nas negociações comerciais entre os EUA e seus principais parceiros (foi justamente essa expectativa de negociação que alimentou a animação na Ásia).

Assim, depois de duas semanas de fôlego renovado para os ativos de risco, o mercado global parece agora pausar para tomar ar — ou rever expectativas. O S&P 500 abriu a semana ontem em queda, puxando para baixo os demais ativos de risco, em movimento típico de consolidação após fortes altas. No radar, os investidores voltam suas atenções para a maratona de decisões de política monetária, com destaque para as reuniões do Federal Reserve e do Banco Central brasileiro, ambas começando hoje (6).

A temporada de balanços corporativos também segue em ritmo acelerado, enquanto, nos EUA, o mercado digere com cautela a balança comercial de março — dado que contribuiu diretamente para a queda do PIB no primeiro trimestre. Entre as commodities, o petróleo ensaia recuperação nesta manhã, após as recentes quedas.

· 00:53 — Sentiu calor

No Brasil, depois das altas recentes, a semana começou com o pé esquerdo. O Ibovespa encerrou a segunda-feira (5) em queda, puxado principalmente pelo desempenho decepcionante da Petrobras (PETR4), que afundou acompanhando o tombo do petróleo. A sinalização da Opep+ de que pode aumentar a oferta global foi o estopim, minando o apetite dos investidores. Como se não bastasse, a estatal ainda anunciou a terceira redução consecutiva no preço do diesel nas refinarias, o que alimenta preocupações sobre sua rentabilidade e reforça o ambiente de aversão ao risco — agravado, inclusive, por uma revisão negativa feita por um dos grandes bancos locais.

Esse mau humor também se refletiu na moeda brasileira, que cedeu terreno em linha com a queda generalizada das divisas emergentes. No front corporativo, a temporada de balanços segue aquecida, com nomes de peso como Embraer, Prio, Carrefour, Raia Drogasil, Vibra, Vamos e JSL no radar dos investidores. Mas, entre balanços e petróleo, quem começa a roubar a cena mesmo é o Banco Central, que começa sua reunião de política monetária hoje e decide amanhã o rumo da taxa Selic. A alta de 50 pontos-base, levando a taxa a 14,75% ao ano, já está precificada. O que o mercado quer entender agora é: o ciclo acaba aqui ou ainda teremos um ajuste residual de 25 pontos na próxima reunião? O mais provável é que o Copom mantenha a porta entreaberta e se reserve o direito de decidir mais adiante, conforme seja permitido.

Enquanto isso, em Brasília, a pauta fiscal continua sendo empurrada com a barriga. Deve ser instalada hoje a Comissão Especial que analisará o projeto de isenção de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil — uma promessa populista com potencial de impacto relevante nas contas públicas. A votação, no entanto, só deve ocorrer no segundo semestre. O problema, como sempre, é a falta de compensação crível: o governo insiste em vender a narrativa de responsabilidade, mas não entrega soluções estruturais. O Brasil continua ostentando indicadores fiscais piores que os de seus pares, e essa conta — por ora empurrada — cedo ou tarde terá de ser quitada.

Para piorar o quadro, o Planalto pode ganhar mais uma dor de cabeça política: há chances de que a oposição protocole o pedido de abertura de uma CPMI para investigar fraudes no INSS — um escândalo que culminou recentemente na queda do ministro Carlos Lupi. Em um governo já desgastado, frágil em articulação e com base parlamentar capenga, mais esse ruído político pode ajudar a travar ainda mais uma agenda que já anda devagar, quase parando. O mercado percebe — e precifica. Pelo menos, com as eleições de 2026 no horizonte, a inércia atual reduz o risco de que algo ande — o que, dadas as circunstâncias (péssima agenda), talvez nem seja tão ruim…

· 01:46 — Nervosismo

Nos EUA, os principais índices acionários voltaram a ceder ontem (6), em um movimento de correção que, convenhamos, era mais do que esperado — e até desejável — após a sequência de altas recentes. A semana passada já havia sido carregada em termos de divulgação de resultados corporativos, mas a segunda-feira trouxe pouco em termos de novidades capazes de animar o mercado. O marasmo era previsível.

Hoje, o foco se desloca para o início da reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), que se encerra na quarta-feira. As expectativas para um corte de juros nesta reunião são praticamente nulas — e, para junho, também vêm diminuindo. A economia americana segue surpreendentemente resiliente: o mercado de trabalho permanece aquecido, e a atividade mostra mais fôlego do que o desejado por quem aposta em cortes rápidos. O cenário, por ora, não elimina o afrouxamento monetário neste ano, mas empurra qualquer mudança mais concreta para o segundo semestre.

Na agenda do dia, a atenção se volta para uma nova leva de resultados, com destaque para nomes como AMD, Super Micro, Brookfield, Constellation, Marathon Petroleum, Marriott e Zoetis. Por ora, seguimos em um compasso de espera — e o mercado, que até outro dia apostava em cortes imediatos, agora começa a ajustar as lentes.

· 02:33 — Juros de 10 anos voltaram a subir?

Se a esperada desvalorização do dólar acabar provocando uma saída em massa do mercado de Treasuries — num ambiente já marcado por déficits fiscais crescentes e pressão inflacionária persistente —, o resultado mais provável será um aumento nos rendimentos dos títulos de longo prazo. E o risco não para por aí: caso a inflação se mantenha elevada, o estresse sobre a curva de juros só tende a piorar.

Já discutido algumas vezes por aqui, Stephen Miran argumentava em seu estudo que, em resposta às tarifas, o dólar deveria se valorizar, impondo o ônus do ajuste ao país alvo. Na teoria, fazia sentido. Mas a realidade se mostrou mais complicada. Miran reconhecia que o dólar poderia, sim, cair, e que, nesse cenário, o aumento da inflação e a deterioração fiscal colocariam pressão sobre os títulos públicos americanos. Pois bem: foi exatamente o que vimos acontecer. Para piorar, os dados oficiais de inflação até agora têm sido incapazes de captar com precisão o impacto das tarifas — o que levanta dúvidas sobre a eficácia das métricas tradicionais em uma guerra comercial.

A postura da Casa Branca, por sua vez, não ajuda. Após mais de 100 dias de governo, Washington entrou de cabeça no conflito tarifário com uma autoconfiança desproporcional, conduzindo a ofensiva de forma mais abrupta e beligerante do que muitos formuladores de política previam — e desejavam. A administração até conseguiu seu dólar mais fraco, mas por caminhos tortuosos, com custo alto e sem construir confiança externa. Nesse cenário, a ideia de um “acordo de Mar-a-Lago” — aquele descrito por Miran, em que países comprariam títulos de 100 anos com cupom zero em troca de garantias de segurança dos EUA — parece cada vez mais um delírio diplomático. Mesmo que fosse tecnicamente viável, exigiria habilidade negocial e credibilidade institucional que, francamente, não têm dado as caras em Washington.

O que sobra, portanto, é um ambiente altamente incerto, onde a política econômica americana se aproxima perigosamente de um jogo de roleta. O custo dessa imprudência? Pode vir na forma de juros mais altos, perda de confiança externa e, ironicamente, uma inflação mais difícil de controlar paralela a um menor crescimento — tudo o que a guerra comercial prometia combater, mas que pode acabar amplificando.

· 03:21 — Ruídos asiáticos

O Paquistão vive dias de tensão máxima após declarações oficiais afirmarem que Nova Délhi estaria planejando ataques militares em seu território — uma alegação que reacendeu o temor de um confronto direto entre dois rivais históricos. Desde o atentado que matou 26 civis na Caxemira indiana no mês passado, as trocas de tiros na região disputada tornaram-se quase rotineiras, em mais um capítulo de um conflito que nunca foi resolvido, apenas empurrado sob o tapete da diplomacia internacional. A retórica escalou com rapidez. A Índia fechou seu espaço aéreo ao Paquistão e determinou a saída da maioria dos cidadãos paquistaneses de seu território. Islamabad, por sua vez — enquanto nega qualquer envolvimento no ataque — revidou com a suspensão de vistos para indianos, numa espiral de retaliações diplomáticas que beira o colapso.

O pânico gerado por essas medidas evocou lembranças traumáticas da Partição de 1947, quando hindus e muçulmanos fugiram de massacres étnicos nas recém-independentes Índia e Paquistão. Setenta anos depois, os fantasmas voltam a rondar. China e Estados Unidos, em um raro alinhamento, pedem moderação, mas suas vozes soam cada vez mais como um eco distante diante do agravamento da crise. A verdade é que a Índia, que já venceu as guerras de 1965 e 1971 — esta última de forma avassaladora —, consolidou uma posição amplamente superior no cenário econômico e militar. O Paquistão, atolado em dificuldades internas, sabe que não tem como vencer um conflito convencional. Resta-lhe a cartada nuclear — e é justamente isso que torna o impasse tão perigoso. Desde que ambos os países se tornaram potências nucleares, ainda no século passado, o equilíbrio do medo tem funcionado como único anteparo a uma nova guerra total. Mas esse equilíbrio é precário e, no atual clima de paranoia mútua e nacionalismos inflamados, o risco de um erro de cálculo nunca foi tão alto. O mundo, já atolado em guerras e instabilidades, não suportaria mais uma faísca em uma das fronteiras mais voláteis do planeta.

Evitar o confronto deveria ser óbvio. Mas, em tempos de líderes imprevisíveis e sociedades inflamadas, o óbvio precisa ser reiterado. Um conflito indo-paquistanês não teria vencedores — apenas consequências devastadoras, regionais e globais. A paz, neste caso, é menos uma escolha e mais uma obrigação civilizatória. A ver…

· 04:15 —Quando a Alemanha espirra, a Europa pega gripe — mais uma vez

Friedrich Merz sofreu um baque inesperado e constrangedor ao não alcançar a maioria no parlamento para ser confirmado como novo chanceler da Alemanha — um revés que adia sua posse e compromete sua autoridade antes mesmo de ela começar. Apesar de liderar uma coalizão majoritária entre CDU/CSU e os sociais-democratas, com 328 assentos, Merz obteve apenas 310 votos no escrutínio secreto — seis a menos do que o necessário. É o tipo de humilhação política que mina credibilidade e expõe rachaduras internas antes mesmo da tinta secar nas nomeações.

O mais irônico é que Merz vinha de uma vitória política considerável ao conseguir alterar o “freio da dívida” no início do ano, um feito raro na rigidez fiscal alemã. Mas, ao contrário da medida orçamentária, que dependia do apoio institucional, sua confirmação exigia apoio pessoal — e nele, Merz claramente não é uma unanimidade. Falta-lhe carisma e popularidade, enquanto sobra-lhe resistência interna.

Ser o primeiro chanceler eleito que não consegue ser confirmado no cargo já o coloca em uma posição historicamente desconfortável — e politicamente enfraquecida. Ainda que uma nova votação possa ocorrer entre hoje (6) e sexta-feira (9), o dano reputacional está feito. A hesitação do parlamento em chancelar sua liderança levanta dúvidas sobre sua capacidade de articulação, algo vital para quem pretende recolocar a Alemanha no comando político e econômico da Europa. Vale lembrar que a locomotiva alemã tem patinado há anos, com crescimento anêmico, paralisia institucional e um vácuo de liderança desde a saída de Angela Merkel. A aposta recente dos investidores na tese europeia em 2025 pressupõe uma Alemanha revigorada. Sem isso, o impulso pode não se sustentar. Se Merz quiser resgatar a imagem do país como âncora da estabilidade continental, precisará mais do que números — precisará governar com legitimidade.

· 05:02 — Depois de um susto: o Bitcoin cai, sacode e assusta, mas sobrevive

O Bitcoin continua escapando de definições formais. Enquanto uma parte do mercado ainda o enxerga como um beta sofisticado das big techs americanas, outros o tratam como um embrião de reserva de valor — um “quase ouro” ainda em estágio de consolidação. Em 2025, a performance tem surpreendido…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.